Ressuscitar ao terceiro dia já era moda antes de Cristo

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Fernando Silva
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Ressuscitar ao terceiro dia já era moda antes de Cristo

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 08/07/08

Ressurreição a.C.

Ethan Bronner Do New York Times

Uma placa de pedra de cerca de um metro de altura, com 87 linhas escritas em hebraico, e que, segundo especialistas dataria de algumas décadas antes do nascimento de Jesus está causando polêmica nos círculos de arqueologia bíblica porque mencionaria a chegada de um messias que ressuscitaria três dias depois de morto.

Se tal descrição messiânica estiver mesmo na placa, ela contribuirá de forma significativa para a reavaliação das visões popular e acadêmica de Jesus ao apontar que sua história de morte e ressurreição não seria única, mas sim parte de uma reconhecida tradição judaica da época.

Encontrada perto do Mar Morto, na Jordânia, de acordo com especialistas que a estudaram, a placa é um raro exemplo de pedra com inscrições em tinta desse período — uma espécie de Manuscrito do Mar Morto em pedra.

Está escrita, não entalhada, em duas colunas, similares às colunas da Torá. Mas a pedra está quebrada e parte do texto se apagou, o que dá espaço a interpretações sobre o que estaria realmente escrito.

Pedra estava na Suíça há dez anos

Ainda assim sua autenticidade não foi questionada e, por isso, é significativo seu papel na compreensão das raízes do cristianismo em meio da devastadora crise política enfrentada pelos judeus naquela época.

Daniel Boyarin, professor de cultura do Talmude na Universidade da Califórnia, em Berkeley, afirma que a placa integra o crescente número de evidências que sugerem que Jesus pode ser mais bem compreendido por meio da compreensão da história judaica de sua época.

— Alguns cristãos acharão chocante, um desafio à idéia de que sua teologia é única, enquanto outros acharão conforto na idéia de que (a ressurreição) é uma parte tradicional do judaísmo — afirmou Boyarin.

A placa de pedra foi encontrada há cerca de dez anos e comprada de um vendedor de antigüidades jordaniano por um colecionador que a manteve em sua casa, na Suíça. Mas o interesse pela relíquia só foi despertado no ano passado, quando uma especialista israelense a examinou e publicou um artigo sobre ela.

Agora já há diversos estudos sobre suas inscrições, alguns ainda a serem publicados.

— Eu não tinha idéia do quão importante era até mostrá-la para Ada Yardeni, especialista em escrita hebraica.

Ela ficou impressionada: “Você tem um manuscrito do Mar Morto em pedra” — contou David Jeselsohn, o dono da pedra, ele mesmo um especialista em antigüidades.

Boa parte do texto se refere à visão do Apocalipse transmitida pelo anjo Gabriel no Antigo Testamento.

Yardeni e Binyamin Elitzur, outro especialista em escrita hebraica que também examinou a pedra, escreveram uma detalhada análise sobre a placa e concluíram que o texto datava do fim do primeiro século antes de Cristo. Professor de arqueologia da Universidade de Tel Aviv, Yuval Goren realizou uma análise química da pedra e garantiu que não há razão para duvidar de sua autenticidade.

Israel Knohl, professor de estudos bíblicos da Universidade Hebraica, antigo defensor da tese de que a idéia de um messias era anterior a Jesus, viu nos estudos sobre a pedra os indícios que faltavam para consolidar suas idéias. De acordo com as interpretações de Knohl, a figura messiânica citada na placa seria a de um homem chamado Simon, assassinado pelo exército de Herodes.

Os autores da inscrição na pedra seriam, provavelmente, seguidores de Simon.

Texto altera visões do cristianismo

O sacrifício de Simon é visto como um passo necessário para a salvação, diz o especialista, destacando as linhas 19, 20 e 21 do texto, segundo as quais “em três dias vocês verão que o mal será derrotado pela justiça”. A octogésima linha do texto começa com as palavras “L’shloshet yamin,” que significam “em três dias”. A palavra seguinte está parcialmente ilegível, mas Knohl sustenta que se trata de “hayeh”, o imperativo de viver.

— Tudo isso altera nossas visões básicas do cristianismo — afirma o pesquisador. — A ressurreição depois de três dias se torna uma idéia desenvolvida antes de Jesus, o que vai de encontro a praticamente toda a atual visão acadêmica. O que acontece no Novo Testamento foi adotado por Jesus e seus seguidores baseado numa história anterior de messias

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Suyndara
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Re: Ressuscitar ao terceiro dia já era moda antes de Cristo

Mensagem por Suyndara »

Tá vendo?

Muito tempo antes de Jesuix os judeus já ressuscitavam e passeavam por aí depois de 3 dias na tumba :emoticon12:

O interessante é que a cada nova descoberta arqueológica e histórica o cristianismo perde mais em sua tal "originalidade" :emoticon26:
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Rapidfire
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Re: Ressuscitar ao terceiro dia já era moda antes de Cristo

Mensagem por Rapidfire »

Recentemente assisti um documentário do History Chanel sobre o caso. Com a finalidade de dar materialidade ao relato de Simão por Flavio Josefo, que ironicamente escreve muito mais sobre ele do que sobre Cristo, Israel Knohl vai atrás do palácio romano em que Simão teria liderado uma revolta e iniciado um fogo que destruiu o local. Ele acha uma pedra com sinais de fogo que data justamente da data relatada por Josefo.

Simão teria morrido em Jerusalém em um confronto contra tropas romanas. Knohl formula a tese de que Jesus teria tido contato com a pedra e entendido que o Messias não deveria ser um líder para libertação militar e sim aquele que se sacrificaria pelo povo judeu. Segundo o pesquisado Jesus foi protagonista do episódio da fúria contra os mercadores do templo para chamar a atenção para si e esperava com isso uma morte certa.

Um detalhe interessante é que um médico israelita encontrou um fragmento de um tornozelo de uma vítima da crucificação. O prego era pequeno demais para prender os dois pés de alguém, como é representado em todas as ilustrações da morte de Cristo. Os dois pés eram pregados de forma lateral e de um jeito que evitava o sangramento e intensificava a dor.
Sobre o trecho que supostamente diz "Vive em três dias", um exame de alta resolução realizado pela equipe que trabalhou nos manuscritos do mar morto não foi capaz de revelar a letra perdida. Um desses técnicos fez a seguinte afirmação: "Uma letra pode abalar todo o cristianismo". A frase é claramente um exagero. Raramente se acha um cristão que leu a bíblia integralmente, imagine então achar um que buscou outras fontes para dar materialidade a sua fé. A semelhança de Cristo com outras fontes é evidente. Para isso se criou o conceito de “Revelação Progressiva” ou peraltice do Diabo.
"Filipenses 1:18 - Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisso me regozijo, e me regozijarei ainda."(Paulo de Tarso)

Mesmo se Deus(es) existir(em) os motivos para a crença nele(s) estão errados.

Trancado