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Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 16 Jun 2008, 18:36
por NadaSei
Pra quem gostou do texto ai vai na integra: (pra quem não gostou também, talvez entendam melhor outros trechos)

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Uma biblioteca pode ser muito grande, mas desordenada não é tão útil quanto uma pequena e
bem organizada. Do mesmo modo, um homem pode possuir uma grande quantidade de conhecimento,
mas se não o tiver trabalhado em sua mente por si, tem muito menos valor que uma quantidade muito
menor que foi cuidadosamente considerada. Pois é somente quando um homem analisa aquilo que sabe
em todos os aspectos, comparando uma verdade com outra, que se dá conta por completo de seu próprio
conhecimento e adquire seu poder. Um homem só pode ponderar a respeito daquilo que sabe – portanto,
deveria aprender algo; todavia, um homem só sabe aquilo sobre o que ponderou.

Ler e aprender são coisas que qualquer indivíduo pode fazer por seu próprio livre-arbítrio – mas
pensar não. O pensar deve ser incitado como o fogo pelo vento; deve ser sustentado por algum interesse
no assunto em questão. Esse interesse pode ser puramente objetivo ou meramente subjetivo. O último
existe em questões que nos dizem respeito pessoalmente. O interesse objetivo encontra-se somente nas
cabeças que pensam por natureza, para as quais pensar é tão natural quanto respirar – mas são muito
raras; por isso há tão pouco dele na maioria dos homens do conhecimento.

A diferença entre o efeito do pensar por si e da leitura sobre a mente é incrível. Por isso está
continuamente desenvolvendo a diferença original na natureza de duas mentes, que leva uma a pensar e
a outra a ler. Ler força pensamentos alheios sobre a mente – pensamentos que são alheios ao estado e
temperamento em que esta possa estar no momento, como o selo está para a cera, na qual estampa sua
marca. A mente, deste modo, está inteiramente sob compulsão externa; é levada a pensar isto ou aquilo,
apesar de que, no momento, talvez não tenha o menor impulso ou inclinação de fazê-lo.

Mas quando um homem pensa por si, segue o impulso de sua própria mente – seja pelo seu
ambiente ou alguma lembrança particular determinada pelo momento. O mundo visível do ambiente de
um homem não imprime – como a leitura faz – um único pensamento definido sobre sua mente, mas
apenas o proporciona o material e a ocasião que o levam a pensar naquilo que é apropriado à sua
natureza e temperamento presentes. Por esse motivo, muita leitura retira toda a elasticidade da mente; é
como manter uma fonte continuamente sob pressão. Se um homem não quer pensar por si, o plano mais
seguro é pegar um livro toda vez que não tiver nada para fazer. É esta prática que explica por que
erudição torna a maior parte dos homens mais estúpidos e tolos do que são por natureza, e previnem que
seus escritos obtenham qualquer nível de sucesso. Estes permanecem, como o papa disse, “Para sempre
lendo, nunca para serem lidos”.

Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza; foram estes que esclareceram o mundo e
levaram a humanidade um passo adiante. De fato, apenas os pensamentos fundamentais de um homem
têm veracidade e vida em si, pois estes são os únicos que compreende realmente e completamente. Ler
os pensamentos de outrem é como recolher os restos de uma refeição para a qual não fomos convidados
ou colocar as roupas que um estranho abandonou. O pensamento que lemos está para o pensamento que
surge em nós assim como a impressão fossilizada de alguma planta pré-histórica está para uma planta
florescendo na primavera.

Ler não é mais que um substituto para o pensar por si; significa permitir que sejam colocadas
guias nos pensamentos. Ademais, muitos livros servem apenas para demonstrar quantos caminhos
errôneos existem, e quão amplamente um homem pode ser descaminhado se se permitir guiar por estes.
Mas aquele que é guiado pelo seu gênio, aquele que pensa por si, que pensa espontaneamente e
precisamente, possui a única bússola pela qual pode se orientar corretamente. Portanto, um homem
somente deveria ler quando a fonte de seus pensamentos estagnam – algo que ocorre freqüentemente
mesmo com as melhores mentes. Por outro lado, pegar um livro com o propósito de afugentar os próprios
pensamentos é um pecado contra o Espírito Santo. É como fugir da Natureza para observar um museu de
plantas secas ou estudar uma bela paisagem em uma gravura.

Um homem pode ter alcançado alguma verdade ou sabedoria após ter devotado um grande tempo
pensando por si sobre o assunto, interligando seus vários pensamentos, quando poderia ter encontrado o
mesmo em um livro, poupando-o desse esforço. Mesmo assim, é cem vezes mais valioso que tenha o
alcançado pensando por si. Pois é apenas quando alcançamos nosso conhecimento desse modo que este
se introduz como uma parte integral, como um membro vivo no todo de nosso sistema de pensamento;
que permanece em uma relação forte e completa com aquilo que sabemos; que é compreendido
cabalmente com todas as suas implicações; que carrega a cor, a precisa sombra, a marca distintiva de
nosso próprio modo de pensar; que chega precisamente na hora certa – quando dele sentimos
necessidade; que se estabelece rapidamente e não pode ser esquecido. Esta é a perfeita aplicação – ou
melhor, interpretação – do conselho de Goethe, de ganharmos nossa herança para que possamos
realmente possui-la:
“O que homem herda só o pode chamar seu quando o utiliza.”

