'Maioria dos cientistas estuda o que já se sabe'

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Jack Torrance
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'Maioria dos cientistas estuda o que já se sabe'

Mensagem por Jack Torrance »

'Maioria dos cientistas estuda o que já se sabe'

Para pesquisador que também é executivo, lucro não corrompe a ciência; pelo contrário, ambos podem ser compatíveis

Herton Escobar

O que você faria diante de um projeto de US$ 3 bilhões, financiado com dinheiro público, para realizar um dos maiores feitos da história da ciência: seqüenciar o genoma humano inteiro, da primeira à última letra, no prazo de 15 anos? Se você é Craig Venter, a resposta só poderia ser: fazer o mesmo, só que mais barato, mais rápido e melhor do que os outros.

Foi o que aconteceu em 1998, quando o polêmico e atrevido cientista americano anunciou seu plano de seqüenciar o genoma humano quatro anos mais rápido e por dez vezes menos dólares do que pretendia fazer o projeto público internacional - que, por acaso, começara dez anos antes. Tinha início a corrida entre o Projeto Genoma Humano (PGH), financiado pelo governo dos Estados Unidos, com cientistas de vários países, e a empresa Celera, financiada pela indústria, com Venter no comando.

“Não foi uma corrida entre público e privado. Foi uma corrida entre a ciência velha e a nova”, disse Venter ao Estado, em entrevista por telefone do seu instituto de pesquisas em Rockville, Maryland (EUA), o J. Craig Venter Institute. Em sua autobiografia, lançada recentemente no Brasil (Uma Vida Decodificada, Elsevier), ele conta sua trajetória de aluno medíocre a pesquisador brilhante e empresário de sucesso, “viciado em adrenalina”, como diz um dos capítulos do livro.

Para Venter, estava claro que o processo de seqüenciamento adotado pelo projeto público era “lento, sofrido e caro”. Tentou se juntar ao programa, mas não foi aceito. Então, colocou em prática a filosofia Venter de fazer ciência: “Se não pode juntar-se a eles, vença-os.”

No final, a corrida terminou empatada, com a Celera e o PGH publicando suas seqüências simultaneamente, em 2001. A seqüência do projeto público acabou prevalecendo sobre a da Celera como referência científica, mas as técnicas desenvolvidas por Venter e sua turma viraram o padrão de pesquisa genômica no mundo todo.

Venter, mais tarde, revelou que a maior parte do DNA usado pela Celera era dele mesmo, misturado ao de um colega (Hamilton Smith, ganhador do Prêmio Nobel) e ao de três mulheres de etnias diferentes - fato pelo qual ele foi duramente criticado e, de certa forma, desacreditado. “Em se tratando de encontrar doadores de DNA, achávamos que não havia dois indivíduos (ele e Smith) mais bem informados no planeta - indivíduos com um profundo conhecimento dos riscos relacionados a ter seu genoma seqüenciado e divulgado publicamente”, justifica Venter, no livro.

No ano passado, repetiu o processo (dessa vez, individualmente), tornando-se o primeiro ser humano a conhecer o próprio DNA por completo.

Agora, com 61 anos, Venter faz hora extra como explorador. Abandonou a pinta de executivo, emagreceu, deixou a barba grisalha crescer e passou dois anos a bordo de um luxuoso barco-laboratório, coletando microrganismos marinhos ao redor do mundo. Seu objetivo é descobrir um micróbio - ou inventar um, o que for melhor - capaz de produzir biocombustíveis e retirar carbono da atmosfera, para combater o aquecimento global.

Venter já foi comparado a um “Hitler da ciência”. Agora, é acusado de brincar de Deus, tentando criar vida (microbiana) no laboratório. A seguir, trechos da entrevista ao Estado.

Qual é a impressão que o senhor espera passar com sua história?

Espero que o livro inspire os jovens a entrar para a ciência, a desafiar o establishment, a assumir riscos e fazer descobertas que possam mudar a sociedade. A maneira como usamos o planeta hoje não é compatível com a sobrevivência da espécie humana a longo prazo. Precisamos de pessoas que sejam capazes de romper com o modelo padrão de fazer as coisas. Quanto antes isso acontecer melhor.

Os cientistas, via de regra, não se arriscam o suficiente?

Como um grupo, os cientistas são a sociedade mais conservadora que existe. A maioria dos cientistas não pesquisa o desconhecido. A maioria estuda aquilo que já se sabe e evita aquilo que não se sabe. É a maneira mais fácil de fazer uma carreira em ciência. Mas para ter impacto é preciso fazer coisas diferentes daqueles que vieram antes de você. É assim que se descobre coisas novas.

O senhor seqüenciou o seu genoma duas vezes. Obviamente, não tem medo do que pode encontrar ali. Como tem lidado com isso?

Tem sido uma experiência desafiadora. Parte da razão para usar o meu próprio DNA nas pesquisas é a dificuldade de pedir para que alguém se exponha dessa maneira. Como cientista, eu entendo melhor os riscos e benefícios envolvidos. E é claro, também tenho uma fascinação natural com tudo isso. A cada dia, novas análises são feitas e eu aprendo um pouco mais sobre mim mesmo. Com o tempo, a idéia é tornar essa tecnologia mais acessível para todos. Acho que ela terá um impacto significativo na prevenção de doenças no futuro.

Já viu algo no seu DNA que o preocupa ou que o surpreendeu?

