Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

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André
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por André »

Apáte escreveu:
André escreveu:
Apáte escreveu:Tomara que o André não perca a fé no social sistema de saúde social socialmente socializado europeu.



Não é fé, é conclusão racional que é melhor.

É o que todos dizem por aqui, Sinhô.

André escreveu:E concordo com o Cabeção quanto a questão do desembolso primeiro no sistema Frances, já que evita que hipocondríacos, ou semelhantes, fiquem enchendo o sistema sem necessidade.

Percebe que a única maneira das pessoas pagarem a sua própria conta é no sistema privado?

André escreveu:Agora em caso de emergência é lógico que isso não é cobrado primeiro, resolve-se o problema de saúde primeiro.

Até aí tudo bem.

André escreveu:A questão é ter mecanismos para garantir saúde a todos, mas claro, não incentivar excessos ou abusos, pelo contrario esses tem que ser contra incentivados.

Um sistema gratuito sempre será um incentivo a abusos, André. É como dar uma festa com bebida liberada e esperar que ninguém encha a cara por solidariedade a quem está bancando (no caso, elas mesmas, compulsoriamente).

Além do mais, se o sistema público for de qualidade comparável ou maior que o particular, todas as pessoas optarão por ele, mesmo os milionários, já que já pagaram a conta uma vez e não tem porque pagá-la outra. Acontece algo parecido no ensino superior brasileiro. Como esquerdistas adoram fazer do conserto pior do que a lambança, tentam excluir a isonomia no processo de entrada.

É impossível atender a uma demanda destas.

André escreveu:Se a cirurgia salva a vida da pessoa, e ela não tem como pagar, lógico que o Estado deve garantir.

As pessoas não trabalham apenas para nutrir suas ambições, elas trabalham para conseguir o básico: abrigo, alimento e saúde. Isso se considerarmos estas três coisas como básicas, já que não considero mansões, lagostas e cirurgias de mudança de sexo nesta categoria. O Estado tem que ser isonômico, não podendo atender só aos "necessitados". Ninguém tem que ter um atestado de pobreza para usar os serviços do SUS, a não ser que você defenda um sistema racista/classista, nada parecido com o "universal" que tanto repete por aí.

Quando o Estado resolve bancar o "básico" para "certos grupos", eles só resolvem gastar seu dinheiro com outras coisas.

Este tipo de altruísmo outorgado sempre vai gerar abusos. Pra quê vou pagar um plano ou poupar dinheiro para uma eventual despesa médica se posso usar o dinheiro do contribuinte para este tipo de situação?

André escreveu:Não é bom que milhões de pessoas fiquem indo a falência pq não conseguem pagar contas médicas de tratamentos de câncer, por exemplo, obviamente. E já está claro, por diversos estudos como o feito em Harvard que mesmo quem paga seguro vai a falência, quando tem essas doenças de tratamentos longos e caros, pois a empresa arruma formas de deixar de pagar, pois pagar compromete sua margem de lucro.

O único modo dum plano de saúde não cobrir o tratamento para câncer, é quando o consumidor preferiu pagar mais barato por um plano que não oferecia este benefício. Se está no contrato, as empresas têm que pagar. Se foi o freguês que decidiu por um plano mais barato para gastar o dinheiro com outras coisas, é ele quem tem que arcar com isso no futuro.

André escreveu:A questão de resultado de comportamento inadequado é complexa, uso de cigarros, por exemplo. Penso que doenças decorrentes disso,a cobertura socializada deve ser apenas inicial, do tratamento, porém se a pessoa, comprovadamente, continua a se destruir, esse beneficio deve ser retirado. Afinal a idéia de um sistema desses não é atender hipocondríacos, ou minimizar danos que as próprias pessoas cometem consigo mesmas, mas garantir acesso a todos que realmente precisam do serviço.

Um dia, quem sabe, posso pertencer ao grupo infeliz dos 15% de fumantes que desenvolvem câncer de pulmão. Como defendo hoje, defenderei neste dia que os males diagnosticados em decorrência do tabagismo devem ter seus tratamentos sumariamente banidos do sistema público de saúde. De troco, os impostos sobre um maço de cigarros devem ser os mesmos sobre um pote de sorvete.

Isso obviamente se estende a todo auto-flagelo que as pessoas fazem com sua saúde: sedentários, obesos, alcoólatras, aidéticos, consumidores de drogas ilícitas nem preciso dizer, né?

E mesmo para aqueles que aparentemente não atentaram contra o próprio corpo, não é prudente que toda a sociedade arque com as suas infelicidades.


Nem é. Falo da sua idéia de que é pq paga o plano mais barato.

http://diplo.uol.com.br/2004-07,a958

O caso é pode estar coberto no contrato, mas quando a empresa percebe que o custo é muito elevado, ela busca formas, de não pagar, ou de inviabilizar que vc use. Se isso não fosse verdade, como se explica que 2 milhões de americanos vão a falencia e a maioria tinha plano. E não é do plano barato ou que não cobre.

http://www.consumeraffairs.com/news04/2 ... study.html

A questão é simples, é contra o interesse da empresa pagar longos e caros tratamentos. Logo, ela busca, uma forma de não pagar. Pode achar um erro no seu formulario, e dizer que vc fez representação errada de algo, enfim, inicia uma batalha legal, e eles tem bons advogados pagos justamente para isso. O resultado se encontra no link acima, no qual a maioria das falencias, tres quartos, é de pessoas que pagam seguro de saúde, e tiveram que vender tudo, para sobreviver. Tinham no inicio da doença, mas a doença os prejudicou, Quem acha isso melhor, tem todo direito, assim como eu, de tirar conclusão diversa das evidencias.

"More than three-quarters were insured at the start of the bankrupting illness. However, 38 percent had lost coverage at least temporarily by the time they filed for bankruptcy.

Most of the medical bankruptcy filers were middle class; 56 percent owned a home and the same number had attended college. In many cases, illness forced breadwinners to take time off from work -- losing income and job-based health insurance precisely when families needed it most."
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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Johnny
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Johnny »

Apo escreveu:É o seguinte: privatiza tudo e parem de arrombar o traseiro do povo com tanto imposto desviado. Assim cada qual faz o que bem quiser com a sua vida e paga pelo serviço que melhor lhe aprouver.

Enquanto houver Estado e imposto que o Estado funcione para não sobrar para mim ao quadrado. Pronto.


Vou dizer o que pode acontecer. Podem privatizar tudo (até as praias...) e ainda vão aumentar os impostos para justificar pessoal para fiscalizar tudo o que foi privatizado. Isso sim é muito provável de se acontecer aqui. Ou então o contrário, deixam tudo na mão da empresa privada e fodam-se todos, que vão ao Procon ou o raio que te parta. Fora isso...
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Apo
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Apo »

Luiz Carlos Querido escreveu:
Apo escreveu:É o seguinte: privatiza tudo e parem de arrombar o traseiro do povo com tanto imposto desviado. Assim cada qual faz o que bem quiser com a sua vida e paga pelo serviço que melhor lhe aprouver.

Enquanto houver Estado e imposto que o Estado funcione para não sobrar para mim ao quadrado. Pronto.


Vou dizer o que pode acontecer. Podem privatizar tudo (até as praias...) e ainda vão aumentar os impostos para justificar pessoal para fiscalizar tudo o que foi privatizado. Isso sim é muito provável de se acontecer aqui. Ou então o contrário, deixam tudo na mão da empresa privada e fodam-se todos, que vão ao Procon ou o raio que te parta. Fora isso...


Se a praia é minha não preciso que fiscalizem coisa alguma que não não afete algum aspecto público. Com o que vou economizar em impostos, jamais recorrerei ao Estado imundo para coisa alguma. Dentro da minha praia faço o que eu quiser, freqüenta quem quiser e se não gostar, procura outra. Livre mercado.
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Huxley
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Huxley »

Muitas pessoas perguntam por que o Estado investe em educação e saúde.

A questão de redobrar o esforço para procurar de garantir um melhor acesso a serviços sociais a uma população não deve ser uma questão de distribuir benfeitorias por si só, mas sim prevenir a pobreza numa sociedade, aumentando a capacidade produtiva das famílias com mais baixa renda. As pessoas têm maior capacidade de auferir renda no mercado se não apresentarem problemas de saúde, educação e nutrição. Essas privações são mais bem eliminadas ao baratearmos os serviços sociais, sejam eles públicos ou privados.

O argumento por analogia de que as pessoas pagam alimentos totalmente do seu bolso, logo deveriam pagar totalmente de seu bolso as despesas de saúde e alimentação é desmentido só pela observação de que nos EUA, país de cultura fortemente individualista, existe distribuição de vales-alimentação para os pobres . É claro que um país pode não dá nenhum subsídio a alimentação, mas compare os indicadores sociais de dois países de renda per capita semelhante que adotam política diferentes nessa área e verá a diferença.

Esse artigo de Hoppe é apenas mais uma papagaiada das idéias de Ludwig von Mises que já disse em “Ação Humana”: “o medo da penúria e das conseqüências degradantes de viver da caridade alheia é fator importante na preservação do equilíbrio fisiológico do homem... A experiência do sistema de previdência social mostrou [...] claramente os efeitos indesejáveis que resultam da eliminação desses incentivos”. Traduzindo para o que ele quis dizer: “esses devem ser atendidos não pelo Estado de bem-estar, que estimula o parasitismo e a irresponsabilidade, mas pela caridade feita por associações e instituições privadas. Qualquer política assistencialista mais intensa joga os pobres nos braços da preguiça e da inércia.” Pois bem, tempos atrás eu já mostrei neste fórum que a taxa de ocupação dos que recebem o Bolsa Família era maior dos que os que não recebiam. Quanto a Von Mises, ele já inventou todo tipo de desculpa para defender o fim do Welfare State alemão (inclusive a assistência aos aposentados por invalidez sem parentes), desde a tese furada que gasto público de Estado provedor prejudica acumulação de capital, até o argumento que não-caridade a estranhos é incompatível com a natureza humana. Claro, tudo isso para defender o “Estado guarda-noturno” como um fim em si mesmo, tal como os outros laissez-fairistas.

O fornecimento dos serviços sociais pode ser feito pelo setor privado? Pode. Mas nem sempre uma pessoa tem $ para se pagar estes serviços. Como André já colocou em um artigo, milhares de pessoas vão a falência nos EUA pagando contas de serviços hospitalares (http://www.hms.harvard.edu/news/release ... stein.html). Claro que poderíamos pensar em subsídios para contornar tal problema, mas o Estado fornecer esses serviços diretamente é uma opção tão boa ou melhor.

Por quê? Em primeiro lugar, as bases informacionais para se verificar as necessidades de campanhas de alfabetização e serviços hospitalares não precisam ser particularmente obscuras.


Por outro lado, se o Estado concedesse subvenções às pessoas tendo como base seu nível de pobreza, haveria um grande incentivo para manipulações de informações. Isso é particularmente grave nos países em desenvolvimento, onde é mais fácil esconder a renda e ser “trapaceiro” que declara ter condições financeiras inferiores a que realmente têm. Outros problemas dentro do mesmo âmbito ocorreriam. Por exemplo, o custeio direcionado para um público-alvo pode afetar o comportamento econômico das pessoas; o medo alguém perder o auxílio se conseguir uma remuneração acima do limite pode tolher as atividades econômicas, implicando num custo social.

Além disso, pertencer a certos grupos sociais aumenta a chance de ter uma renda abaixo do que é adequado para gerar os níveis especificados de capacitações para a pessoa em questão. Uma pessoa deficiente precisa de prótese, uma pessoa com doença crônica precisa de mais remédios, uma grávida precisa de suplementação alimentar, uma pessoa do meio rural precisa superar piores condições habitacionais e de trabalho no campo, e assim por diante. Em cada caso, ter 1000 dólares de salário representa diferentes níveis de bem-estar. Se existe um “problema do cálculo econômico” é para o setor privado, já que ele obviamente buscará atender principalmente aos que tem renda para pagar seus serviços e não fará discriminações de preço de acordo com as diferentes necessidades. Quer dizer, discriminação tem, mas a do tipo que pioram as coisas, já que os planos de saúde adoram sobretaxar os velhinhos em suas mensalidades.

Dizer coisas como “num sistema público de saúde, as pessoas abusariam do sistema” é uma demonstração de desinformação sobre como seja o sistema de saúde público nos países mais bem-sucedidos. O fato de ser público não quer dizer obrigatoriamente que ele seja gratuito. Um exemplo disso é o sistema canadense, que um brasileiro que mora lá já o descreveu assim: “O sistema de saúde funciona muito parecido com um plano de saúde privado como conhecemos porque nele existe a mensalidade (Alberta), pode ter carência, serviços cobertos ou não e uma carteirinha.” (http://aventuracanadense.blogspot.com/2 ... dense.html). Lembro que Paul Krugman já disse que, há mais de dez anos atrás, Taiwan trocou um sistema de saúde semelhante ao dos EUA por um sistema ao estilo canadense, do contribuinte individual. E enquanto que 60% dos taiwaneses tinham seguro de saúde em 1995, esse número passou para 97% em 2001!

Isso não quer dizer que se deva considerar que o direcionamento de programas para um público-alvo será fatalmente inútil e nem que se deve recusar a utilização do setor privado no fornecimento de serviços sociais. Mas há argumentos contra o direcionamento máximo, que é a essência do sistema de saúde americano. Basta lembrar que no artigo do Le Monde Diplomatique que o André já colocou, é demonstrado que pessoas pouco acima da linha da pobreza não tem direito ao Medicare e o resultado é a existência de algumas regiões dos EUA com populações com expectativa de vida média de gente da Guatemala.

Mas vejamos casos bem sucedidos de um sistema que minimiza a importância do setor público. O sistema de saúde de Cingapura é basicamente privado e pago (só 31% do que é investido em saúde vem do Estado), mas um fundo do governo garante que os pobres também tenham acesso a um atendimento de qualidade. Além disso, há serviços hospitalares públicos, remédios que podem ser comprados a preço de banana nos hospitais públicos e descontos especiais para velhos e crianças que estudam na rede pública. E apesar de existir uma lei que obrigando todos os trabalhadores a deduzir de 6% a 8% do salário para uma poupança de saúde pessoal, também é verdade que a internação pode ser subsidiada em até 80% para quem quiser se internar em quartos de categoria mais baixa. Em casos de emergência, o atendimento é imediato e quem precisa se submeter a uma operação espera no máximo quatro semanas. Ver tudo isto nesta reportagem da BBC Brasil:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... rarg.shtml

Mas será legítima a extração compulsória de renda para se investir em saúde? Milton Friedman costumava dizer que programas sociais desse tipo violam os direitos do cidadão, e talvez por isso ele sugerisse o imposto de renda de negativo, onde o pobre poderia gastar naquilo que melhor lhe conviesse e não em algo determinado pelo burocrata.

De fato, esse é um argumento interessante. Mas de uma inutilidade atroz para atender as necessidades do mundo real. Da mesma forma, poderia acontecer de durante um ano jamais um cidadão necessitasse de polícia e/ou jamais alguém fizesse queixa toda vez que fosse assaltado. Ou ainda, que ninguém se sentisse motivado para se defender de agressores externos (defesa nacional). Mas essas coisas jamais acontecerão. Da mesma forma, poderia acontecer um grande número de pessoas pobres de um país não adoecerem ou passarem a favorecer voluntariamente o agravamento de doenças ou o sintoma de mal-estar. É definitivamente verdade que todas essas coisas jamais ocorrerão. Querem apostar? Pois bem, todas essas coisas são “verdades” no mesmo sentido daquelas coisas que dizemos que são verdadeiras que no dia-dia, da mesma forma como é uma verdade que alguém que está lendo agora meu texto tem uma cabeça e que esta mesa de computador do qual escrevo é de madeira. Pois bem, o argumento de extração compulsória de renda é usualmente feito por alguém que não conseguiria manter a coerência do discurso original do Estado Mínimo e perde tempo com especulações de eventos altamente improváveis.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Huxley escreveu:A questão de redobrar o esforço para procurar de garantir um melhor acesso a serviços sociais a uma população não deve ser uma questão de distribuir benfeitorias por si só, mas sim prevenir a pobreza numa sociedade, aumentando a capacidade produtiva das famílias com mais baixa renda. As pessoas têm maior capacidade de auferir renda no mercado se não apresentarem problemas de saúde, educação e nutrição. Essas privações são mais bem eliminadas ao baratearmos os serviços sociais, sejam eles públicos ou privados.


O argumento em si nao e falso, o problema e que ele nao mostra porque o Estado deveria fazer isso, ou porque ele teria melhores condicoes de avaliar e distribuir boa saude, boa educacao e boa nutricao do que o mercado.

Contudo, o que quer dizer "baratear"? As coisas tem custos decorrentes da escassez dos elementos usados para faze-las. O Estado pode ate "baratear", cortando os gastos em burocracia e os impostos, mas ele nao pode eliminar o fato basico da economia de que os recursos sao escassos, e que independe da vontade, boa ou ma, dos governantes.

Se com "baratear" voce esta querendo dizer manter os mesmos custos ou mesmo aumenta-los, apenas transferindo-os para outras pessoas que nao receberiam os bens e servicos em questao, seria bom voce apresentar um argumento de porque esse metodo seria mais adequado.


Huxley escreveu:O argumento por analogia de que as pessoas pagam alimentos totalmente do seu bolso, logo deveriam pagar totalmente de seu bolso as despesas de saúde e alimentação é desmentido só pela observação de que nos EUA, país de cultura fortemente individualista, existe distribuição de vales-alimentação para os pobres . É claro que um país pode não dá nenhum subsídio a alimentação, mas compare os indicadores sociais de dois países de renda per capita semelhante que adotam política diferentes nessa área e verá a diferença.


Qualquer um que considere isso um argumento sofre de graves problemas logicos.

Se os Estados Unidos da America passarem, apartir de amanha, a fornecer crack aos dependentes pobres da droga, como forma de evitar que eles gastem todo o seu dinheiro enriquecendo traficantes, isso nao mudaria o fato de que o fornecimento de crack nao e necessario nem deriva de qualquer ideologia individualista que tenha estado presente na fundacao e desenvolvimento daquele pais.


Huxley escreveu:Esse artigo de Hoppe é apenas mais uma papagaiada das idéias de Ludwig von Mises que já disse em “Ação Humana”: “o medo da penúria e das conseqüências degradantes de viver da caridade alheia é fator importante na preservação do equilíbrio fisiológico do homem... A experiência do sistema de previdência social mostrou [...] claramente os efeitos indesejáveis que resultam da eliminação desses incentivos”. Traduzindo para o que ele quis dizer: “esses devem ser atendidos não pelo Estado de bem-estar, que estimula o parasitismo e a irresponsabilidade, mas pela caridade feita por associações e instituições privadas. Qualquer política assistencialista mais intensa joga os pobres nos braços da preguiça e da inércia.” Pois bem, tempos atrás eu já mostrei neste fórum que a taxa de ocupação dos que recebem o Bolsa Família era maior dos que os que não recebiam.



Nada de objetivo apresentado contra o argumento de Mises, como de costume.

Esse tipo de estatistica e bem interessante. Se eles estao ocupados, isso se deve ao beneficio do bolsa familia, e registra o seu sucesso. Se estao desocupados, isso mostra que o bolsa familia e necessario para sua sobrevivencia.

E a nao-falseabilidade tipica de toda teoria esquerdista.

E da mesma forma, taxas de ocupacao sao um dado vazio. O Estado pode contratar alguem para cavar um buraco e depois contratar de novo fecha-lo. Alias, isso ja foi feito varias vezes ao longo da Historia, e muito pouco contribuiu para geracao de riqueza, exceto e claro nas estatisticas oficiais de emprego.


Huxley escreveu:Quanto a Von Mises, ele já inventou todo tipo de desculpa para defender o fim do Welfare State alemão (inclusive a assistência aos aposentados por invalidez sem parentes), desde a tese furada que gasto público de Estado provedor prejudica acumulação de capital, até o argumento que não-caridade a estranhos é incompatível com a natureza humana. Claro, tudo isso para defender o “Estado guarda-noturno” como um fim em si mesmo, tal como os outros laissez-fairistas.



Se o gasto publico consome recursos escassos, e se estes recursos, caso nao fossem tomados e consumidos pelo governo, seriam empregados, total ou parcialmente, na melhoria dos metodos de producao, temos que sim, os gastos publicos atrapalham a acumulacao de capital.

Sobre a relacao entre a nao-caridade ser contraria a natureza humana, nao lembro de ter visto Mises se valendo dele, mas nao duvido. De qualquer forma, Mises considerava aspectos culturais e psicologicos como secundarios, e procurava centrar suas analises economicas em categorias mais fundamentais da acao humana.

Contudo me parece bizarro que as pessoas considerem natural e correto que o Estado tome delas recursos que considera necessarios para oferecer aos carentes e custear esse processo, mas estranho e incorreto que elas mesmas oferecam tal ajuda por meio de instituicoes nao governamentais, igrejas ou mesmo pessoalmente, em quantias que elas proprias julgam adequadas.

Defender isso e dizer que as pessoas sao estupidas demais para ajudar umas as outras sem o auxilio de uma Entidade magninanima superior, controlado por individuos mais qualificados que todos os demais para decidir qual e a quantidade de ajuda que cada um deve a cada um.


Huxley escreveu:O fornecimento dos serviços sociais pode ser feito pelo setor privado? Pode. Mas nem sempre uma pessoa tem $ para se pagar estes serviços. Como André já colocou em um artigo, milhares de pessoas vão a falência nos EUA pagando contas de serviços hospitalares (http://www.hms.harvard.edu/news/release ... stein.html). Claro que poderíamos pensar em subsídios para contornar tal problema, mas o Estado fornecer esses serviços diretamente é uma opção tão boa ou melhor.


Acredito, embora nao sei (tampouco me interessa) se existam estatisticas a respeito, que milhares de pessoas vao a falencia todo ano por culpa do jogo ou do vicio em drogas. E outras tantas perdem tudo por que tomaram decisoes empresariais ou profissionais erradas, ou assumiram custos de vida com os quais nao podiam arcar.

Essas pessoas ficam tao pobres quanto aqueles que precisam pagar os altos custos dos problemas cardiacos que desenvolveram. As vezes por culpa propria, atraves de habitos viciosos tais como o vicio no jogo ou nas drogas, ou numa alimentacao insalubre ou no consumo excessivo de alcool e tabaco. Outras vezes, por culpa de outras pessoas, como aqueles que sofrem com fraudes financeiras, ou que sao vitimas de acidentes ou agressoes causadas por terceiros. E tambem pelo acaso, como os que perdem dinheiro e saude em desastres naturais ou doencas que surgem espontaneamente, como o cancer.

De qualquer forma essas pessoas falidas tem todas em comum o fato de que nao estavam preparadas para os gastos que sofreram, seja por culpa pessoal ou por forca maior. Dizer que alguem que faliu por culpa dos precos dos medicamentos tem mais direitos do que alguem que faliu porque sua casa desabou no ultimo terremoto, ou porque a empresa em que depositava suas acoes entrou em concordata, e apenas apenas um manifestacao emocional e portanto subjetiva.



Huxley escreveu:Por quê? Em primeiro lugar, as bases informacionais para se verificar as necessidades de campanhas de alfabetização e serviços hospitalares não precisam ser particularmente obscuras.


Existe algum sentido inerente a ser procurado nessa frase ou ela e apenas uma manifestacao de verborragia nonsense?


Huxley escreveu:Por outro lado, se o Estado concedesse subvenções às pessoas tendo como base seu nível de pobreza, haveria um grande incentivo para manipulações de informações. Isso é particularmente grave nos países em desenvolvimento, onde é mais fácil esconder a renda e ser “trapaceiro” que declara ter condições financeiras inferiores a que realmente têm.


Isso ocorre nao so em paises do terceiro-mundo, mas principalmente em nacoes desenvolvidas com altos gastos sociais, como a Franca. Aqui, todos sabem que os ciganos, que sao praticamente analfabetos, sao verdadeiros especialistas em legislacao assistencialista. Na Guyana existe tambem o problema de Brasileiros e latino-americanos moram nos seus respectivos paises, mas que instalam caixas de correspondencia em territorio frances para poder aproveitar os beneficios de seguro desemprego frances.

Nao e um erro da populacao trapaceira, mas do Estado de bem estar que estimula os trapaceiros a continuarem assim, e os trapaceiros latentes a se transformarem em trapaceiros ativos (ou melhor, inativos).


Huxley escreveu:Outros problemas dentro do mesmo âmbito ocorreriam. Por exemplo, o custeio direcionado para um público-alvo pode afetar o comportamento econômico das pessoas; o medo alguém perder o auxílio se conseguir uma remuneração acima do limite pode tolher as atividades econômicas, implicando num custo social.


E assim as pessoas compram trailers para poder receber auxilios que nao teriam caso tivessem domicilio. Recusam ofertas de emprego pois os ganhos de estar no "desemprego de lona duracao" sao melhores do que aqueles do trabalho.

