Obra eleitoreira de Crivella só reformou fachada de barracos

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Fernando Silva
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Obra eleitoreira de Crivella só reformou fachada de barracos

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 19/06/08

Prefeitura desistiu de obra na favela


Marcelo Dutra


O secretário municipal de Assistência Social, Marcelo Garcia, afirmou ontem que a Prefeitura desistiu de participar do projeto Cimento Social, no Morro da Providência, iniciado há oito meses, por discordar, radicalmente, do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) em pontos fundamentais da obra. Segundo o secretário Garcia, o município não abriu mão de começar as obras pelas áreas mais pobres e de priorizar os beneficiários do programa Bolsa Família, que já estavam cadastrados numa pré-lista oficial, utilizada pelo governo federal.

Mas, segundo o secretário municipal, Crivella desprezou a lista oficial e insistiu para que um novo cadastro fosse feito pelos membros da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Os fiéis da denominação, da qual Crivella já foi bispo, começaram o cadastramento dos moradores que seriam contemplados pela reforma de 782 casas, mas após as denúncias de que a obra teria caráter eleitoreiro, pararam o trabalho.

A lista, então, passou a ser feita, a partir de dezembro passado, pela associação de moradores da Providência.

Segundo Garcia, o senador ainda queria começaras obras pelas casas voltadas para a Cidade do Samba, o que daria mais visibilidade à iniciativa. Garcia considerou a exigência do senador uma proposta eleitoreira e a Prefeitura acabou abrindo mão de participar da obra.

Como poderia assumir um projeto social que faz fachada, teto e parede em casas e despreza banheiro, encanamento, ou seja, o fundamental? — indaga Garcia.

Projeto irá custar R$ 16,6 milhões até o fim do ano Segundo o secretário, projetos sociais semelhantes, mantidos pela Prefeitura, gastam em média, por casa, entre R$ 800 e R$ 1,2 mil para realizar reformas em comunidades carentes. O projeto Cimento Social, criado por Crivella, consumirá até o final do ano, R$ 16,6 milhões — cerca de R$ 22 mil por imóvel reformado.

Procurado pelo GLOBO, o senador Marcelo Crivella não respondeu às acusações de Garcia.

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Acordo com bandidos

Um relatório do Serviço de Inteligência do Exército mostra que a chegada do projeto Cimento Social ao Morro da Providência teria sido precedida de negociações, feitas por supostos colaboradores do senador Marcelo Crivella, com traficantes da área, que teriam oferecido trégua se não fossem incomodados pela tropa.

O acerto teria sido informado ao Exército durante uma reunião na Associação de Moradores, da qual participaram o coronel Alberto Tavares da Silva, o tenente-coronel Fernando dos Santos Raulino e o capitão Ademar Barros Moura Filho. A informação consta de um relatório do Serviço de Inteligência do Exército, como informou o jornal “Extra” em abril.

No documento, constam os nomes também do ex-presidente da associação, Nelson Gomes, e dois homens identificados apenas como Gilmar e Eduardo, que seria o responsável por levar a proposta do tráfico. O relatório os classifica como assessores do senador Marcelo Crivella.

O documento apontava ainda para desvios de conduta da tropa. Escutas mostraram que militares que participaram da ocupação teriam pedido dinheiro (“arrego”) a traficantes para não interferirem na venda de drogas. O Comando Militar do Leste não disse que providências tomou após o relatório.

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TRE-RJ investiga uso da máquina pública
Dimmi Amora

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) abriu um procedimento para investigar o possível uso da máquina pública em benefício de candidato, nas obras do projeto Cimento Social. Desde o início do projeto do governo federal, ele é atribuído ao senador Marcelo Crivella (PRB), pré-candidato à prefeitura do Rio que é do partido do vice-presidente, e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ministérios da Defesa e das Cidades, responsáveis pela obra, já receberam ofícios do tribunal pedido informações sobre a obra, mas, até hoje, não responderam.

De acordo com o chefe da fiscalização da propaganda eleitoral do TRE-RJ, Luiz Fernando Santa Brígida, o procedimento foi iniciado logo depois das obras, através de uma denúncia anônima que chegou ao tribunal.

Na denúncia, há um DVD com imagens do pré-candidato na favela. Há também um cartão impresso com uma foto pequena do morro como está atualmente, uma imagem grande mostrando como ficará a favela após a obra e uma foto do senador, com a inscrição: “senador Marcelo Crivella”.

Vice-presidente do TRE já encaminhou ofícios O chefe de fiscalização da propaganda afirmou que o vicepresidente do Tribunal, Alberto Mota Moraes, aguarda a resposta aos ofícios do TRE para dar prosseguimento ao procedimento investigatório: — Dependemos agora das respostas dos ministérios, que estão atrasadas, para continuar o trabalho — disse.

Apesar de afirmar que o projeto Cimento Social é de sua autoria, o senador Marcelo Crivella ainda não conseguiu aprovar no senado o projeto 541/2007 em que autoriza o governo a criar “programa de melhoria habitacional em áreas urbanas de risco sob coordenação do Comando do Exército”. O projeto prevê que sejam feitas melhorias nas habitações, como na Providência. Mesmo sem autorização legislativa, que não era necessária por lei, o Ministério do Exército fez o programa. O dinheiro para a obra é do orçamento do Ministério das Cidades.

Das 13 emendas parlamentares apresentadas por Crivella em 2007, nenhuma é para a cidade do Rio. As emendas para construção de casas são para municípios do interior e da Baixada: Vassouras, Caxias, Meriti, Teresópolis e Resende.

Trancado