esquecida pela ideologia
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A Batalha de Stalingrado, talvez o maior e mais sangrento confronto militar da história, marcou o ponto de viragem dos aliados na 2ª Guerra Mundial, o início do fim do 3º Reich de Adolf Hitler. Hoje subestimada por motivos ideológicos, essa batalha selou o destino de Hitler e despertou em todo o mundo esperanças na vitória do socialismo.
No dia 2 de Fevereiro de 1943, capitulou no distrito fabril, no norte de Stalingrado, o último bolsão dos invasores nazistas, 40 mil soldados e oficiais alemães sob o comando do general Strecker. Do dia 10 de Janeiro até essa data, as tropas da Frente do Rio Don, chefiadas pelo general Rokossovski, derrotaram 22 divisões alemãs e mais 160 unidades de reforço e de retaguarda do 6º Exército, um dos melhores da Wehrmacht, sob o comando do marechal-de-campo Friedrich Paulus. Nessa ofensiva final, o Exército Vermelho capturou, junto com Paulus, 24 generais, 2.500 oficiais e 91 mil soldados.
O anúncio da capitulação chegou a Berlim três dias depois da comemoração do 10º aniversário da chegada de Adolf Hitler ao poder. Segundo o historiador William Shirer, autor de Ascenção e Queda do Terceiro Reich , o comunicado da derrota -- que, por ordem do ministro da propaganda, Joseph Goebbels, omitiu a rendição dos 91 mil soldados do 6º Exército -- foi precedido de um rufar de tambores abafados e seguida do segundo movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven. Hitler decretou quatro dias de luto nacional e mandou fechar todos os cinemas, teatros e casas de diversão durante esse período.
Todos os números envolvendo a Batalha de Stalingrado são superlativos. O académico soviético A. Samsónov, autor de A Batalha de Stalingrado , conta que o Exército Vermelho derrotou nessa frente cinco exércitos: dois alemães (o 6º e o 4º de tanques); dois romenos (o 3º e o 4º) e um italiano (o 8º). Segundo seus cálculos, os soviéticos destruíram completamente 32 divisões e três brigadas; provocaram a perda de metade dos efectivos de outras 16 divisões; e teriam matado cerca de 800 mil homens. No total, as baixas dos alemães de seus aliados — entre mortos, feridos e capturados — teriam chegado a 1,5 milhão de pessoas, ou 25% das forças de que dispunham no início da invasão da União Soviética, em Junho de 1941. Os nazistas perderam também 3.500 tanques e peças de assalto; mais de 3 mil aviões de combate e de transporte; 12 mil peças de artilharia e morteiros; 75 mil viaturas, etc. Em contrapartida, segundo informa o historiador inglês Antony Beevor, o Exército Vermelho sofreu durante essa campanha 1,1 milhão de baixas, das quais 485.751 fatais.
O sacrifício não foi em vão. Com a derrota em Stalingrado, Hitler não pôde completar seu plano de conquistar a região do Cáucaso, no Sul da URSS, e seguir adiante para juntar as tropas com o Afrika Korps, do marechal Erwin Rommel, que havia chegado ao Egipto em Agosto de 1942. Depois disso, a perspectiva era unir as tropas alemãs com os japoneses, cuja Armada estava no Oceano Índico nessa época, pronta para invadir a Índia.
É mais ou menos consensual a constatação de que Hitler cometeu seu maior erro estratégico ao se decidir pela invasão da União Soviética, em Junho de 1941, dando início à "Operação Barbarossa". Nessa ocasião, as tropas nazistas já haviam feito as principais conquistas na Frente Ocidental (que se estendia desde a Noruega até os Pirineus e do rio Tamisa ao rio Elba), incluindo a ocupação de Paris. O Reino Unido enfrentava a Alemanha praticamente sozinha, sem poder contar ainda com a ajuda dos Estados Unidos, cuja posição isolacionista dividia o país. Em vez de iniciar uma segunda "Batalha da Grã-Bretanha", que certamente submeteria a resistência já combalida dos britânicos, Hitler resolveu abrir a "Frente Oriental", esperando "esmagar a Rússia soviética numa rápida campanha antes do fim da guerra contra a Inglaterra". Seu objectivo era garantir o abastecimento e tornar invencível a sua máquina de guerra com os cereais da Ucrânia e o petróleo do Cáucaso.