Tais pessoas nem sequer consideram-se trapaceiros ou vigaristas, pois estao conforme a lei. A lei e que e trapaceira e vigarista com quem trabalha e deve custear aqueles que preferem nao trabalhar.


Huxley escreveu:Além disso, pertencer a certos grupos sociais aumenta a chance de ter uma renda abaixo do que é adequado para gerar os níveis especificados de capacitações para a pessoa em questão. Uma pessoa deficiente precisa de prótese, uma pessoa com doença crônica precisa de mais remédios, uma grávida precisa de suplementação alimentar, uma pessoa do meio rural precisa superar piores condições habitacionais e de trabalho no campo, e assim por diante. Em cada caso, ter 1000 dólares de salário representa diferentes níveis de bem-estar. Se existe um “problema do cálculo econômico” é para o setor privado, já que ele obviamente buscará atender principalmente aos que tem renda para pagar seus serviços e não fará discriminações de preço de acordo com as diferentes necessidades. Quer dizer, discriminação tem, mas a do tipo que pioram as coisas, já que os planos de saúde adoram sobretaxar os velhinhos em suas mensalidades.



E quem disse que a 1000 dolares correspondem ou deve corresponder determinados niveis de bem-estar?

Mil dolares sao uma quantidade de mercadoria (moeda) que pode ser trocada facilmente por certas quantidades de todas as outras mercadorias disponiveis. O Bem-estar que cada um vai extrair dessas trocas depende das valoracoes pessoais que cada um faz sobre todas as coisas, valoracoes essas que variam segundo cada personalidade individual, e nao cada "grupo social" que engenheiros sociais fabriquem.

Com certeza o nivel de satisfacao que eu teria com uma renda de mil dolares e diferente do que Paris Hilton teria, ou que um pai de familia com 6 filhos teria. Nem por isso ele, ela ou eu temos direito de exigir reparacao do Estado caso nossa renda venha a ser de mil dolares um dia.

O fato de existirem deficientes fisicos cujas dificuldades implicam em mais gastos e menos possibilidades de ganhos nao e diferente do fato de existirem pessoas bonitas e feias, inteligentes e burras, com vozes encantadoras ou irritantes. Cada um deve saber reconhecer seus proprios talentos e vantagens pessoais e delas tentar conseguir realizar seus objetivos. Mas se o objetivo de alguem desafinado e se tornar cantor de opera, o Estado nao deve interceder a seu favor ja que o mercado nao e capaz de reconhecer todo seu esforco.

Sobre precos discriminatorios, os liberais de um modo geral nada tem contra eles, desde que praticados exclusivamente pelo mercado. Um medico pode cobrar mais de pacientes ricos e menos de pacientes pobres, baseando-se na apreciacao diferente e no valor que cada um deles estaria disposto a pagar pelos servicos do medico. E dessa forma, o medico pode atender mais pacientes e ganhar mais dinheiro, o que lhe interessa pessoalmente.

Agora existem produtos que nao podem ser vendidos diferenciadamente, caso contrario gerariam um segundo mercado, onde compradores privilegiados revenderiam a precos ligeiramente menores que os tabelados para compradores prejudicados. Assim, o proprio mercado se encarregaria de evitar a descriminacao de precos nesse tipo de produto. Tal politica so poderia ser praticavel mediante ameaca da parte do Estado contra os revendedores.

Quanto a idosos discriminados em planos de saude, sua critica e tipica daqueles que compreendem muito mal um determinado mercado, mas adoram acusa-lo de injusticas, apelando para solucoes que seguidamente conduzem ao fracasso total.

O mercado de seguros, que inclui os planos de saude, e um mercado que precisa levar em consideracao os riscos. Seguros para quem corre muitos riscos sao caros, para quem corre poucos riscos sao baratos. Isso porque sao os riscos que determinam os custos medios nesse setor. Riscos altos significam grandes quantidades de premios pagos, ou seja, altos custos. Para que haja oferta de um produto de custo medio alto, e preciso haver um preco que possa cubrir tais custos. Mesmo assim, as pessoas que correm muitos riscos preferem comprar seguros caros a nao te-los. Impedir empresas de fazer esse tipo de discriminacao conduz simplesmente a nao prestacao desse tipo de servico, ja que passa a gerar prejuizos, o que e pior ainda para os que correm muitos riscos.

Idosos compoe um grupo mais arriscado a sofrer com doencas decorrentes da propria idade avancada. O seguro para eles e mais caro, sim, mas ainda presta um servico considerado bom, pois todos sao livres para nao ter seguro nenhum.

Tudo isso e muito simples e muito ignorado por essa gente cheia de boas intencoes.


Huxley escreveu:Dizer coisas como “num sistema público de saúde, as pessoas abusariam do sistema” é uma demonstração de desinformação sobre como seja o sistema de saúde público nos países mais bem-sucedidos. O fato de ser público não quer dizer obrigatoriamente que ele seja gratuito. Um exemplo disso é o sistema canadense, que um brasileiro que mora lá já o descreveu assim: “O sistema de saúde funciona muito parecido com um plano de saúde privado como conhecemos porque nele existe a mensalidade (Alberta), pode ter carência, serviços cobertos ou não e uma carteirinha.” (http://aventuracanadense.blogspot.com/2 ... dense.html). Lembro que Paul Krugman já disse que, há mais de dez anos atrás, Taiwan trocou um sistema de saúde semelhante ao dos EUA por um sistema ao estilo canadense, do contribuinte individual. E enquanto que 60% dos taiwaneses tinham seguro de saúde em 1995, esse número passou para 97% em 2001!



Mais informacao inutil.

Se o sistema funciona segundo pagamento, ainda nao quer dizer que gere lucros ou que nao impeca abusos.

Se eu vender coca-cola subsidiada pelo Estado a um centavo, as pessoas pagarao um centavo pela minha coca-cola, e pagarao os impostos correspondentes ao restante dos custos ao governo. E ainda existirao aquelas que nao gostam de Coca-cola ou que acham um centavo um preco alto demais. A diferenca e que pessoas que bebem menos coca serao prejudicadas, e as que bebem mais serao favorecidas, pois todas pagarao os impostos correspondentes. As pessoas que gostam muito de Coca ainda poderao aumentar muito o seu consumo sobre os seus gastos, pois o gasto adicional que terao aumentando o seu consumo e bem menor do que aquele que teriam caso pagassem o preco sem subsidios. De um modo geral, o consumo de Coca-cola aumentaria enormemente.

O que vale para a Coca-cola vale para os demais produtos, o que explica muito bem o caso de Taiwan.


Huxley escreveu:Isso não quer dizer que se deva considerar que o direcionamento de programas para um público-alvo será fatalmente inútil e nem que se deve recusar a utilização do setor privado no fornecimento de serviços sociais. Mas há argumentos contra o direcionamento máximo, que é a essência do sistema de saúde americano. Basta lembrar que no artigo do Le Monde Diplomatique que o André já colocou, é demonstrado que pessoas pouco acima da linha da pobreza não tem direito ao Medicare e o resultado é a existência de algumas regiões dos EUA com populações com expectativa de vida média de gente da Guatemala.



(Le Monde Diplomatique, ugh!)

E essas deficiencias sao inerentes ao sistema assistencialista discriminatorio, onde pessoas quase tao pobres quanto outras tem menos direitos e mais deveres, o que as tornam efetivamente mais pobres do que as outras.

Em geral, as pessoas se afastam dessa linha de pobreza como podem, ou seja, reduzem sua renda para figurarem entre as mais pobres e mais privilegiadas.


Huxley escreveu:Mas vejamos casos bem sucedidos de um sistema que minimiza a importância do setor público. O sistema de saúde de Cingapura é basicamente privado e pago (só 31% do que é investido em saúde vem do Estado), mas um fundo do governo garante que os pobres também tenham acesso a um atendimento de qualidade. Além disso, há serviços hospitalares públicos, remédios que podem ser comprados a preço de banana nos hospitais públicos e descontos especiais para velhos e crianças que estudam na rede pública. E apesar de existir uma lei que obrigando todos os trabalhadores a deduzir de 6% a 8% do salário para uma poupança de saúde pessoal, também é verdade que a internação pode ser subsidiada em até 80% para quem quiser se internar em quartos de categoria mais baixa. Em casos de emergência, o atendimento é imediato e quem precisa se submeter a uma operação espera no máximo quatro semanas. Ver tudo isto nesta reportagem da BBC Brasil:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... rarg.shtml


Nao li a reportagem da bbc (ugh!), depois talvez eu de uma olhada.

Huxley escreveu:Mas será legítima a extração compulsória de renda para se investir em saúde? Milton Friedman costumava dizer que programas sociais desse tipo violam os direitos do cidadão, e talvez por isso ele sugerisse o imposto de renda de negativo, onde o pobre poderia gastar naquilo que melhor lhe conviesse e não em algo determinado pelo burocrata.



O problema esta na caridade com o chapeu dos outros, e nao em como a caridade e feita.


Huxley escreveu:De fato, esse é um argumento interessante. Mas de uma inutilidade atroz para atender as necessidades do mundo real. Da mesma forma, poderia acontecer de durante um ano jamais um cidadão necessitasse de polícia e/ou jamais alguém fizesse queixa toda vez que fosse assaltado. Ou ainda, que ninguém se sentisse motivado para se defender de agressores externos (defesa nacional). Mas essas coisas jamais acontecerão.Da mesma forma, poderia acontecer um grande número de pessoas pobres de um país não adoecerem ou passarem a favorecer voluntariamente o agravamento de doenças ou o sintoma de mal-estar. É definitivamente verdade que todas essas coisas jamais ocorrerão. Querem apostar?



Mas existe ha diferenca fundamental de que a existencia de policia ou de exercito nacional desencoraja criminosos e inimigos externos, enquanto que a existencia de um sistema assistencialista encoraja uns a viverem as custas de outros.

O Estado, enquanto trabalha em termos de seguranca, trabalha no sentido de reduzir cada vez mais a sua necessidade, ate por fim tornar-se quase desnecessario. Enquanto trabalha como assistente social, aumenta exponencialmente o numero de pessoas que dele dependem.


Huxley escreveu:Pois bem, todas essas coisas são “verdades” no mesmo sentido daquelas coisas que dizemos que são verdadeiras que no dia-dia, da mesma forma como é uma verdade que alguém que está lendo agora meu texto tem uma cabeça e que esta mesa de computador do qual escrevo é de madeira. Pois bem, o argumento de extração compulsória de renda é usualmente feito por alguém que não conseguiria manter a coerência do discurso original do Estado Mínimo e perde tempo com especulações de eventos altamente improváveis.


Voce esta errado.

Se as pessoas soubessem que tem que poupar para cobrir eventuais problemas de saude, elas o fariam. O problema e que se acostumaram a viver as custas de um Estado que elas mesmas financiam, e dessa forma consomem sua propria riqueza ao estimular sua propria inercia.

O axioma fundamental do esquerdismo estatista e o de que o individuo normal e um idiota e nao sabe cuidar de si. Mas esse individuo idiota, por forcas misteriosas, e capaz de eleger os grandes sabios que tomaram as decisoes importantes e cuidarao dele, com os recursos por ele conseguidos, e claro.

Qualquer um que pare um pouco para refletir vera que tal axioma e patetico e contraditorio, alem de ser altamente ofensivo contra sua propria inteligencia e capacidade de decisao.

Eventos altamente improvaveis sao os de pessoas disporem de todo tipo de privilegios mas usarem deles apenas quando "realmente precisarem", se esforcando o resto do tempo para nao terem de precisar de novo deles. A realidade mostra exatamente o contrario.
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Huxley
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Huxley »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
O argumento em si nao e falso, o problema e que ele nao mostra porque o Estado deveria fazer isso, ou porque ele teria melhores condicoes de avaliar e distribuir boa saude, boa educacao e boa nutricao do que o mercado.

Contudo, o que quer dizer "baratear"? As coisas tem custos decorrentes da escassez dos elementos usados para faze-las. O Estado pode ate "baratear", cortando os gastos em burocracia e os impostos, mas ele nao pode eliminar o fato basico da economia de que os recursos sao escassos, e que independe da vontade, boa ou ma, dos governantes.

Se com "baratear" voce esta querendo dizer manter os mesmos custos ou mesmo aumenta-los, apenas transferindo-os para outras pessoas que nao receberiam os bens e servicos em questao, seria bom voce apresentar um argumento de porque esse metodo seria mais adequado.


Em 2006, o Brasil investia R$ 1.900 anuais em cada estudante do nível fundamental, o que dá 158 reais mensais: http://www.estado.com.br/editorias/2006 ... 13.1.1.xml Quem tem alguma experiência sobre o assunto, sabe que a maioria das escolas privadas cobra um valor de mensalidade acima daquela que pagamos para sustentar um aluno do nível fundamental que estuda em escola pública. Se o cálculo incluir o gasto por contribuinte, em vez de gasto por aluno, tem-se um valor ainda menor. Um exemplo que demonstra a suficiência do argumento da vantagem de custo. E não há problema em haver alguma redistribuição de renda, desde que haja impactos positivos nos indicadores sociais.


user f.k.a. Cabeção escreveu:


Nada de objetivo apresentado contra o argumento de Mises, como de costume.

Esse tipo de estatistica e bem interessante. Se eles estao ocupados, isso se deve ao beneficio do bolsa familia, e registra o seu sucesso. Se estao desocupados, isso mostra que o bolsa familia e necessario para sua sobrevivencia.





Foi você que disse isso e não eu. Se não gosta de estatísticas que te desfavoreçam, pelo menos não coloque palavras na minha boca.


user f.k.a. Cabeção escreveu:


Se o gasto publico consome recursos escassos, e se estes recursos, caso nao fossem tomados e consumidos pelo governo, seriam empregados, total ou parcialmente, na melhoria dos metodos de producao, temos que sim, os gastos publicos atrapalham a acumulacao de capital.

Sobre a relacao entre a nao-caridade ser contraria a natureza humana, nao lembro de ter visto Mises se valendo dele, mas nao duvido. De qualquer forma, Mises considerava aspectos culturais e psicologicos como secundarios, e procurava centrar suas analises economicas em categorias mais fundamentais da acao humana.

Contudo me parece bizarro que as pessoas considerem natural e correto que o Estado tome delas recursos que considera necessarios para oferecer aos carentes e custear esse processo, mas estranho e incorreto que elas mesmas oferecam tal ajuda por meio de instituicoes nao governamentais, igrejas ou mesmo pessoalmente, em quantias que elas proprias julgam adequadas.

Defender isso e dizer que as pessoas sao estupidas demais para ajudar umas as outras sem o auxilio de uma Entidade magninanima superior, controlado por individuos mais qualificados que todos os demais para decidir qual e a quantidade de ajuda que cada um deve a cada um.


Gasto público relativamente grande não implica em relevante consumo e depreciação de capital. Se fosse, o crescimento econômico seria muito diferente da forma como vimos em diferentes períodos, como já expliquei em outro tópico.

Eu disse:
"E as bases informacionais para se verificar as necessidades de campanhas de alfabetização, serviços hospitalares e suplementação nutricional não precisam ser particularmente obscuras."

user f.k.a. Cabeção escreveu:

Existe algum sentido inerente a ser procurado nessa frase ou ela e apenas uma manifestacao de verborragia nonsense?



Esse já é um problema bem resolvido na Economia do Bem-Estar, onde existem índices que facilitam a identificação de quais dimensões da pobreza são os principais responsáveis pelas diferenças em pobreza existentes entre grupos sociais: http://www.anpec.org.br/encontro2006/ar ... 06A141.pdf Obviamente, esse cálculo usualmente não será feito pelas empresas que prestam serviços sociais.


user f.k.a. Cabeção escreveu:

E quem disse que a 1000 dolares correspondem ou deve corresponder determinados niveis de bem-estar?

Mil dolares sao uma quantidade de mercadoria (moeda) que pode ser trocada facilmente por certas quantidades de todas as outras mercadorias disponiveis. O Bem-estar que cada um vai extrair dessas trocas depende das valoracoes pessoais que cada um faz sobre todas as coisas, valoracoes essas que variam segundo cada personalidade individual, e nao cada "grupo social" que engenheiros sociais fabriquem.

Com certeza o nivel de satisfacao que eu teria com uma renda de mil dolares e diferente do que Paris Hilton teria, ou que um pai de familia com 6 filhos teria. Nem por isso ele, ela ou eu temos direito de exigir reparacao do Estado caso nossa renda venha a ser de mil dolares um dia.

O fato de existirem deficientes fisicos cujas dificuldades implicam em mais gastos e menos possibilidades de ganhos nao e diferente do fato de existirem pessoas bonitas e feias, inteligentes e burras, com vozes encantadoras ou irritantes. Cada um deve saber reconhecer seus proprios talentos e vantagens pessoais e delas tentar conseguir realizar seus objetivos. Mas se o objetivo de alguem desafinado e se tornar cantor de opera, o Estado nao deve interceder a seu favor ja que o mercado nao e capaz de reconhecer todo seu esforco.

Sobre precos discriminatorios, os liberais de um modo geral nada tem contra eles, desde que praticados exclusivamente pelo mercado. Um medico pode cobrar mais de pacientes ricos e menos de pacientes pobres, baseando-se na apreciacao diferente e no valor que cada um deles estaria disposto a pagar pelos servicos do medico. E dessa forma, o medico pode atender mais pacientes e ganhar mais dinheiro, o que lhe interessa pessoalmente.

Agora existem produtos que nao podem ser vendidos diferenciadamente, caso contrario gerariam um segundo mercado, onde compradores privilegiados revenderiam a precos ligeiramente menores que os tabelados para compradores prejudicados. Assim, o proprio mercado se encarregaria de evitar a descriminacao de precos nesse tipo de produto. Tal politica so poderia ser praticavel mediante ameaca da parte do Estado contra os revendedores.

Quanto a idosos discriminados em planos de saude, sua critica e tipica daqueles que compreendem muito mal um determinado mercado, mas adoram acusa-lo de injusticas, apelando para solucoes que seguidamente conduzem ao fracasso total.

O mercado de seguros, que inclui os planos de saude, e um mercado que precisa levar em consideracao os riscos. Seguros para quem corre muitos riscos sao caros, para quem corre poucos riscos sao baratos. Isso porque sao os riscos que determinam os custos medios nesse setor. Riscos altos significam grandes quantidades de premios pagos, ou seja, altos custos. Para que haja oferta de um produto de custo medio alto, e preciso haver um preco que possa cubrir tais custos. Mesmo assim, as pessoas que correm muitos riscos preferem comprar seguros caros a nao te-los. Impedir empresas de fazer esse tipo de discriminacao conduz simplesmente a nao prestacao desse tipo de servico, ja que passa a gerar prejuizos, o que e pior ainda para os que correm muitos riscos.

Idosos compoe um grupo mais arriscado a sofrer com doencas decorrentes da propria idade avancada. O seguro para eles e mais caro, sim, mas ainda presta um servico considerado bom, pois todos sao livres para nao ter seguro nenhum.

Tudo isso e muito simples e muito ignorado por essa gente cheia de boas intencoes.


Em momento nenhum eu disse que o mercado de saúde gera injustiças. O que eu disse é que o sistema de preços não gera o incentivo adequado para que o mercado atenda ao interesse daqueles que mais necessitam dos serviços de saúde. É devido a isso que o Estado deve intervir, como no caso da provisão pública direta de tais serviços. Neste contexto, se o SUS fosse extinto, uma conseqüência praticamente inevitável seria o aumento drástico da mortalidade de velhinhos pobres.


user f.k.a. Cabeção escreveu:


Mais informacao inutil.

Se o sistema funciona segundo pagamento, ainda nao quer dizer que gere lucros ou que nao impeca abusos.

Se eu vender coca-cola subsidiada pelo Estado a um centavo, as pessoas pagarao um centavo pela minha coca-cola, e pagarao os impostos correspondentes ao restante dos custos ao governo. E ainda existirao aquelas que nao gostam de Coca-cola ou que acham um centavo um preco alto demais. A diferenca e que pessoas que bebem menos coca serao prejudicadas, e as que bebem mais serao favorecidas, pois todas pagarao os impostos correspondentes. As pessoas que gostam muito de Coca ainda poderao aumentar muito o seu consumo sobre os seus gastos, pois o gasto adicional que terao aumentando o seu consumo e bem menor do que aquele que teriam caso pagassem o preco sem subsidios. De um modo geral, o consumo de Coca-cola aumentaria enormemente.

O que vale para a Coca-cola vale para os demais produtos, o que explica muito bem o caso de Taiwan.


Os EUA gastam 15% do PIB com saúde, mesmo com a maior parte da despesa vindo do setor privado:
http://www.who.int/countries/en/

Além disso, Taiwan gasta bem pouquinho em comparação ao país norte-americano, apesar da saúde pública universalizada. E os EUA tem índice de mortalidade infantil maior do que a de Cuba, como consta na Wikipédia.

user f.k.a. Cabeção escreveu:


Mas existe ha diferenca fundamental de que a existencia de policia ou de exercito nacional desencoraja criminosos e inimigos externos, enquanto que a existencia de um sistema assistencialista encoraja uns a viverem as custas de outros.

O Estado, enquanto trabalha em termos de seguranca, trabalha no sentido de reduzir cada vez mais a sua necessidade, ate por fim tornar-se quase desnecessario. Enquanto trabalha como assistente social, aumenta exponencialmente o numero de pessoas que dele dependem.


É tese dos "pobres-parasitas-que-consomem-mais-serviços-e-trabalham-menos-quanto-mais-serviços-públicos-se-oferece-a-eles". O problema com essa teoria é a baixíssima taxa de desemprego da Suíça, da Finlândia, da Holanda, de Cingapura, etc. Nesses países, haveria muito espaço para os pobres parasitarem o Estado na forma de desemprego voluntário ao seguir o raciocínio que você a atribui a eles.

user f.k.a. Cabeção escreveu:


Voce esta errado.

Se as pessoas soubessem que tem que poupar para cobrir eventuais problemas de saude, elas o fariam. O problema e que se acostumaram a viver as custas de um Estado que elas mesmas financiam, e dessa forma consomem sua propria riqueza ao estimular sua propria inercia.

O axioma fundamental do esquerdismo estatista e o de que o individuo normal e um idiota e nao sabe cuidar de si. Mas esse individuo idiota, por forcas misteriosas, e capaz de eleger os grandes sabios que tomaram as decisoes importantes e cuidarao dele, com os recursos por ele conseguidos, e claro.

Qualquer um que pare um pouco para refletir vera que tal axioma e patetico e contraditorio, alem de ser altamente ofensivo contra sua propria inteligencia e capacidade de decisao.

Eventos altamente improvaveis sao os de pessoas disporem de todo tipo de privilegios mas usarem deles apenas quando "realmente precisarem", se esforcando o resto do tempo para nao terem de precisar de novo deles. A realidade mostra exatamente o contrario.


Errado. Eu considero que os indivíduos do mundo moderno são bem sábios. Tanto é que a democracia garante que exista educação e saúde subsidiadas até nos países que mais se aproximam do protótipo de Estado Mínimo (Hong Kong, Cingapura, Taiwan, Nova Zelândia, etc.). Elas sabem perfeitamente que nascer em determinadas famílias ou passar por eventos imprevisíveis e trágicos (grandes recessões, enchentes, etc.) leva a uma privação sistemática de oportunidades substantivas e uma menor sensibilidade a atratividade das escolhas.

Uma linha importante da pesquisa econômica focalizou em identificar como o governo difere de outras organizações em seus poderes na economia (e restrições, incluindo as limitações na informação que enfrentam e seus poderes e incentivos para adquirir a informação) e, baseado nestas características distintas, em determinar os papéis econômicos apropriados dos governos e dos mercados. E os serviços sociais são basicamente uma área de atuação estatal bem sucedida no campo econômico. Entre os países da OCDE, veja só o nível de correlação entre gasto público social como proporção do PIB e o nível de desenvolvimento humano:

Imagem

Uma sociedade ter menos mortalidade infantil, mais expectativa de vida e menos analfabetos devido a um dispêndio público maior, afinal, para quê isso, né? Inteligente é o indivíduo pobre que mora num país pobre e vota num candidato que tenha um programa de governo que inclua a extinção do SUS, da educação pública e do Bolsa Família. É nessas horas que eu penso que 2+2= 9, e é onde vejo que os liberais misesianos estão cobertos de razão.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

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Huxley escreveu:Em 2006, o Brasil investia R$ 1.900 anuais em cada estudante do nível fundamental, o que dá 158 reais mensais: http://www.estado.com.br/editorias/2006 ... 13.1.1.xml Quem tem alguma experiência sobre o assunto, sabe que a maioria das escolas privadas cobra um valor de mensalidade acima daquela que pagamos para sustentar um aluno do nível fundamental que estuda em escola pública. Se o cálculo incluir o gasto por contribuinte, em vez de gasto por aluno, tem-se um valor ainda menor. Um exemplo que demonstra a suficiência do argumento da vantagem de custo. E não há problema em haver alguma redistribuição de renda, desde que haja impactos positivos nos indicadores sociais.