O homem que pensa por si forma suas opiniões e apenas posteriormente aprende as autoridades
sobre estas, quando servem somente para fortalecer sua crença nelas e em si. Mas o filósofo livresco
parte das autoridades; lê os livros de outrem, coleta suas opiniões, e assim constitui um todo para si – de
tal forma que se assemelha a um autômato, cuja composição não compreendemos. Contrariamente,
aquele que pensa por si se empenha como um homem vivente feito pela Natureza. A mente pensante é
alimentada pelo ambiente, a qual então forma e dá origem à sua criação.

A verdade que foi aprendida meramente como um membro artificial, um dente falso, um nariz de
cera – ou, no melhor caso, um nariz feito de carne de outrem – adere em nós apenas porque foi
encaixada; mas a verdade obtida através do próprio pensamento é como um membro natural – pertence-
nos por si só. Esta é a diferença fundamental entre o pensador e o mero homem do conhecimento. Deste
modo, as aquisições intelectuais do homem que pensa por si são como uma pintura refinada cheia de vida
– na qual a luz e a sombra estão corretas, o tom é contínuo e a cor perfeitamente harmonizada. Por outro
lado, as aquisições intelectuais do mero homem do conhecimento são como uma grande paleta cheia de
todos os tipos de cores que, no máximo, estão organizadas sistematicamente, mas sem harmonia, relação
e significado.

Ler é pensar com a cabeça de outrem em vez da própria. Pensar por si é esforçar-se para
desenvolver um todo coerente – um sistema, mesmo que não seja estritamente completo; nada atrapalha
mais esse objetivo que fortalecer a corrente de pensamento de outrem, como acontece por meio da
leitura contínua. Esses pensamentos, surgindo cada qual de mentes distintas, pertencentes a diferentes
sistemas, trazendo diferentes cores, nunca confluem para um todo intelectual; nunca constituem uma
unidade de conhecimento, insight ou convicção; pelo contrário, abarrotam a mente com uma confusão
babilônica de línguas. Conseqüentemente, a mente sobrecarrega-se de pensamentos alheios, perdendo
toda a clareza conceitual e tornando-se predominantemente desorganizada. Esse estado de coisas é
observável em muitos homens do conhecimento, o que os torna inferiores em compreensão sólida,
julgamento correto e diplomacia prática a muitos indivíduos iliteratos que, por meio da experiência,
conversação e alguma leitura, adquiriram um modesto conhecimento independentemente – e sempre o
fizeram subordinado e incorporado aos seus próprios pensamentos.

O verdadeiro pensador científico faz o mesmo que esses indivíduos iliteratos, mas em uma escala
muito maior. Mesmo necessitando de muito conhecimento e tendo de ler bastante, sua mente é poderosa
o suficiente para dominar isso tudo – assimilá-lo e incorporá-lo ao seu sistema de pensamento, e assim
subordiná-lo à unicidade orgânica de sua compreensão que, apesar de vasta, está sempre crescendo. Por
meio desse processo seu pensamento, como o grave em um órgão, sempre domina tudo e nunca se perde
entre os outros tons, como acontece com mentes que estão repletas de conhecimentos antiquados – onde
todos os tipos de passagens musicais se misturam e o tom fundamental perde-se completamente.

Aqueles que passaram suas vidas lendo e obtiveram seu conhecimento de livros são como
pessoas que conseguiram informações precisas sobre um país a partir da descrição de muitos viajantes.
Tais pessoas podem falar muito sobre muitas coisas; mas, em seu íntimo, não têm um conhecimento
conectado, claro e profundo da verdadeira condição do país. Aqueles que passaram suas vidas pensando
são como os próprios viajantes; apenas estes sabem de fato do que estão falando – compreendem o
assunto inteiramente e nisso sentem-se em casa.

O pensador está para o filósofo livresco assim como a testemunha ocular está para o historiador;
o primeiro fala a partir de sua própria compreensão direta do assunto. É esse o motivo pelo qual todos
aqueles que pensam por si, no fundo, chegam em grande parte às mesmas conclusões; quando divergem,
isso ocorre porque adotam diferentes pontos de vista – e quando esses não afetam a questão, todos
falam o mesmo. Estes simplesmente exprimem o resultado de sua compreensão objetiva das coisas. Há
muitas passagens em minhas obras que apenas concedi ao público após alguma hesitação devido à sua
natureza paradoxal; posteriormente tive a agradável surpresa de encontrar as mesmas opiniões
registradas nos trabalhos de grandes homens de épocas anteriores.

O filósofo livresco meramente relata o que um indivíduo disse e o que outro quis dizer, ou as
objeções levantadas por um terceiro, e assim por diante. Compara opiniões distintas, pondera, critica e
tenta chegar à verdade da questão; nesse aspecto, assemelhando-se ao historiador crítico. Tentará, por
exemplo, descobrir se Leibnitz foi por algum tempo um seguidor de Spinoza, e questões dessa natureza.
O estudante curioso de tais assuntos encontrará exemplos notáveis do que quero dizer no Analytical
Elucidation of Morality and Natural Right [Elucidação Analítica da Moralidade e do Direito Natural] de
Herbart e no Letters on Freedom [Cartas sobre a Liberdade] do mesmo autor. É surpreendente que tal
homem dê-se esse tipo de trabalho; pois é evidente que se houvesse fixado sua atenção no assunto teria
logo apreendido seu objeto pensando por si. Mas há uma pequena dificuldade a ser superada – isso não
depende de nossa vontade. Um homem sempre pode sentar-se e ler – mas não pensar. Pensamentos são
como homens: não podemos invocá-los segundo nossa vontade – temos de esperar que venham. O
pensamento sobre um assunto deve manifestar-se espontaneamente como uma feliz e harmoniosa
combinação de estímulos externos com o temperamento mental e a atenção; e é justamente isso que
nunca parece acontecer com tais pessoas.