Nos primeiros seis meses da invasão, a Wehrmacht obteve vitórias espectaculares. No norte, as divisões Panzer do marechal Wilhelm Josef Franz von Leeb atravessaram os países bálticos e, com o apoio de seus aliados finlandeses, chegaram aos arredores de Leninegrado, a segunda maior cidade russa. No centro, sob o comando do marechal Fedor Bock tomaram Minsk, a capital da Bielorússia em menos de um mês e, logo em seguida, Smolensk, não muito distante de Moscovo, fazendo mais de 600 mil prisioneiros. No sul, o marechal Gerd von Rundstedt capturou a capital da Ucrânia, Kiev (com outros 600 mil prisioneiros), e depois Odessa, o principal porto soviético no mar Negro. A ofensiva final sobre Moscovo teve início em Outubro. Na batalha de Vyasma, as tropas do marechal von Bock capturaram mais 600 mil soviéticos. Em Dezembro, destacamentos alemães chegaram aos arredores da capital, já em pleno inverno. Os soldados estavam exaustos. E o pior para eles é que o marechal Gueorgui Konstantinovitch Júkov iniciava a contra-ofensiva soviética de três meses, com tropas descansadas. Diante do fracasso na batalha de Moscovo, Hitler exonerou o comandante da Wehrmacht, marechal Heinrich Alfred Hermann Walther von Brauchistch, assumindo o posto ele próprio. Foi quando se decidiu pela ofensiva ao Cáucaso, na primavera de 1942.
De acordo com Samsónov, Stalingrado tinha, na época, 445 mil habitantes. Naquela cidade às margens do rio Volga funcionava um importante parque industrial e comercial, com 126 empresas, 30 das quais de importância nacional. Sua fábrica de tractores, símbolo da indústria soviética, havia produzido mais da metade dos 300 mil tractores então em operação no país. A fábrica Krasni Oktiabr produzia 776 mil toneladas de aço por ano e 584 mil toneladas de laminados. Também eram relevantes a fábrica Barricadi, os estaleiros e a central termoeléctrica. Na região, trabalhavam 325 mil operários e empregados. A cidade era também um centro cultural, com 125 escolas, vários centros de ensino superior, teatros, galerias de pintura e ginásios desportivos.
Mais importante ainda, Stalingrado era uma encruzilhada de comunicações, unindo a parte europeia da URSS com a Ásia Central e a região dos Montes Urais. Por ali passava uma estrada que unia as regiões centrais do país com o Cáucaso, escoadouro do petróleo de Baku. Na época, a cidade também se transformou num símbolo, por ter sido baptizada com o nome do líder soviético Joseph Stalin.
É fora de dúvida que o Führer subestimou a capacidade dos soviéticos de lhe opor resistência. Assim, quando o 6º Exército se rendeu, a derrocada do 3º Reich tornou-se uma questão de tempo, a ser consumada com a tomada de Berlim pelos exércitos do marechal Júkov, no dia 7 de 1945.
Três dias depois do final da batalha de Stalingrado, o presidente americano Franklin Roosevelt enviou uma mensagem de congratulações a Stalin "por sua brilhante vitória". Segundo Roosevelt, "os 162 dias da épica batalha pela cidade... serão lembrados como um dos mais dignos capítulos desta guerra dos povos que se uniram contra o nazismo e seus emuladores. Os comandantes e os soldados de seus exércitos e os homens e mulheres que os apoiaram nas fábricas e no campo cobriram de glória não apenas os braços de seu país, mas inspiraram e renovaram com o seu exemplo a determinação de todas as nações unidas de empenhar toda a sua energia para conseguir a derrota final e a rendição incondicional do inimigo comum".
Já no primeiro encontro dos "três grandes" na Conferência de Teerão, em novembro de 1943 — Stalin, Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill — a bravura dos moradores de Stalingrado foi reconhecida por meio de um gesto singelo, a entrega de uma espada enviada pelo rei George VI, na qual foi gravada a seguinte frase: "Aos cidadãos de coração de ferro de Stalingrado, um presente do rei George VI, como sinal da homenagem do povo britânico".
http://resistir.info/varios/stalingrado.html
Carta a Stalingrado
Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.
Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!
A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.
As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.