Voce apresenta sua opiniao pessoal sobre o nivel "baixo" de investimento publico em educacao e pensa que isso e um argumento?
Seria mais adequado estabelecer quais seriam as razoes para aumentar o nivel, tendo em vista que o que nao e feito pelo Estado, pode ser feito pelas pessoas. O fato das pessoas nao pagarem em impostos pela educacao de alguem nao quer necessariamente que tal educacao nao sera paga. Assim como o fato das pessoas investirem mais em educacao privada significa que menos "precisara" ser investido na publica, pois as pessoas ja manifestaram a sua escolha, ainda que dentro das opcoes limitadas que possuiam.

Alem disso, voce nao refuta o que eu disse, sobre o fato de que quando se trata de recursos escassos, o governo nao "barateia" nada, mas apenas "redistribuiu" custos quase sempre maiores entre pessoas que nao estariam necessariamente interessadas em banca-los. Os recursos continuam sendo consumidos em quantidades inclusive maiores, e com mais desperdicios, ja que aqueles que gastam nao sao responsabilizados pelos pagamentos.

Alem disso, "indicadores sociais", assim como demais agregados economicos, sao apenas construcoes de engenheiros sociais, antes de guardar qualquer relacao com a realidade dos individuos, que poucos se preocupam em estabelecer com o minimo rigor necessario.


Huxley escreveu:Foi você que disse isso e não eu. Se não gosta de estatísticas que te desfavoreçam, pelo menos não coloque palavras na minha boca.


Errado.

O que eu disse e que uma vez que efeitos sobre os niveis de ocupacao nao foram descritos ANTES da aplicacao do programa, como resultados necessarios de seus esforcos, seguindo uma logica clara de incentivos, temos que o que se trata e apenas o oportunismo politico de se aproveitar um dado para corroborar uma acao, sem que a devida demonstracao da correlacao tenha sido estabelecida e havendo inumeras possiveis causas para a ocorrencia de tal dado.

Huxley escreveu:Gasto público relativamente grande não implica em relevante consumo e depreciação de capital. Se fosse, o crescimento econômico seria muito diferente da forma como vimos em diferentes períodos, como já expliquei em outro tópico.



Voce nao refutou o que eu disse, ou seja, a afirmacao de que se o governo toma para si e consome recursos que seriam utilizados para a reposicao e acumulacao de capital, temos prejuizos para o crescimento do capital e mesmo consumo de capital.
Algumas questoes um pouco mais sutis seriam levantadas se voce dissesse que gastos de recursos em saude e educacao sao investimentos feitos no capital humano de uma nacao. Nesse caso, voce teria razao, contudo, ainda nao explicaria porque esse investimento precisaria de um aparato burocratico estatal para geri-lo, e porque a iniciativa privada, ou seja, os proprios individuos, nao poderiam faze-lo, como em todos os demais investimentos importantes.
Um economista nao deve simplesmente separar o que e consumo e poupanca, mas investigar a natureza da poupanca e do consumo e se eles estao atendendo ou nao as expectativas dos individuos.
Evidentemente, se gastarmos todos os nossos recursos excedentes disponiveis em saude, teremos alguma melhoria no bem estar dos individuos que se relaciona a saude, mas um prejuizo enorme em todos os demais tipos de satisfacao buscada, que seriam preteridas pela a ausencia de recursos.
Num sistema de iniciativa privada, o individuo decide a parcela de sua renda que destinara para as necessidades de saude e a que empregara em outras areas. Em um sistema de burocracia estatal, essa liberdade e suprimida quando o burocrata que decide o quanto de cada um sera subtraido para se realizar o investimento arbitrario em saude.
Escolher qual dos dois metodos e o mais adequado depende primeiramente de quais objetivos estamos procurando atender, qual seja, a satisfacao dos individuos, ou aqueles estabelecidos pela burocracia governamental. Mas a analise economica nao se ocupa da definicao de objetivos, mas apenas se a pratica escolhida e adequada ou nao para satisfaze-lo.
Como eu ja afirmei em outras ocasioes, nas minhas crencas encontra-se o individualismo, ou seja, a nocao de que apenas o individuo e capaz de avaliar corretamente sua propria satisfacao e felicidade, e com base nelas fazer planos para o futuro, e e o que ele fara, quando lhe forem garantidas, atraves das instituicoes a liberdade e seguranca para tanto.


Huxley escreveu:Esse já é um problema bem resolvido na Economia do Bem-Estar, onde existem índices que facilitam a identificação de quais dimensões da pobreza são os principais responsáveis pelas diferenças em pobreza existentes entre grupos sociais: http://www.anpec.org.br/encontro2006/ar ... 06A141.pdf Obviamente, esse cálculo usualmente não será feito pelas empresas que prestam serviços sociais.


Mesmo considerando a qualificacao de tais indices (que a priori, sem um corpo teorico que os defina e defenda seu emprego baseado em nocoes e categorias mais fundamentais, sao apenas colecoes de dados escolhidos arbitrariamente entre uma infinidade de fatores, alem de uma atribuicao de pesos a cada um deles que segue as conveniencias da "teoria" que procura-se "demonstrar"), cabe demonstrar porque o Estado deve ser o fator essencial para a correcao das "distorcoes" reveladas por tais indices.

Huxley escreveu:Em momento nenhum eu disse que o mercado de saúde gera injustiças. O que eu disse é que o sistema de preços não gera o incentivo adequado para que o mercado atenda ao interesse daqueles que mais necessitam dos serviços de saúde. É devido a isso que o Estado deve intervir, como no caso da provisão pública direta de tais serviços. Neste contexto, se o SUS fosse extinto, uma conseqüência praticamente inevitável seria o aumento drástico da mortalidade de velhinhos pobres.


Questoes como justica e injustica dependem, como eu disse antes, de valores que antecedem qualquer debate economico, cujo enfoque e apenas estudar as caracteristicas da acao humana, seus resultados reais e compara-los com os objetivos estabelecidos. Mas a escolha dos objetivos, ou de padroes de justica, e algo que nao cabe a ciencia economica. Ela no maximo tecera comentarios e demonstracoes acerca da viabilidade de tais aspiracoes.

Quanto ao sistema de precos e o interesse dos consumidores, so tenho a dizer que num mercado livre de interferencias vale a nocao da Mao invisivel: quanto maior for o desejo dos consumidores, maior sera a mobilizacao de recursos voltados para a satisfacao dos mesmos, e que o preco nada mais e do a transmissao dessa informacao numa realidade onde recursos sao escassos e (ao menos parcialmente) nao especificos.

Alias, como medir ou comparar o grau de interesse de individuos que nao a partir dos sacrificios que cada um estaria disposto a fazer em termos de recursos economicos que dispoe e uma questao assaz interessante que jamais vi ser respondida satisfatoriamente pelos arautos da intervencao e gastanca estatal. Como todo burocrata, eles estao determinados a dizer que os interesses de A sao mais urgentes que os de B, e portanto uma transferencia de recursos se faz necessaria de modo a corrigir esse problema. A quantidade e qualidade daquilo que sera distribuido, assim como a porcentagem daquilo que sera assimilado como pagamento pelos servicos prestados pelo Estado, e algo que dependera apenas das consideracoes particulares e do bom senso desses burocratas bem feitores.

Sobre uma eventual extincao do SUS e seu impacto sobre a vida dos velhinhos pensionistas; devo concordar que seu prognostico fatalista e em alguma medida realista. Velhinhos pensionistas se acostumaram com a "caridade estatal" e dependem dela para viver, pois nao acumularam riqueza para desfrutar na velhice (boa parte dela foi consumida pelos velhinhos pensionistas da geracao precedente). As vezes, nao contam sequer com familias para quem poderiam pedir ajuda.

Contudo, tal prognostico temivel ignora o fato de que tal "caridade estatal" tem sua origem nas proprias pessoas, que financiam os gastos que o Estado faz atraves de impostos (ou atraves do saque inflacionario). Nao ha razao para supor que a boa vontade manifestada por essas pessoas em acreditar na necessidade de um Estado de bem estar social que financie tais velhinhos nao pudesse ser transferivel para uma realidade onde a caridade nao necessetaria do meio burocratico estatal para se promover. As pessoas so nao fariam isso se considerassem que existem fins mais urgentes para dar aos seus recursos do que o auxilio aos velhos carentes. Mas pessoas tao mesquinhas assim dificilmente considerariam necessarias as medidas do Estado de Bem estar, que faz a mesma coisa, mas atraves de coercao e arbitrariedade.

Apenas se as pessoas se considerarem como burras ou desconfiarem de suas proprias boas intencoes, elas veriam necessidade de estabelecer um elemento de coercao que as obrigaria a agir em beneficio dos demais.

Huxley escreveu:Os EUA gastam 15% do PIB com saúde, mesmo com a maior parte da despesa vindo do setor privado:
http://www.who.int/countries/en/

Além disso, Taiwan gasta bem pouquinho em comparação ao país norte-americano, apesar da saúde pública universalizada. E os EUA tem índice de mortalidade infantil maior do que a de Cuba, como consta na Wikipédia.


O seu dado, devo dizer novamente, nao refuta o argumento expresso acima, simplesmente porque a comparacao nao e qualificada. Existem diversos fatores que vao determinar as respectivas porcentagens de gastos em saude, fora os subsidios. Fatores tais como a cultura e alimentacao, facilidade de oferta e demanda por servicos medicos, escalas de preferencia e escassez relativa em relacao a demais produtos economicos e necessidades normalmente consideradas mais urgentes (como alimentacao ou abrigo), etc.
O meu argumento exprime com certeza apoditica que se determinada mercadoria for subsidiada; ela tera o seu consumo aumentado relativamente as demais; pela restrica introduzida na escala de escolhas do consumidor.
O que voce deve fazer para refutar e demonstrar falhas ou na escolha dos axiomas de preferencia, ou na deducao realizada a partir deles, e dos dados da situacao. Se voce quiser apenas aparecer com um "dado empirico", voce antes deverao argumentar em defesa de sua qualificacao diante dos criterios epistemologicos adotados. Esse e um passo que os economistas Keynesianos frequentemente ignoram, embora seja um dos aspectos mais fundamentais de qualquer investigacao cientifica. Ao impor seus agregados economicos e determinar "leis" que os governariam, esquecem-se de explicar como se da relacao desses objetos com verdadeiras categorias da acao humana, que se da sempre na esfera de um individuo e os incentivos que recebe de um meio para agir, aumentando sua propria satisfacao.

Quanto a mortalidade em Cuba e nos EUA, as mesmas observacoes sao validas, com o adendo de que diferentemente dos EUA, o regime fechado de Cuba, alem de dificultar seriamente a conducao de pesquisas serias, impoe restricoes severas as populacoes, que de tao graves, dificultam mesmo o acesso as facilidades de um Hospital equipado com maternidade, o que leva muitas criancas a nascerem em casa. E de se esperar portanto que o impacto da mortalidade dessas criancas nao seja contabilizado em estatisticas realizadas quase sempre em cima de registros de maternidades.

Huxley escreveu:É tese dos "pobres-parasitas-que-consomem-mais-serviços-e-trabalham-menos-quanto-mais-serviços-públicos-se-oferece-a-eles". O problema com essa teoria é a baixíssima taxa de desemprego da Suíça, da Finlândia, da Holanda, de Cingapura, etc. Nesses países, haveria muito espaço para os pobres parasitarem o Estado na forma de desemprego voluntário ao seguir o raciocínio que você a atribui a eles.


Os paises citados sao todos ricos.

As oportunidades e possibilidades existentes em paises de maior abundancia de recursos com certeza nao sao as mesmas de paises onde ha escassez mais grave.

A possibilidade de viver de seguro desemprego para um sueco ou um hongkongueano com certeza nao e tao atranete quanto e para um frances ou para um americano e muito menos para um brasileiro ou congoles, de modo geral. Isso nao muda o fato de que a pensao estatal encoraja a preguica e a especulacao salarial (pessoas que permanecem no desemprego, remuneradas pelo Estado, ate que lhe oferecam algo que julguem ser adequado para as suas expectativas de padrao de vida, que eles nao pretendem mudar em vista de cada situacao global).

Alem disso, na maioria das vezes, indices de desemprego levam em consideracao o dado binario do individuo possuir ou nao um trabalho, o que em geral nao diz grande coisa a respeito da situacao geral do emprego.
Empregar pessoas de dia para tapar buracos e de noite para fecha-los pode ser uma forma de reduzir tais indices, mas dificilmente tera qualquer impacto significativo sobre a producao de riquezas.
Assim como empregar pessoas para jogar paciencia no Windows, estabelecer limites para cargas horarias, proibir as demissoes sem "justa causa", ou interferir no livre acordo das relacoes de trabalho de modos variados.

Essas pesquisas sobre trabalho apenas interessam-se no fato muito pouco relevante do sujeito possuir ou nao um emprego, e nao no impacto que essa mobilizacao do recurso trabalho esta tendo no desenvolvimento da economia.

Ao dar facilidades custeadas pelo dinheiro subtraido do publico, e reterirado, em alguma fracao pelo menos, o incentivo que existiria para cada individuo com relacao a trabalhar mais e de forma mais produtiva e eficaz, para desse modo adquirir mais recursos e poder assim comprar as coisas que necessitaria caso nao tivessem sido dadas sem esforco algum pelo Estado. Quando muitos comecam a se acostumar a viver as custas dos outros (estando ou nao empregado, ja que nessa questao, esse dado e muito pouco significativo), o que ocorre e que menos riquezas sao produzidas e consumidas e o nivel de vida geral baixa.

O fato de na situacao de Welfare State o individuo ter ou nao um emprego e um dado que na verdade esconde uma realidade subjacente aos incentivos que governam a acao individual, que independem de estatisticas convenientemente conduzidas.

Como a investigacao da acao humana, a Economia deve sempre se questionar sobre quais sao os incentivos que atuam nas tomadas de decisoes dos individuos. Ao focalizar sobre categorias secundarias e conceitos limitados em informacoes preciosas sobre tais incentivos, fabricando os tais agregados economicos que tanto interessam certos economistas, termina-se por elaborar uma serie de sofismas que fogem completamente do escopo da investigacao cientifica.

A nocao de que as pessoas respondem a incentivos e a cristalizacao da nocao de que o mercado e formado por agentes racionais. Mas antes de seguir qualquer equacao mecanica elaborada para descrever a acao de algum coletivo abstrato de individuos (os agregados), as pessoas ponderam os custos e beneficios de cada acao mediante os dados que dispoem e sua escala de valores que varia de individuo para individuo. Ignorar solenemente esse fato tem sido o erro fundamental de uma parcela consideravel daqueles que se dizem economistas.


Huxley escreveu:Errado. Eu considero que os indivíduos do mundo moderno são bem sábios. Tanto é que a democracia garante que exista educação e saúde subsidiadas até nos países que mais se aproximam do protótipo de Estado Mínimo (Hong Kong, Cingapura, Taiwan, Nova Zelândia, etc.). Elas sabem perfeitamente que nascer em determinadas famílias ou passar por eventos imprevisíveis e trágicos (grandes recessões, enchentes, etc.) leva a uma privação sistemática de oportunidades substantivas e uma menor sensibilidade a atratividade das escolhas.

Uma linha importante da pesquisa econômica focalizou em identificar como o governo difere de outras organizações em seus poderes na economia (e restrições, incluindo as limitações na informação que enfrentam e seus poderes e incentivos para adquirir a informação) e, baseado nestas características distintas, em determinar os papéis econômicos apropriados dos governos e dos mercados. E os serviços sociais são basicamente uma área de atuação estatal bem sucedida no campo econômico. Entre os países da OCDE, veja só o nível de correlação entre gasto público social como proporção do PIB e o nível de desenvolvimento humano:



Uma sociedade ter menos mortalidade infantil, mais expectativa de vida e menos analfabetos devido a um dispêndio público maior, afinal, para quê isso, né? Inteligente é o indivíduo pobre que mora num país pobre e vota num candidato que tenha um programa de governo que inclua a extinção do SUS, da educação pública e do Bolsa Família. É nessas horas que eu penso que 2+2= 9, e é onde vejo que os liberais misesianos estão cobertos de razão.



O que voce diz nao e verdade. A tomada do poder pelas ideias do Welfare State nao foi uma escolha livre do publico atraves de decisoes democraticas. Tal afirmativa simplesmente ignora a imensidao de razoes que levaram a tal estabelecimento, simplesmente atribuindo ao publico a culpa de ter, num dado momento, votado em alguem que explicitou claramente o que faria com o dinheiro do povo. Isso e claramente falso, e um escapismo historico enorme.

A primeira coisa a se observar e que o individuo comum, mesmo o muito ignorante e iletrado, nao e um idiota, e esta dotado do que pode-se chamar de "intuicao capitalista". Ele sabe bem pouco sobre os mecanismos sofisticados de mercado, como aqueles que determinam, por exemplo, a taxa de juros (e nisso ele nao esta muito distante de boa parte dos sedizentes economistas), mas sabe o basico para compreender a oferta e a procura, que e necessario produzir mais se quiser consumir mais, que para produzir mais ele deve restringir um pouco do seu consumo, afim de utilizar os recursos excedentes para investir em bens de producao que considera adequados para ampliar sua producao.,que ele nao come dinheiro pois papel nao e riqueza. Um agricultor rustico sabe muito bem dessas coisas, mesmo possuindo um nivel educacional infimo ou nulo. Ele pode nao pensar muito a respeito de como todas essas coisas interagem entre si e determinam o mercado globalmente, mas reconhece os efeitos dessas relacoes em cada uma de suas acoes e ajusta seu planejamento levando-as em consideracao, mesmo que intuitiva e informalmente. Por essa razao digo que existe uma intuicao para o capitalismo, ou racionalidade dos agentes economicos.

Nao foram necessarias consideracoes muito mais sofisticadas do que esta para que produtores e consumidores fizessem a sociedade de mercado progredir ate o seu estado no seculo XIX, quando apareceram certas ideias no meio intelectual que pretendiam refutar as ideias basicas do agricultor rustico. Em comum, pregavam metodos e teorias cujo intento era eliminar a realidade de escassez e os efeitos que ela produz na mentalidade dos individuos. Essas ideias ganharam bastante terreno nos meios academicos mais cultos das universidades e rapidamente se inseriram nos discursos de politicos e de educadores.

Um outro processo concomitante vinha acontecendo. A continuada complexificacao dos mercados, marcada pela cada vez mais acentuada divisao do trabalho, tornava menor o conteudo de compreensao que cada individuo tinha sobre o funcionamento da economia e os impactos das acoes dos demais individuos na sua vida. Cada um aprende a realizar uma tarefa e ganhar uma remuneracao para com ela adquirir os bens que deseja ou necessita, sem com isso se ocupar de refletir sobre como sua acao se insere numa enorme cadeia de producao que envolve outros individuos, que como ele, refletem apenas sobre os seus proprios trabalhos. Essa alienacao causada pela divisao do trabalho foi descrita primeiramente por Adam Smith, e depois popularizada por Karl Marx.

Mesmo assim esses individuos, ao se depararem com noticias economicas em jornais ou em conversas informais, ou mesmo nas transacoes economicas que realizavam, encontravam termos que, apesar de reconhecerem seus efeitos sobre suas decisoes, muito pouco ou nenhuma ideia faziam sobre o seu significado e importancia. Termos financeiros e monetarios como notas bancarias, moeda fiduciaria, credito, padrao-ouro, inflacao, acoes e opcoes, juros, e etc. incorporaram a linguagem corrente antes que as pessoas se preocupassem em compreender os significados subjascentes a cada um deles e a razao de terem sido criados. Esse fato foi extremamente conveniente para politicos, que poderiam explora-los atraves do estimulo a confusao intelectual, seja em medidas expansionistas e de ampliacao de gastos, seja em discursos que demonizam o lucro e a ganancia de empresarios e especuladores, (que determinariam altos precos, baixos salarios, manipulariam os juros, agem de forma irracional no mercado de acoes e outras coisas que encontramos nos discursos de politicos, desde Lula ate George W Bush ate hoje), como causadora dos males que suas proprias politicas produzem.

Essa se tornou a maquina de onipotencia, o santo graal dos politicos aspirantes a totalitarios. Com ela, eles poderiam sempre ampliar gastos, subtraindo riquezas da populacao de forma subrepticia, e culpar empresarios que produzem a riqueza por sua ganancia desmedida. Poderiam gastar parte da riqueza roubada em medidas paleativas de beneficios para a populacao, que nao se apercebia que tais beneficios eram pagos com riquezas subtraidas delas proprias e pelas quais elas poderiam ter pago caso seu poder aquisitivo nao tivesse sido mitigado por praticas expansionistas do governo.

Nessa confusao, e seduzidos por um discurso que incitava o desprezo a escassez, e que prega a panaceia dos juros baixos, da oferta de credito ad infinitum e outras medidas inflacionarias, as pessoas votaram nesses politicos, antes por seus alegados poderes miticos de modificar a realidade dos recursos e produzir riqueza atraves de decretos que agiam sobre objetos economicos pouco compreendidos, do que por real consciencia do que estava sendo feito.

As pessoas percebem a inflacao como aumento no nivel geral de precos, ou seja, na depreciacao do poder aquisitivo da unidade monetaria, pois este e o seu efeito mais visivel. Tanto o e que acabam atribuindo esse sentido a palavra inflacao, que na verdade consiste na expansao dos meios fiduciarios atraves de emissoes de papel moeda ou aumento na oferta credito. Contudo, as pessoas, que tem na cabeca o senso subvertido da palavra inflacao, atribuem o aumento do nivel geral de precos a empresarios gananciosos, como se simplesmente fosse possivel aumentar os precos indefinidamente dos produtos sem uma contrapartida no total de moeda.

A politica de inflacao, por outro lado, e extremamente conveniente pois garante ao governo moeda ou credito que na verdade e subtraido do capital das proprias pessoas, que veem seu poder de compra diminuir por conta da escassez causada pelo consumo maior do governo, que de fato lhes roubara dinheiro. Alem disso, a inflacao criada pela oferta de credito, num primeiro momento causa euforia e sobreconsumo. Empresarios iludidos pelos juros baixos consideram seus empreendimentos lucrativos e aumentam suas instalacoes, gracas ao dinheiro artificialmente barato as pessoas passam a consumir mais sem perceber que estao na verdade consumindo seu proprio capital. Os precos vao subindo, as pessoas consumindo mais, pois a propria expectativa de aumento de precos estimula o consumo, dada a desconfianca da moeda, e os empresarios continuam ampliando suas instalacoes, contratando pessoal e contraindo dividas. Esse processo pode seguir ate o colapso monetario, quando a moeda utilizada perde completamente seu valor de troca e as pessoas retornam ao escambo, ou e subitamente interrompido quando investidores e consumidores se deparam que na verdade sua renda caiu e seu consumo maior esta se dando as custas da perda rapida e substancial de capital. Nesse momento, todos os investimentos errados precisam ser recuperados, mas muito capital inconversivel se encontra sem serventia, muita mao-de-obra deixa de ser necessaria, estoques sao acumulados pois nao ha preco satisfatorio pelos quais possam ser vendidos. E o crash economico.

Os politicos, os verdadeiros responsaveis por esse desastre que torna a todos mais pobres, apressam-se em culpar a mentalidade atavica dos capitalistas irracionais, cujas operacoes "sem sentido" teriam levado ao colapso do sistema economico. E verdade que os capitalistas cometeram erros de calculo, mas apenas porque a moeda e os juros foram falsificados pelo governo, de modo que projetos ruins parecessem projetos lucrativos, e que expansoes de producao e de consumo parecessem viaveis quando na verdade nao eram. Como o governo nao tem o poder de fabricar capital, nem nunca tera, essas expansoes inviaveis se dao as custas de um consumo de capital, que sem a falsificacao inflacionaria teria sido poupado ou empregado em fins mais adequados.

Mas esse e um aspecto sutil da realidade dos ciclos economicos, que escapa a maioria das pessoas comuns, politicos e mesmo um bom numero de economistas. Na verdade, pode ate ser que grande parte dos politicos nao planeje tudo isso, mas apenas percebam que a inflacao e um meio eficaz para conseguir recursos para maiores gastos governamentais, e quanto aos seus efeitos nefastos, eles nao percebem que sao produtos de suas proprias medidas, que julgam adequadas para oferecer servicos sociais para a populacao. Mas nesse caso e ainda pior. Nesse caso, consideram-se onipotentes a ponto de criar riquezas com medidas monetarias, o que para qualquer um que saiba que papel nao se come e sinal manifesto de loucura.

O Estado nao pode promove "politicas de abundancia", tais coisas funcionam apenas no discurso torto dos demagogos. Ao interferir na alocacao de recursos feita pelo mercado, o Estado falsifica a informacao enviada pelos consumidores aos produtores a respeito de seus anseios, e o resultado e sempre calamitoso. O Estado apenas substitui a escolha e decisao continua dos individuos mediante as informacoes disponiveis pelos precos pela arbitrariadade de burocratas que se creem onipotentes e oniscientes.