Esta verdade pode ser ilustrada pelo que acontece em questões que concernem nosso interesse
próprio. Quando é necessário chegar a uma resolução numa questão desse gênero, não podemos
simplesmente sentar a qualquer momento, considerar as razões do caso e chegar a uma conclusão; pois,
se tentamos fazê-lo, freqüentemente nos vemos incapazes, naquele momento particular, de manter nossa
mente focada naquele assunto; esta vagueia a outras coisas; um repúdio pelo assunto às vezes é
responsável por isso. Em tal caso, não devemos usar a força, mas aguardar que o estado mental
adequado manifeste-se por si só; com freqüência este chega inesperadamente e mesmo repete-se; e a
variedade de temperamentos nos quais o analisamos em diferentes momentos sempre coloca o assunto
sob uma nova luz. Este é um longo processo que é compreendido pelo termo resolução madura. Pois a
tarefa de chegar a uma conclusão precisa ser distribuída; no processo, muito daquilo que foi ignorado em
um momento nos ocorre em outro; o repúdio desaparece quando percebemos – como ocorre comumente
numa inspeção mais minuciosa – que as coisas não são tão ruins quando pareciam à primeira vista.

Esta regra aplica-se à vida do intelecto assim como às questões práticas – o homem deve
aguardar pelo momento certo; nem a maior das mente é capaz de pensar por si todas as vezes. Portanto,
uma grande mente faz bem em gastar seu tempo livre com leitura que, como disse, é um substituto para
o pensamento próprio; novos materiais são importados à mente ao permitirmos que outrem pense por
nós, apesar de que isso sempre seja feito de um modo distinto do nosso. Assim, um homem não deve ler
em demasia a fim de que sua mente não se torne acostumada ao substituto e, conseqüentemente,
esqueça a realidade; a fim de que não se acostume a seguir caminhos que já foram trilhados, seguindo
um curso de pensamento alheio e esquecendo o próprio. De maneira nenhuma um homem deveria
desviar sua atenção do mundo real em prol da leitura, pois o impulso e o estado que levam alguém a
pensar por si procedem muito mais freqüentemente do mundo da realidade que do mundo dos livros. A
vida real que um homem vê diante de si é o objeto natural do pensamento; e, em sua força como
elemento primário da existência, pode com a maior facilidade incitar e influenciar a mente pensante.

Após essas considerações, não será surpreendente que um homem que pensa por si pode ser
facilmente diferenciado do filósofo livresco pelo próprio modo como fala, pela sua acentuada honestidade
e a originalidade, retidão e convicção pessoal que marcam todos seus pensamentos e expressões. O
filósofo livresco, por outro lado, deixa evidente que tudo nele é de segunda mão; suas idéias são como
uma coleção de farrapos coletados de todos os cantos; mentalmente, é vagaroso e sem sentido – uma
cópia de uma cópia. Seu estilo literário é repleto de frases convencionais, ou melhor, vulgares, e termos
correntes; neste particular, assemelha-se muito a um pequeno Estado onde todo o dinheiro em circulação
é estrangeiro, pois não há cunhagem própria.

A mera experiência toma o lugar do pensamento com a mesma precariedade da leitura. O simples
empirismo está para o pensamento assim como comer está para a digestão e assimilação. Quando a
experiência alardeia que sozinha, por meio de suas descobertas, promoveu o avanço do conhecimento
humano, está a proceder como uma boca que alega possuir todo o crédito por manter a saúde do corpo.

Os trabalhos das mentes realmente capazes se diferenciam pelo caráter de decisão e definição
pelos quais se livram da obscuridade. Uma mente realmente capaz sempre sabe precisamente e
claramente aquilo que deseja expressar – seja na forma de prosa, verso ou música. Outras mentes
deixam a desejar em termos de decisão e clareza, e assim podem ser prontamente identificadas pelo que
são.
O sinal característico de uma mente de primeira ordem é a retidão de seu julgamento – sempre
julga em primeira mão. Tudo que profere é resultado do pensamento próprio; e isso se mostra patente
pelo modo como exprime seus pensamentos. Tal mente é como um príncipe – no reino do intelecto sua
autoridade é imperial, enquanto a autoridade das outras mentes é meramente delegada, como pode ser
visto pelo seu estilo, que não tem um traço próprio.

Deste modo, todo aquele que realmente pensa por si é como um monarca – sua posição é
absoluta, não reconhece ninguém acima de si. Seus julgamentos, como decretos reais, advêm de seu
próprio poder soberano e procedem diretamente dele. Aceita a autoridade tão pouco quanto um monarca
admite um comando; nada é válido a não ser que tenha autorizado pessoalmente. Por outro lado, a
multidão de mentes vulgares, influenciadas por todos os tipos de opiniões populares, autoridades e
preconceitos são como as pessoas que, em silêncio, obedecem a lei e aceitam ordem de superiores.