(Andrade, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 1987)
No dia 2 de Fevereiro de 1943, capitulou no distrito fabril, no norte de Stalingrado, o último bolsão dos invasores nazistas, 40 mil soldados e oficiais alemães sob o comando do general Strecker. Do dia 10 de Janeiro até essa data, as tropas da Frente do Rio Don, chefiadas pelo general Rokossovski, derrotaram 22 divisões alemãs e mais 160 unidades de reforço e de retaguarda do 6º Exército, um dos melhores da Wehrmacht, sob o comando do marechal-de-campo Friedrich Paulus. Nessa ofensiva final, o Exército Vermelho capturou, junto com Paulus, 24 generais, 2.500 oficiais e 91 mil soldados.
O anúncio da capitulação chegou a Berlim três dias depois da comemoração do 10º aniversário da chegada de Adolf Hitler ao poder. Segundo o historiador William Shirer, autor de Ascenção e Queda do Terceiro Reich , o comunicado da derrota -- que, por ordem do ministro da propaganda, Joseph Goebbels, omitiu a rendição dos 91 mil soldados do 6º Exército -- foi precedido de um rufar de tambores abafados e seguida do segundo movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven. Hitler decretou quatro dias de luto nacional e mandou fechar todos os cinemas, teatros e casas de diversão durante esse período.
Todos os números envolvendo a Batalha de Stalingrado são superlativos. O académico soviético A. Samsónov, autor de A Batalha de Stalingrado , conta que o Exército Vermelho derrotou nessa frente cinco exércitos: dois alemães (o 6º e o 4º de tanques); dois romenos (o 3º e o 4º) e um italiano (o 8º). Segundo seus cálculos, os soviéticos destruíram completamente 32 divisões e três brigadas; provocaram a perda de metade dos efectivos de outras 16 divisões; e teriam matado cerca de 800 mil homens. No total, as baixas dos alemães de seus aliados — entre mortos, feridos e capturados — teriam chegado a 1,5 milhão de pessoas, ou 25% das forças de que dispunham no início da invasão da União Soviética, em Junho de 1941. Os nazistas perderam também 3.500 tanques e peças de assalto; mais de 3 mil aviões de combate e de transporte; 12 mil peças de artilharia e morteiros; 75 mil viaturas, etc. Em contrapartida, segundo informa o historiador inglês Antony Beevor, o Exército Vermelho sofreu durante essa campanha 1,1 milhão de baixas, das quais 485.751 fatais.
O sacrifício não foi em vão. Com a derrota em Stalingrado, Hitler não pôde completar seu plano de conquistar a região do Cáucaso, no Sul da URSS, e seguir adiante para juntar as tropas com o Afrika Korps, do marechal Erwin Rommel, que havia chegado ao Egipto em Agosto de 1942. Depois disso, a perspectiva era unir as tropas alemãs com os japoneses, cuja Armada estava no Oceano Índico nessa época, pronta para invadir a Índia.
É mais ou menos consensual a constatação de que Hitler cometeu seu maior erro estratégico ao se decidir pela invasão da União Soviética, em Junho de 1941, dando início à "Operação Barbarossa". Nessa ocasião, as tropas nazistas já haviam feito as principais conquistas na Frente Ocidental (que se estendia desde a Noruega até os Pirineus e do rio Tamisa ao rio Elba), incluindo a ocupação de Paris. O Reino Unido enfrentava a Alemanha praticamente sozinha, sem poder contar ainda com a ajuda dos Estados Unidos, cuja posição isolacionista dividia o país. Em vez de iniciar uma segunda "Batalha da Grã-Bretanha", que certamente submeteria a resistência já combalida dos britânicos, Hitler resolveu abrir a "Frente Oriental", esperando "esmagar a Rússia soviética numa rápida campanha antes do fim da guerra contra a Inglaterra". Seu objectivo era garantir o abastecimento e tornar invencível a sua máquina de guerra com os cereais da Ucrânia e o petróleo do Cáucaso.