Mas o povo nao vota nesses politicos "lunaticos" porque seja tolo ou estupido por natureza, mas sim porque vem sendo sistematicamente nutrido com informacoes falsas sobre os fatos complexos que regem a realidade economica moderna. Esse suprimento de informacoes deturpadas e garantido pelos que sabem que dele podem conseguir completar seus anseios por mais e mais poder, saibam eles ou nao das consequencias de suas acoes, sejam eles politicos ou economistas keynesianos.
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Huxley
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Huxley »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Voce apresenta sua opiniao pessoal sobre o nivel "baixo" de investimento publico em educacao e pensa que isso e um argumento?
Seria mais adequado estabelecer quais seriam as razoes para aumentar o nivel, tendo em vista que o que nao e feito pelo Estado, pode ser feito pelas pessoas. O fato das pessoas nao pagarem em impostos pela educacao de alguem nao quer necessariamente que tal educacao nao sera paga. Assim como o fato das pessoas investirem mais em educacao privada significa que menos "precisara" ser investido na publica, pois as pessoas ja manifestaram a sua escolha, ainda que dentro das opcoes limitadas que possuiam.

Alem disso, voce nao refuta o que eu disse, sobre o fato de que quando se trata de recursos escassos, o governo nao "barateia" nada, mas apenas "redistribuiu" custos quase sempre maiores entre pessoas que nao estariam necessariamente interessadas em banca-los. Os recursos continuam sendo consumidos em quantidades inclusive maiores, e com mais desperdicios, ja que aqueles que gastam nao sao responsabilizados pelos pagamentos.



Eu não fiz argumento de "baixo nível de investimento público". Eu fiz um argumento que considera que a despesa per capita para qualquer indivíduo que escolha a escola pública fica menor do que aquele que haveria se o ensino fosse totalmente privatizado. Isso é válido no Brasil e em um país desenvolvido qualquer.

O que dizer de "O fato das pessoas nao pagarem em impostos pela educacao de alguem nao quer necessariamente que tal educacao nao sera paga" ?!? No Brasil, devido ao incrivelmente péssimo nível de ensino público existente até a algum tempo atrás (hoje ele é apenas péssimo), é como se só o ensino privado existisse. Devido a isso, o custo de oportunidade para um miserável por um filho na escola é altíssimo. Prova disso é que antes do Bolsa Escola/Bolsa Família, 37% das crianças pobres trabalhavam e havia grande evasão escolar (ver Fábulas Econômicas" de Eliana Cardoso). Toda literatura séria sobre desigualdade no Brasil (Paes de Barros, Marcelo Néri, Naércio Menezes, entre outros) atribuem a disparidade de renda às diferenças em escolaridade. Se temos 23% de miseráveis na população, isso se deve, em parte, ao raciocínio de que a educação NÃO É um projeto público e nacional.

E mesmo nosso ensino privado não é lá essas coisas. Gustavo Ioschpe, economista e colunista de educação da Veja, já escreveu um artigo intitulado “Os quatro mitos da escola brasileira”, na edição 1998 da revista (07 de março de 2007), onde um trecho tem essa análise sobre o nosso ensino privado:

"Os resultados dos exames realizados por estudantes de escolas públicas e particulares autorizam apenas a concluir que a rede privada é um pouco melhor do que os colégios municipais e estaduais. Esses exames estão longe de indicar que a escola particular brasileira é um modelo de excelência acadêmica. O dado mais esclarecedor sobre o assunto veio de uma prova aplicada pela OCDE, que mediu o conhecimento dos estudantes de 41 países e colocou o Brasil nas últimas posições em todas as disciplinas avaliadas. O teste mostrou que não apenas os alunos de escolas públicas haviam contribuído para o fiasco brasileiro: o resultado dos estudantes 25% mais ricos do Brasil foi inferior ao dos 25% mais pobres dos países mais desenvolvidos. Nossas deficiências educacionais são, portanto, visíveis nos alunos que supostamente cursam as melhores escolas particulares. O mito de que a escola particular oferta ensino de alto nível também não resiste ao diagnóstico que toma como base o resultado dos estudantes nos exames do MEC: o conhecimento dos alunos nesses colégios está aquém do desejado – e a anos-luz da excelência, segundo o próprio MEC.

As pesquisas chamam atenção ainda para outro fato que depõe contra a escola particular: 90% de sua superioridade em relação à rede pública deve-se à condição socioeconômica de seus estudantes, que vivem num ambiente mais favorável ao aprendizado. Apenas 10% são atribuídos ao maior brilhantismo acadêmico da escola. As escolas particulares, afinal, sofrem do mesmo problema que os colégios públicos: seus professores passaram por escolas ruins e cursaram faculdades precárias. Infelizmente, eles estão igualmente desqualificados para dar uma boa aula. "



user f.k.a. Cabeção escreveu:
Mesmo considerando a qualificacao de tais indices (que a priori, sem um corpo teorico que os defina e defenda seu emprego baseado em nocoes e categorias mais fundamentais, sao apenas colecoes de dados escolhidos arbitrariamente entre uma infinidade de fatores, alem de uma atribuicao de pesos a cada um deles que segue as conveniencias da "teoria" que procura-se "demonstrar"), cabe demonstrar porque o Estado deve ser o fator essencial para a correcao das "distorcoes" reveladas por tais indices.


Quer um exemplo? Em Cingapura, remédios podem ser comprados a preço de banana nos hospitais públicos e há descontos especiais para velhos e crianças que estudam na rede pública. Nos EUA, velhinhos são atendidos pelo setor privado e não recebem descontos nas mensalidades, pelo contrário, SÃO SOBRETAXADOS.



user f.k.a. Cabeção escreveu:

Quanto ao sistema de precos e o interesse dos consumidores, so tenho a dizer que num mercado livre de interferencias vale a nocao da Mao invisivel: quanto maior for o desejo dos consumidores, maior sera a mobilizacao de recursos voltados para a satisfacao dos mesmos, e que o preco nada mais e do a transmissao dessa informacao numa realidade onde recursos sao escassos e (ao menos parcialmente) nao especificos.


Se essa mão invisível existe na saúde, das duas uma: ou ela é cega ou é aleijada. Um estudo financiado pela Commom wealth Fund mostrou que o sistema de saúde dos EUA ficou em último ou penúltimo lugar em cinco de seis quesitos, os quais incluíam qualidade, eficiência e acesso (ver "Época" de 14 de julho de 2008). Os países comparados foram: EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha. Detalhe, só nos EUA existe isso: vacinação e atendimento de emergência são grátis e o resto fica tudo por conta do setor privado!

O sistema de preços só consegue garantir a máxima eficiência alocativa em casos onde não abundam externalidades. Se o sistema de preços não capta as externalidades, sejam elas positivas ou negativas, então o livre-mercado não gera a melhor alocação possível. Por exemplo, quando há significativa assimetria de informação no mercado, não há equilíbrio Pareto-ótimo e existe a chamada externalidade negativa de "seleção adversa". A compra do seguro-saúde foi justamente um dos casos estudados pelo paradigma da informação assimétrica: http://www.puc-rio.br/marco.ind/pdf/jog ... parte3.pdf

Ademais, para o caso do setor educacional, ainda existe o argumento da geração de externalidades positivas. Tem amplo respaldo teórico e empírico a assertiva que postula que a educação os gera através de incrementos na produtividade média do trabalho, devido ao aproveitamento da aptidão do trabalhador pelos setores mais modernos da economia que requerem equipamentos e operações mais complexas. O benefício usufruído pela pessoa que recebe a educação não fica restrito ao indivíduo que o consome, mas se espalha por toda a sociedade. Estimativas de Carlos Langoni na década de 70 mostraram que, no Brasil, enquanto as taxas de retorno do investimento em capital físico oscilavam entre 4%, indústria têxtil, e 22%, indústria de mineração, as taxas de retorno do investimento em capital humano variavam entre 32%, ensino primário, e 12%, ensino superior.

No caso da saúde, a questão da externalidade positiva fica por conta da prevenção de doenças infecto-contagiosas.



user f.k.a. Cabeção escreveu:
Sobre uma eventual extincao do SUS e seu impacto sobre a vida dos velhinhos pensionistas; devo concordar que seu prognostico fatalista e em alguma medida realista. Velhinhos pensionistas se acostumaram com a "caridade estatal" e dependem dela para viver, pois nao acumularam riqueza para desfrutar na velhice (boa parte dela foi consumida pelos velhinhos pensionistas da geracao precedente). As vezes, nao contam sequer com familias para quem poderiam pedir ajuda.



Como se o lixo do SUS fosse capaz de gerar alguma acomodação maciça...Seguindo seu raciocínio, a mortalidade infantil no Brasil é alta porque as mães adoram esquecer de poupar para pagar as despesas de saúde do filho. No mundo de Von Mises, é comum se favorecer um agravamento de doença ou manter uma menor nutrição por questões meramente táticas. A racionalidade e a liberdade de escolha NÃO limitam de forma adequada a promoção dessas privações.



user f.k.a. Cabeção escreveu:

Os paises citados sao todos ricos.

As oportunidades e possibilidades existentes em paises de maior abundancia de recursos com certeza nao sao as mesmas de paises onde ha escassez mais grave.

A possibilidade de viver de seguro desemprego para um sueco ou um hongkongueano com certeza nao e tao atranete quanto e para um frances ou para um americano e muito menos para um brasileiro ou congoles, de modo geral. Isso nao muda o fato de que a pensao estatal encoraja a preguica e a especulacao salarial (pessoas que permanecem no desemprego, remuneradas pelo Estado, ate que lhe oferecam algo que julguem ser adequado para as suas expectativas de padrao de vida, que eles nao pretendem mudar em vista de cada situacao global).

Alem disso, na maioria das vezes, indices de desemprego levam em consideracao o dado binario do individuo possuir ou nao um trabalho, o que em geral nao diz grande coisa a respeito da situacao geral do emprego.

Empregar pessoas de dia para tapar buracos e de noite para fecha-los pode ser uma forma de reduzir tais indices, mas dificilmente tera qualquer impacto significativo sobre a producao de riquezas.
Assim como empregar pessoas para jogar paciencia no Windows, estabelecer limites para cargas horarias, proibir as demissoes sem "justa causa", ou interferir no livre acordo das relacoes de trabalho de modos variados.

Essas pesquisas sobre trabalho apenas interessam-se no fato muito pouco relevante do sujeito possuir ou nao um emprego, e nao no impacto que essa mobilizacao do recurso trabalho esta tendo no desenvolvimento da economia.

Ao dar facilidades custeadas pelo dinheiro subtraido do publico, e reterirado, em alguma fracao pelo menos, o incentivo que existiria para cada individuo com relacao a trabalhar mais e de forma mais produtiva e eficaz, para desse modo adquirir mais recursos e poder assim comprar as coisas que necessitaria caso nao tivessem sido dadas sem esforco algum pelo Estado. Quando muitos comecam a se acostumar a viver as custas dos outros (estando ou nao empregado, ja que nessa questao, esse dado e muito pouco significativo), o que ocorre e que menos riquezas sao produzidas e consumidas e o nivel de vida geral baixa.

O fato de na situacao de Welfare State o individuo ter ou nao um emprego e um dado que na verdade esconde uma realidade subjacente aos incentivos que governam a acao individual, que independem de estatisticas convenientemente conduzidas.

Como a investigacao da acao humana, a Economia deve sempre se questionar sobre quais sao os incentivos que atuam nas tomadas de decisoes dos individuos. Ao focalizar sobre categorias secundarias e conceitos limitados em informacoes preciosas sobre tais incentivos, fabricando os tais agregados economicos que tanto interessam certos economistas, termina-se por elaborar uma serie de sofismas que fogem completamente do escopo da investigacao cientifica.

A nocao de que as pessoas respondem a incentivos e a cristalizacao da nocao de que o mercado e formado por agentes racionais. Mas antes de seguir qualquer equacao mecanica elaborada para descrever a acao de algum coletivo abstrato de individuos (os agregados), as pessoas ponderam os custos e beneficios de cada acao mediante os dados que dispoem e sua escala de valores que varia de individuo para individuo. Ignorar solenemente esse fato tem sido o erro fundamental de uma parcela consideravel daqueles que se dizem economistas.


Que blabláblá enfadonho e sem graça. O fato é que o "indutor de preguiça" não leva a taxa de desemprego voluntário para patamares preocupantes em inúmeros países. E isso é o que importa.


user f.k.a. Cabeção escreveu:
O que voce diz nao e verdade. A tomada do poder pelas ideias do Welfare State nao foi uma escolha livre do publico atraves de decisoes democraticas. Tal afirmativa simplesmente ignora a imensidao de razoes que levaram a tal estabelecimento, simplesmente atribuindo ao publico a culpa de ter, num dado momento, votado em alguem que explicitou claramente o que faria com o dinheiro do povo. Isso e claramente falso, e um escapismo historico enorme.

Mesmo assim esses individuos, ao se depararem com noticias economicas em jornais ou em conversas informais, ou mesmo nas transacoes economicas que realizavam, encontravam termos que, apesar de reconhecerem seus efeitos sobre suas decisoes, muito pouco ou nenhuma ideia faziam sobre o seu significado e importancia. Termos financeiros e monetarios como notas bancarias, moeda fiduciaria, credito, padrao-ouro, inflacao, acoes e opcoes, juros, e etc. incorporaram a linguagem corrente antes que as pessoas se preocupassem em compreender os significados subjascentes a cada um deles e a razao de terem sido criados. Esse fato foi extremamente conveniente para politicos, que poderiam explora-los atraves do estimulo a confusao intelectual, seja em medidas expansionistas e de ampliacao de gastos, seja em discursos que demonizam o lucro e a ganancia de empresarios e especuladores, (que determinariam altos precos, baixos salarios, manipulariam os juros, agem de forma irracional no mercado de acoes e outras coisas que encontramos nos discursos de politicos, desde Lula ate George W Bush ate hoje), como causadora dos males que suas proprias politicas produzem.

Essa se tornou a maquina de onipotencia, o santo graal dos politicos aspirantes a totalitarios. Com ela, eles poderiam sempre ampliar gastos, subtraindo riquezas da populacao de forma subrepticia, e culpar empresarios que produzem a riqueza por sua ganancia desmedida. Poderiam gastar parte da riqueza roubada em medidas paleativas de beneficios para a populacao, que nao se apercebia que tais beneficios eram pagos com riquezas subtraidas delas proprias e pelas quais elas poderiam ter pago caso seu poder aquisitivo nao tivesse sido mitigado por praticas expansionistas do governo.

Nessa confusao, e seduzidos por um discurso que incitava o desprezo a escassez,


Engraçado. Como homo oeconomicus, o indivíduo tem autonomia, independência e soberania. Mas como homo politicus, ele é um mentecapto que é indefeso a manipulação. Grande coerência.

Vou dizer o seguinte: se as pessoas se baseiam em expectativas racionais, indivíduos não podem ser sistematicamente enganados! Não importa se nos referimos a isso num âmbito político ou econômico. Mesmo que a maioria das pessoas não seja plenamente racional durante todo o tempo, as alternativas não são mais próximas do realismo, porque asseveram que as pessoas erram de maneira reiterada e sistemática. Se isso acontece, elas devem sofrer perdas. Não é natural que tomem providências para evitar esses erros no futuro? Se aceitamos o princípio da racionalidade como essencial para descrever atos de consumo e produção, porque não o aceitamos quando se trata da formação de expectativas na política? Só com "wishfull thinking" se nega algo tão óbvio. Welfare State resulta SIM do desígnio humano-eleitoral.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Huxley escreveu:Eu não fiz argumento de "baixo nível de investimento público". Eu fiz um argumento que considera que a despesa per capita para qualquer indivíduo que escolha a escola pública fica menor do que aquele que haveria se o ensino fosse totalmente privatizado. Isso é válido no Brasil e em um país desenvolvido qualquer.

O que dizer de "O fato das pessoas nao pagarem em impostos pela educacao de alguem nao quer necessariamente que tal educacao nao sera paga" ?!? No Brasil, devido ao incrivelmente péssimo nível de ensino público existente até a algum tempo atrás (hoje ele é apenas péssimo), é como se só o ensino privado existisse. Devido a isso, o custo de oportunidade para um miserável por um filho na escola é altíssimo. Prova disso é que antes do Bolsa Escola/Bolsa Família, 37% das crianças pobres trabalhavam e havia grande evasão escolar (ver Fábulas Econômicas" de Eliana Cardoso). Toda literatura séria sobre desigualdade no Brasil (Paes de Barros, Marcelo Néri, Naércio Menezes, entre outros) atribuem a disparidade de renda às diferenças em escolaridade. Se temos 23% de miseráveis na população, isso se deve, em parte, ao raciocínio de que a educação NÃO É um projeto público e nacional.

E mesmo nosso ensino privado não é lá essas coisas. Gustavo Ioschpe, economista e colunista de educação da Veja, já escreveu um artigo intitulado “Os quatro mitos da escola brasileira”, na edição 1998 da revista (07 de março de 2007), onde um trecho tem essa análise sobre o nosso ensino privado:

"Os resultados dos exames realizados por estudantes de escolas públicas e particulares autorizam apenas a concluir que a rede privada é um pouco melhor do que os colégios municipais e estaduais. Esses exames estão longe de indicar que a escola particular brasileira é um modelo de excelência acadêmica. O dado mais esclarecedor sobre o assunto veio de uma prova aplicada pela OCDE, que mediu o conhecimento dos estudantes de 41 países e colocou o Brasil nas últimas posições em todas as disciplinas avaliadas. O teste mostrou que não apenas os alunos de escolas públicas haviam contribuído para o fiasco brasileiro: o resultado dos estudantes 25% mais ricos do Brasil foi inferior ao dos 25% mais pobres dos países mais desenvolvidos. Nossas deficiências educacionais são, portanto, visíveis nos alunos que supostamente cursam as melhores escolas particulares. O mito de que a escola particular oferta ensino de alto nível também não resiste ao diagnóstico que toma como base o resultado dos estudantes nos exames do MEC: o conhecimento dos alunos nesses colégios está aquém do desejado – e a anos-luz da excelência, segundo o próprio MEC.

As pesquisas chamam atenção ainda para outro fato que depõe contra a escola particular: 90% de sua superioridade em relação à rede pública deve-se à condição socioeconômica de seus estudantes, que vivem num ambiente mais favorável ao aprendizado. Apenas 10% são atribuídos ao maior brilhantismo acadêmico da escola. As escolas particulares, afinal, sofrem do mesmo problema que os colégios públicos: seus professores passaram por escolas ruins e cursaram faculdades precárias. Infelizmente, eles estão igualmente desqualificados para dar uma boa aula. "



A sua argumentacao e incorreta, do momento em que ela considera um sistema misto, onde existe oferta de educacao publica, financiada por impostos, e educacao privada, e tira conclusoes como se estivesse tratando de casos onde houvesse so um dos dois tipos.

E evidente que para alguem que tem a chance de escolher entre escola privada ou escola publica, supostas de qualidade semelhante, sua despesa pessoal com educacao sera menor caso escolha a escola publica, onde parte ou a integralidade dos custos serao pagos por impostos cobrados de todos os cidadaos. O simples fato de haver outras pessoas custeando uma parte da educacao que ele usufrui diminui a sua parcela, cobrada em impostos, que normalmente ele teria de pagar de qualquer jeito.

Mas se estamos lidando com sistemas exclusivamente publicos ou exclusivamente privados, considerando novamente iguais orcamentos globais para a educacao, os gastos pessoais dependerao no sistema publico da forma como os impostos sao cobrados pelo governo, e no sistema privado na quantidade e qualidade dos servicos educacao que cada individuo pretende acessar. Dizer qualquer sobre despesas pessoais e admitir pressupostos sobre a forma como o governo decidiria a cobranca dos impostos destinados a custear a populacao. Mas de um modo geral, pode-se dizer que os individuos que recebem educacao gastariam menos, ja que boa parte dela estaria sendo paga por quem nao recebe.

Contudo, nada disso permite fazer uma abordagem seria da questao economica do problema.

A economia nao se ocupa dos objetivos dos individuos, mas dos meios que eles empregam para atingir esses objetivos. Assim, antes de fazer qualquer analise de quadros economicos e preciso se perguntar quais sao os objetivos pretendidos com os servicos de educacao, para assim deduzir qual dos sistemas e mais conveniente para atingi-los. Certamente que pessoas que partem do principio de que cabe aos individuos escolher os empregos mais adequados para os seus recursos sempre discordarao daqueles que acham que a "educacao de qualidade" das massas e a "formacao superior" das elites intelectuais e um objetivo coletivo a ser alcancado em primeiro lugar. Ha tambem aqueles que acham que e um dever moral dos mais ricos de financiar os estudos dos mais pobres, para que assim estes despossuidos possam ter mais chances de ascender socialmente. Essas pessoas discordam quanto a principios e objetivos basicos, sendo claro portanto que discordarao quanto aos meios empregados.

Mas existem aqueles que acham que o investimento publico em educacao pode ser interessante do ponto de vista da ampliacao do nivel de vida e capacidade de consumo dos agentes individuais. Ou seja, que os ganhos que eles aportariam com as vantagens inerentes do investimento publico em educacao compensariam as perdas, e que isso endossaria as politicas educacionais publicas, mesmo do ponto de vista dos mercados. Eles diriam que esses gastos tornariam mais produtiva a mao de obra, permitiriam acesso a metodos de producao mais eficientes, reduzindo o custo medio de producao por unidade de capital, aumentando portanto a disponibilidade de itens para consumo e reduzindo os precos, tornando a todos mais prosperos. A correlacao observada entre excelentes sistemas de educacao publica dos paises desenvolvidos e o seu proprio desenvolvimento (em termos, sobretudo, de possibilidades de consumo para a populacao em geral) seria, segundo esses alguns, a propria demonstracao desse teorema, quase que evidente nas suas opinioes.

Essa opiniao deriva de uma profunda incompreensao de economia. Qualquer um que considere o investimento em educacao mais interessante que os custos respectivos estaria disposto a fazer por si so esse investimento, motivado por seus proprios interesses. O que ocorre na verdade e que o investimento publico e vantajoso para uns, que recebem mais do que pagam, e desvantajoso para outros, que pagam mais do que recebem, nao sendo possivel estabelecer que todos recolheriam vantagens e dizer que do ponto de vista individual seria um bom negocio.

Uma forma um pouco mais sofisticada de enunciar esse mesmo tipo de raciocinio e atraves da logica das externalidades e da teoria dos jogos: a educacao geral produz beneficios para todos, mas se o investimento feito for particular, ha o interesse de cada investidor de diminuir sua cota de investimento enquanto os outros investidores mantiverem as suas, de modo a poder se beneficiar tanto de seus proprios recursos quanto dos investimentos que os outros realizaram na "coletividade". Dessa forma, o interesse de cada jogador sera o de reduzir suas cotas e o resultado final seria o prejuizo global.

Esse tipo de raciocinio e logicamente correto e modela adequadamente determinadas situacoes, desde que suas hipoteses sejam observadas, ou seja, que a educacao produza majoritariamente beneficios sob a forma de externalidades e que os jogadores espertos nao possam ser discriminados eficientemente, ou seja, que nao recebam alguma especie de "punicao moral" da parte dos jogadores honestos de forma a tornar sua conduta desviante nao-recompensadora.

Ocorre que, de uma forma geral, as condicoes que garantem a validade dessas hipoteses sao as mesmas que limitam a liberdade de mercado e a possibilidade das pessoas de se associarem livremente.

No caso especifico da educacao por exemplo, as pessoas poderiam organizar-se em cooperativas que levantassem fundos para financiar a educacao profissionalizante de outras pessoas, e as empresas que utilizassem mao de obra treinada ou tecnologia produzida em parte devido a iniciativas dessas associacoes poderiam oferecer vantagens para os membros dessas associacoes em termos de descontos nos produtos e servicos assim possibilitados, ou mesmo participacao nos lucros gerados. O grau de remuneracao de ambas as partes seriam definidos pelo mercado atraves dos beneficios seriam mutuos: as empresas nao precisariam engajar-se completamente no custo de formacao da sua propria mao-de-obra, que poderia ser financiada por agentes particulares movidos por interesses particulares. Aqueles que nao participassem desse sistema perderiam a oportunidade de usufruir do lucro ou da disponibilidade de bens de consumo gerados pelos investimentos dos outros em educacao, ou seja, estariam sendo discriminados pelo nao engajamento.

Uma objecao que poderia ser levantada contra esse sistema e a de que outras empresas, nao engajadas com essas cooperativas educacionais, poderiam aproveitar-se da mao-de-obra especializada por elas formadas, oferecendo salarios um pouco mais altos para ou dos adventos tecnologicos desenvolvidos dessa forma. Essa nao seria uma dificuldade numa situacao de real liberdade de contrato: poderia ser determinado que apos esse receber esse tipo de treinamento, houvesse obrigacao contratual de nao prestar servicos para nenhuma empresa que nao estivesse vinculada a tais cooperativas de ensino, exceto mediante pagamento de multa indenisatoria. Quanto as vantagens tecnologicas, elas poderiam ser conservadas mediante uma lei de patentes rigida.