Aqueles que são ávidos e impacientes por resolver questões polêmicas citando autoridades
realmente se satisfazem quando conseguem colocar a compreensão e o insight de outrem no campo – no
lugar de seus próprios, que são precários. Seu número é legionário. Pois, como Sêneca diz, todos homens
preferem acreditar a exercitar o julgamento – unusquisque mavult credere quam judicare. Em suas
controvérsias, tais pessoas comumente fazem um uso promíscuo do artifício da autoridade – atacam-se
mutuamente com esta. Se alguém se envolver em tal disputa, não obterá sucesso utilizando a razão e
argumentação como defesa; pois contra uma arma desse gênero essas pessoas são como Siegfrieds*1
com pele espinhosa, submersos numa enchente de incapacidade de pensar e julgar. Estes atacarão
levantando suas autoridades na tentativa de rebaixar o adversário – argumentum ad verecundiam [apelo
à autoridade], e então gritam victoria.

No mundo real, seja este justo, favorável e agradável como for, sempre vivemos sujeitos à lei da
gravidade, a qual temos de superar constantemente. Mas no mundo intelectual somos espíritos livres,
sem o controle da lei da gravidade e livres da penúria e aflição. Por essa razão não há felicidade na terra
como aquela que, no momento propício, uma mente refinada e frutuosa encontra em si.

A presença de um pensamento é como a presença da mulher amada. Imaginamos que nunca
esqueceremos esses pensamentos nem nos tornaremos indiferentes à amada. Mas fora da vista, fora da
mente! O pensamento mais refinado corre o risco de ser irrecuperavelmente esquecido se não for
anotado, e a amada de ser abandonada se com esta não nos casarmos.

Há muitos pensamentos que são valiosos ao homem que os pensa; mas poucos deles têm força
para produzir uma ação repercussiva ou reflexiva – isto é, ganhar a simpatia do leitor após ter sido
colocado no papel.

Mas não se deve esquecer que o verdadeiro valor está apenas no que um homem pensou
diretamente para seu próprio caso. Pensadores podem ser classificados da seguinte forma: aqueles que
predominantemente pensam para seu próprio caso e aqueles que pensam para o caso de outrem. Os
primeiros são os genuínos pensadores independentes – estes de fato pensam e são de fato
independentes; são os verdadeiros filósofos – somente estes a sério; o prazer e a felicidade de sua
existência consiste em pensar. Os outros são sofistas; desejam parecer aquilo que não são, e buscam sua
felicidade naquilo que esperam receber do mundo – é nisso que consiste sua seriedade. Pode-se ver a
qual das duas classes um homem pertence através de todo o seu estilo e conduta. Lichtenberg é um
exemplo da primeira classe, enquanto Herder obviamente pertence à segunda.

Quando alguém considera quão vasto e quão próximo de nós está o problema da existência – esta
nossa equívoca, atormentada, fugaz e onírica existência –, tão vasto e próximo que tão rapidamente
quanto alguém o percebe, este ofusca e obscurece todos os outros problemas e objetivos; e quando
alguém vê como todos os homens – com poucas e raras exceções – não têm uma consciência clara do
problema – ou melhor, mal percebem sua presença –, mas ocupam-se com tudo, menos isso, e vivem a
pensar somente para o dia presente e dificilmente para além da duração de seu futuro pessoal, enquanto
explicitamente desistem do problema ou estão prontos para aceitá-lo com o auxílio de algum sistema
metafísico popular, satisfazendo-se com isso; quando alguém reflete sobre isso, pode adotar a opinião de
que o homem só pode ser considerado um ser pensante num sentido muito remoto, e assim não sentir
qualquer surpresa especial ante quaisquer traços de irreflexão ou tolice humanas; mas sabendo que, até
certo ponto, a amplitude da visão intelectual de um homem normal de fato supera a do animal – cuja
existência inteira assemelha-se a um presente contínuo sem qualquer consciência do futuro ou do
passado –, mas não numa distância imensurável como normalmente se supõe.

Isso é, de fato, corroborado pelo modo como a maior parte dos homens conversa; vemos que
seus pensamentos são podados, tornando impossível que desenvolvam a linha de seu discurso em
qualquer sentido.

Se esse mundo fosse povoado por seres realmente pensantes, o barulho de todo tipo não seria
permitido até limites tão generosos, como é o caso com a maioria de suas formas horríveis e ao mesmo
tempo inúteis.*2 Se a Natureza tivesse feito o homem para pensar, não lhe teria dado ouvidos; ou lhe
teria equipado com abas de isolamento acústico – que são as invejáveis posses do morcego. Mas, na
verdade, o homem é um pobre animal como o resto, e suas capacidades têm o único propósito de mantê-
lo na luta pela existência; deste modo, precisa manter seus ouvidos sempre abertos para anunciar, dia e
noite, a aproximação do perseguidor.
Fonte:

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 16 Jun 2008, 20:09
por Fenrir
Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza


Parei por aqui.
Homens de genio invariavelmente leram muito, muito mesmo e conheceram tudo ou quase tudo o que havia em suas areas de conhecimento para depois comecarem a criar.

Leibniz era um leitor compulsivo, de qualquer tipo de assunto

Aristoteles comecou sua metafisica relatando o que os seus predecessores pensaram.

Ha inumeras alusoes ao pensamento dos pre-socraticos em todos os dialogos de Platao.

Gibbon lia compulsivamente e como prova de sua erudicao, sua obra-prima, Decline and Fall of the Roman Empire, faz referencias a mais de 8000 fontes!

