Estaria o Iraque tão mal assim? Ou a invasão foi positiva?

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Fernando Silva
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Estaria o Iraque tão mal assim? Ou a invasão foi positiva?

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 29/06/08

"Temos enorme interesse no Brasil. E dinheiro não falta"

Ministro de indústria e energia do Iraque diz que quer atrair indústrias brasileiras,como refinarias de açúcar


ENTREVISTA com Fauzi Al Hariri

O ministro da Indústria, Minas e Energia do Iraque, Fauzi Al Hariri — que foi perseguido no regime de Saddam Hussein —, apelou para que as empresas brasileiras voltem ao Iraque: “Dinheiro é o que não falta”. Em Berlim, onde participou do Fórum Econômico Alemão - Árabe, esse engenheiro de 55 anos disse que “a economia do Iraque voltou a funcionar” e que a violência diminuiu. Segundo Al Hariri, o Iraque quer que empresas brasileiras construam duas refinarias de açúcar em seu país.

Graça Magalhães-Ruether
Correspondente • BERLIM


O GLOBO: O Iraque já foi o terceiro maior produtor de petróleo e teria condições de influenciar uma redução do preço, com uma retomada integral de sua produção. Quando o Iraque vai usar toda a sua capacidade de exploração?

FAUZI AL HARIRI: O país já recomeçou a explorar o petróleo, mas não ainda o suficiente.

Agora, dificilmente teríamos condições de produzir tanto a ponto de exercer um efeito significativo nos preços.

Nosso principal problema é a grande necessidade de investimentos para recuperar as centrais de produção. O Iraque produz de 1,6 milhão a 2 milhões de barris por dia. Até 2012, espero que sejam 6 milhões de barris por dia.

O GLOBO: Qual a importância da exploração do petróleo para a economia do Iraque?

AL HARIRI: O petróleo é como o nervo central da nossa economia.

Mesmo agora, quando a produção ainda é pequena, é a maior fonte de renda. E o país está conseguindo muitos recursos com o petróleo por causa da alta dos preços. Até a guerra, quando tinha uma produção muito maior, o país recebia US$ 20 bilhões por ano com o produto.

Hoje, são US$ 70 bilhões.

O GLOBO: Empresas do mundo inteiro, EUA, Europa, mas também de China e Índia, participam da concorrência por licenças de exploração. Quem receberá? Há brasileiras na lista?

AL HARIRI: É verdade que empresas do mundo inteiro apresentaram proposta. Das 116 que se candidataram, 35 foram selecionadas na primeira fase. Na próxima semana, serão anunciadas as que receberão as licenças.

Não me lembro se há uma brasileira entre as 35.

O GLOBO: Antes da guerra, algumas empresas brasileiras atuavam no Iraque. Quando será possível as relações comerciais voltarem a ser o que foram?

AL HARIRI: Temos um enorme interesse no Brasil. No próximo mês, uma missão comercial irá para o Brasil sondar a possibilidade de cooperação nos mais diversos setores. Estamos interessados em ter uma fábrica igual à da Scania no Brasil. Seu país sempre esteve fortemente presente no Iraque. Antigamente, os nossos carros eram chamados brasileiros. Eram da Volkswagen, importados do Brasil.

O nome Volkswagen era ignorado.

Ainda hoje esses carros rodam nas ruas de Bagdá. Empresas brasileiras de todo tipo, construção civil, serviços, alimentos, são muito bem-vindas.

O país precisa de tudo. É um canteiro de obras. E dinheiro é o que não falta. Temos também um grande interesse nas empresas de açúcar. Importamos nosso açúcar do Brasil e gostaríamos que empresas brasileiras abrissem duas refinarias em nosso país. Há pouco tempo, conversei com o embaixador brasileiro para o Iraque, que vive na Jordânia. E eu disse que o primeiro passo para a ampliação da presença econômica brasileira no Iraque seria a abertura de uma embaixada em Bagdá.

Talvez com uma embaixada, o Brasil volte a ter no Iraque a importância que já teve.

O GLOBO: Quais as principais áreas de atuação das empresas brasileiras no Iraque antes da guerra?

AL HARIRI: Os mais diversos setores. Construção civil, armamentos, petróleo. Algumas empresas já voltaram a atuar.

Mas poderia ser muito mais.

O GLOBO: É verdade que as empresas americanas têm uma posição privilegiada no Iraque?

AL HARIRI: Não. Os processos de concorrência são decididos pelo governo. Há americanas que atuam no Iraque, mas há também italianas, espanholas, coreanas, britânicas ou alemãs.

Quem arrisca e já começa a atuar no Iraque agora vai tirar mais proveito no futuro, quando a economia voltar a funcionar 100%. E o Iraque não é importante apenas pelas reservas de petróleo (calcula-se que são duas vezes maiores do que o conhecido hoje), mas pelos recursos humanos. Temos profissionais altamente qualificados.

O GLOBO: O senhor acha que o perigo do terrorismo já acabou?

AL HARIRI: Ainda não. Mas a situação melhorou bastante. O governo conseguiu combater a Al Qaeda com eficiência e, por isso, é respeitado no Iraque e no exterior. Hoje ocorre uma média de dois atentados por dia. Na pior fase, eram até 800.

O GLOBO: O senhor já tem uma idéia dos custos da reconstrução?

AL HARIRI: Na primeira fase, US$ 26 bilhões. Mas não há limite.

Não falta dinheiro. Foi feito muito trabalho, mas o resultado é ainda humilde porque começamos literalmente do zero.

O GLOBO: Em relação à era de Saddam Hussein, o que mais mudou?

AL HARIRI: Vivemos em liberdade.

Em termos econômicos, o mais importante são a privatização e a liberalização da economia. Talvez a experiência do Iraque seja comparável à brasileira, no sentido de seu país também ter passado por uma ditadura com tendências centralistas.

Trancado