E dessa forma, cada um poderia realizar o calculo economico adequado do beneficio que o seu investimento pessoal em educacao estaria aportando para o seu proprio bem-estar material, sem que fosse necessaria a arbitrariedade estatal, definindo qual seria a "boa educacao" e qual seria a "ma educacao", e em que quantidades e custos elas deveriam ser ofertadas as massas ignobeis.

A analise da teoria dos jogos e interessante sim, do ponto de vista da pressuposicao de barreiras institucionais que limitem a capacidade de livre associacao por contrato dos individuos e de exploracao da propriedade privada. Esse e normalmente o caso real, quando determinadas legislacoes e direitos representam entraves para que o mercado possa, por si so, resolver seus proprios problemas. Limitacoes a liberdade contratual, que impecam vinculos futuros, impedem a acao dos individuos, enquanto politicas de distribuicao social de "beneficios" e "custos", embora sejam arbitrarias e nao sejam optimais para os individuos, afetam o calculo economico e os incentivos que produziriam a iniciativa privada nao arbitraria e optimal. E importante saber que o teorico de jogos e um matematico que parte de pressupostos conjunturais que simplificam a acao dos individuos para tecer suas conclusoes. Ele nao e um economista que procura explorar as possibilidades reais da acao humana.

O economista, por sua vez, deve estar ciente das limitacoes decorrentes do fato de que, embora uma nocao de propriedade privada decorra logicamente do fato de que determinados recursos sao escassos e so podem ser empregados por um numero limitado de agentes que possuem interesses diferentes entre si e dos demais, a instituicao da propriedade privada e uma criacao politica humana, e nao uma categoria fundamental de sua ciencia. Como tal, esta sujeita a limitacoes e imperfeicoes que cerceiam todos os assuntos humanos. Sua mente deve explorar tanto as possibilidades decorrentes das instituicoes vigentes, quanto nas possibilidades de melhora-las para que atendam mais corretamente aqueles que sao seus objetivos fundamentais, mas sempre ciente de que, nao importando a solucao encontrada, ela sera sempre de carater aproximativo e exigira uma certa dose daquilo que se entende por bom senso.

Continua...
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user f.k.a. Cabeção
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Huxley escreveu:Quer um exemplo? Em Cingapura, remédios podem ser comprados a preço de banana nos hospitais públicos e há descontos especiais para velhos e crianças que estudam na rede pública. Nos EUA, velhinhos são atendidos pelo setor privado e não recebem descontos nas mensalidades, pelo contrário, SÃO SOBRETAXADOS.



O seu exemplo e interessante do ponto de vista historico institucional do dois paises, mas o que exatamente ele vem nos ensinar sobre economia mesmo?

Como eu disse antes, idosos sao sobretaxados pelo simples fato de representarem riscos maiores, e portanto custos medios maiores, para os planos de saude. As seguradoras de saude sao empresas privadas que gerem um negocio que pode ser lucrativo ou dar prejuizo, dependendo de como for administrado e comercializado.

Veja bem, se as pessoas estivessem interessadas em pagar para velhinhos terem planos de saude, elas poderiam fazer isso por elas mesmas. Nao precisaria do Estado forca-las para tanto. Nao e o Estado que banca a saude dos velhinhos assistidos em Cingapura, sao os outros pagadores de planos de saude (se a lei obrigar a oferecer descontos especiais para velhos) ou os pagadores de impostos (se a lei determinar que o Estado pagara uma parte desses planos). No primeiro caso, as empresas de saude saem perdendo, pois seus custos relativos aumentam e precisam ser transferidos para os consumidores, que pagam uma conta maior. No segundo caso, as empresas de saude saem ganhando, pois seu mercado aumenta, ja que seus custos sao distribuidos entre contribuintes e portanto pode-se permitir uma reducao de precos. Contudo, os custos de todas as outras empresas e individuos aumentam, reduzindo o mercado de coisas que nao sao planos de saude.

Agora se no sistema de mercado desobstruido as pessoas tem outros interesses antes de financiar caridosamente os velhinhos ou de poupar recursos para a propria velhice, antes de sair culpando as pessoas por suas deficiencias morais atavicas, e preciso saber se nao e isso mesmo que elas querem: liberdade para gerir seus proprios recursos. Pode ser que elas nao estejam tao interessadas em investir nas melhorias do sistema de saude, elas podem querer mais educacao, mais arte, mais diversao ou melhor alimentacao. Dizer que elas estariam sendo mais felizes ao investir mais recursos em saude e menos em todos esses outros mercados (porque e exatamente isso que o Estado faz, ele nao cria nada, ele so tira de um lugar e leva para outro), e simplesmente considerar que as pessoas sao ignorantes demais para procurar usar seus proprios meios para aumentar sua propria felicidade. E negar o postulado basico da economia.

E normal que uma pessoa com essa mentalidade, a revolta contra a razao, considere que seja necessario um ditador que faca as pessoas agirem da forma que ele considera correta. Mas esse ditador deve estar de pleno acordo com o que o tal defensor do socialismo pensa que deva ser feito, caso contrario ele seria apenas mais um tirano sanguinario. Essa pessoa nao percebe que ao projetar todas as suas nocoes e valores no tal ditador perfeito, ela esta simplesmente dizendo que ela propria deveria ser o ditador. Como bem disse Ludwig von Mises, "todo socialista e um ditador disfarcado".

E claro que voce pode dizer que existem muitos cidadaos que clamam por mais socialismo, por mais ajuda estatal para as pessoas. Essas pessoas normalmente fazem isso nao porque refletiram e chegaram a conclusao de que o socialismo atenderia melhor aos seus interesses, mas porque aprenderam atraves das mentiras sistematicamente repetidas que o socialismo e um sistema de distribuicao de riqueza e eliminacao de escassez, onde o Estado garantiria, por meios magicos, o suprimento de felicidade material para todos. O socialismo e uma fabula de Papai-Noel que passou a ser vociferada como panaceia dos males economicos da escassez.


Huxley escreveu:Se essa mão invisível existe na saúde, das duas uma: ou ela é cega ou é aleijada. Um estudo financiado pela Commom wealth Fund mostrou que o sistema de saúde dos EUA ficou em último ou penúltimo lugar em cinco de seis quesitos, os quais incluíam qualidade, eficiência e acesso (ver "Época" de 14 de julho de 2008). Os países comparados foram: EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha. Detalhe, só nos EUA existe isso: vacinação e atendimento de emergência são grátis e o resto fica tudo por conta do setor privado!

O sistema de preços só consegue garantir a máxima eficiência alocativa em casos onde não abundam externalidades. Se o sistema de preços não capta as externalidades, sejam elas positivas ou negativas, então o livre-mercado não gera a melhor alocação possível. Por exemplo, quando há significativa assimetria de informação no mercado, não há equilíbrio Pareto-ótimo e existe a chamada externalidade negativa de "seleção adversa". A compra do seguro-saúde foi justamente um dos casos estudados pelo paradigma da informação assimétrica: http://www.puc-rio.br/marco.ind/pdf/jog ... parte3.pdf


Nem vou me aprofundar nos interesses politicos por tras dos estudos realizados por organizacoes desse tipo. Vou apenas considerar a sua limitacao teorica basica.
Em economia, nao podemos analisar apenas a parte, precisamos estar conscientes de que os fenomenos economicos em geral tem repercucoes em todo o mercado.

E verdade que o Estado tem poder para "melhorar" o sistema de saude, por assim dizer. Se entendemos por "melhorar" fornecer servicos de mais alta qualidade, a precos de mercado menores, atendendo a mais pessoas; o Estado tem um poder, embora limitado, de fazer isso sim. Estados relativamente bem organizados e pouco corruptos, em ambientes de amplos recursos disponiveis (como e o caso das nacoes analisadas) que considerem o investimento sistematico em saude para as massas como objetivo primario a ser atingido por suas politicas, podem conseguir "melhorar" o sistema de saude ate um ponto que a disponibilidade de recursos escassos necessarios permitiria.

A economia nada tem a dizer com relacao a isso. Os recursos sao investidos num setor, e se esses recursos sao bem administrados de forma a se transformarem em servicos ou bens considerados melhores, dentro de criterios que analisem apenas esse setor, ou seja, onde a satisfacao dos consumidores decorra simplesmente dos produtos oferecidos por esse setor, teremos que houve um aumento do beneficio gerado para os individuos.

Ou seja, se a unica coisa que as pessoas quisessem realmente comprar fosse melhor saude, mas que por motivacoes bizarras de auto-flagelo elas gastassem mais em coisas que elas proprias considerassem "superfluas" e "desnecessarias", a intervencao do Estado, recolhendo autoritariamente os recursos gastos erroneamente e investindo no setor correto da saude produziria um beneficio liquido para todos, que seria produzido as custas dos demais setores. Mas como eles sao superfluos diante das necessidades fundamentais de saude, nao seria um mal esfola-los para produzir um servico de saude de melhor qualidade. Assim, se nos Estados Unidos as pessoas preferem consumir outras coisas, levadas por impulsos frivolos, nos demais paises ricos as pessoas estao mais satisfeitas pois o Estado as impede de prejudicarem a si proprias comprando futilidades ao invez de uma saude de melhor qualidade.

Essa e exatamente a ideia por tras da nocao do ditador sabio e justo: sendo as pessoas, mesmo as honestas, incapazes de reconhecer suas necessidades e desejos corretamente, um ditador sabio e justo poderia ajuda-las eliminando a sua liberdade de escolha, deixando apenas a opcao boa para que elas nao se enganem e se prejudiquem. Essa relacao entre Estado e individuo seria uma escala maior da relacao entre pais e filhos pequenos. Mas, os propositores dessa doutrina nunca deixam duvidas quanto ao que conteudo de sabedoria do sabio ditador: seria exatamente os mesmos deles proprios. Eles podem nao assumir, mas com certeza pensam que dariam excelentes ditadores. Talvez ate pensem que lhes falta carisma, eloquencia, e lideranca natural, de modo que considerem a si proprios mais adequados para a funcao de conselheiros do ditador, que reuniria essas capacidades essenciais para o seu cargo. De qualquer forma, imaginam que a ditadura devesse ser a personificacao de seus desejos e ideais, e qualquer desvio desses valores e considerado por eles como traicao e desvirtuamento dos principios basicos norteadores da Sociedade, ou seja, seus proprios principios.

Isso e uma ideologia, e uma forma de pensar o mundo e o ser humano, da qual a economia nao tem porque se ocupar. Ela pode dizer para alguem que se orienta por tais objetivos que os meios que ele emprega para atingi-los sao mais ou menos adequados. Nesse caso, por exemplo, considerar os limites criados pelo custo da gerencia burocratica de um sistema de saude estatal e pela escassez de recursos que precisam ser tomados de outros setores da economia podem orientar as decisoes a serem tomadas pelos planejadores centrais no sentido de aumentar a eficiencia desses servicos que eles pretendem oferecer. E evidente que se todos os demais setores da economia estiverem tambem sobre o controle estatal, havera um problema grave de calculo economico devido a ausencia de mercado e em particular de moeda que transmita as informacoes sobre utilidade e escassez atraves dos precos, necessarias para a realizacao de projetos eficazes. Mas esse nao e o nosso problema nesse momento.

Mas se o argumento inicial nao for o de que um investimento coletivo maior em saude e necessario em si, mas que o simples fato dele existir permite aos individuos colher uma satisfacao maior do que colheriam se fossem completamente livres para definir seus proprios investimentos, devido a consideracoes de teoria dos jogos e externalidades, valem argumentos contrarios analogos aos que eu coloquei na primeira parte do meu texto.

Com toda certeza, e um tema interessante para o economista o estudo das condicoes institucionais, que poderiam ser aproximadas como rigidas, e assim permitirem aproximacoes sobre o comportamento dos seres humanos quando restritos a esses dados ambientes. Isso permite estabelecer conclusoes sobre o ambiente, que em geral se trata de uma configuracao particular de obstrucao de mercado caracteristica da natureza das instituicoes vigentes que regulam a propriedade privada e os contratos entre os individuos. As conclusoes assim estabelecidas permitem ao economista estabelecer conclusoes sobre tais mercados obstruidos especificos, mas o capitalismo nao se caracteriza por um tipo de mercado obstruido especifico, mas engloba todas as possibilidades de formalizacao da propriedade privada e limites para a associacao dos individuos e divisao do trabalho. Mesmo entre os varios paises podemos observar diferentes manifestacoes capitalistas decorrente das leis que estabelecem tais instituicoes localmente. Se as conclusoes que retiramos de um determinado mercado derivam necessariamente das hipoteses que fizemos sobre a rigidez institucional do mesmo e o tipo de limite que elas imporiam aos mercados que dentro delas se produziriam, devemos ser humildes o suficiente para reconhecer que o nosso trabalho tem um escopo institucional especifico, e que sobretudo nao se trata de uma refutacao do capitalismo, que e algo bem mais geral. As observacoes do professor John Forbes Nash sobre o comportamento de competidores sao importantes, mas nao se tratam de uma refutacao da teoria economica classica muito menos da teoria economica austriaca, que defendem o principio da Mao invisivel, pois essas teorias sao bem mais gerais no seu escopo institucional. Assim como as teorias do dr Joseph Stiglitz sobre mercados com externalidades. Suas contribuicoes sao interessantissimas, mas devem ser consideradas dentro dos limites estabelecidos nas hipoteses propostas. E se essas hipoteses de alguma forma admitem uma configuracao estatica especifica de obstrucao do mercado, seus resultados serao restritos apenas a essas condicoes. So poderiam ser generalizados caso uma demonstracao categorica com base nos fundamentos da acao humana demonstrasse que tais hipoteses sobre as instituicoes sao necessarias para dar realidade aos fenomenos de mercado, mas nada disso e feito, simplesmente porque tal demonstracao seria falsa.

A assimetria de informacoes, em si, nao e uma situacao institucional, mas um dado da natureza. Algumas pessoas detem mais conhecimento sobre os fatos do que outras. Nem todas as pessoas sabem teoria musical, logo a apreciacao que darao a um instrumento musical especifico sera diferente. Mesmo que elas tenham acesso as suas caracteristicas, esse dado nada vai lhes acrescentar pois seu conhecimento nao permite estabelecer julgamentos sobre eles. O que deve ser examinado nao e a assimetria de informacao em si, mas os mecanismos institucionais que privilegiam a fraude, ou seja, a ocultacao ou a transmissao de informacoes falsas nos contratos reais ou tacitos, que nublariam a valoracao dos individuos que poderiam apreciar os dados verdadeiros corretamente e fazer julgamentos de valor e calculos economicos com eles. A assimetria de informacao nunca sera eliminada por nenhuma medida governamental, o que deve ser coibido e a fraude.

A teoria dos jogos e um recurso matematico espetacular para a formalizacao dos conceitos praxeologicos, sobretudo para analise das condicoes institucionais e de conjunturas especificas, mas ela ainda e um campo que esta engatinhando apenas. E preciso humildade intelectual para reconhecer que as observacoes por vezes sao menos gerais do que nos pensamos. Essa e a humildade que faltou, algumas vezes, aos cientistas que formularam alguns de seus conceitos e ideias e aos professores e divulgadores que se encarregaram de transmiti-las e vulgariza-las. E preciso antes de mais nada saber que nem a teoria dos jogos nem qualquer outra abstracao matematica podera substituir o postulado basico da racionalidade dos agentes, pois elas proprias se servem desse postulado. O que elas permitem e uma analise formal de instituicoes vigentes ou imaginadas e se elas permitem que os individuos ajam e cooperem racionalmente, segundo o regime de divisao de trabalho e propriedade privada chamado capitalismo.



Huxley escreveu:Ademais, para o caso do setor educacional, ainda existe o argumento da geração de externalidades positivas. Tem amplo respaldo teórico e empírico a assertiva que postula que a educação os gera através de incrementos na produtividade média do trabalho, devido ao aproveitamento da aptidão do trabalhador pelos setores mais modernos da economia que requerem equipamentos e operações mais complexas. O benefício usufruído pela pessoa que recebe a educação não fica restrito ao indivíduo que o consome, mas se espalha por toda a sociedade. Estimativas de Carlos Langoni na década de 70 mostraram que, no Brasil, enquanto as taxas de retorno do investimento em capital físico oscilavam entre 4%, indústria têxtil, e 22%, indústria de mineração, as taxas de retorno do investimento em capital humano variavam entre 32%, ensino primário, e 12%, ensino superior.

No caso da saúde, a questão da externalidade positiva fica por conta da prevenção de doenças infecto-contagiosas.


A questao das da relacao do mercado e externalidades positivas foi discutida acima e no meu post anterior.

Huxley escreveu:Como se o lixo do SUS fosse capaz de gerar alguma acomodação maciça...Seguindo seu raciocínio, a mortalidade infantil no Brasil é alta porque as mães adoram esquecer de poupar para pagar as despesas de saúde do filho. No mundo de Von Mises, é comum se favorecer um agravamento de doença ou manter uma menor nutrição por questões meramente táticas. A racionalidade e a liberdade de escolha NÃO limitam de forma adequada a promoção dessas privações.


Voce esta discutindo com emocoes. Existe um apanhado de razoes para o SUS ser um lixo comparado com os servicos de saude prestados por outros Estados, a principal delas e porque somos mais pobres e o Estado tem menos recursos para esfolar em outros setores da economia. Outra razoes, menores, sao as deficiencias do nosso setor burocratico gigantesco, e as possibilidades de corrupcao decorrentes desse enorme sistema de geracao de privilegios. Realmente, de uma racao miseravel e desperdicada ou roubada a maior parte e o que resta sao apenas migalhas.

Os efeitos dessas migalhas, contudo, sao exatamente os mesmos de um banquete, mas apenas em menor proporcao.

No mundo de von Mises, as pessoas agem considerando suas proprias necessidades. Quem achar, por razoes particulares, que outros fins para seus recursos sao mais urgentes que os gastos e investimentos em saude estaria sendo tao racional quanto quem achar o contrario. O que diferiria essas pessoas sao caracteristicas individuais de suas personalidades, tais quais suas escalas de valores e os riscos que pretendem assumir para alcancar seus objetivos particulares.



Huxley escreveu:Que blabláblá enfadonho e sem graça. O fato é que o "indutor de preguiça" não leva a taxa de desemprego voluntário para patamares preocupantes em inúmeros países. E isso é o que importa.



Isso e apenas uma forma de agitar os bracos freneticamente e evitar o problema real. Os fatos expressos nessas estatisticas em si nao dizem nada sem teorias corretas para interpreta-los e extrair os conteudos de realidade que eles abrigam. Por exemplo, para voce dizer que as taxas de desemprego voluntarias nao crescem para patamares preocupantes (alias, quais sao e a quem preocupam?) em decorrencia das facilidades criadas pelo Welfare State desses paises, voce teve que reduzir todos os fatores que se relacionariam o desemprego voluntario a oferta de brindes pelo Estado para os pobres.

Qualquer um menos interessado em confirmar teses politicas e sim em examinar a realidade perceberia que registros de desemprego voluntarios sao um dado meramente parcial. Toda pessoa esta parcialmente em desemprego voluntario, ao escolher trabalhar menos do que suas forcas permitiriam, para gozar o resto do seu tempo nos prazeres do ocio. Se o Estado diminui os incentivos para o trabalho e aumento os incentivos para o ocio, pode ser que as pessoas escolham nao o desemprego total, mas sim um aumento do seu tempo de desemprego para mais do que fariam se todos os beneficios que pudessem extrair do ocio fossem gerados pelos frutos de seu trabalho. Quando todos seguem a mesma logica, temos como resultado a diminuicao da producao geral.

Esse resultado poderia facilmente ser expresso na terminologia da teoria dos jogos atraves da atribuicao de pesos positivos e negativos aos incentivos de cada jogador. As pessoas ao extrairem beneficios reduzidos de cargas maiores de trabalho, e ao colherem beneficios das cargas de trabalho alheias, se sentiriam incentivadas a reduzirem suas cargas enquanto as outras mantivessem suas proprias. Quando todas tivessem feito o mesmo, a producao geral reduziria mas ninguem teria incentivo de mudar de postura, ou seja, estariamos num equilibrio de Nash. A localizacao desse equilibrio em termos de producao geral e satisfacao dos individuos dependeria sempre das condicoes institucionais e materiais dos mercados analisados, o que poderia permitir a alguns espertalhoes de dizer que tais efeitos negativos, nos casos que lhes interessam, nao sao "preocupantes", o que quer que queiram dizer com isso.

O que nao se percebe numa primeira vista e que nesse caso o emprego da teoria dos jogos seria uma critica fundamental ao Welfare State, e nao as suas condicoes institucionais particulares, ja que ele proprio e uma condicao institucional de obstrucao do mercado. Mas parece que a teoria dos jogos, na sua opinao e na de muitos teoricos e divulgadores, so serve para criticar o capitalismo, nao e mesmo?




Huxley escreveu:Engraçado. Como homo oeconomicus, o indivíduo tem autonomia, independência e soberania. Mas como homo politicus, ele é um mentecapto que é indefeso a manipulação. Grande coerência.

Vou dizer o seguinte: se as pessoas se baseiam em expectativas racionais, indivíduos não podem ser sistematicamente enganados! Não importa se nos referimos a isso num âmbito político ou econômico. Mesmo que a maioria das pessoas não seja plenamente racional durante todo o tempo, as alternativas não são mais próximas do realismo, porque asseveram que as pessoas erram de maneira reiterada e sistemática. Se isso acontece, elas devem sofrer perdas. Não é natural que tomem providências para evitar esses erros no futuro? Se aceitamos o princípio da racionalidade como essencial para descrever atos de consumo e produção, porque não o aceitamos quando se trata da formação de expectativas na política? Só com "wishfull thinking" se nega algo tão óbvio. Welfare State resulta SIM do desígnio humano-eleitoral.



O seu raciocinio deriva de uma incapacidade de distinguir as relacoes de poder economico e politico.

O poder de um empresario sobre um consumidor e limitado, na verdade, ele deve se adequar as expectativas do consumidor para continuar no mercado. Pode-se dizer que na verdade a relacao de poder e no sentido inverso, dos consumidores sobre os empresarios que os servem.

O poder coercitivo de um governante e diferente na sua natureza. Embora esses politicos possam ser escolhidos em pleitos gerais de uma democracia, ao serem investidos nos seus cargos eles passam a ter poderes discricionarios e emprega-los na coercao dos individuos que se opuserem aos seus interesses. Se eles divulgaram os interesses na epoca do pleito, ou se mudaram de discurso depois de se elegerem, pouca diferenca faz. O fato e que eles podem definir e determinar como outras pessoas devem ou nao devem agir, e isso nenhum empresario pode fazer num ambiente de mercado.

Ao selecionar ideologias hegemonicas e impo-las a realidade das populacoes, assim como os dados e interpretacoes as quais elas tem acesso, esses politicos, muitas vezes eleitos por grupos de pressao interessados em privilegios as custas dos outros, estao sim afetando a forma racional que os individuos encaram a realidade dos fatos. Um sovietico teria muito menos consciencia das implicacoes que o regime de seu pais tinha no seu modo de vida e de agir, justamente porque essas implicacoes eram tao enormes que suprimiam inclusive sua liberdade para pensar e refletir acerca delas. Alguns mais atentos se aperceveravam dessa realidade nefasta e tentavam com todas as forcas reagir e fugir, mas eram sumariamente exterminados.

Pode-se dizer que numa democracia a coisa se passa num nivel diferente, e eu concordo. Mas a natureza do poder coercitivo do Estado e identica. Na medida em que as pessoas acreditarem que esse poder coercitivo podera gerar beneficios para elas proprias, elas racionalmente vao defender o seu aumento, mesmo que essa crenca se baseie em falsidades ideologicas criadas pelos interessados em ampliar seus poderes. A crenca do Welfare State e fomentada por esse tipo de consideracao, por essa falsificacao de calculo. As pessoas continuam agentes racionais, mas o poder dos politicos e burocratas, e das legioes de intelectuais que os defendem, de influir na forma como as pessoas capturam e encaram os fatos faz com que a racionalidade dos individuos passe a produzir resultados ruins para eles proprios, pois os dados iniciais eram falsos.

As pessoas que racionalmente procuram sindicatos, votam em partidos trabalhistas, defendem proibicoes no comercio exterior e aumentos dos gastos publicos nao o fazem porque sao burras. Mesmo que essas medidas prejudiquem seus proprios interesses, elas nao se dao conta disso, pois estao imersas numa realidade onde demagogos exploram os fatos ao seu favor e descrevem uma realidade simples que na verdade nao existe.