Nos primeiros seis meses da invasão, a Wehrmacht obteve vitórias espectaculares. No norte, as divisões Panzer do marechal Wilhelm Josef Franz von Leeb atravessaram os países bálticos e, com o apoio de seus aliados finlandeses, chegaram aos arredores de Leninegrado, a segunda maior cidade russa. No centro, sob o comando do marechal Fedor Bock tomaram Minsk, a capital da Bielorússia em menos de um mês e, logo em seguida, Smolensk, não muito distante de Moscovo, fazendo mais de 600 mil prisioneiros. No sul, o marechal Gerd von Rundstedt capturou a capital da Ucrânia, Kiev (com outros 600 mil prisioneiros), e depois Odessa, o principal porto soviético no mar Negro. A ofensiva final sobre Moscovo teve início em Outubro. Na batalha de Vyasma, as tropas do marechal von Bock capturaram mais 600 mil soviéticos. Em Dezembro, destacamentos alemães chegaram aos arredores da capital, já em pleno inverno. Os soldados estavam exaustos. E o pior para eles é que o marechal Gueorgui Konstantinovitch Júkov iniciava a contra-ofensiva soviética de três meses, com tropas descansadas. Diante do fracasso na batalha de Moscovo, Hitler exonerou o comandante da Wehrmacht, marechal Heinrich Alfred Hermann Walther von Brauchistch, assumindo o posto ele próprio. Foi quando se decidiu pela ofensiva ao Cáucaso, na primavera de 1942.
De acordo com Samsónov, Stalingrado tinha, na época, 445 mil habitantes. Naquela cidade às margens do rio Volga funcionava um importante parque industrial e comercial, com 126 empresas, 30 das quais de importância nacional. Sua fábrica de tractores, símbolo da indústria soviética, havia produzido mais da metade dos 300 mil tractores então em operação no país. A fábrica Krasni Oktiabr produzia 776 mil toneladas de aço por ano e 584 mil toneladas de laminados. Também eram relevantes a fábrica Barricadi, os estaleiros e a central termoeléctrica. Na região, trabalhavam 325 mil operários e empregados. A cidade era também um centro cultural, com 125 escolas, vários centros de ensino superior, teatros, galerias de pintura e ginásios desportivos.
Mais importante ainda, Stalingrado era uma encruzilhada de comunicações, unindo a parte europeia da URSS com a Ásia Central e a região dos Montes Urais. Por ali passava uma estrada que unia as regiões centrais do país com o Cáucaso, escoadouro do petróleo de Baku. Na época, a cidade também se transformou num símbolo, por ter sido baptizada com o nome do líder soviético Joseph Stalin.
É fora de dúvida que o Führer subestimou a capacidade dos soviéticos de lhe opor resistência. Assim, quando o 6º Exército se rendeu, a derrocada do 3º Reich tornou-se uma questão de tempo, a ser consumada com a tomada de Berlim pelos exércitos do marechal Júkov, no dia 7 de 1945.
Três dias depois do final da batalha de Stalingrado, o presidente americano Franklin Roosevelt enviou uma mensagem de congratulações a Stalin "por sua brilhante vitória". Segundo Roosevelt, "os 162 dias da épica batalha pela cidade... serão lembrados como um dos mais dignos capítulos desta guerra dos povos que se uniram contra o nazismo e seus emuladores. Os comandantes e os soldados de seus exércitos e os homens e mulheres que os apoiaram nas fábricas e no campo cobriram de glória não apenas os braços de seu país, mas inspiraram e renovaram com o seu exemplo a determinação de todas as nações unidas de empenhar toda a sua energia para conseguir a derrota final e a rendição incondicional do inimigo comum".
Já no primeiro encontro dos "três grandes" na Conferência de Teerão, em novembro de 1943 — Stalin, Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill — a bravura dos moradores de Stalingrado foi reconhecida por meio de um gesto singelo, a entrega de uma espada enviada pelo rei George VI, na qual foi gravada a seguinte frase: "Aos cidadãos de coração de ferro de Stalingrado, um presente do rei George VI, como sinal da homenagem do povo britânico".
http://resistir.info/varios/stalingrado.html
Carta a Stalingrado
Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.
Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!
A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.
As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
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(Andrade, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 1987)
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
- Fernando Silva
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Re: esquecida pela ideologia
spink escreveu:Em contrapartida, segundo informa o historiador inglês Antony Beevor, o Exército Vermelho sofreu durante essa campanha 1,1 milhão de baixas, das quais 485.751 fatais.
O rigor do inverno russo ajudou a derrotar os nazistas, e também sua dispersão por muitas frentes de combate em várias partes da Europa e da África, mas um dos motivos da vitória russa foi a quantidade de soldados: morriam 100 mil, eles mandavam mais 100 mil para morrer também, até esgotar os nazistas.