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 16 Jun 2008, 22:59
por Edson Jr
Fenrir escreveu:
Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza


Parei por aqui.
Homens de genio invariavelmente leram muito, muito mesmo e conheceram tudo ou quase tudo o que havia em suas areas de conhecimento para depois comecarem a criar.

Acho que o autor quis dizer que a pessoa de gênio não deve apenas se limitar a ler passivamente, absorvendo suas leituras de forma não-crítica. É necessário também refletir, pensar por si, sem se limitar demasiamente com apenas aquilo que se lê...

Talvez esse texto não peça uma leitura muito literal...

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 00:59
por Res Cogitans
Fenrir escreveu:
Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza


Parei por aqui.
Homens de genio invariavelmente leram muito, muito mesmo e conheceram tudo ou quase tudo o que havia em suas areas de conhecimento para depois comecarem a criar.

Leibniz era um leitor compulsivo, de qualquer tipo de assunto

Aristoteles comecou sua metafisica relatando o que os seus predecessores pensaram.

Ha inumeras alusoes ao pensamento dos pre-socraticos em todos os dialogos de Platao.

Gibbon lia compulsivamente e como prova de sua erudicao, sua obra-prima, Decline and Fall of the Roman Empire, faz referencias a mais de 8000 fontes!


Até para criticar uma posição você tem conhecer um pouco dela, o texto é uma ode ao preconceito, a arrogância e ao achismo, perfeito para uma filosofia de botequim e só.
Isaac Newton: "Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes."

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 05:50
por NadaSei
Edson Jr escreveu:Acho que o autor quis dizer que a pessoa de gênio não deve apenas se limitar a ler passivamente, absorvendo suas leituras de forma não-crítica. É necessário também refletir, pensar por si, sem se limitar demasiamente com apenas aquilo que se lê...

Talvez esse texto não peça uma leitura muito literal...

Exato.
Ele fala sobre o que eu prefiro chamar de diferença entre cultura e conhecimento, conheço grandes leitores que, a primeira vista, apresentam raciocínios lindos nos quais verdadeiramente acreditam, mas que de fato, não compreendem.
Basta tentar levar uma discussão mais profunda com esse tipo de gente, para ver que são pseudo-intelectuais, muita informação e pouco conhecimento, onde os lindos raciocínios que a principio defendem, não passam de copy/paste de algum livro.

Ele também fala sobre a importância do conhecimento vivido e raciocinado, em comparação ao conhecimento teórico engolido. Seria o conhecimento dos livros, mais como um reforço daquilo que já aprendemos a duras penas na vida e após muita meditação.
Isso explica o motivo de muitas vezes lermos um livro ou assistirmos um filme pela segunda ou terceira vez, e compreendermos coisas distintas, coisas que antes não havíamos captado na obra, agora nos são acessíveis, outras percebemos que não havíamos entendido corretamente.
A leitura é como um segunda opinião e como um reforço para aquilo que já aprendemos, questionamos, para aquilo que já sabemos, muito mais do que um fonte de novos conhecimentos "libertadores" e "transformadores". Fala sobre dizer não a autoridade do autor e ser o soberano do próprio raciocínio.

Claro que aqui, ele não está a falar exatamente sobre instrução científica, sobre livros didáticos, se o fizesse, falaria sobre como a experiência profissional e pratica de, digamos, um engenheiro eletrônico que pensa livremente, ser mais importante que seu estudo acadêmico, embora o estudo inicial seja um apoio que permite o engenheiro dar os primeiros passos e se aventurar em adquirir conhecimento real sobre tudo aquilo que, a principio, ele apenas estudou.

Fica claro que sua critica não é ao estudo ou a leitura em si, no ponto em que cita a mente científica e diz: "O verdadeiro pensador científico faz o mesmo que esses indivíduos iliteratos, mas em uma escala muito maior. Mesmo necessitando de muito conhecimento e tendo de ler bastante, sua mente é poderosa o suficiente para dominar isso tudo – assimilá-lo e incorporá-lo ao seu sistema de pensamento, e assim subordiná-lo à unicidade orgânica de sua compreensão que, apesar de vasta, está sempre crescendo."

Esse cara é genial, adoro ele.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 06:08
por NadaSei
Fenrir escreveu:
Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza


Parei por aqui.
Homens de genio invariavelmente leram muito, muito mesmo e conheceram tudo ou quase tudo o que havia em suas areas de conhecimento para depois comecarem a criar.

Leibniz era um leitor compulsivo, de qualquer tipo de assunto

Aristoteles comecou sua metafisica relatando o que os seus predecessores pensaram.

Ha inumeras alusoes ao pensamento dos pre-socraticos em todos os dialogos de Platao.

Gibbon lia compulsivamente e como prova de sua erudicao, sua obra-prima, Decline and Fall of the Roman Empire, faz referencias a mais de 8000 fontes!

Para com isso Fenrir, antes leia e depois critique... vai perder um ótimo texto por julgar o todo, com base em duas linhas que te desagradaram e isoladas não condizem com o texto como um todo.

Esse cara é MUITO bom, adoro ele.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 06:15
por NadaSei
Res Cogitans escreveu:Até para criticar uma posição você tem conhecer um pouco dela, o texto é uma ode ao preconceito, a arrogância e ao achismo, perfeito para uma filosofia de botequim e só.
Isaac Newton: "Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes."

Ode ao preconceito... filosofia de botequim... arrogância e achismo...