Nem todas as pessoas estao equipadas com as ferramentas para pensar corretamente em economia. Elas percebem a relacao entre alguns fenomenos e podem entender o basico dos seus principios, mas se perdem nas deducoes que seriam necessarias para perceber a interconexao de todos os complexos fenomenos de mercado que se produzem na realidade. Essa condicao limitante e explorada por pessoas que, ambiciosas por mais poder, farao de tudo para convencer de que podem eliminar os males que afligem a todos, apenas se mais poder as pessoas lhes derem. Sao demagogos, falsos profetas, lideres misticos e messianicos nos quais as pessoas depositam a confianca de que as solucoes para todas as aflicoes reside nos seus discursos e atos de poder arbitrario.

E verdade que as pessaos em geral nao costumam ligar para o discurso enfadonho e ponderado de economistas ocupados em analisar os fenomenos de escassez e interesses individuais. Enfeiticadas pela demagogia, sao levadas a acreditar em mentiras que nublam suas consideracoes e produzem efeitos que elas consideram ruins, mas os quais elas nao estao aptas a perceber sua causa real, justamente por ignorar os conceitos de economia.

De qualquer modo, cabe aos economistas examinar o conteudo desses discursos e os efeitos reais que eles produzem, estejam as pessoas de um modo geral interessadas nisso ou nao. Podemos apenas esperar que o amadurecimento das ideias dos individuos e os erros sucessivos levem, com o passar do tempo, a considerarem melhor as leis e teoremas da economia, e como elas afetam sua vida, para assim poder policiar melhor o discurso dos aspirantes a politicos gananciosos e megalomaniacos. Esses por sua vez, para melhor atender seus interesses, sempre que possivel ocuparao-se em estimular mais e mais a revolta geral contra a razao. Mas como Ludwig von Mises dizia, "ideias, apenas ideias podem iluminar a escuridao".
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Huxley »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
O seu exemplo e interessante do ponto de vista historico institucional do dois paises, mas o que exatamente ele vem nos ensinar sobre economia mesmo?

Como eu disse antes, idosos sao sobretaxados pelo simples fato de representarem riscos maiores, e portanto custos medios maiores, para os planos de saude. As seguradoras de saude sao empresas privadas que gerem um negocio que pode ser lucrativo ou dar prejuizo, dependendo de como for administrado e comercializado.



Correto, mas isso não muda em nada o fato que este é o caso em que o sistema de preços oferece o incentivo oposto a direção certa para que o atendimento daqueles que mais necessitam do serviço de saúde tenha prioridade.




user f.k.a. Cabeção escreveu:

Veja bem, se as pessoas estivessem interessadas em pagar para velhinhos terem planos de saude, elas poderiam fazer isso por elas mesmas. Nao precisaria do Estado forca-las para tanto.



Você ignora que esse tipo de caridade inter-familiar é uma exceção, não uma regra. Se fosse uma regra, sua observação estaria corretíssima.

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nao e o Estado que banca a saude dos velhinhos assistidos em Cingapura, sao os outros pagadores de planos de saude (se a lei obrigar a oferecer descontos especiais para velhos) ou os pagadores de impostos (se a lei determinar que o Estado pagara uma parte desses planos).


É o segundo caso.


user f.k.a. Cabeção escreveu:
No segundo caso, as empresas de saude saem ganhando, pois seu mercado aumenta, ja que seus custos sao distribuidos entre contribuintes e portanto pode-se permitir uma reducao de precos. Contudo, os custos de todas as outras empresas e individuos aumentam, reduzindo o mercado de coisas que nao sao planos de saude.


Colocando na balança os efeitos positivos e os negativos, provavelmente haverá uma melhora líquida em relação a situação inicial. Um estudo de caso sobre os benefícios dos investimentos em saúde pública é visto na análise da expectativa de vida média da população do Reino Unido no período 1901-1960. Ocorreu uma expansão da expectativa de vida durante as duas décadas de guerra (S. Preston, Keyfitz, N., and Schoen, R. (1972). Causes of Death: Life Tables for National. Populations. New York and London : Seminar Press ), onde ocorreu um maior compartilhamento dos meios de sobrevivência, como serviços de saúde e suprimento alimentar. E tudo isso considerando o fato que as décadas de guerra foram o período de mais baixo crescimento do PIB per capita e a análise de possíveis processos causais.

user f.k.a. Cabeção escreveu:

e preciso saber se nao e isso mesmo que elas querem: liberdade para gerir seus proprios recursos. Pode ser que elas nao estejam tao interessadas em investir nas melhorias do sistema de saude, elas podem querer mais educacao, mais arte, mais diversao ou melhor alimentacao. Dizer que elas estariam sendo mais felizes ao investir mais recursos em saude e menos em todos esses outros mercados (porque e exatamente isso que o Estado faz, ele nao cria nada, ele so tira de um lugar e leva para outro), e simplesmente considerar que as pessoas sao ignorantes demais para procurar usar seus proprios meios para aumentar sua propria felicidade. E negar o postulado basico da economia.




A simples busca de utilidades no mercado e a ausência de coerção não traz automaticamente a eliminação de privações de capacitações que limitam as escolhas e as oportunidades de as pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agentes na sociedade. Os que negam isso simplesmente não levam em conta que as pessoas podem avaliar sua satisfação adaptativamente, dadas as condições em que vivem. Além disso, não se dão conta que a "utilidade" a que se refere na maximização do auto-interesse obtida no mercado é apenas a um tipo de comportamento de escolha de uma pessoa, mas não algo necessariamente relacionado a felicidade, prazer ou satisfação em geral. Isso me lembra uma citação de Jeffrey Sachs no livro "O Fim da Pobreza":

“O problema fundamental para os países mais pobres é que a própria pobreza pode ser uma armadilha. Quando a pobreza é muito extrema, os pobres não têm capacidade- por eles mesmos- de sair da enrascada. Eis o porquê: pensemos no tipo de pobreza causado pela falta de capital por pessoa. As aldeias rurais não têm caminhões, estradas pavimentadas, geradores de energia, canais de irrigação. O capital humano é muito baixo, com moradores famintos, doentes e analfabetos lutando para sobreviver. O capital natural está esgotado: as árvores foram cortadas e os nutrientes do solo exauridos. Nessas condições, há mais necessidade de capital- físico, humano, natural- mais isso exige mais poupança. Quando as pessoas são pobres, mas não totalmente destituídas, talvez consigam economizar. Quando são totalmente destituídas, precisam de toda a renda, ou mais, apenas para sobreviver. Não há margem de renda acima do exigido para a sobrevivência que possa ser investido para o futuro.”

Veja só. Um seguidor do individualismo do tipo mais rasteiro, ao ver a citação, provavelmente vai dizer: "Não devemos permitir qualquer mecanismo extra-mercado (mesmo escolhido democraticamente)para ajudar essas pessoas, porque essa é apenas uma questão de preferência temporal, os membros das classes baixas são caracterizados por sua orientação ao presente e a propensão a não-poupança para financiar suas despesas de capítal físico e humano." Obviamente, isso é uma falácia. Pode-se dizer isso porque essas pessoas citadas por Sachs não escolhem soberanamente o consumo de toda a renda. Ora, a não-acumulação de capital físico e humano para um aldeão do caso citado por Sachs pode ser considerado uma OBRIGAÇÃO, logo, CONTRA a VONTADE DELE, mas é uma NECESSIDADE que se impõe a própria existência do indivíduo. Logo, ele pode NÃO QUERER CONSUMIR TODA A RENDA como trabalhador de subsistência, mas para VIVER, ele é OBRIGADO a isso. Tem pessoas que fingem não ver isso. Mas no fundo dizem para si mesmo: "têm algo errado com o meu raciocínio".


user f.k.a. Cabeção escreveu:
E normal que uma pessoa com essa mentalidade, a revolta contra a razao, considere que seja necessario um ditador que faca as pessoas agirem da forma que ele considera correta. Mas esse ditador deve estar de pleno acordo com o que o tal defensor do socialismo pensa que deva ser feito, caso contrario ele seria apenas mais um tirano sanguinario. Essa pessoa nao percebe que ao projetar todas as suas nocoes e valores no tal ditador perfeito, ela esta simplesmente dizendo que ela propria deveria ser o ditador. Como bem disse Ludwig von Mises, "todo socialista e um ditador disfarcado".

E claro que voce pode dizer que existem muitos cidadaos que clamam por mais socialismo, por mais ajuda estatal para as pessoas. Essas pessoas normalmente fazem isso nao porque refletiram e chegaram a conclusao de que o socialismo atenderia melhor aos seus interesses, mas porque aprenderam atraves das mentiras sistematicamente repetidas que o socialismo e um sistema de distribuicao de riqueza e eliminacao de escassez, onde o Estado garantiria, por meios magicos, o suprimento de felicidade material para todos. O socialismo e uma fabula de Papai-Noel que passou a ser vociferada como panaceia dos males economicos da escassez.



Mais chavões misesianos. Isso me lembrou uma coisa:

"INTERVIEWER: Some of those debates became very, very heated. I think [Ludwig] von Mises once stormed out.

MILTON FRIEDMAN: Oh, yes, he did. Yes, in the middle of a debate on the subject of distribution of income, in which you had people who you would hardly call socialist or egalitarian -- people like Lionel Robbins, like George Stigler, like Frank Knight, like myself -- Mises got up and said, "You're all a bunch of socialists," and walked right out of the room. (laughs) But Mises was a person of very strong views and rather intolerant about any differences of opinion."

http://www.pbs.org/wgbh/commandingheigh ... edman.html

Até Milton Friedman era socialista? Qualquer semelhança de Ludwig "tudo o que não é o que eu penso é socialismo" von Mises com o Cabeção não é mera coincidência.



user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nem vou me aprofundar nos interesses politicos por tras dos estudos realizados por organizacoes desse tipo.



É uma pena, porque só observando os estudos de caso se pode conseguir uma evidência de que o livre-mercado na saúde é a melhor opção. Se eu seguisse seu raciocínio, eu diria que os estudos de economistas liberais não devem ser analisados por também pode haver neles interesses políticos por trás.

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Isso e apenas uma forma de agitar os bracos freneticamente e evitar o problema real. Os fatos expressos nessas estatisticas em si nao dizem nada sem teorias corretas para interpreta-los e extrair os conteudos de realidade que eles abrigam. Por exemplo, para voce dizer que as taxas de desemprego voluntarias nao crescem para patamares preocupantes (alias, quais sao e a quem preocupam?) em decorrencia das facilidades criadas pelo Welfare State desses paises, voce teve que reduzir todos os fatores que se relacionariam o desemprego voluntario a oferta de brindes pelo Estado para os pobres.

Qualquer um menos interessado em confirmar teses politicas e sim em examinar a realidade perceberia que registros de desemprego voluntarios sao um dado meramente parcial. Toda pessoa esta parcialmente em desemprego voluntario, ao escolher trabalhar menos do que suas forcas permitiriam, para gozar o resto do seu tempo nos prazeres do ocio. Se o Estado diminui os incentivos para o trabalho e aumento os incentivos para o ocio, pode ser que as pessoas escolham nao o desemprego total, mas sim um aumento do seu tempo de desemprego para mais do que fariam se todos os beneficios que pudessem extrair do ocio fossem gerados pelos frutos de seu trabalho. Quando todos seguem a mesma logica, temos como resultado a diminuicao da producao geral.

Esse resultado poderia facilmente ser expresso na terminologia da teoria dos jogos atraves da atribuicao de pesos positivos e negativos aos incentivos de cada jogador. As pessoas ao extrairem beneficios reduzidos de cargas maiores de trabalho, e ao colherem beneficios das cargas de trabalho alheias, se sentiriam incentivadas a reduzirem suas cargas enquanto as outras mantivessem suas proprias. Quando todas tivessem feito o mesmo, a producao geral reduziria mas ninguem teria incentivo de mudar de postura, ou seja, estariamos num equilibrio de Nash. A localizacao desse equilibrio em termos de producao geral e satisfacao dos individuos dependeria sempre das condicoes institucionais e materiais dos mercados analisados, o que poderia permitir a alguns espertalhoes de dizer que tais efeitos negativos, nos casos que lhes interessam, nao sao "preocupantes", o que quer que queiram dizer com isso.

O que nao se percebe numa primeira vista e que nesse caso o emprego da teoria dos jogos seria uma critica fundamental ao Welfare State, e nao as suas condicoes institucionais particulares, ja que ele proprio e uma condicao institucional de obstrucao do mercado. Mas parece que a teoria dos jogos, na sua opinao e na de muitos teoricos e divulgadores, so serve para criticar o capitalismo, nao e mesmo?




Não há nenhum problema na existência do ócio e na busca por lazer. Essa é uma necessidade humana como qualquer outra. O homem que está buscando o lazer com o ato de trabalhar menos não está se aproveitando do dinheiro de ninguém. Devido a isso, só os níveis elevados de desemprego voluntário é que seriam preocupantes.



user f.k.a. Cabeção escreveu:

O seu raciocinio deriva de uma incapacidade de distinguir as relacoes de poder economico e politico.

O poder de um empresario sobre um consumidor e limitado, na verdade, ele deve se adequar as expectativas do consumidor para continuar no mercado. Pode-se dizer que na verdade a relacao de poder e no sentido inverso, dos consumidores sobre os empresarios que os servem.

O poder coercitivo de um governante e diferente na sua natureza. Embora esses politicos possam ser escolhidos em pleitos gerais de uma democracia, ao serem investidos nos seus cargos eles passam a ter poderes discricionarios e emprega-los na coercao dos individuos que se opuserem aos seus interesses. Se eles divulgaram os interesses na epoca do pleito, ou se mudaram de discurso depois de se elegerem, pouca diferenca faz. O fato e que eles podem definir e determinar como outras pessoas devem ou nao devem agir, e isso nenhum empresario pode fazer num ambiente de mercado.

Ao selecionar ideologias hegemonicas e impo-las a realidade das populacoes, assim como os dados e interpretacoes as quais elas tem acesso, esses politicos, muitas vezes eleitos por grupos de pressao interessados em privilegios as custas dos outros, estao sim afetando a forma racional que os individuos encaram a realidade dos fatos. Um sovietico teria muito menos consciencia das implicacoes que o regime de seu pais tinha no seu modo de vida e de agir, justamente porque essas implicacoes eram tao enormes que suprimiam inclusive sua liberdade para pensar e refletir acerca delas. Alguns mais atentos se aperceveravam dessa realidade nefasta e tentavam com todas as forcas reagir e fugir, mas eram sumariamente exterminados.

Pode-se dizer que numa democracia a coisa se passa num nivel diferente, e eu concordo. Mas a natureza do poder coercitivo do Estado e identica. Na medida em que as pessoas acreditarem que esse poder coercitivo podera gerar beneficios para elas proprias, elas racionalmente vao defender o seu aumento, mesmo que essa crenca se baseie em falsidades ideologicas criadas pelos interessados em ampliar seus poderes. A crenca do Welfare State e fomentada por esse tipo de consideracao, por essa falsificacao de calculo. As pessoas continuam agentes racionais, mas o poder dos politicos e burocratas, e das legioes de intelectuais que os defendem, de influir na forma como as pessoas capturam e encaram os fatos faz com que a racionalidade dos individuos passe a produzir resultados ruins para eles proprios, pois os dados iniciais eram falsos.

As pessoas que racionalmente procuram sindicatos, votam em partidos trabalhistas, defendem proibicoes no comercio exterior e aumentos dos gastos publicos nao o fazem porque sao burras. Mesmo que essas medidas prejudiquem seus proprios interesses, elas nao se dao conta disso, pois estao imersas numa realidade onde demagogos exploram os fatos ao seu favor e descrevem uma realidade simples que na verdade nao existe.

Nem todas as pessoas estao equipadas com as ferramentas para pensar corretamente em economia. Elas percebem a relacao entre alguns fenomenos e podem entender o basico dos seus principios, mas se perdem nas deducoes que seriam necessarias para perceber a interconexao de todos os complexos fenomenos de mercado que se produzem na realidade. Essa condicao limitante e explorada por pessoas que, ambiciosas por mais poder, farao de tudo para convencer de que podem eliminar os males que afligem a todos, apenas se mais poder as pessoas lhes derem. Sao demagogos, falsos profetas, lideres misticos e messianicos nos quais as pessoas depositam a confianca de que as solucoes para todas as aflicoes reside nos seus discursos e atos de poder arbitrario.




Tudo que você postou ainda não responde isso: “as alternativas não são mais próximas do realismo, porque asseveram que as pessoas erram de maneira reiterada e sistemática. Se isso acontece, elas devem sofrer perdas. Não é natural que tomem providências para evitar esses erros no futuro?”.

Eu já ouvi falar do caso de um pescador que aprendeu sozinho a nadar tão bem quanto um nadador profissional. E ele nada entende de leis da hidrodinâmica. Porque será que ele aprendeu a nadar? Resposta: o aprendizado é possível, onde é possível usar o método de “tentativa e erro” para descobrir como o mundo funciona. É devido a isso que teóricos das expectativas racionais como Robert Lucas fazem hipóteses que assumem que trabalhadores têm expectativas inflacionárias e reagem a política monetária como se entendessem de teorias sobre a inflação, algo extremamente complexo.

Por outro lado, o que você está tentando me convencer é que pessoas RACIONAIS e AUTÔNOMAS elegeram políticos que levaram perdas as mesmas, e mesmo assim, elas insistem obstinadamente em reivindicar mais coisas que levam a mais perdas e mais políticos que implementem tais medidas. Isso é verdade porque a ausência do protótipo de Estado Mínimo é quase tão antigo quanto a existência do sufrágio universal. Pela lógica, o tempo deveria jogar a favor dos acertos, e não dos erros. Se por acaso o aprendizado fosse impossível para as questões de política, então também seria para questões econômicas.
Editado pela última vez por Huxley em 17 Ago 2008, 22:02, em um total de 1 vez.
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docdeoz
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por docdeoz »

Rhyan escreveu:Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde





Por Hans-Hermann Hoppe

N. do T.: com a estréia do filme Sicko, de Michael Moore, é conveniente saber, sem qualquer demagogia, quais as reais soluções para a crise dos sistemas de saúde, problema praticamente universal e que pode ser resolvido com a aplicação de princípios igualmente universais.

É verdade que o sistema de saúde dos EUA - bem como o do Brasil - está uma bagunça, mas isso demonstra não uma falha do mercado, mas, sim, uma falha do governo. A cura do problema não requer uma diferenciada regulamentação governamental, tampouco mais regulamentações ou burocracias, como políticos interesseiros querem fazer-nos crer. A cura do problema requer simplesmente a eliminação de todos os atuais controles governamentais.

Já passou da hora de levarmos a sério uma reforma do sistema de saúde. Créditos tributários, vouchers e privatização já ajudariam muito na meta de descentralizar o sistema e remover encargos desnecessários sobre as empresas. Porém, quatro medidas adicionais devem ser tomadas:

1. Eliminar todas as exigências de licenciamento para as faculdades de medicina, hospitais, farmácias, médicos e outros profissionais da área de saúde. A oferta destes itens iria aumentar de imediato, os preços iriam cair, e uma maior variedade de serviços de saúde iria aparecer no mercado.

Agências de credenciamento, competindo voluntariamente, iriam substituir o licenciamento compulsório do governo - levando-se em conta que os fornecedores de serviços de saúde (afinal, serviços de saúde são serviços como quaisquer outros) acreditem que tal reconhecimento iria melhorar sua reputação, e que seus consumidores, por se importarem com a reputação dos fornecedores, estarão dispostos a pagar por isso.

Como os consumidores não mais seriam ludibriados a acreditar que existe tal coisa como "padrão nacional" de saúde, eles aumentariam sua procura por bons serviços de saúde a custos baixos, e fariam escolhas mais perspicazes.

2. Eliminar todas as restrições governamentais sobre a produção e a venda de produtos farmacêuticos e equipamentos médicos. Isso significa a extinção da Food and Drug Administration (agência equivalente à nossa Anvisa), que atualmente só obstrui inovações e aumenta os custos de produção.

Custos e preços cairiam, e uma maior variedade de melhores produtos chegaria ao mercado mais rapidamente. O mercado também forçaria os consumidores a agir de acordo com suas próprias avaliações de risco - ao invés de confiar essa tarefa ao governo. E os fabricantes e vendedores de remédios e aparelhos, devido à concorrência, teriam que fornecer cada vez mais garantias e melhores descrições de seus produtos, tanto para evitar processos por produtos defeituosos como para atrair mais consumidores.

3. Desregulamentar a indústria de seguros de saúde. A iniciativa privada pode oferecer seguros contra eventos cuja ocorrência está fora do controle do segurado. Por outro lado, uma pessoa não pode se segurar contra o suicídio ou a falência, por exemplo, porque depende apenas dessa pessoa fazer tais eventos ocorrerem.

Como a saúde de uma pessoa, ou a falta dela, depende quase que exclusivamente desta pessoa, muitos, se não a maioria, dos riscos de saúde não são efetivamente seguráveis. "Seguro" contra riscos cuja probabilidade de ocorrerem pode ser sistematicamente influenciada por um indivíduo depende fortemente da responsabilidade própria desta pessoa.

Além do mais, qualquer tipo de seguro envolve um compartilhamento de riscos individuais. Isso implica que as seguradoras paguem mais a alguns e menos para outros. Mas ninguém sabe com antecedência, e com convicção, quem serão os "ganhadores" e quem serão os "perdedores". "Ganhadores" e "perdedores" são distribuídos aleatoriamente, e a resultante redistribuição de renda não é nada metódica. Se "ganhadores" e "perdedores" pudessem ser determinados sistematicamente, os "perdedores" não iriam querer compartilhar seus riscos com os "ganhadores", mas sim com outros "perdedores", porque isso faria diminuir seus custos de seguridade. Por exemplo, eu não iria querer compartilhar meu risco de sofrer acidentes pessoais com os riscos incorridos por jogadores profissionais de futebol; eu iria querer compartilhar meus riscos exclusivamente com os riscos de pessoas em circunstâncias similares às minhas, a custos mais baixos.

Devido às restrições legais impostas às seguradores de saúde, que não têm o direito de recusar certos serviços - excluir algum risco individual por este não ser segurável -, o atual sistema de saúde está apenas parcialmente preocupado em assegurar. A indústria dos seguros não pode discriminar livremente entre diferentes riscos incorridos por diferentes grupos.

Como resultado, as seguradoras de saúde têm que cobrir uma multidão de riscos não seguráveis em conjunto com riscos genuinamente seguráveis. Elas não podem discriminar os vários grupos de pessoas que apresentam riscos de seguridade significativamente diferentes. Assim, a indústria dos seguros acaba gerenciando um sistema de redistribuição de renda - beneficiando agentes irresponsáveis e grupos de alto risco às custas de indivíduos responsáveis e de grupos de baixo risco. Como esperado, os preços desta indústria estão altos e em constante crescimento.

Desregulamentar esta indústria significa devolver a ela a irrestrita liberdade de contrato: permitir que uma seguradora de saúde seja livre para oferecer qualquer tipo de contrato, para incluir ou excluir qualquer tipo de risco, e para discriminar quaisquer tipos de grupos ou de indivíduos. Riscos não seguráveis perderiam cobertura, a variedade de políticas de seguridade para as coberturas remanescentes aumentaria, e os diferencias de preços refletiriam os riscos reais de cada seguridade. No geral, os preços iriam cair drasticamente. E a reforma restauraria a responsabilidade individual na questão da saúde.

4. Eliminar todos os subsídios para os doentes ou adoentados. Os subsídios sempre criam mais daquilo que está sendo subsidiado. Subsídios para os doentes e enfermos alimenta a doença e a enfermidade, e promovem o descuido, a indigência e a dependência. Se estes subsídios forem eliminados, seriam fortalecidas a intenção de se levar uma vida saudável e de se trabalhar para o sustento próprio. De início, isso significa abolir o Medicare[1] e o Medicaid[2].

Apenas essas quatro medidas, conquanto drásticas, irão restaurar um completo livre mercado no fornecimento de serviços médicos. Enquanto estas medidas não forem adotadas, a indústria continuará tendo sérios problemas - assim como nós, seus consumidores.

-----------------

Hans-Hermann Hoppe é professor de economia na Universidade de Nevada, Las Vegas. Ele é o autor do livro The Economics and Ethics of Private Property.

[1] Programa de responsabilidade da Previdência Social americana que reembolsa hospitais e médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade. [N. do T.]

[2] Programa americano, financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas. [N. do T.]



Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=105


Deixa eu pensar- a oferta de Faculdades de Direito melhorou a Justição no País?

Não!

Médico incopmpetente tem aos montes, virão inclusive de CUBA , mas não irão ao Interior

Vou provar com um tópico sobre micobacteriose!
(HNT) ויאמר אלי אחד מן־הזקנים אל־תבכה הנה נצח האריה אשר הוא משבט Rev 5:5
http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?t=13986
http://rv.cnt.br/viewtopic.php?t=14653

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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Apáte »

Na verdade, A OAB deu um jeito de tornar o processo ainda mais burocrático do que quando havia menos faculdades de direito. Ela chega a definir preços mínimos que os advogados devem cobrar.

