Venezuela tenta trocar Colômbia por Brasil

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
Aranha
Mensagens: 6595
Registrado em: 18 Out 2005, 22:11
Gênero: Masculino
Localização: Nova York
Contato:

Venezuela tenta trocar Colômbia por Brasil

Mensagem por Aranha »

Sergio Leo
Valor Econômico
21/7/2008


Como em uma operação de guerra, aviões partindo dos aeroportos de Confins e Viracopos realizaram 120 vôos a locais estratégicos da Venezuela, em novembro do ano passado. Levavam seis mil toneladas de leite em pó, comprados pela PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, para abastecer as companhias estatais de alimentos e reduzir a falta do produto no mercado. A operação foi o exemplo mais espetacular da estratégia anunciada em 2007 ao governo brasileiro por Hugo Chávez e em plena ação neste ano: o aumento das compras, no Brasil, de bens de primeira necessidade. Chávez quer que a Colômbia deixe de ser o principal fornecedor desses bens à Venezuela.

Os brasileiros já descobriram que a voracidade do mercado vizinho chega até a itens insólitos, como goma de mascar, que renderam, em vendas do Brasil à Venezuela, no primeiro semestre, US$ 1,5 milhão - 400% das exportações do produto no mesmo período do ano passado. O governo venezuelano tem, porém, uma relação de importações prioritárias. E deu ao Brasil uma cópia dessa lista.

No primeiro encontro marcado por Lula com Chávez, no fim do ano passado, para reaproximar os dois governos, que andavam se desentendendo, a ministra do Poder Popular para as Indústrias Leves e do Comércio, Maria Cristina Iglesias, disse francamente às autoridades brasileiras que queria substituir a Colômbia pelo Brasil, como principal fornecedor de gêneros de primeira necessidade. Com a notícia, entregou uma listagem de 88 itens demandados pela Venezuela, encabeçados por carne bovina desossada, fresca ou refrigerada e finalizada por papel, em rolos ou folhas.

Dos quase 90 produtos demandados prioritariamente por Chávez, o Brasil aumentou as vendas - em alguns casos partindo de zero - de quase 30, nos seis primeiros meses do ano. Produtores de grãos, certos plásticos e químicos e alguns metais não se mexeram. Mas no setor de alimentos, que mereceu uma estratégia especial da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA), o aumento de vendas foi espetacular.

Também foi notável o crescimento das vendas de produtos nunca antes exportados para lá, como cadernos, que pularam quase 1,5 mil por cento, de US$ 64 mil no primeiro semestre de 2007 para pouco mais de US$ 1 milhão de janeiro a junho deste ano. O Brasil vendeu US$ 614 mil em fraldas, absorventes e tampões higiênicos de janeiro a junho de 2007, e passou, neste ano, a vender US$ 1,5 milhão (quase 140% de aumento).

Venezuelanos compram até goma de mascar

Em pelo menos um caso, o Brasil até foi beneficiado por decisões da Colômbia, onde o governo, preocupado com o apetite do mercado vizinho, chegou a proibir a exportação, à Venezuela, de boi em pé. O Brasil não explorava esse mercado, e já vendeu, em 2008, US$ 3,5 milhões em bovinos reprodutores. Entre os itens desejados pelos venezuelanos estão até dicionários e enciclopédias, que o Brasil não vendeu. Mas aumentou a venda de papel em rolos ou folhas, de US$ 90 mil para US$ 207 mil.

Também ganharam espaço no mercado venezuelano os setores de medicamentos e de higiene e cuidados pessoais. As vendas de "preparações químicas contraceptivas a base de hormônios ou de espermicidas" saíram de US$1,9 milhão no primeiro semestre de 2007 para US$ 8,3 milhões no mesmo período de 2008. Sabonetes líquidos ou em creme tiveram as vendas duplicadas, de quase US$ 430 mil para mais de US$ 850 mil. E o exemplo dos chicletes mostra que mesmo produtos não prioritários pegaram carona no empenho venezuelano de abrir as alfândegas ao Brasil.

Segundo dados da Abia, cujo presidente, Edmundo Klotz, convocou nova reunião, na quinta-feira, com empresários e compradores venezuelanos, as exportações de alimentos industrializados cresceram de US$ 247 milhões para US$ 677 milhões no primeiro semestre, comparadas ao mesmo período de 2007. Pode-se creditar parte do aumento à alta de preços internacionais, mas o volume exportado também cresceu, 70%, para quase 400 mil toneladas.

A estrela nas exportações é o leite em pó, cujas vendas aumentaram, em valor, quase 1.000% e, em volume, 473% no primeiro semestre. Realizada pela Itambé, a operação emergencial de venda de leite por avião, noticiada, na época, por Alda do Amaral Rocha, no Valor, chegou a pagar, em fretes, o equivalente a quase metade do custo do produto. Segundo o gerente de exportação da Itambé, André Massote, as vendas da empresa cresceram 140% no primeiro semestre de 2008, para quase US$ 120 milhões. "Se tivéssemos mais produtos, estaríamos vendendo; a procura é grande", diz ele.

As vendas dos sócios da Abia à Venezuela, no ano passado, foram equivalentes, em valor, às exportações ao Reino Unido, e bem mais diversificadas. A exportação de alimentos industrializados ao vizinho equivale a 10% de todas as vendas à União Européia e a 60% das vendas aos EUA. O Brasil já vendeu à Venezuela, até junho, quase tanto quanto em todo o ano de 2005, e não vendeu mais porque o governo Chávez dificulta a importação de bens de consumo mais sofisticados, como automóveis.

Nem tudo é facilidade, porém, e é de se notar que as vendas à Venezuela se beneficiam do colapso no abastecimento local, provocado pelo confronto entre governo e produtores - e também pelo forte crescimento na economia do país, e a venda de alimentos subsidiados em lojas do governo. Há burocracia, corrupção e dificuldades adicionais com o controle de câmbio. Mas, em março, queixas de empresários brasileiros, principalmente pela demora nas autorizações de importação, foram discutidas em reunião bilateral com setor privado e governos, e atendidas, para espanto dos executivos, na própria reunião.

Chávez planeja criar indústrias locais, e aumentar a produção de alimento no país, mas isso não reduz o interesse dos exportadores brasileiros que descobriram o mercado vizinho. Eles têm a política regional a seu favor; o esforço do governo Lula para manter Chávez como aliado mostrou-se, para esses empresários, um ativo inestimável.


FONTE: ClippingPlanejamento

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

Avatar do usuário
King In Crimson
Mensagens: 3856
Registrado em: 25 Out 2005, 01:23

Re: Venezuela tenta trocar Colômbia por Brasil

Mensagem por King In Crimson »

Enquanto uns choram...

Trancado