Geografia da fome, 2008
Enviado: 16 Jun 2008, 11:12
"Na realidade, a fome coletiva é um fenômeno social bem mais generalizado. É um fenômeno geograficamente universal, não havendo nenhum continente que escape à sua ação nefasta. Toda a terra dos homens tem sido também até hoje terra da fome." Josué de Castro, Geografia da Fome, 1946.
Do último ano pra cá, o preço dos alimentos básicos e o número dos/as extremamente pobres cresceu enormemente não só no Brasil, como no mundo todo. Por causa desta fome, rebeliões de famintos/as tem surgido em mais de 30 países. O trigo, o arroz, o feijão, o milho já aumentaram mais de 80% nos últimos meses. A diminuição da área de cultivo destes produtos dando lugar para o plantio de cana (produção de biocombustível), soja e a expansão dos pastos para gado; a especulação na bolsa de valores das ações das empresas de alimentos (também fruto da crise no mercado imobiliário norte-americano); a concentração de terras em mãos de poucos latifundiários na maior parte dos países da América Latina, África e Ásia; a maior importação de alimentos pela China, devido a uma crise na colheita do país de mais de 1 bilhão de habitantes; estes são alguns motivos deste aumento de preços gigantesco dos alimentos.
No Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o incentivo para a produção de bio-combustível, a construção de hidrelétricas fazendo com que dezenas de comunidades sejam deslocadas e percam suas terras. Além disso, os demais investimentos em projetos de integração de infra-estrutura, que fazem parte do projeto Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IRSA) e que visam facilitar o escoamento da produção para a exportação e o deslocamento da força de trabalho interno têm favorecido muito o aumento do preço da alimentação, levando à fome ainda mais uma parcela gigantesca da população, já que o abastecimento interno fica em segundo plano. Vale a pena se perguntar: como o país que ano a ano vem batendo recordes na produção de grãos vê os artigos básicos da alimentação como arroz e feijão aumentarem tão rapidamente de preços? E ainda escuta o governo dizer que o aumento nos preços é por que a oferta é menor que a procura.
Em pouco tempo, em todo o mundo, pelo menos mais 100 milhões de pessoas vão estar passando fome, juntando-se aos já pelo menos 840 milhões de famintos que vivem nas favelas das cidades ou nas beiras de estradas esperando algum serviço semi-escravo numa plantação de cana ou fazenda de gado ou mina de diamante. Enquanto o número de famintos aumenta, o lucro assombroso de empresas de alimentação cresce exponencialmente, astronomicamente. De 2006 para cá, só a Cargill, empresa de grãos canadense, elevou seus lucros em mais de 2000%. O controle do mercado por um punhado de empresas com sede em países como EUA, Canadá, Japão, podendo especular com o preço da alimentação básica da população mundial visando apenas o lucro, causa fome a milhões de seres humanos que se alimentam do lixo, ou passam dias sem comer, muitas vezes sem moradia, doentes, na sua maior parte da África, América Latina e Ásia, e em número significativo de negros/as.
No Haiti, faz poucos anos que, de uma produção auto-suficiente de arroz, passou a importar todo o arroz que consume depois do ataque especulativo e de mercado das grandes empresas de alimento do mundo que acabou com a produção local - onde se plantava o alimento, agora se produz na sua maior parte cana para produção de biocombustível. O salário dos trabalhadores/as das cidades muitas vezes não chega a 1,80 dólares por dia, obrigados a trabalhar muitas horas diárias, inclusive crianças. Ao mesmo tempo tropas da ONU chefiadas pelo exército brasileiro mantém a população dentro das favelas, para não ameaçarem os negócios altamente lucrativos. No último mês a população se levantou para protestar contra o governo e saquear os supermercados para conseguir os alimentos que necessitava e as tropas reprimiram brutalmente. Além disso, a MINUSTAH aterroriza a população, tornando a vida insuportável, fazendo com que aceite qualquer condição de vida. Situações como essa acontecem em todo o mundo e só estão aumentando em número e intensidade. A própria FAO, organismo da Organização das Nações Unidas para alimentos, reconheceu que a a subida dos preços de alimentos - e, portanto, o aumento no número de famintos - vai continuar até pelo menos 2009.