Portanto, a analogia não procede.
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Huxley
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Huxley »

Ainda sobre a liberdade de gerir recursos...Milton Friedman em "Capitalismo e Liberdade" (Editora Abril Cultural, p.37) diz:

“A liberdade é um objetivo válido somente para indivíduos responsáveis. Não acreditamos em liberdade para criança e insanos. O paternalismo é inevitável para aqueles que definimos como irresponsáveis. (...) Acreditamos, em geral, que os pais estão categorizados para proteger seus filhos e para tratar que se desenvolvam como indivíduos responsáveis, para os quais a liberdade é adequada. Mas não acreditamos para os pais fazerem o que quiserem com outras pessoas. As crianças são indivíduos responsáveis em potencial, e quem acredita em liberdade acredita em proteger seus direitos últimos.”


Resumindo o que se pode deduzir dessa frase de Friedman. Boa parte do destino de um indivíduo depende do que lhe é fornecido em matéria de educação, saúde e nutrição durante esse período da vida, período em que ele é JURIDICAMENTE INCAPAZ e não tem como tomar decisões responsáveis. Claro que os pais podem ter alguma culpa sobre o mau estado dos seus filhos durante esse período, mas a CULPA DOS PAIS NÃO SE TRANSMITE AOS FILHOS POR HERANÇA! Se um adulto não quiser se vacinar porque é masoquista, isso é problema dele. Agora, se ele não quer tratar de modo algum da saúde de seu filho, isso é um problema do ESTADO. Este deve dar todos os incentivos possíveis para que a irresponsabilidade do pai irresponsável não ocorra! É na proposta do imposto de renda negativo onde vemos que Friedman (e também Hayek) acha que, dentro do contexto que expus neste tópico (privação de oportunidades substantivas), é possível compatibilizar liberdade de gerir recursos e o problema da saúde dos menores.
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Apáte »

Diz o branco que há um texto onde Rothbard defende o direito dos pais deixarem os filhos morrerem de fome.
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Eu nao li esse texto do Rothbard, mas uma coisa que precisa ser esclarecida e que boa parte do preconceito contra ideias anti-Estado parte exatamente do principio de que pelo simples fato de nao existir um Estado proibindo coisas elas passam a ser automaticamente "autorizadas" e "morais".

O Estado e apenas um mecanismo de controle social atraves do monopolio da coercao e compulsao violenta. Isso nao quer dizer que sejam inviaveis outras formas de organizacao social baseadas puramente em contratos voluntarios, onde mecanismos similares de controle social vigorariam, sem a necessidade do direito monopolistico de iniciar forca da parte de um Estado.

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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por Apáte »

Está, branco, está. Ninguém é permanentemente louco.
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Essas teorias radicais de direito natural parecem abstratas e arbitrarias demais. Eu fico imaginando quem definiria e como seriam definidas as acoes "positivas" e "negativas" contra a propriedade alheia, num ambiente sem Estado.

Na verdade, parece mais uma cilada criada pelo condicionamento ideologico que visa suportar, a qualquer custo, a aberracao, conceitual e factual, que e o aborto. Rothbard e um sujeito extremamente inteligente (e importante saber julgar um pensador pelo conjunto de suas ideias, e nao apenas por pontos problematicos), e percebe as verdadeiras implicacoes morais do aborto e tenta conciliar isso com o seu conceito de sociedade livre baseada em direito natural, mas falha miseravelmente.

Uma forma mais consistente e realista, na minha opiniao, de abordar esse problema, e pensar na vigilancia moral que as outras pessoas realizariam numa sociedade verdadeiramente de livre contrato. Nessa visao de sociedade, voce estaria livre para discriminar quem voce quisesse, evitando negocios com pessoas em quem voce nao confia ou que voce despreza, assim como empresas e pessoas que negociam com essas pessoas desqualificadas.

Assim, se coisas abjetas no nivel moral ocorressem, como aborto ou pedofilia, negligencia ou maus tratos a criancas por parte de pais, uma "ficha" moral desses individuos poderia ser divulgada (por empresas nas quais as pessoas confiassem) sempre que fossem descobertos tais atos. As pessoas que se considerassem moralmente ofendidas por esses atos (a vasta maioria das pessoas de bem) tratariam esses individuos como parias incontrataveis, ou os aceitariam apenas apos cumprirem algum tipo de rehabilitacao, sendo entao julgados aptos novamente por outras empresas nas quais as pessoas confiariam.

E verdade que esse sistema nao e perfeito nem evitaria que tais casos ocorressem eventualmente, tampouco o e a ilegalidade estrita estabelecida por um Estado soberano mediante coercao e monopolio da violencia. A unica diferenca e que ele nao e arbitrario, mas simplesmente deriva dos juizos morais dos individuos livres.

Dessa forma, a verdadeira conduta moral seria o estado para o qual convergiria a acao dos individuos livres. Acho que nao existe uma forma mais adequada de pensar na moral do que na capacidade inata das pessoas de optarem pelo Bem, quando livres de coercao. Se nao fosse assim, ou seja, se individuos livres, orientados por suas proprias razoes, fossem neutros, inconstantes ou malignos nas suas opcoes morais, teriamos que nenhuma teoria verdadeira da moral poderia ser estabelecida sem contradizer a propria natureza humana. As leis que buscassem a "jurisprudencia verdadeira" seriam emanacoes misticas de pensadores que se considerariam superiores na escala moral ao vil homem comum, que quando livre se ve conduzido por baixos valores.

Creio que o aborto e um mal pois agride a nocao moral mais basica de responsabilidade individual, caracterizando um ato de profunda covardia. Creio que pessoas livres chegariam a mesma conclusao, e repudiariam, numa sociedade livre, qualquer um que praticasse ou defendesse tamanha abominacao. E creio tambem que esse sistema de repressao consciente e individual seria muito mais efetivo no combate a essa brutalidade do que as tentativas coercitivas da parte de um Estado de estabelecer a jurisprudencia baseada na verdadeira moral, na opiniao de seus gestores.

Crer nisso e crer numa realidade moral intrinseca ao ser humano, que prescinde qualquer tipo de estabelecimento superior, alcancavel apenas por razoes iluminadas.
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Re: Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Usuário deletado escreveu:O problema está nisso, não há como prever o que aconteceria numa sociedade como a vislumbrada por Rothbard, não dá para saber se as pessoas seriam racionais, se fariam o melhor para a sociedade como um todo.

Há o risco desse cenário ser na verdade uma guerra de todos contra todos, como Hobbes alardeava em seu discurso.



Prever o que se passaria numa sociedade e uma tarefa extremamente dificil, se nao impossivel, pois a sociedade e a reuniao de diversos fenomenos complexos e completamente contingentes.

Uma sociedade nao deve ser previsivel, ela nao e um meio a ser empregado para se atingir um fim, mas a realidade de todos os principios, meios e fins que compoem as acoes de todos os individuos que interagem.

O que Rothbard e outros pensadores propuseram e uma sociedade baseada na propriedade privada e na divisao do trabalho e desprovida de uma autoridade central, auto-declarada detentora do monopolio da violencia. Tentaram antes discutir a viabilidade e plausibilidade de um tal sistema social, para em seguida, em alguns casos, levantar consideracoes eticas.

A ideia basica e que num sistema de livre contrato, a propria organizacao e intensa divisao do trabalho levariam a internalizacao dos custos e beneficios das acoes individuais, tornando interessante do ponto de vista egoista do agente um comportamento "socialmente etico", ou seja, benefico para toda a sociedade. Isso seria uma versao mais avancada da nocao de Mao Invisivel de Adam Smith. Varias propostas interessantes foram levantadas, sobre como as leis e direitos de propriedade, a justica, seguranca, defesa e mesmo moral poderiam emergir espontaneamente de um comportamento de livre mercado. Ideias como empresas de seguro atuando como mediadores entre individuos interessados em firmar contratos, oferecendo garantias e baseando-se na reputacao comercial adiquiridas sao suficientemente fortes para tratar de problemas delicados, como por exemplo poluicao ou combate ao crime.

Essas consideracoes, ainda que em carater especulativo, permitem a abordagem racional do problema da ausencia de Estado num contexto de divisao do trabalho e propriedade privada. Sao deducoes de postulados basicos economicos, tais como o comportamento racional dos agentes.

A racionalidade e uma caracteristica intrinseca do ser humano, nao uma condicao do homem sob o Estado. O primitivo tambem considera custos e beneficios de suas acoes, ele apenas dispoe de menos ferramentas racionais, adquiridas pela experiencia humana civilizatoria.

Nao ha nenhuma razao para crer que uma civilizacao humana capacitada dessas ferramentas racionais necessariamente descambaria para uma guerra de todos contra todos, considerando que travar guerras e bem menos interessante para ambos os lados do que firmar contratos.


Usuário deletado escreveu:O ente estatal é necessário para proteger os indivíduos de outros indivíduos, não vejo com bons olhos uma sociedade na qual a segurança é totalmente privada, acho que isso implicaria numa sociedade na qual apenas os abastados teriam segurança de verdade, enquanto os outros iriam guerrear entre si.



Eu costumava partilhar dessa crenca, mas ela e sobretudo baseada num preconceito.

Antes de fazer afirmativas seguras do tipo "o ente estatal e necessario", precisamos mergulhar numa profunda investigacao sobre aquilo que realmente e o Estado e porque ele surgiu, para entao tentarmos entender qual a sua funcao hoje e em que sentido ela e realmente "necessaria".

Eu nao posso resumir uma investigacao dessa magnitude em miseros paragrafos num forum, ja que me falta ainda conhecimento para tanto e minha capacidade de sintese nao e infinita. Tentarei o melhor que posso, num espaco tao exiguo quanto possivel.

O Estado e uma instituicao social, que pretende deter o monopolio da coercao sobre um determinado grupo de individuos sobre o qual ele governa. Prototipos de Estado prevaleceram sobre a desordem caracteristica das tribos que compunham a humanidade primitiva, simplesmente a partir do momento em que determinados grupos de homens perceberam que organizados poderiam exercer dominacao pela forca sobre os demais, e dessa dominacao extrair vantagens pessoais. Nao surgiram de consideracoes de "seguranca dos mais fracos", mas do impeto dominador dos mais fortes.

Os Estados primitivos eram extremamente violentos, a submissao dos individuos a casta dominante era total. Os diferentes Estados eram completamente hostis entre si, engajando-se em conflitos a cada encontro. As guerras travadas eram guerras totais, e visavam a submissao ou destruicao completa das sociedades inimigas, e nao simplesmente alvos militares.

Mas as relacoes entre seres humanos nao eram simples relacoes de dominacao. Simultaneamente, desenvolvia-se a civilizacao atraves da cooperacao e da divisao do trabalho. As sociedades regidas por Estados menos violentos e invasivos acabavam desenvolvendo, a partir dos interesses individuais, uma producao muito maior de beneficios para todos os membros. Esse processo permitiu que Estados menos violentos prevalecessem sobre Estados mais violentos, pelo simples fato de que seus membros e suditos estavam melhores equipados para as confrontacoes, pois o trabalho era melhor realizado via interesses individuais, cooperacao e confianca mutua, prototipos do capitalismo.

Cartas Magnas, constituicoes, direitos civis, tratados de paz reduzem gradativamente o poder invasivo dos Estados sobre os individuos, e conduzem a nacoes mais prosperas e estaveis. Os proprios Estados perceberam as vantagens de uma divisao do trabalho entre as diferentes nacoes, e as guerras se tornaram menos frequentes e menos sangrentas (mesmo com o avanco substancial da tecnologia de guerra), em decorrencia do reconhecimento das vantagens intrinsecas da cooperacao sobre a dominacao (A guerra total so volta a ser uma realidade no seculo XX, exatamente quando o retrocesso provocado pelas experiencias socialistas na Alemanha e na Russia recria os Estados totalitarios).

A ideologia do Estado minimo, que voce defende, e apenas um estagio atual do avanco da civilizacao (tanto das tecnologias de divisao do trabalho como dos valores culturais e eticos do Homem) sobre esse espectro das eras primitivas. Os Estados, que antes eram concebidos como os grandes realizadores de tudo, hoje sao percebidos pelos espiritos mais evoluidos como meros fornecedores de um ambiente de seguranca e justica dentro do qual o Homem possa atuar sem temer seu semelhante.

Mas o que parece escapar-lhes e que mesmo esse papel nao precisaria ser oferecido por um mecanismo de coercao e compulsao, e que essa e apenas uma condicao derivada da evolucao historica do papel do Estado, onde ha muito ele assumiu ares de promotor dessas condicoes.

O Estado, democratico ou despotico, e gerido por homens como quaisquer outros, sujeitos aos mesmos vicios e erros do homem comum. Se lhes parece razoavel num dado momento garantir determinados direitos, e se eles conseguem efetivar tais garantias, e porque para os demais homens esses direitos sao possiveis e razoaveis.

Sobretudo, nao existe um Estado caridoso, que ofereca garantias universais, que nao sejam do interesse das proprias pessoas em oferecer de um modo geral. Um Estado nao pode impor o nao-racismo a pessoas racistas, por exemplo. Ele pode escrever uma lei anti-racismo, gerando protestos dos racistas, que se forem mais numerosos e poderosos, produzirao uma revolucao que alterara a ordem de poder e o Estado vigente, onde prevelecera o racismo. O fim da escravidao, a seguranca e os direitos individuais, assim como todas as demais "conquistas morais", gravadas em leis, sao avancos da civilizacao, nao do Estado, que apenas se apoderou de transcrever tais transformacoes no curso dos eventos. As pessoas nao precisaram dos anjos estatais para chegar a essas formulacoes, muito pelo contrario ate.

A paz e resultado da civilizacao, o Estado e uma entidade de guerra. Nao quer dizer tambem que metodos revolucionarios de guerra devam ser empregados para por fim a coercao do Estado. Nao. A instituicao do Estado, tal como esta instalada nas sociedades, ocupa um vacuo deixado pelo atraso da civilizacao, vacuo que um processo revolucionario nao seria capaz de preencher. O que se seguiria normalmente seria um Estado de ainda maior violencia decorrente das distorcoes criadas no proprio processo revolucionario.

A civilizacao deve gradualmente ocupar o papel do Estado. A divisao do trabalho, a cooperacao voluntaria mediante contratos e os interesses individuais mostrando sua capacidade de produzir maior disponibilidade e felicidade para todas as pessoas envolvidas do que a coercao e compulsao de um poder centralizado. Essa tem sido a historia do mundo ate hoje, vista de um prisma otimista daqueles que creem na razao, mas realista e que nao ignora que retrocessos e entraves enormes foram criados e continuam sendo pelos que ainda extraem ou querem extrair beneficios das relacoes de dominacao.

Nesse sentido, podemos dizer que o Estado e "necessario" ao ocupar um vacuo civilizatorio, mas isso nao significa que ele seja necessario para a existencia de cooperacao e interacao social, que poderiam e tendem a ser baseadas plenamente em civilizacao.
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E eis que, depois de tanto Hobbes na cultura liberal americana, vemos que um Rousseau enrustido é ESSENCIAL à teoria dos anti-estado.

O mais incrível é que isso é mais do que óbvio, visto que espera-se que haja uma essência puramente boa guiando as ações morais humanas.

E, Vitor, acho que seria muito mais fácil (e algo verdadeiramente válido, na minha opinião), que a sua sociedade "anarco-liberalista" imaginada optasse pelo aborto.

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user f.k.a. Cabeção escreveu:
Eu costumava partilhar dessa crenca, mas ela e sobretudo baseada num preconceito.

Antes de fazer afirmativas seguras do tipo "o ente estatal e necessario", precisamos mergulhar numa profunda investigacao sobre aquilo que realmente e o Estado e porque ele surgiu, para entao tentarmos entender qual a sua funcao hoje e em que sentido ela e realmente "necessaria".

Eu nao posso resumir uma investigacao dessa magnitude em miseros paragrafos num forum, ja que me falta ainda conhecimento para tanto e minha capacidade de sintese nao e infinita. Tentarei o melhor que posso, num espaco tao exiguo quanto possivel.

O Estado e uma instituicao social, que pretende deter o monopolio da coercao sobre um determinado grupo de individuos sobre o qual ele governa. Prototipos de Estado prevaleceram sobre a desordem caracteristica das tribos que compunham a humanidade primitiva, simplesmente a partir do momento em que determinados grupos de homens perceberam que organizados poderiam exercer dominacao pela forca sobre os demais, e dessa dominacao extrair vantagens pessoais. Nao surgiram de consideracoes de "seguranca dos mais fracos", mas do impeto dominador dos mais fortes.

Os Estados primitivos eram extremamente violentos, a submissao dos individuos a casta dominante era total. Os diferentes Estados eram completamente hostis entre si, engajando-se em conflitos a cada encontro. As guerras travadas eram guerras totais, e visavam a submissao ou destruicao completa das sociedades inimigas, e nao simplesmente alvos militares.

Mas as relacoes entre seres humanos nao eram simples relacoes de dominacao. Simultaneamente, desenvolvia-se a civilizacao atraves da cooperacao e da divisao do trabalho. As sociedades regidas por Estados menos violentos e invasivos acabavam desenvolvendo, a partir dos interesses individuais, uma producao muito maior de beneficios para todos os membros. Esse processo permitiu que Estados menos violentos prevalecessem sobre Estados mais violentos, pelo simples fato de que seus membros e suditos estavam melhores equipados para as confrontacoes, pois o trabalho era melhor realizado via interesses individuais, cooperacao e confianca mutua, prototipos do capitalismo.

Cartas Magnas, constituicoes, direitos civis, tratados de paz reduzem gradativamente o poder invasivo dos Estados sobre os individuos, e conduzem a nacoes mais prosperas e estaveis. Os proprios Estados perceberam as vantagens de uma divisao do trabalho entre as diferentes nacoes, e as guerras se tornaram menos frequentes e menos sangrentas (mesmo com o avanco substancial da tecnologia de guerra), em decorrencia do reconhecimento das vantagens intrinsecas da cooperacao sobre a dominacao (A guerra total so volta a ser uma realidade no seculo XX, exatamente quando o retrocesso provocado pelas experiencias socialistas na Alemanha e na Russia recria os Estados totalitarios).

A ideologia do Estado minimo, que voce defende, e apenas um estagio atual do avanco da civilizacao (tanto das tecnologias de divisao do trabalho como dos valores culturais e eticos do Homem) sobre esse espectro das eras primitivas. Os Estados, que antes eram concebidos como os grandes realizadores de tudo, hoje sao percebidos pelos espiritos mais evoluidos como meros fornecedores de um ambiente de seguranca e justica dentro do qual o Homem possa atuar sem temer seu semelhante.

Mas o que parece escapar-lhes e que mesmo esse papel nao precisaria ser oferecido por um mecanismo de coercao e compulsao, e que essa e apenas uma condicao derivada da evolucao historica do papel do Estado, onde ha muito ele assumiu ares de promotor dessas condicoes.

O Estado, democratico ou despotico, e gerido por homens como quaisquer outros, sujeitos aos mesmos vicios e erros do homem comum. Se lhes parece razoavel num dado momento garantir determinados direitos, e se eles conseguem efetivar tais garantias, e porque para os demais homens esses direitos sao possiveis e razoaveis.

Sobretudo, nao existe um Estado caridoso, que ofereca garantias universais, que nao sejam do interesse das proprias pessoas em oferecer de um modo geral. Um Estado nao pode impor o nao-racismo a pessoas racistas, por exemplo. Ele pode escrever uma lei anti-racismo, gerando protestos dos racistas, que se forem mais numerosos e poderosos, produzirao uma revolucao que alterara a ordem de poder e o Estado vigente, onde prevelecera o racismo. O fim da escravidao, a seguranca e os direitos individuais, assim como todas as demais "conquistas morais", gravadas em leis, sao avancos da civilizacao, nao do Estado, que apenas se apoderou de transcrever tais transformacoes no curso dos eventos. As pessoas nao precisaram dos anjos estatais para chegar a essas formulacoes, muito pelo contrario ate.

A paz e resultado da civilizacao, o Estado e uma entidade de guerra. Nao quer dizer tambem que metodos revolucionarios de guerra devam ser empregados para por fim a coercao do Estado. Nao. A instituicao do Estado, tal como esta instalada nas sociedades, ocupa um vacuo deixado pelo atraso da civilizacao, vacuo que um processo revolucionario nao seria capaz de preencher. O que se seguiria normalmente seria um Estado de ainda maior violencia decorrente das distorcoes criadas no proprio processo revolucionario.

A civilizacao deve gradualmente ocupar o papel do Estado. A divisao do trabalho, a cooperacao voluntaria mediante contratos e os interesses individuais mostrando sua capacidade de produzir maior disponibilidade e felicidade para todas as pessoas envolvidas do que a coercao e compulsao de um poder centralizado. Essa tem sido a historia do mundo ate hoje, vista de um prisma otimista daqueles que creem na razao, mas realista e que nao ignora que retrocessos e entraves enormes foram criados e continuam sendo pelos que ainda extraem ou querem extrair beneficios das relacoes de dominacao.

Nesse sentido, podemos dizer que o Estado e "necessario" ao ocupar um vacuo civilizatorio, mas isso nao significa que ele seja necessario para a existencia de cooperacao e interacao social, que poderiam e tendem a ser baseadas plenamente em civilizacao.


Isso é de um reducionismo histórico e de uma voracidade teleológica monstruosa.

Para quem tanto critica, você soube adaptar muito bem o estruturalismo (não o marxista, obviamente) aos seus interesses ideológicos.

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Samael escreveu:E eis que, depois de tanto Hobbes na cultura liberal americana, vemos que um Rousseau enrustido é ESSENCIAL à teoria dos anti-estado.


Na verdade nao. A ideia de Rousseau do bom selvagem e a de que a sociedade destruiria o carater inerentemente bom do homem.

O que eu disse e exatamente o contrario. Na condicao de selvagem, o homem se ve destituido das ferramentas racionais que permitem a compreensao de um comportamento moral, que sao adquiridas com o processo civilizatorio, fazendo retrair a brutalidade e prevalecer a razao. E isso que eu quis dizer com o Estado ocupando o vacuo deixado pela ausencia de civilizacao.

Com o aprimoramento racional e moral do homem que tanto estimula quanto e estimulado pela divisao cada vez mais intensa do trabalho num ambiente de livre mercado, a percepcao de que os maiores beneficios extraidos de contratos podem substituir aquilo que antes parecia passivel de ser conseguido apenas atraves da dominacao e da forca. A "necessidade" de vigilancia e punicao reduz bastante, a confianca entre as pessoas aumenta substancialmente. E a harmonia de mercado.

A hegemonia da razao sobre a violencia tem marcado o avanco, nem sempre continuo, da civilizacao, sobretudo no Ocidente. Esse avanco foi interrompido e retrocessos se produziram nas revoltas contra a razao estimuladas por ideologias socialistas. Somente atraves da incriminacao do individuo essas ideias permitiram o avanco do Estado sobre a civilizacao, como ocorreu na Alemanha, culminando na negacao absoluta da razao, o Nazismo. Fenomenos muito similares, em diferentes intensidades, se passaram em todo Ocidente, inclusive nas democracias, e boa parte do seculo vinte foi perdida nos delirios estatistas oriundos das ideologias marxistas, fascistas, sindical-corporativas, fabianas, relativistas, descontrucionistas etc. Todas elas comungavam a aspiracao de substituir a razao individual por uma especie de "razao coletiva", e pregavam em algum nivel a falha da logica individual-burguesa que estabelecia o funcionamento e harmonia dos mercados.

Muitos pensadores imponentes, como Ludwig von Mises, encararam esses retrocessos para o Irracional como um motivo para pessimismo. Viveram em epocas conturbadas, onde as pessoas estariam confusas pelas ideologias, e mesmo hoje enfrentamos rescaldos do culto fervoroso ao irracionilismo que imperou naqueles tempos socialistas. Mas penso que ha boas razoes para manter a fe no individuo. Este tem sempre desenvolvido formas racionais de lidar com os problemas, aprimorando-se intelectual e moralmente. Abolimos inumeros males, decorrentes tanto da escassez de recursos quanto de aberracoes irracionais no trato com outros seres humanos. Existe muito a se fazer feito ainda, mas a razao prevalecera.


Samael escreveu:O mais incrível é que isso é mais do que óbvio, visto que espera-se que haja uma essência puramente boa guiando as ações morais humanas.



Sim. Se o Bem nao estiver ao alcance da razao do Homem, se o individuo nao tiver uma motivacao original para descobri-lo, reconhece-lo e pratica-lo, qualquer tentativa de defini-lo ou estabelece-lo sera arbitraria. E o que pregam os relativistas.

Samael escreveu:E, Vitor, acho que seria muito mais fácil (e algo verdadeiramente válido, na minha opinião), que a sua sociedade "anarco-liberalista" imaginada optasse pelo aborto.



Nao existe sustentacao racional para a tese abortista. Todo argumento levantado por abortistas e uma forma desesperada de disfarcar uma apologia a covardia moral.