E as mulheres também participaram, muitas delas como pilotos. Como atacavam à noite, planando com o motor desligado para não serem detectadas até chegar em cima do alvo, eram chamadas pelos nazistas de "bruxas da noite".
Re: esquecida pela ideologia
A divergência entre o Nazismo e o Comunismo não foi tanto de caráter ideológioco, mas sim o desentendimento entre as duas partes quanto ao pacto de não-agressão.
Re: esquecida pela ideologia
Fernando Silva escreveu:spink escreveu:Em contrapartida, segundo informa o historiador inglês Antony Beevor, o Exército Vermelho sofreu durante essa campanha 1,1 milhão de baixas, das quais 485.751 fatais.
O rigor do inverno russo ajudou a derrotar os nazistas, e também sua dispersão por muitas frentes de combate em várias partes da Europa e da África, mas um dos motivos da vitória russa foi a quantidade de soldados: morriam 100 mil, eles mandavam mais 100 mil para morrer também, até esgotar os nazistas.
E as mulheres também participaram, muitas delas como pilotos. Como atacavam à noite, planando com o motor desligado para não serem detectadas até chegar em cima do alvo, eram chamadas pelos nazistas de "bruxas da noite".
li por aí que o exército vermelho recrutava mulheres como atiradoras de elite - por serem melhores que os homens em ficar várias horas "paradas" (inclusive fazendo necessidades fisiológicas sem se moverem).
como "pilotas" é novidade.
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Re: esquecida pela ideologia
spink escreveu: li por aí que o exército vermelho recrutava mulheres como atiradoras de elite - por serem melhores que os homens em ficar várias horas "paradas" (inclusive fazendo necessidades fisiológicas sem se moverem).
como "pilotas" é novidade.
http://en.wikipedia.org/wiki/Night_Witches
As pilotos russas, que os alemães chamavam de "Bruxas da Noite", voavam em aviões biplanos obsoletos, mas muito estáveis. Elas desligavam o motor, planavam até o alvo, largavam as bombas com precisão e só então religavam e fugiam.
Os alemães só percebiam sua chegada quando já dava para ouvir o assobio do vento.
The Night Witches (Nachthexen in German, Ночные ведьмы in Russian) was the nickname the Germans gave to the World War II Soviet Air Forces 588th Night Bomber Regiment, later called the 46th Taman Guards Night Bomber Aviation Regiment, a women-only combat regiment formed at the instigation of Marina Raskova and led by Major Yevdokia Bershanskaya.
From June 1942, the 588th Night Bomber Regiment was within the 4th Air Army. In February 1943 the regiment was honored with a reorganization into the 46th Guards Night Bomber Aviation Regiment and in October 1943 it became the 46th Taman Guards Night Bomber Aviation Regiment. [1]
The regiment flew harassment bombing and precision bombing[2] missions from 1942 to the end of the war. At its largest size, it had 40 two-person crews. It flew over 23,000 sorties and is said to have dropped 3,000 tons of bombs. It was the most highly-decorated unit in the Soviet Air Force, each pilot having flown over 1,000 missions by the end of the war and twenty-three having been awarded the Hero of the Soviet Union title. Thirty-one of its members died in combat.
The regiment flew in wood and canvas Polikarpov Po-2 biplanes, a 1928 design intended for use as training aircraft and for crop-dusting. The planes could carry only two bombs at a time, so multiple missions in a night were necessary. Although the aircraft were obsolete and slow, the pilots made daring use of their exceptional maneuverability; they had the advantage of having a maximum speed that was lower than the stall speed of both the Messerschmitt Bf 109 and the Focke-Wulf Fw 190, as a result, the German pilots found them very difficult to shoot down. A stealthiness technique of the night bombers was to shut the engine off near the target and glide to the bomb release point, with only wind noise to reveal their location.
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Re: esquecida pela ideologia
"O Globo" 27/03/10
Vespas contra o Eixo
Congresso homenageia pioneiras da aviação militar dos EUA
Flávio Henrique Lino
Até o dia 7 de dezembro de 1941, Deanie Bishop levava a vida normal de uma adolescente na pacata Avon Park, na Flórida, onde sessões no Cinema Avalon, flertes com os rapazes e uma espécie de dança das cadeiras — mas sem cadeiras — sobre números no chão em torno do coreto eram as únicas quebras na rotina de localidade interiorana para uma moça de 19 anos.