Confiaria mais em sua capacidade de discernimento sobre que filosofia é de botequim e que filosofia é relevante, se a critica fosse acompanhada de argumentos sobre o texto em si, mas como apenas "decreta" que assim é, baseado muito provavelmente em preconceito, não sobra muito do que tirar dessa opinião.

O texto é quase perfeito, esse cara é genial, melhor ler novamente... e entender o que está sendo dito.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 06:36
por NadaSei
Atualizei o texto e coloquei na integra, como é muito bom, vale o esforço de ler algo mais longo.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 06:53
por NadaSei
(erro, foi duplicado aqui)

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 09:46
por Bellé
Há 2.000 anos atrás tudo o que tinha sido escrito poderia ser lido em dois anos...

Hoje iriamos precisar dos mesmos 2.000 anos para ler metade do que foi produzido...

.
.
.

O que fazer com o que não existe se nunca conseguiremos entender tudo o que existe???

.
.
.

O certo persiste até o contrário existir!!!

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 09:54
por Bellé
O que seria melhor:

Falar uma asneira que já existe ou não falar nada???

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 09:57
por Bellé
Ou melhor...

Perder uma vida lendo alguma coisa e morrer na hora de dizer!!!

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:09
por SickBoy
realmente tentei ler. foram uns 6 parágrafos. mas depois de uma série de analogias toscas (ler é como ter uma piroca na bunda, pensar por si mesmo é como currar uma virgem, bla bla bla), e de ver que o autor não possui o mínimo respeito cagando suas convicções sobre - quem diria - o leitor, irei ignorar completamente essa imposição de pensamento um tanto pretensa.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:16
por Jeanioz
SickBoy escreveu:realmente tentei ler. foram uns 6 parágrafos. mas depois de uma série de analogias toscas (ler é como ter uma piroca na bunda, pensar por si mesmo é como currar uma virgem, bla bla bla)


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:19
por SickBoy
uma dúvida: a quem o autor chama de gênios? quais foram seus grandes feitos?

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:33
por Jack Torrance

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:46
por Bellé
Jack Torrance escreveu:http://ateus.net/artigos/ceticismo/do_pensar_por_si.php

Autor: Arthur Schopenhauer



Concordo e digo... somos hoje cada vez mais especialistas em comparar opiniões pelo que os outros pensaram, destruir idéias apartir do que os outros falaram e inclusive concordar com o que os outros escreveram...

Usamos o que temos a nossa volta por ser justamente mais fácil e poderoso tais argumentos... evitando assim pensar!!!

Será que existe espaço para algo novo, ou o que eu penso hoje pode ter sido pensando ontem lá no Japão???

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:48
por Fenrir
Edson Jr escreveu:
Fenrir escreveu:
Homens do conhecimento são aqueles que leram páginas de livros. Pensadores e homens de gênio
são aqueles que foram diretamente ao livro da Natureza


Parei por aqui.
Homens de genio invariavelmente leram muito, muito mesmo e conheceram tudo ou quase tudo o que havia em suas areas de conhecimento para depois comecarem a criar.

Acho que o autor quis dizer que a pessoa de gênio não deve apenas se limitar a ler passivamente, absorvendo suas leituras de forma não-crítica. É necessário também refletir, pensar por si, sem se limitar demasiamente com apenas aquilo que se lê...

Talvez esse texto não peça uma leitura muito literal...


Sem duvida que apenas absorver conhecimentos e não fazer nada com os mesmos não é o que chamaríamos de atitude lá muito inteligente. Mas ainda assim é preferivel àquela de quem nada leu e dando azo a sua criatividade e tendo idéias em profusão, as tem como novidades e sequer se dá conta de que elas podem ter sido pensadas, aprofundadas e mesmo refutadas há muito tempo e por muitos outros antes dele... além de se correr o risco de dizer asneiras ou usar de falácias primárias igualmente sem sequer se dar conta do fato!

Por isso penso, que há que se fazer sempre as duas coisas: ler muito e trabalhar o material lido para dele extrair novas idéias... com a ressalva de que a leitura deve ser feita sempre em primeiro lugar, para depois de ter absorvido conhecimento suficiente, começar a criar, criticar, etc.
Para mim, pensar tendo pouco material disponível equivale a tentar criar uma obra-prima da pintura dispondo de apenas uma cor e um tipo de pincel e do zero, sem saber nada ou quase nada de técnicas de pintura...

É claro que se pode fazer isto (criar, criticar) enquanto se lê e absorve conhecimentos, mas o que se cria e critica nesta fase, de aquisição de conhecimentos, deveria ser considerado, na minha opinião, como exercício ou no máximo material em estado bruto, que necessitaria de muito trabalho antes de ser exposto (caso nao fosse descartado!) e não como idéias, críticas e análises maduras, acabadas.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:50
por SickBoy
Jack Torrance escreveu:http://ateus.net/artigos/ceticismo/do_pensar_por_si.php

Autor: Arthur Schopenhauer




autor de:

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Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:52
por Bellé
Jack Torrance escreveu:http://ateus.net/artigos/ceticismo/do_pensar_por_si.php

Autor: Arthur Schopenhauer



Concordo e digo... somos hoje cada vez mais especialistas em comparar opiniões pelo que os outros pensaram, destruir idéias apartir do que os outros falaram e inclusive concordar com o que os outros escreveram...

Usamos o que temos a nossa volta por ser justamente mais fácil e poderoso tais argumentos... evitando assim pensar!!!