O aborto transtorna o espirito mesmo de quem deseja pratica-lo. Mulheres confusas, atormentadas por perspectivas desagradaveis e induzidas pela falta de escrupulos de seus companheiros, de sua familia ou do seu proprio nicho societario, conduzem-se a tal ato por cederem covardemente a tais pressoes. Mas somente pessoas completamente vazias de sentimentos morais poderiam passar por tal experiencia abominavel sem nenhuma repulsa sentir. A mulher que aborta e a primeira a se odiar por isso, pois o aborto e odiavel.

Mesmo abortistas percebem que defendem algo abominavel, mas tentam contemporizar a abominacao reduzindo-a a uma materia de "escolha individual". Mas, nesse caso, toda acao, independente do seu conteudo moral, e uma questao de escolha. Matar e nao matar e uma questao de escolha, seja o alvo um feto ou um adulto. Sao as escolhas exatamente que permitem julgamentos morais.

Tentativas de definir categorias humanas completamente arbitrarias podem ate satisfazer momentaneamente intelectos obtusos e covardes, desesperados em busca de uma paz espiritual que jamais conseguirao sem a rejeicao completa desse mal. Mas isso apenas torna o ato mais abjeto e injustificavel, tal qual racistas que separam categorias humanas em racas superiores e inferiores, a fim de justificar sua violencia dominante sobre os demais.

O homem livre, guiado pela razao, nao teria motivos para defender ou tolerar essa fuga inconsequente das responsabilidades individuais. Praticar ou defender o aborto numa sociedade de homens livres seria atestar a deficiencia do proprio carater e a incapacidade de participar de contratos com as pessoas de Bem. A sociedade livre nunca apreciaria o abortismo, dado o fato deste ser uma das mais evidentes manifestacoes de irracionalidade e ignorancia fanaticas das quais o ser humano e, infelizmente, capaz.
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user f.k.a. Cabeção escreveu:Na verdade nao. A ideia de Rousseau do bom selvagem e a de que a sociedade destruiria o carater inerentemente bom do homem.

O que eu disse e exatamente o contrario. Na condicao de selvagem, o homem se ve destituido das ferramentas racionais que permitem a compreensao de um comportamento moral, que sao adquiridas com o processo civilizatorio, fazendo retrair a brutalidade e prevalecer a razao. E isso que eu quis dizer com o Estado ocupando o vacuo deixado pela ausencia de civilizacao.

Com o aprimoramento racional e moral do homem que tanto estimula quanto e estimulado pela divisao cada vez mais intensa do trabalho num ambiente de livre mercado, a percepcao de que os maiores beneficios extraidos de contratos podem substituir aquilo que antes parecia passivel de ser conseguido apenas atraves da dominacao e da forca. A "necessidade" de vigilancia e punicao reduz bastante, a confianca entre as pessoas aumenta substancialmente. E a harmonia de mercado.


Num ideal utópico e simplista que em nada parece se dissociar dos ideais comunistas, senão a maneira de alcançá-lo, sim.

user f.k.a. Cabeção escreveu:A hegemonia da razao sobre a violencia tem marcado o avanco, nem sempre continuo, da civilizacao, sobretudo no Ocidente. Esse avanco foi interrompido e retrocessos se produziram nas revoltas contra a razao estimuladas por ideologias socialistas. Somente atraves da incriminacao do individuo essas ideias permitiram o avanco do Estado sobre a civilizacao, como ocorreu na Alemanha, culminando na negacao absoluta da razao, o Nazismo. Fenomenos muito similares, em diferentes intensidades, se passaram em todo Ocidente, inclusive nas democracias, e boa parte do seculo vinte foi perdida nos delirios estatistas oriundos das ideologias marxistas, fascistas, sindical-corporativas, fabianas, relativistas, descontrucionistas etc. Todas elas comungavam a aspiracao de substituir a razao individual por uma especie de "razao coletiva", e pregavam em algum nivel a falha da logica individual-burguesa que estabelecia o funcionamento e harmonia dos mercados.


Essa é uma falsa dicotomia maniqueísta e reducionista. O nazismo pode ser tido como um movimento que negue a razão (ainda que, na prática, isso não seja uma regra), mas apenas devido às suas raízes puramente românticas. Todos os outros fenômenos citados são apenas frutos, fracassados ou não, da conjuntura histórica na qual as ideologias racionalistas se inseriram. O socialismo não se dissocia historicamente do anarquismo e do liberalismo, muito pelo contrário: boa parte dos liberais modernos eram socialistas ou, no mínimo, mantinham estreita relação de amizade com socialistas. Todos são fenômenos que vêm na esteira do século das luzes e todos possuem um fator "racionalizante" comum.

O que você está fazendo é uma teleologia hegeliana fajuta tentando legitimar a sua visão de mundo.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Muitos pensadores imponentes, como Ludwig von Mises, encararam esses retrocessos para o Irracional como um motivo para pessimismo. Viveram em epocas conturbadas, onde as pessoas estariam confusas pelas ideologias, e mesmo hoje enfrentamos rescaldos do culto fervoroso ao irracionilismo que imperou naqueles tempos socialistas. Mas penso que ha boas razoes para manter a fe no individuo. Este tem sempre desenvolvido formas racionais de lidar com os problemas, aprimorando-se intelectual e moralmente. Abolimos inumeros males, decorrentes tanto da escassez de recursos quanto de aberracoes irracionais no trato com outros seres humanos. Existe muito a se fazer feito ainda, mas a razao prevalecera.


As análises historicistas de Mises são completamente rasas e dispensáveis. Além do que, uma gama imensa de socialistas eram ultra-individualistas, como é o caso de Herzen ou Turguenev, por exemplo.

Aliás, a sua análise histórica é teleológica e extremamente hegeliana.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Nao existe sustentacao racional para a tese abortista. Todo argumento levantado por abortistas e uma forma desesperada de disfarcar uma apologia a covardia moral.


Panfletário.

user f.k.a. Cabeção escreveu:O aborto transtorna o espirito mesmo de quem deseja pratica-lo. Mulheres confusas, atormentadas por perspectivas desagradaveis e induzidas pela falta de escrupulos de seus companheiros, de sua familia ou do seu proprio nicho societario, conduzem-se a tal ato por cederem covardemente a tais pressoes. Mas somente pessoas completamente vazias de sentimentos morais poderiam passar por tal experiencia abominavel sem nenhuma repulsa sentir. A mulher que aborta e a primeira a se odiar por isso, pois o aborto e odiavel.


Generalizante.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Mesmo abortistas percebem que defendem algo abominavel, mas tentam contemporizar a abominacao reduzindo-a a uma materia de "escolha individual". Mas, nesse caso, toda acao, independente do seu conteudo moral, e uma questao de escolha. Matar e nao matar e uma questao de escolha, seja o alvo um feto ou um adulto. Sao as escolhas exatamente que permitem julgamentos morais.


Panfletário E generalizante.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Tentativas de definir categorias humanas completamente arbitrarias podem ate satisfazer momentaneamente intelectos obtusos e covardes, desesperados em busca de uma paz espiritual que jamais conseguirao sem a rejeicao completa desse mal. Mas isso apenas torna o ato mais abjeto e injustificavel, tal qual racistas que separam categorias humanas em racas superiores e inferiores, a fim de justificar sua violencia dominante sobre os demais.


Lei de Godwin. Perfeito.

user f.k.a. Cabeção escreveu:O homem livre, guiado pela razao, nao teria motivos para defender ou tolerar essa fuga inconsequente das responsabilidades individuais. Praticar ou defender o aborto numa sociedade de homens livres seria atestar a deficiencia do proprio carater e a incapacidade de participar de contratos com as pessoas de Bem. A sociedade livre nunca apreciaria o abortismo, dado o fato deste ser uma das mais evidentes manifestacoes de irracionalidade e ignorancia fanaticas das quais o ser humano e, infelizmente, capaz.


Você é um extremista radical e puramente retórico. Não deu a ninguém aqui argumentos realmente relevantes para que se considere seres unicelulares como seres humanos. Apenas criou uma categoria de humanidade na qual você, ideologicamente, recortou o processo onde bem entendeu e disse que isso é humano e que quem não concorda com a sua arbitrariedade é "mal, covarde, abjeto" e outras valorações que não acrescentam nada ao debate.

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Samael escreveu:Num ideal utópico e simplista que em nada parece se dissociar dos ideais comunistas, senão a maneira de alcançá-lo, sim.



Uma sociedade sem Estado, baseada em contratos, nao necessariamente precisa ser um ideal utopico.

Nenhuma caracteristica adicional ao ser humano esta sendo suposta, alem da sua racionalidade, ou seja, sua capacidade de refletir custos e beneficios, a longo e curto prazo de suas acoes, e fazer avaliacoes esteticas e morais dentro das quais ele valoraria o que seriam "custos" e "beneficios", dentro de uma realidade onde recursos a serem empregados sao escassos, enquanto os fins potenciais para eles nao sao. Isso e o pressuposto basico do pensamento economico.

A sociedade sem Estado nao estaria livre de individuos virulentos, nem de ocorrencias imorais: os espectros da fraude, roubo, abusos diversos (depredacao da propriedade alheia, poluicao, assedios, pedofilia, estupro ...), ameacas e intimidacoes, agressoes fisicas e morais, trafico ilegal (de drogas, escravos, mulheres, criancas, orgaos, armas ...), sequestros, acidentes graves ou fatais decorrentes de falha humana, abortos e assassinatos em geral, atentados terroristas e mesmo guerras entre os povos e nacoes ainda nos incomodariam, e considero que nenhuma organizacao social pode julgar-se apta a elimina-los da paisagem sem pretender reformar (e por fim destruir) o Homem.

A sociedade livre apenas oferece outros meios de lidar com eles. Toda pessoa tem o direito natural de reagir e de contratar servicos de defesa contra agressoes, tanto as agressoes desferidas contra ela ou sua propriedade privada como contra seus clientes, funcionarios, socios, amigos, parentes, vizinhos, conhecidos ou nao. As avaliacoes pessoais e julgamentos racionais dos individuos proprietarios decidiriam quanto a presenca desses servicos de seguranca seria necessaria, em cada propriedade, e as avaliacoes pessoais dos habitantes e frequentadores dessas propriedades permitira a eles decidir o quanto querem estar expostos a inseguranca da ausencia de servicos de seguranca e defesa ou as limitacoes de liberdade e custos financeiros decorrentes da manutencao de uma defesa ostensiva. Medidas similares sao validas para a seguranca contra perdas e acidentes, quando nao causados por crimes ou erros de outras pessoas.

Fora essa consideracao primaria, diversas modalidades de seguros, convencoes legais privadas, contratos (reais ou tacitos) de cohabitacao e cooperacao complementariam a seguranca individual, sendo alias mais presentes e considerados do que a propria seguranca e defesa armada, quanto mais a civilizacao inspirar confianca em seus membros. Ninguem precisa, por exemplo, da ameaca de ser preso, para nao exceder-se com seus cartoes de credito. Basta considerar que a inadimplencia contratual traz maleficios suficientes de longo prazo com a mancha decorrente no seu historico com os credores. A seguranca numa sociedade livre se produziria tambem mediante contratos que estabeleceriam restituicoes financeiras de danos, a serem pagas pelo individuo faltoso ou por sua compania de seguros. Assim, pessoas evitariam contratos com individuos que nao possuissem seguros confiaveis e nao tivessem saude financeira para arcar com eventuais reparacoes. As companias de seguros teriam incentivos para certificar-se dos riscos que seus clientes representavam, e poderiam praticar tarifas com base nesses riscos.

Tribunais privados poderiam avaliar a quebra de contrato e decidir o pagamento de restituicoes. Esses tribunais teriam o incentivo para a jurisprudencia, caso contrario as partes envolvidas no contrato (ou pelo menos uma delas) nao estariam interessadas nos servicos legais dessas empresas e procurariam outras.

Instalacoes securizadas privadas substituiriam as prisoes para individuos virulentos que violassem algum termo contratual determinando periodo de reclusao, ou que fossem capturados em propriedades privadas onde estivessem ilegais (a ser considerado pelos tribunais privados e pela "constituicao da propriedade"). Essas instalacoes seriam operadas independentemente, sendo a sua renda derivada dos pagamentos feitos pelas empresas de seguro e de defesa, tanto das vitimas quanto dos criminosos, em termos a serem estabelecidos nos contratos de seguro, assim como do eventual emprego da mao-de-obra, voluntaria e remunerada, dos detentos, em atividades de producao vigiadas e inseridas no seu programa de recuperacao. A reabilitacao do criminoso seria determinada por sua propria compania de seguros, a principal interessada em que ele volte a firmar contratos e restitua sua confiabilidade. Assim, as cadeias privadas teriam incentivos para serem eficientes tanto no confinamento quanto na recuperacao dos internos.

Grandes empresas certificadoras poderiam internalizar os custos das "grandes externalidades", como os diversos tipos de poluicao, e assim mediar contratos entre os individuos e empresas que produzem essas externalidades, seus consumidores e aqueles que sao afetados pelas externalidades. O interesse economico de cada uma das partes nesses certificados conduziria a gestao dessas externalidades a uma jurisprudencia completamente racional (economica), livre das arbitrariedades ideologicas e interesses politicos que regem as legislacoes de restricao de producao e consumo estabelecidas por Estados autoritarios e que nao levam em consideracao os custos e beneficios reais envolvidos, por administrarem o dinheiro dos outros.

O tratamento correto de criancas e mesmo questoes complicadas como o aborto, que apesar de imorais nao oferecem riscos diretos para outros individuos fora do nucleo familiar, poderiam ser reguladas mediante contratos, dentro dos casais (um conjuge certificando-se do outro), e o policiamento moral dos proprios casais seria exercido mediante contratos com o resto da sociedade, atraves de clausulas do contrato de seguranca infantil que eles teriam com sua compania de seguros. Pessoas nao seguradas contra abusos contra seus proprios filhos estariam, aos olhos das demais pessoas, oferecendo riscos morais inaceitaveis.

Invalidos em geral, seja pela idade avancada ou por acidentes ou ma formacoes, assim como orfaos, seriam atendidos pela caridade das pessoas, como o sao hoje. A diferenca e que seria a caridade individual (financiada pelas familias, amigos, conhecidos ou cidadaos e empresas preocupados, sendo a gestao desses servicos passivel de ser realizada por empresas de confianca do publico ou pelos individuos (ambos devidamente segurados)). A principal diferenca e que a gestao da caridade deixaria de ser um servico prestado por burocratas desinteressados, corruptos e investidos de plenos poderes, passando a ser uma responsabilidade moral direta dos individuos, como era de se esperar.

E claro que tudo isso pode e deve ser elaborado mais detalhadamente, a unica coisa que eu faco e esbocar um panorama geral do que poderia ser uma sociedade de contratos, como ela lidaria com os diversos problemas reais da convivencia humana, e para onde pode (e de um modo geral parece, apesar dos retrocessos ocasionais e sistematicos e do ritmo as vezes "lento") convergir a civilizacao, atraves da divisao cada vez mais intensa do trabalho e do aumento da confianca entre os individuos decorrente da melhor racionalizacao possivel dos recursos, assim como de valoracoes morais mais claras. A tal "necessidade natural" de um Estado, que na verdade e a simples ocupacao por essa entidade do vacuo civilizacional gerado pela incapacidade atual de organizacao racional e pela desconfianca mutua entre as pessoas, e cada vez mais reduzida. Aquele que era o absoluto Leviata em tempos ancestrais hoje se apresenta nas sociedades civilizadas e e encarado pelos mais lucidos individuos como um mal a ser minimizado, e, porque nao, eventualmente eliminado da paisagem. Mas ainda ha muito a se desenvolver em termos civilizatorios ate que esse processo de substituicao pelo mais eficiente e logico se complete, pela razao humana, sem utopias nem revolucoes que inspirem reformar o Homem.

Voce pode ate acusar-me de fe incondicional na racionalidade humana e na ordem civilizatoria espontanea que emerge das consideracoes de agentes racionais livres, acusacao que eu confesso, pois sei que em contrapartida a unica coisa que me sobra e depositar essa mesma fe em burocratas ou em divindades, ou simplesmente desconfiar de tudo e de todos.


Samael escreveu:Essa é uma falsa dicotomia maniqueísta e reducionista. O nazismo pode ser tido como um movimento que negue a razão (ainda que, na prática, isso não seja uma regra), mas apenas devido às suas raízes puramente românticas. Todos os outros fenômenos citados são apenas frutos, fracassados ou não, da conjuntura histórica na qual as ideologias racionalistas se inseriram. O socialismo não se dissocia historicamente do anarquismo e do liberalismo, muito pelo contrário: boa parte dos liberais modernos eram socialistas ou, no mínimo, mantinham estreita relação de amizade com socialistas. Todos são fenômenos que vêm na esteira do século das luzes e todos possuem um fator "racionalizante" comum.

O que você está fazendo é uma teleologia hegeliana fajuta tentando legitimar a sua visão de mundo.


As ideologias socializantes precisam incriminar o individuo pois a ideia basica que elas agregam e exatamente a de que os individuos, por serem incapazes de resolver seus proprios problemas e buscarem sua propria felicidade, dependem que um poder superior, exercido por uma casta de iluminados burocratas, tome essas decisoes por eles.

Quanto a descricao historica, eu tenho plena consciencia de que ela e incompleta e sintetica, alias, deixei isso bem claro no comeco meu texto, para que ninguem me atribuisse ambicoes maiores do que as que eu visionava.

Sobre a teleologia hegeliana, perceba-se que nao invoquei forcas historicas irresistiveis, superiores as consideracoes racionais dos individuos, e a crenca de que o acumulo da sabedoria fundamentalmente levara a algo mais logico, eficaz e moralmente correto; ainda que esse processo possa vir a ser interrompido ou parcialmente desfeito por erupcoes irracionais revolucionarias. O misticismo dialetico hegeliano invoca algo superior a razao, o Geist, do qual Hegel era o profeta, para justificar o poder absoluto das disnatias imperiais alemas, e cria uma analise historicista completamente estruturada para esse fim. Fascinante, porem absurdo. Nao poderia ser mais diferente das consideracoes que eu tenho colocado.

Recomendo a leitura de "A sociedade aberta e seus inimigos" e "A Miseria do Historicismo" de Karl R. Popper, para a critica mais poderosa ao historicismo do tipo hegeliano (e as desviacoes marxistas).


Samael escreveu:As análises historicistas de Mises são completamente rasas e dispensáveis.


Mises era completamente avesso ao "historicismo", alias, isso e basico para qualquer um que o tenha lido.

Samael escreveu:Além do que, uma gama imensa de socialistas eram ultra-individualistas, como é o caso de Herzen ou Turguenev, por exemplo.


O que nao elimina o contrasenso, alias, ilustra, haja vista a incapacidade dessas doutrinas de atingir o minimo de consistencia. Mesmo socialistas muito mais interessantes, como Pierre-Joseph Proudhon, nao conseguiram escapar desse fato.

Samael escreveu:Aliás, a sua análise histórica é teleológica e extremamente hegeliana.


Ver acima.

Samael escreveu:Você é um extremista radical e puramente retórico.


Eu tambem te amo.

Samael escreveu:Não deu a ninguém aqui argumentos realmente relevantes para que se considere seres unicelulares como seres humanos.


Talvez porque essa nunca tenha sido a minha tese.

Samael escreveu:Apenas criou uma categoria de humanidade na qual você, ideologicamente, recortou o processo onde bem entendeu e disse que isso é humano e que quem não concorda com a sua arbitrariedade é "mal, covarde, abjeto" e outras valorações que não acrescentam nada ao debate.



Nao. A minha "categoria de humanidade" e definida desde que possamos rastrear atos morais na origem dos processos analisados e considerar as responsabilidades individuais dos seus autores. Faco-o pois esses elementos sao prerrogativos para qualquer discussao sobre Etica, onde arbitrariedades didaticas bio-medicas como o numero de celulas que caracterizaria um "feto" ou "embriao" ou a diferenca entre um "tubo neural" e um "sistema nervoso" sao simplesmente desnecessarias. A ideologia abortista e intelectualmente desonesta (alem de "ma, covarde e abjeta") no que substitui tais futilidades pelas reais consideracoes de foro etico.
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Mensagem por Samael »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Voce pode ate acusar-me de fe incondicional na racionalidade humana e na ordem civilizatoria espontanea que emerge das consideracoes de agentes racionais livres, acusacao que eu confesso, pois sei que em contrapartida a unica coisa que me sobra e depositar essa mesma fe em burocratas ou em divindades, ou simplesmente desconfiar de tudo e de todos.


Não, mais simples. Me assusta o fato de você acreditar que justiça ou estabilidade podem existir a partir das relações de poder interpessoais puras. Isso, pra mim, é ideologia comunista.

user f.k.a. Cabeção escreveu:As ideologias socializantes precisam incriminar o individuo pois a ideia basica que elas agregam e exatamente a de que os individuos, por serem incapazes de resolver seus proprios problemas e buscarem sua propria felicidade, dependem que um poder superior, exercido por uma casta de iluminados burocratas, tome essas decisoes por eles.


Não, essa é a idéia de ALGUNS socialistas.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Sobre a teleologia hegeliana, perceba-se que nao invoquei forcas historicas irresistiveis, superiores as consideracoes racionais dos individuos, e a crenca de que o acumulo da sabedoria fundamentalmente levara a algo mais logico, eficaz e moralmente correto; ainda que esse processo possa vir a ser interrompido ou parcialmente desfeito por erupcoes irracionais revolucionarias. O misticismo dialetico hegeliano invoca algo superior a razao, o Geist, do qual Hegel era o profeta, para justificar o poder absoluto das disnatias imperiais alemas, e cria uma analise historicista completamente estruturada para esse fim. Fascinante, porem absurdo. Nao poderia ser mais diferente das consideracoes que eu tenho colocado.


Estava me referindo essencialmente ao estruturalismo teleológico, onde você cria estruturas arbitrárias e diacrônicas (Estado, civilização) e depois cria um fim determinado (o não-Estado ultra-individualista) e demarca esse momento como "destino final moralmente superior" da humanidade. Define também o Estado como um momento transitório onde o homem deve aprender a ser "civilizado" para alcançar esse Estado.

Esse é o discurso hegeliano-marxista. Hegel vê o Estado como fim último, Marx vê o Estado como ente transitório.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Recomendo a leitura de "A sociedade aberta e seus inimigos" e "A Miseria do Historicismo" de Karl R. Popper, para a critica mais poderosa ao historicismo do tipo hegeliano (e as desviacoes marxistas).


Não gosto muito de Popper, nem politicamente nem a nível de teoria do conhecimento. O segundo é leitura de curso de Historiografia Contemporânea e Teoria da História, inclusive. Eu tive de lidar com ele, tanto em aulas de marxistas quanto em aulas de popperianos.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Mises era completamente avesso ao "historicismo", alias, isso e basico para qualquer um que o tenha lido.


A aversão de Mises é irrelevante. Toda análise histórica é necessariamente historicista.

user f.k.a. Cabeção escreveu:O que nao elimina o contrasenso, alias, ilustra, haja vista a incapacidade dessas doutrinas de atingir o minimo de consistencia. Mesmo socialistas muito mais interessantes, como Pierre-Joseph Proudhon, nao conseguiram escapar desse fato.


Você não pegou o espírito da coisa ainda...

Caso você leia Herzen, você verá uma espécie de Tocqueville melhorado, sacou? A terminologia que separa liberais e socialistas, na modernidade, é INEXISTENTE. Esse dualismo entre as duas vertentes é absolutamente contemporâneo.

Se quiser entender um pouco melhor o que eu quero dizer, leia algum ensaio de Isaiah Berlin sobre a intelectualidade moderna européia.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Eu tambem te amo.


Eu gosto de você também, mas o que eu posso fazer se você dá uns ataques de loucura às vezes?! :emoticon2:

user f.k.a. Cabeção escreveu:Talvez porque essa nunca tenha sido a minha tese.


Esqueci daquele papo de "na dúvida, não faça".

user f.k.a. Cabeção escreveu:Nao. A minha "categoria de humanidade" e definida desde que possamos rastrear atos morais na origem dos processos analisados e considerar as responsabilidades individuais dos seus autores. Faco-o pois esses elementos sao prerrogativos para qualquer discussao sobre Etica, onde arbitrariedades didaticas bio-medicas como o numero de celulas que caracterizaria um "feto" ou "embriao" ou a diferenca entre um "tubo neural" e um "sistema nervoso" sao simplesmente desnecessarias. A ideologia abortista e intelectualmente desonesta (alem de "ma, covarde e abjeta") no que substitui tais futilidades pelas reais consideracoes de foro etico.


Não existe essa dicotomia entre a biologia e a moral. Inclusive, qualquer debate ético passa pela questão da definição de humanidade e pessoalidade conferida pela biologia, ou pela bioética.

As ações originárias de um processo são irrelevantes se o resultado das mesmas é, também, irrelevante. Sendo assim, concentre-se na humanidade do embrião e não na ação dos entes que o originaram.

Trancado