No entanto, naquele dia tenebroso esse mundinho monótono e previsível veio abaixo. As bombas japonesas que tiraram as vidas de 2.471 americanos em Pearl Harbor, no longínquo Havaí, despertaram abruptamente a sonolenta cidade — e o resto dos Estados Unidos — para a brutal realidade da Segunda Guerra, que há dois anos consumia a Europa em ferro e fogo. E as biografias de Deanie e de outras 1.829 mulheres de todas as partes do país mudaram para sempre.
Dias atrás, um punhado delas reviveu aqueles momentos turbulentos ao receber, no Capitólio em Washington, a Medalha de Ouro do Congresso, a mais alta honraria concedida a civis por serviços prestados à nação.
Embora tardio, o reconhecimento quase sete décadas depois é celebrado por Deanie, pelas outras 300 e poucas sobreviventes e pelas famílias das que já morreram.
Muitas hoje avós e bisavós, elas foram as primeiras mulheres pilotos das Forças Armadas dos EUA.
— Todos estavam fazendo algo pelo país, contribuindo para o esforço de guerra. Cada um fazia o seu melhor.
E que eu podia fazer melhor era pilotar — disse Deanie, ao GLOBO, do Texas. — Na época, não me considerava uma pioneira, mas apenas uma cidadã patriota querendo ajudar o país de uma maneira diferente.
A ideia de mulheres no comando de aviões militares já fora ventilada por duas veteranas da aviação feminina americana em 1940 e 1941, antes ainda da entrada do país na guerra, mas não encontrara respaldo no alto comando. Várias intrépidas voluntárias cruzaram então o Atlântico para voarem no Serviço Auxiliar de Transporte Aéreo, da Real Força Aérea britânica, que em janeiro de 1940, na iminência da Batalha da Inglaterra contra a Luftwaffe, escancarou as portas às mulheres.
Após Pearl Harbor, a coisa mudou de figura. Deflagrada a emergência nacional com o ataque japonês — seguido da declaração de guerra pela Alemanha — logo ficou patente que os EUA não dispunham de pilotos para lutar em duas frentes de batalha, na Europa e no Pacífico. Com o apoio aberto da primeira-dama Eleanor Roosevelt, em 10 de setembro de 1942 as pioneiras da aviação militar feminina americana entraram em serviço.
Os dois esquadrões logo foram unificados sob o nome de Women Airforce Service Pilots (Wasp, na sigla que em inglês também significa “vespa”).
— Eu adorava aviões e aprendi a pilotar no verão de 1941, com 18 anos. Nenhuma outra mulher que eu conhecia pilotava, mas mesmo assim minha família me deu todo apoio. Quando a guerra estourou, quis ajudar meu país — conta Shutsy Reynolds, veterana atualmente na Pensilvânia.
Mais de 25 mil mulheres se apresentaram como voluntárias para o novo serviço, mas menos de 1.900 foram aceitas nos dois anos em que o programa durou até sua extinção, em dezembro de 1944. Todas já sabiam pilotar aviões e o treinamento era praticamente o mesmo dos cadetes homens, exceto pelo fato de que elas não eram mandadas para a frente de batalha.
Sua missão era voar com os aviões das fábricas até as bases aéreas ou aos pontos de embarque para o teatro exterior, rebocar alvos para exercícios de defesa antiaérea, transportar carga e simular bombardeios aéreos. Estacionadas em 120 bases aéreas espalhadas pelos EUA, elas tiveram um papel considerável no esforço de guerra americano, levando ao destino 12.650 aeronaves — mais de 50% do total de aviões de combate entregues dentro do território americano.
Desmobilizadas antes do fim da guerra, as Wasps viram o país renegálas ao esquecimento. Muitas tiveram de pagar do próprio bolso a passagem de ônibus para casa, e durante décadas ninguém ouviu falar delas.
Os historiadores gastaram rios de tinta com os feitos heroicos dos campos de batalha mundo afora, mas elas sequer foram reconhecidas como veteranas militares até 1977. E somente no ano passado, o presidente Barack Obama assinou a lei concedendo-lhes a honraria maior da nação, que o Congresso entregou agora.