Será que existe espaço para algo novo, ou o que eu penso hoje pode ter sido pensando ontem lá no Japão???

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 10:57
por Fenrir
Bellé escreveu:
Jack Torrance escreveu:http://ateus.net/artigos/ceticismo/do_pensar_por_si.php

Autor: Arthur Schopenhauer



Concordo e digo... somos hoje cada vez mais especialistas em comparar opiniões pelo que os outros pensaram, destruir idéias apartir do que os outros falaram e inclusive concordar com o que os outros escreveram...

Usamos o que temos a nossa volta por ser justamente mais fácil e poderoso tais argumentos... evitando assim pensar!!!

Será que existe espaço para algo novo, ou o que eu penso hoje pode ter sido pensando ontem lá no Japão???


Devemos usar o que há a nossa volta e pensar, usado este conhecimento como ponto de partida. Portanto, devemos fazer ambas as coisas.

O problema é que, como a massa de conhecimento gerada pela humanidade aumenta cada vez mais e em ritmo alucinante, torna-se impossível saber de tudo, portanto é necessário alguma especialização e interdisciplinaridade para ter a pretensão de criar.
E, justamente por causa disso, é que não podemos, mais do que nunca, abrir mão de conhecer bem os caminhos já trilhados pelos outros, antes de nos aventurarmos
a trilhar os nossos próprios.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 11:07
por Res Cogitans
NadaSei escreveu:
Res Cogitans escreveu:Até para criticar uma posição você tem conhecer um pouco dela, o texto é uma ode ao preconceito, a arrogância e ao achismo, perfeito para uma filosofia de botequim e só.
Isaac Newton: "Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes."

Ode ao preconceito... filosofia de botequim... arrogância e achismo...

Confiaria mais em sua capacidade de discernimento sobre que filosofia é de botequim e que filosofia é relevante, se a critica fosse acompanhada de argumentos sobre o texto em si, mas como apenas "decreta" que assim é, baseado muito provavelmente em preconceito, não sobra muito do que tirar dessa opinião.

O texto é quase perfeito, esse cara é genial, melhor ler novamente... e entender o que está sendo dito.


O texto é bastante prolixo e repetitivo e está claramente focado num estilo de vida científica que não corresponde aos tempos de hoje. Pensar sobre "como funciona o coração" seria ficar sentado imaginando de que maneira o coração funciona e se auto-refutando até conseguir uma resposta que satisfaça ao ego. Essa era a maneira que muito filósofos tentavam chegar a verdade. Foi esta maneira que Shopenhauer tentou explicar os relacionamentos humanos, a felicidade etc. Tudo sem experimentos, apenas com a contemplação passiva da natureza. E foi assim que Shopenhauer conseguir ser bastante original e bastante equivocado sobre vários aspectos da natureza humana.
É uma ode ao preconceito porque valoriza o julgamento espontâneo, justamente o cheio de conceitos imaturos que seriam melhor trabalhados se se estudasse o objeto antes.
É uma ode a filosofia de botequim por que estimula uma visão que a contemplação passiva da natureza oferece respostas, aparentemente tão boas quanto a intervenção na natureza.
É uma ode a arrogânica e ao achismo por menosprezar o edifício intelectual construído por outras pessoas antes de você. Qualquer indivíduo alimenta algumas idéias sobre como as pessoas se comportam, como amam, como traem, como pensam, a maioria delas se considera altamente perpicaz na sua observação meditativa do mundo.
A literatura em psicologia da criatividade dá bastante respaldo a justamente o oposto do pregado por Shopenhauer, pessoas altamente criativas em uma área estudaram, leram e fizeram o diabo naquela área, de forma que o conhecimento liberta o gênio e não o aprisiona. Isso serve inclusive para jogadores de xadrez! Os jogadores de xadrez que tiveram mais acesso a literatura de estratégias no jogo são muito melhores do que os que não tiveram acesso a esta literatura! E mais... os mestres de hoje dão um banho nos mestres de antigamente que tinham que reinventar a roda sempre.
Siga o caminho de Shopenhauer e terá ideías originais e erradas e/ou originais e medíocres (como os jogares de xadez sem acesso às estratégias de outros jogadores).
A conhecida expressão "estar no ombro de gigantes" é a que melhor imagem da genialidade, o gênio não se faz sozinho ele precisar do alicerce dos outros, mas sua grande contribuição será enxergar mais longe, dar um passo além. E não vai ser reinventando a roda que ele conseguirá isso.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 12:01
por Res Cogitans
Fenrir escreveu:Sem duvida que apenas absorver conhecimentos e não fazer nada com os mesmos não é o que chamaríamos de atitude lá muito inteligente. Mas ainda assim é preferivel àquela de quem nada leu e dando azo a sua criatividade e tendo idéias em profusão, as tem como novidades e sequer se dá conta de que elas podem ter sido pensadas, aprofundadas e mesmo refutadas há muito tempo e por muitos outros antes dele... além de se correr o risco de dizer asneiras ou usar de falácias primárias igualmente sem sequer se dar conta do fato!

Por isso penso, que há que se fazer sempre as duas coisas: ler muito e trabalhar o material lido para dele extrair novas idéias... com a ressalva de que a leitura deve ser feita sempre em primeiro lugar, para depois de ter absorvido conhecimento suficiente, começar a criar, criticar, etc.
Para mim, pensar tendo pouco material disponível equivale a tentar criar uma obra-prima da pintura dispondo de apenas uma cor e um tipo de pincel e do zero, sem saber nada ou quase nada de técnicas de pintura...

