Seres humanos foram 'feitos' para comer de tudo
Enviado: 23 Mai 2008, 17:44
Pesquisa realizada nos EUA mostra que micróbios do nosso intestino são de onívoros.
Até pessoas totalmente vegetarianas carregam menos microrganismos que herbívoros.
Reinaldo José Lopes
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Ou melhor: uma vez onívoro, sempre onívoro, mesmo que você faça de tudo para virar vegetariano. Pelo menos é o que sugere uma pesquisa feita nos Estados Unidos, que comparou a flora intestinal típica dos seres humanos com a de 60 outras espécies de mamíferos. O que os cientistas descobriram é que a variedade de micróbios no nosso intestino, mesmo em pessoas que são totalmente vegetarianas, continua muito parecida com a de animais que comem de tudo, inclusive proteína animal.
Para Jeffrey I. Gordon e seus colegas da Universidade Washington em Saint Louis, que realizaram o estudo, a principal explicação é evolutiva. É que, ao longo de milhões de anos, cada espécie foi adquirindo o conjunto de microrganismos (principalmente bactérias) que mais se adapta à sua dieta-padrão. Tanto é que outros animais que alteraram há relativamente pouco tempo a sua alimentação também parecem carregar a "bagagem" de sua flora intestinal mais antiga.
A correlação histórica é clara: como os micróbios da flora intestinal são essenciais para a digestão de uma série de alimentos, muitos animais teriam dificuldade de se adaptar evolutivamente a uma dieta sem que adquirissem, mais cedo ou mais tarde, os microrganismos capazes de fazer o serviço de modificar a comida para que ela pudesse ser absorvida.
O estudo de Gordon e companhia está na edição desta semana da revista especializada americana "Science", uma das mais prestigiosas do mundo. Os pesquisadores queriam estudar justamente a interação entre a dieta individual, a alimentação mais comum de cada espécie, a história evolutiva dos animais e a comunidade microbiana que habita seu trato intestinal. A única fonte viável para esses dados eram, obviamente, as fezes das 60 espécies de mamíferos, obtidas de voluntários humanos e bichos que viviam em zoológicos ou na natureza.
DNA microbiano
Após recolher as amostras, os pesquisadores conduziram extensas análises de DNA para identificar os tipos de bactéria da flora intestinal. Os números são estarrecedores: nada menos que 17 filos bacterianos -- divisões classificatórias tão amplas quanto os cordados (o grupo que abrange todos os vertebrados -- aparecem no intestino de mamíferos. Toda espécie carrega consigo bactérias exclusivas, o que permite agrupar as amostras das mesmas espécies em conjuntos separados.
Como os microrganismos são essenciais para ajudar a digerir comida de origem vegetal, especialmente difícil de "quebrar" em pedaços moleculares menores, não é muito surpreendente descobrir que os herbívoros são os bichos com mais diversidade bacteriana em seu intestino (14 filos), seguidos de onívoros (12) e carnívoros (apenas seis filos).
Previsivelmente, as várias amostras de humanos -- incluindo pessoas estritamente vegetarianas -- ficam juntas na análise. Somos acompanhados de primatas (bonobos e lêmures, por exemplo) e outros bichos que comem de tudo, como tatus e ratos. Isso significa que a diversidade de bactérias do nosso estômago é típica de onívoros, e não de herbívoros.
Ironicamente, o outro grande exemplo de um descompasso entre flora microbiana e dieta é o fofíssimo panda-gigante, junto com o panda-vermelho. Ambos os bichos comem só plantas, mas seu intestino simples e a baixa diversidade de bactérias nele faz com que eles fiquem agrupados com os carnívoros -- dos quais descendem. Aparentemente, não deu tempo de seu organismo se tornar "totalmente" herbívoro, embora eles usem outras adaptações para conseguir extrair energia de plantas.
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0, ... TINAL.html
Até pessoas totalmente vegetarianas carregam menos microrganismos que herbívoros.
Reinaldo José Lopes
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Ou melhor: uma vez onívoro, sempre onívoro, mesmo que você faça de tudo para virar vegetariano. Pelo menos é o que sugere uma pesquisa feita nos Estados Unidos, que comparou a flora intestinal típica dos seres humanos com a de 60 outras espécies de mamíferos. O que os cientistas descobriram é que a variedade de micróbios no nosso intestino, mesmo em pessoas que são totalmente vegetarianas, continua muito parecida com a de animais que comem de tudo, inclusive proteína animal.
Para Jeffrey I. Gordon e seus colegas da Universidade Washington em Saint Louis, que realizaram o estudo, a principal explicação é evolutiva. É que, ao longo de milhões de anos, cada espécie foi adquirindo o conjunto de microrganismos (principalmente bactérias) que mais se adapta à sua dieta-padrão. Tanto é que outros animais que alteraram há relativamente pouco tempo a sua alimentação também parecem carregar a "bagagem" de sua flora intestinal mais antiga.
A correlação histórica é clara: como os micróbios da flora intestinal são essenciais para a digestão de uma série de alimentos, muitos animais teriam dificuldade de se adaptar evolutivamente a uma dieta sem que adquirissem, mais cedo ou mais tarde, os microrganismos capazes de fazer o serviço de modificar a comida para que ela pudesse ser absorvida.
O estudo de Gordon e companhia está na edição desta semana da revista especializada americana "Science", uma das mais prestigiosas do mundo. Os pesquisadores queriam estudar justamente a interação entre a dieta individual, a alimentação mais comum de cada espécie, a história evolutiva dos animais e a comunidade microbiana que habita seu trato intestinal. A única fonte viável para esses dados eram, obviamente, as fezes das 60 espécies de mamíferos, obtidas de voluntários humanos e bichos que viviam em zoológicos ou na natureza.
DNA microbiano
Após recolher as amostras, os pesquisadores conduziram extensas análises de DNA para identificar os tipos de bactéria da flora intestinal. Os números são estarrecedores: nada menos que 17 filos bacterianos -- divisões classificatórias tão amplas quanto os cordados (o grupo que abrange todos os vertebrados -- aparecem no intestino de mamíferos. Toda espécie carrega consigo bactérias exclusivas, o que permite agrupar as amostras das mesmas espécies em conjuntos separados.
Como os microrganismos são essenciais para ajudar a digerir comida de origem vegetal, especialmente difícil de "quebrar" em pedaços moleculares menores, não é muito surpreendente descobrir que os herbívoros são os bichos com mais diversidade bacteriana em seu intestino (14 filos), seguidos de onívoros (12) e carnívoros (apenas seis filos).
Previsivelmente, as várias amostras de humanos -- incluindo pessoas estritamente vegetarianas -- ficam juntas na análise. Somos acompanhados de primatas (bonobos e lêmures, por exemplo) e outros bichos que comem de tudo, como tatus e ratos. Isso significa que a diversidade de bactérias do nosso estômago é típica de onívoros, e não de herbívoros.
Ironicamente, o outro grande exemplo de um descompasso entre flora microbiana e dieta é o fofíssimo panda-gigante, junto com o panda-vermelho. Ambos os bichos comem só plantas, mas seu intestino simples e a baixa diversidade de bactérias nele faz com que eles fiquem agrupados com os carnívoros -- dos quais descendem. Aparentemente, não deu tempo de seu organismo se tornar "totalmente" herbívoro, embora eles usem outras adaptações para conseguir extrair energia de plantas.
Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0, ... TINAL.html