— Nossos registros foram guardados sob classificação de secretos, ficamos enterradas por 30 anos. É por isso que muita gente nem sabe que existimos — lamenta Shutsy, que, após a guerra, tentou sem sucesso obter emprego como piloto na aviação civil, e só pôde continuar voando como hobby. — Os homens pilotos que voltavam da guerra tinham preferência. Em muitos empregos me diziam que eu tinha as qualificações, mas era mulher...
Durante décadas sem o reconhecimento do próprio país, elas ao menos tiveram a satisfação da certeza de que seu esforço ajudou os EUA na vitória final contra o Eixo, em 1945. E algumas, como Deanie, levaram um prêmio-extra para casa após a desmobilização. Foi numa base aérea na Flórida, onde servia em 1944, que a jovem conheceu seu futuro marido, também piloto. Ele fora abatido sobre a Iugoslávia e enviado de volta aos EUA para treinar novas levas de pilotos. Das missões conjuntas — ela pilotando um B-26 rebocador de alvos, e ele logo atrás, no comando de outra aeronave em exercício de tiro — os dois acabaram no altar.
— Ainda bem que ele não errava os tiros — brinca Deanie, que, hoje, junto com a filha Nancy, cuida do site Wings Across America, um tributo às “vespas”que mudaram a história da aviação militar dos EUA.
Re: esquecida pela ideologia
O Comunismo é uma merda, Stalin era um psicopata, mas o povo russo é o bicho. Pelo menos em combate pela defesa de sua Pátria.
Quase toda História da Segunda Guerra escrita no Ocidente supervaloriza a superioridade numérica como fator decisivo da vitória final dos russos, mas hoje estudos mais recentes despertam a suspeita de que os generais aliados deram crédito demais ao depoimentos de generais alemães (particularmente daqueles sobre os quais não pesavam acusações de crimes de guerra) que descreviam o Exército Vermelho como uma horda infindável de bárbaros que não importava quantos morressem sempre havia mais a serem trazidos da retaguarda.
Se corretas as novas avaliações, as divisões russas tinham menos homens do que geralmente estimados, o total de soldados na ofensiva não era esmagadoramente superior como geralmente se diz e cada vez mais surgem histórias de coisas quase impossíveis que os russos fizeram ou suportaram para vencer uma batalha.
A favor da tese há os números enormes de baixas e prisioneiros que os russos sofreram no início da ofensiva alemã, números fatais até para a população soviética no início da guerra, por volta de 180 milhões contando povos que não morriam de amores pela Rússia Stalinista, como ucranianos, bálticos e tártaros.
Ideologias a parte, na Grande Guerra Patriótica, como os russos a chamam, mesmo considerado todo terrorismo comunista que executava sumária e imediatamente qualquer soldado que recuasse, aquela Rússia que entrou em Berlim seria melhor associada a Tolstói do que a Stalin, não fosse as barbaridades que cometeram contra mulheres alemãs durante a conquista, o que se não se justifica, pelo menos se explica pelo que foi a Alemanha nazista.
Quase toda História da Segunda Guerra escrita no Ocidente supervaloriza a superioridade numérica como fator decisivo da vitória final dos russos, mas hoje estudos mais recentes despertam a suspeita de que os generais aliados deram crédito demais ao depoimentos de generais alemães (particularmente daqueles sobre os quais não pesavam acusações de crimes de guerra) que descreviam o Exército Vermelho como uma horda infindável de bárbaros que não importava quantos morressem sempre havia mais a serem trazidos da retaguarda.
Se corretas as novas avaliações, as divisões russas tinham menos homens do que geralmente estimados, o total de soldados na ofensiva não era esmagadoramente superior como geralmente se diz e cada vez mais surgem histórias de coisas quase impossíveis que os russos fizeram ou suportaram para vencer uma batalha.
A favor da tese há os números enormes de baixas e prisioneiros que os russos sofreram no início da ofensiva alemã, números fatais até para a população soviética no início da guerra, por volta de 180 milhões contando povos que não morriam de amores pela Rússia Stalinista, como ucranianos, bálticos e tártaros.
Ideologias a parte, na Grande Guerra Patriótica, como os russos a chamam, mesmo considerado todo terrorismo comunista que executava sumária e imediatamente qualquer soldado que recuasse, aquela Rússia que entrou em Berlim seria melhor associada a Tolstói do que a Stalin, não fosse as barbaridades que cometeram contra mulheres alemãs durante a conquista, o que se não se justifica, pelo menos se explica pelo que foi a Alemanha nazista.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!