É claro que se pode fazer isto (criar, criticar) enquanto se lê e absorve conhecimentos, mas o que se cria e critica nesta fase, de aquisição de conhecimentos, deveria ser considerado, na minha opinião, como exercício ou no máximo material em estado bruto, que necessitaria de muito trabalho antes de ser exposto (caso nao fosse descartado!) e não como idéias, críticas e análises maduras, acabadas.


Exato.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 18:30
por NadaSei
A tendência tem sido a de ignorar esse trecho:

"O verdadeiro pensador científico faz o mesmo que esses indivíduos iliteratos, mas em uma escala muito maior. Mesmo necessitando de muito conhecimento e tendo de ler bastante, sua mente é poderosa o suficiente para dominar isso tudo – assimilá-lo e incorporá-lo ao seu sistema de pensamento, e assim subordiná-lo à unicidade orgânica de sua compreensão que, apesar de vasta, está sempre crescendo."

No texto, ele não está falando sobre o estudo científico propriamente dito, mas sobre o "pensar livremente" e sobre os "livres pensadores". Quando cita o que chama de "verdadeiro" pensador científico, não nega a necessidade de estudo, aponta que é necessário combinar uma mente que pensa livremente com um estudo profundo.

De fato, a critica não é a leitura, ao estudo propriamente, ele mesmo lia (óbvio), a critica é muito mais ao conhecimento teórico puro, a pessoas que muito estudam isso e aquilo, "intelectuais" versados em tudo, que espantam os próprios pensamentos e os substituem pelos de outros.
Nossas mentes tem interesses de momento, experiências e aprendizados de época. É vivendo, observando e pensando sobre o que vivemos e observamos, que aprendemos realmente, nesse caso, livros podem no máximo reforçar ou ordenar esse aprendizado, bem como apontar aquilo que TEMOS que observar diretamente.
Do contrario, o estudo puro, seria como ouvir de terceiros uma descrição sobre o quão bela é Veneza, conhecimento esse, que livreiros de plantão julgam ser a ultima coca-cola do deserto, e buscam com muito vigor, mantendo suas mentes atoladas do conhecimento teórico de terceiros, conhecimento que não passa de uma sombra distorcida da realidade observada por outro.

O fato principal aqui é que o conhecimento só pode ser verdadeiro, quando observado. Não é difícil ver pessoas que, por exemplo, lêem um texto e "acham" que entenderem, mas na verdade não entenderam nada, por não terem conhecimento direto sobre o que o texto fala, então interpretam errado o que o autor quis dizer. Dai a diferença do que se percebe em um livro, quando o lemos novamente dez anos depois.

Re: Sobre quem pensa livremente.

Enviado: 17 Jun 2008, 18:36
por Edson Jr
NadaSei escreveu:Ele fala sobre o que eu prefiro chamar de diferença entre cultura e conhecimento, conheço grandes leitores que, a primeira vista, apresentam raciocínios lindos nos quais verdadeiramente acreditam, mas que de fato, não compreendem.

Basta tentar levar uma discussão mais profunda com esse tipo de gente, para ver que são pseudo-intelectuais, muita informação e pouco conhecimento, onde os lindos raciocínios que a principio defendem, não passam de copy/paste de algum livro.


Concordo 100%

NadaSei escreveu:Ele também fala sobre a importância do conhecimento vivido e raciocinado, em comparação ao conhecimento teórico engolido. Seria o conhecimento dos livros, mais como um reforço daquilo que já aprendemos a duras penas na vida e após muita meditação.
Isso explica o motivo de muitas vezes lermos um livro ou assistirmos um filme pela segunda ou terceira vez, e compreendermos coisas distintas, coisas que antes não havíamos captado na obra, agora nos são acessíveis, outras percebemos que não havíamos entendido corretamente.
A leitura é como um segunda opinião e como um reforço para aquilo que já aprendemos, questionamos, para aquilo que já sabemos, muito mais do que um fonte de novos conhecimentos "libertadores" e "transformadores". Fala sobre dizer não a autoridade do autor e ser o soberano do próprio raciocínio.


Perfeitamente...

NadaSei escreveu:Claro que aqui, ele não está a falar exatamente sobre instrução científica, sobre livros didáticos, se o fizesse, falaria sobre como a experiência profissional e pratica de, digamos, um engenheiro eletrônico que pensa livremente, ser mais importante que seu estudo acadêmico, embora o estudo inicial seja um apoio que permite o engenheiro dar os primeiros passos e se aventurar em adquirir conhecimento real sobre tudo aquilo que, a principio, ele apenas estudou.

Fica claro que sua critica não é ao estudo ou a leitura em si, no ponto em que cita a mente científica e diz: "O verdadeiro pensador científico faz o mesmo que esses indivíduos iliteratos, mas em uma escala muito maior. Mesmo necessitando de muito conhecimento e tendo de ler bastante, sua mente é poderosa o suficiente para dominar isso tudo – assimilá-lo e incorporá-lo ao seu sistema de pensamento, e assim subordiná-lo à unicidade orgânica de sua compreensão que, apesar de vasta, está sempre crescendo."


Bom...faz tempo que não concordo plenamente com alguém.

Dispenso comentários...

NadaSei escreveu:Esse cara é genial, adoro ele.


Já leu Nietzsche?

Nietzsche, na minha opinião, superou Schopenhauer...