A situação não parece escandalosa, ela é. A resposta dos pobres é imediata: desde saques a supermercados para poder se alimentar a intensificação das lutas dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, trabalho digno (cada vez mais sentido como autogestão e propriedade coletiva e não-estatal), controle pelas comunidades dos recursos naturais. A resposta dos podederosos também é rápida e muito forte: ainda maior aparelho repressivo militar e bélico, a própria privação material vivida por estes famintos, e um sistema midiático-ideológico quase onipresente. Ou acabamos com o capitalismo ou o capitalismo acaba conosco.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/blue/20 ... 2208.shtml
Do último ano pra cá, o preço dos alimentos básicos e o número dos/as extremamente pobres cresceu enormemente não só no Brasil, como no mundo todo. Por causa desta fome, rebeliões de famintos/as tem surgido em mais de 30 países. O trigo, o arroz, o feijão, o milho já aumentaram mais de 80% nos últimos meses. A diminuição da área de cultivo destes produtos dando lugar para o plantio de cana (produção de biocombustível), soja e a expansão dos pastos para gado; a especulação na bolsa de valores das ações das empresas de alimentos (também fruto da crise no mercado imobiliário norte-americano); a concentração de terras em mãos de poucos latifundiários na maior parte dos países da América Latina, África e Ásia; a maior importação de alimentos pela China, devido a uma crise na colheita do país de mais de 1 bilhão de habitantes; estes são alguns motivos deste aumento de preços gigantesco dos alimentos.
No Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o incentivo para a produção de bio-combustível, a construção de hidrelétricas fazendo com que dezenas de comunidades sejam deslocadas e percam suas terras. Além disso, os demais investimentos em projetos de integração de infra-estrutura, que fazem parte do projeto Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IRSA) e que visam facilitar o escoamento da produção para a exportação e o deslocamento da força de trabalho interno têm favorecido muito o aumento do preço da alimentação, levando à fome ainda mais uma parcela gigantesca da população, já que o abastecimento interno fica em segundo plano. Vale a pena se perguntar: como o país que ano a ano vem batendo recordes na produção de grãos vê os artigos básicos da alimentação como arroz e feijão aumentarem tão rapidamente de preços? E ainda escuta o governo dizer que o aumento nos preços é por que a oferta é menor que a procura.
Em pouco tempo, em todo o mundo, pelo menos mais 100 milhões de pessoas vão estar passando fome, juntando-se aos já pelo menos 840 milhões de famintos que vivem nas favelas das cidades ou nas beiras de estradas esperando algum serviço semi-escravo numa plantação de cana ou fazenda de gado ou mina de diamante. Enquanto o número de famintos aumenta, o lucro assombroso de empresas de alimentação cresce exponencialmente, astronomicamente. De 2006 para cá, só a Cargill, empresa de grãos canadense, elevou seus lucros em mais de 2000%. O controle do mercado por um punhado de empresas com sede em países como EUA, Canadá, Japão, podendo especular com o preço da alimentação básica da população mundial visando apenas o lucro, causa fome a milhões de seres humanos que se alimentam do lixo, ou passam dias sem comer, muitas vezes sem moradia, doentes, na sua maior parte da África, América Latina e Ásia, e em número significativo de negros/as.
No Haiti, faz poucos anos que, de uma produção auto-suficiente de arroz, passou a importar todo o arroz que consume depois do ataque especulativo e de mercado das grandes empresas de alimento do mundo que acabou com a produção local - onde se plantava o alimento, agora se produz na sua maior parte cana para produção de biocombustível. O salário dos trabalhadores/as das cidades muitas vezes não chega a 1,80 dólares por dia, obrigados a trabalhar muitas horas diárias, inclusive crianças. Ao mesmo tempo tropas da ONU chefiadas pelo exército brasileiro mantém a população dentro das favelas, para não ameaçarem os negócios altamente lucrativos. No último mês a população se levantou para protestar contra o governo e saquear os supermercados para conseguir os alimentos que necessitava e as tropas reprimiram brutalmente. Além disso, a MINUSTAH aterroriza a população, tornando a vida insuportável, fazendo com que aceite qualquer condição de vida. Situações como essa acontecem em todo o mundo e só estão aumentando em número e intensidade. A própria FAO, organismo da Organização das Nações Unidas para alimentos, reconheceu que a a subida dos preços de alimentos - e, portanto, o aumento no número de famintos - vai continuar até pelo menos 2009.
A situação não parece escandalosa, ela é. A resposta dos pobres é imediata: desde saques a supermercados para poder se alimentar a intensificação das lutas dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, trabalho digno (cada vez mais sentido como autogestão e propriedade coletiva e não-estatal), controle pelas comunidades dos recursos naturais. A resposta dos podederosos também é rápida e muito forte: ainda maior aparelho repressivo militar e bélico, a própria privação material vivida por estes famintos, e um sistema midiático-ideológico quase onipresente. Ou acabamos com o capitalismo ou o capitalismo acaba conosco.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/blue/20 ... 2208.shtml