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Por causa de gente assim ainda acredito no Brasil

Enviado: 20 Jun 2008, 08:26
por Aranha

Auto-retrato

Miriam Tendler
Veja num. 2065
17/6/2008

Desde a década de 70, a médica Miriam Tendler, de 59 anos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, dedica-se à criação de uma vacina para a esquistossomose, infecção parasitária com 200 milhões de vítimas no mundo, das quais 10 milhões são brasileiras. Os testes em humanos começam em 2009. Se tudo der certo, será uma conquista magnífica para a ciência nacional. Miriam conversou com a repórter Adriana Dias Lopes.

Como nasceu seu interesse pela esquistossomose?
No 3º ano da faculdade, fui estagiar num grupo de testes de medicamentos contra a doença no Instituto Nacional de Endemias Rurais, hoje pertencente à Fiocruz. O antígeno (substância que estimula o organismo a produzir anticorpos) usado nessas pesquisas era feito a partir de vermes triturados – um composto preparado de maneira rudimentar. Tive, então, a idéia de usar as secreções e excreções dos próprios vermes. Como esses compostos são mais puros do que os parasitas amassados por inteiro, eles poderiam dar origem a um antígeno mais preciso. Foi o que ocorreu. Nos testes em coelhos, minha mistura atingiu uma eficácia superior a 90%.

O desenvolvimento de uma vacina leva, em média, dez anos. Por que a sua demorou tanto?
Por causa das limitações tecnológicas do Brasil. Esse atraso fez com que apenas no início da década de 90 conseguíssemos identificar o antígeno da vacina, a molécula SM14. Houve um momento em que pensei ter chegado ao fim da linha. Dezenas de antígenos contra a esquistossomose já estavam sendo testados em várias partes do mundo e nós nem sequer havíamos descoberto a nossa molécula. Era como se os outros países andassem em aviões supersônicos e nós viajássemos em carroças.

Como a senhora superou essas dificuldades?
Em 1987, entrei num curso de pós-doutorado de três meses no Marine Biological Laboratory, nos Estados Unidos. Foi uma grande oportunidade, porque os alunos que já estivessem envolvidos em projetos em seu país de origem poderiam dar continuidade a eles. Transportei o material de pesquisa (amostras de soro e vermes congelados) numa caixinha de isopor, dentro do meu nécessaire. Lá, trabalhei dia e noite. Meus colegas queriam me levar para passear e eu respondia: "Não posso. Logo mais vou voltar para o mato e tenho de aproveitar ao máximo os equipamentos daqui". Retornei com algumas moléculas identificadas. Cinco anos depois, eu e minha equipe chegamos ao antígeno definitivo.

"Sem falsa modéstia, a nossa vacina é muito melhor"


Em 1998, o seu antígeno recebeu a chancela da Organização Mundial de Saúde (OMS). O que isso significa?
Foi a primeira vez que o Brasil chegou à seleção final de antígenos na OMS. De todas as moléculas contra a esquistossomose em estudo no mundo, a instituição classificou apenas duas como promissoras – a nossa e uma francesa. Sem falsa modéstia, a nossa vacina é muito melhor. A francesa é eficaz apenas contra um tipo de verme. A brasileira, contra os três tipos de verme. Além disso, a nossa tem potencial para ser usada contra outras dezenas de doenças parasitárias. Ela também já se mostrou eficaz contra a fasciolose hepática, uma doença que ataca o gado e é responsável pela perda de 3 bilhões de dólares por ano no mundo. Tudo isso com a patente da Fiocruz e financiamento 100% nacional.

Como a senhora conseguiu conciliar tanta dedicação à pesquisa com a vida doméstica?
Estou divorciada há quase vinte anos. Tenho três filhos maravilhosos e me esforcei muito para estar perto deles. Mas nem sempre conseguia. Quando os mais novos, os gêmeos, tinham apenas 6 meses, fiquei um mês longe deles. Por causa da tese de doutorado, tive de ir para uma praia distante. Sem luz, eu cozinhava em latas e dormia em casa de pescadores. Obviamente só podia levar o mais velho, de 3 anos. Hoje tenho um neto, Caetano, de 1 ano e meio – e com ele será diferente. Cheguei a uma fase da vida em que preciso de mais tempo para mim. Quero ver os brasileiros imunizados contra a esquistossomose, mas quero também ler revista de fofoca.


Abraços,

Re: Por causa de gente assim ainda acredito no Brasil

Enviado: 20 Jun 2008, 08:47
por O ENCOSTO
Veja num. 2065



Parei ai.

Re: Por causa de gente assim ainda acredito no Brasil

Enviado: 20 Jun 2008, 08:50
por Aranha
O ENCOSTO escreveu:
Veja num. 2065



Parei ai.


:emoticon22:

Re: Por causa de gente assim ainda acredito no Brasil

Enviado: 20 Jun 2008, 09:52
por Johnny
Estou divorciada há quase vinte anos...


Parei aqui... (20 + 25 + 30 + 15 = GAGÁ)

Re: Por causa de gente assim ainda acredito no Brasil

Enviado: 20 Jun 2008, 12:44
por Fernando Silva
Abmael escreveu:
Desde a década de 70, a médica Miriam Tendler, de 59 anos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, dedica-se à criação de uma vacina para a esquistossomose, infecção parasitária com 200 milhões de vítimas no mundo, das quais 10 milhões são brasileiras. Os testes em humanos começam em 2009. Se tudo der certo, será uma conquista magnífica para a ciência nacional.

Não deixe o MST saber disto, senão eles vão lá e destroem tudo.