Todos temos alguma noção da nossa herança genética. Basta olharmos para os nossos pais. O grande foco dessa tecnologia está na identificação de fatores de risco para doenças. Eu sabia que tinha uma propensão para doenças cardiovasculares, mas até ver esse risco no seu próprio DNA, você não entende realmente o que significa. Encontrar um fator de risco para Alzheimer foi uma surpresa, visto que não há nenhum histórico dessa doença na minha família. Isso mostra que há muitas coisas que influenciam o desenvolvimento de uma doença, além dos genes.

Essas informações genéticas já o fizeram mudar seu estilo de vida de alguma forma?

Certamente. Estou tentando mudar minha dieta e, alguns anos atrás, comecei a tomar estatinas para reduzir meu colesterol. Também tento me exercitar mais, mas é difícil quando se está viajando dentro de um avião a todo momento.

É possível saber demais sobre o próprio genoma, a ponto desse conhecimento se tornar mais um transtorno do que uma informação útil? O senhor acha que as pessoas estão preparadas para conhecer o próprio DNA?

Acho que é possível saber pouco, não é possível saber demais. Na minha opinião, há dois tipos de pessoa: aquelas que são naturalmente curiosas e querem saber de tudo, e aquelas que não vão ao médico por que têm medo de receber uma notícia ruim - como se isso fosse mudar a realidade. Saber ou não saber que você tem uma doença não muda o fato de ela existir. Como cientista, acredito que conhecimento é poder, e acho que muita gente morre todos os dias por ignorância e medo. O câncer de cólon, por exemplo, é uma doença que pode ser facilmente curada quando diagnosticada cedo, mas que tem uma taxa de mortalidade muito alta quando o diagnóstico é tardio. Se você sabe que tem um risco genético elevado, pode checar com mais freqüência, e a doença passa a ser um incômodo, em vez de algo que pode matar você.

E sobre o comportamento humano, há também uma forte influência genética? O senhor aborda isso várias vezes no livro - por exemplo, ao falar de sua paixão pelo risco e da influência que seus genes podem ou não ter sobre isso.

Não há dúvida de que o comportamento tem um componente genético. As pessoas são claramente otimistas ou pessimistas, por exemplo, e isso parece ser influenciado pelos genes. Mas, como minha história pessoal demonstra, as experiências que você tem durante a vida também influenciam seu comportamento. O fato de eu ter ido para a guerra (Venter foi médico da Marinha no Vietnã) certamente mudou minha vida. É uma dicotomia. Sim, os seres humanos são animais altamente influenciados pela genética, mas são também a espécie mais plástica do planeta em sua capacidade de se adaptar ao ambiente. Há influências genéticas, sim, mas acredito que as pessoas são responsáveis por seu comportamento.

Na internet, há uma foto clássica do senhor vestido metade como um empresário, de terno e gravata, metade como um cientista, de jaleco branco. É uma representação justa? Esses dois personagens podem conviver pacificamente na mesma pessoa?

Acho que é uma representação justa de qualquer cientista de sucesso nos dias de hoje. A ciência que fazemos é extremamente eficiente e extremamente cara. Não consigo pensar em um único cientista de sucesso na minha área que não trabalhe com um orçamento de dezenas de milhões de dólares, e você não chega a um montante desses sentado quietinho no seu laboratório, pipetando líquidos de um vidrinho para outro. Para ter sucesso, para ser competitivo, é preciso ser empreendedor.

A busca pelo lucro não “corrompe” a ciência? Ou a busca pelo lucro e pelo conhecimento são objetivos compatíveis?

Eles podem ser perfeitamente compatíveis. A pergunta vale para qualquer profissão. Até que ponto o lucro “corrompe” o que você escreve nas suas reportagens, por exemplo? É tudo uma questão de integridade pessoal. Acho que a maioria dos cientistas tem muita integridade ou estaria fazendo outra coisa. Claro que há cientistas que já forjaram pesquisas para obter fama e fortuna, mas o espectro é muito amplo. Não acho que seja justo condenar um cientista por tentar ganhar dinheiro para sustentar sua família. Eu tive a sorte de ganhar mais dinheiro do que a maioria dos cientistas, mas coloco 90% de tudo que ganho de volta no meu instituto, para financiar mais pesquisas.

O senhor conta no livro que tentou participar do projeto público para seqüenciar o genoma humano, mas não conseguiu. Então, partiu para a iniciativa privada. Por que essa opção?

Eu tinha duas alternativas: uma era não fazer nada, a outra era correr atrás de recursos para financiar meu projeto. É um dilema clássico da ciência moderna. Governos não gostam de investimentos arriscados. A única maneira que minha ciência podia ser financiada, neste caso, era pela indústria. Pessoas como o Francis Collins (diretor do Projeto Genoma Humano), que controlavam o dinheiro público, queriam usá-lo para financiar objetivos pessoais, em vez de financiar novas idéias. Muita gente do governo se sentiu pressionada (na corrida do genoma) porque ficou parecendo que eles eram o “governo incompetente” contra o “lobo solitário”. Acho que eles se sentiram muito mais atacados do que eu.

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“No BOPE tem guerreiros que matam guerrilheiros, a faca entre os dentes esfolam eles inteiros, matam, esfolam, sempre com o seu fuzil, no BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”

“Homem de preto qual é sua missão? Entrar pelas favelas e deixar corpo no chão! Homem de preto o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam o Satanás!”

Soldados do BOPE sobre BOPE

Trancado