Lula diz que está de "alma lavada" com criação da Unasul
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, após participar da reunião de cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que a América do Sul está "mais forte do que nunca" apesar dos descrentes na região. Lula disse estar de "alma lavada" com a criação do grupo de países sul-americanos, mas admitiu que o "bloco" terá que enfrentar muitos desafios antes de conquistar espaço no cenário internacional.
"A caminhada até construirmos a muralha da China vai demorar muito tempo",

Lula comparou a Unasul com a União Européia ao afirmar que o grupo de países europeus nem sempre firma posições semelhantes sobre temas na região. "Quando os Estados Unidos decidiram fazer a guerra contra o Iraque, países da União Européia tiveram divergências. A Espanha e a Inglaterra apoiaram. A França e Alemanha foram contra. Nem por isso criou-se qualquer ruptura na base do tratado que criou a União Européia", afirmou.
Na opinião do presidente brasileiro, a criação da Unasul é o fato político mais importante para a América do Sul em sua história recente. "Nossa vontade política, a crença que nós temos na integração, a busca da complementaridade entre nós, vai permitir que mesmo sem dinheiro, mas com a nossa disposição política, nós vamos em menos tempo do que qualquer outro processo de integração no mundo fazer com que a América do Sul dê um salto gigantesco."
Unasul
Os países sul-americanos assinaram nesta sexta-feira o tratado que constitui oficialmente a Unasul. O presidente Evo Morales (Bolívia) passou a presidência temporária do órgão para a presidente Michelle Bachelet (Chile) pelos próximos dois anos.
"Posso dizer à Bachelet que, da parte do Brasil, você terá 100% de dedicação, apoio, em qualquer momento, para que possa consagrar ainda mais a integração sul-americana que acabamos de assinar", disse Lula. O presidente agradeceu o "empenho e dedicação" de Morales para a constituição do grupo de países sul-americanos.
A presidente do Chile disse que a organização da Unasul por um presidente sindicalista (Lula), outro descendente de indígenas (Morales) e uma mulher "seria algo impensável" há pouco tempo. "Mas não é casualidade. Há na América Latina presidentes que expressam sua diversidade. Que esta união de nações sul-americanas tenha um marco claro para continuar avançando", defendeu.
O presidente boliviano disse, por sua vez, que a meta da Unasul será buscar a "igualdade dos povos sul-americanos. "Muitos líderes de setores relutavam em nos dar vida. Mas a luta dos antepassados não está sendo em vão. A única meta é buscar a igualdade dos povos, chegar rapidamente à justiça social. Sigo pensando que a América do Sul é grande esperança não só para sul-americanos, mas para todos os seres humanos do mundo", disse Morales.

Assim como Morales, Bachelet também defendeu a justiça social como prioridade para as ações da Unasul. "A América do Sul e também países do Caribe e América Latina podem ser atores globais para tomar decisões. Um dos objetivos fundamentais da integração é dar melhores condições de vida ao nosso povo. A integração econômica não é o mais importante, mas o instrumento para alcançarmos melhores condições de vida para o nosso povo."
A presidente do Chile disse acreditar que, na Unasul, os países sul-americano terão melhores condições para enfrentar a crise alimentícia internacional.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bras ... 4820.shtml