Livre Mercado de Órgãos Humanos
Enviado: 22 Jul 2008, 08:13
Livre Mercado de Órgãos Humanos
Rodrigo Constantino
“Quando um economista vê uma diferença persistente entre demanda e oferta – como na demanda e oferta de órgãos para transplantes – ele geralmente conclui que existem obstáculos para o equilíbrio do mercado.” (Gary Becker)
Para tratar do delicado tema sobre um livre mercado para órgãos humanos, devemos deixar qualquer preconceito de lado, partindo de um questionamento sincero sobre suas vantagens e desvantagens, assim como refletindo honestamente sobre todos os argumentos apresentados. Qualquer um que sucumbir de imediato ao imposto pelo “politicamente correto” será vítima de opiniões sem embasamento, concluindo coisas muitas vezes absurdas e contraditórias, além de ineficientes. A busca sincera de verdades exige um compromisso com a razão. Espero apresentar a seguir sólidos argumentos em defesa de um livre mercado para órgãos humanos.
De fato, um notável economista, o prêmio Nobel de Chicago Gary Becker, debruçou-se sobre o tema e apresentou um estudo bastante profundo em defesa do estabelecimento de um livre mercado para órgãos. Neste estudo, ele mostra que incentivos monetários iriam aumentar a oferta de órgãos para transplante suficientemente para eliminar o sofrimento e as mortes de muitos que aguardam desesperados em filas de espera. Doadores vivos representam uma pequena parcela do total, e a principal razão para isso é a falta de doadores, não os riscos da cirurgia. Os principais doadores acabam sendo apenas familiares, já que o pagamento pelas doações é ilegal. A introdução de incentivos monetários iria tornar a oferta de órgãos altamente elástica em respeito aos custos, enquanto atualmente é completamente inelástica. O sistema atual ignora quase todos os potenciais doadores por não permitir o pagamento. A permissão da compra de órgãos iria essencialmente acabar com o mercado negro e os problemas de controle de qualidade. Economicamente falando, não há dúvidas de que um mercado legal acabaria com a ineficiência atual, aumentando muito a quantidade de oferta.
Muitos entendem isso, mas esbarram na questão moral. Entretanto, a justificativa moral é que cada adulto é dono do seu próprio corpo, e possui portanto o total direito de decidir em aspectos sobre ele, contanto que seja impedido de usar força ou fraude sobre os demais. A liberdade individual pressupõe a responsabilidade individual. Liberais entendem que indivíduos adultos são livres até para comer esterco ou cometer suicídio, se este for o seu desejo. Pessoas com viés autoritário gostariam de impor suas crenças morais aos outros via Estado, ou seja, força. Mas enquanto as decisões individuais exercerem impacto direto somente sobre seus autores, ninguém tem o direito de intervir. Podemos até considerar a idéia da venda de um rim repulsiva, mas não temos o direito de vetá-la, usando a força estatal, a quem pensa diferente. Caso contrário, abrimos uma perigosa porta, onde não haverá limites para o que o Estado pode decidir sobre a esfera individual. Tudo que for visto como repulsivo pela maioria, ainda que sejam ações totalmente individuais, será proibido. Se a prostituição é moralmente condenável, o Estado irá vetá-la. Se o paganismo for repulsivo para a maioria, teremos uma nova Inquisição. Se a bebida é moralmente condenável, teremos a Lei Seca. E por aí vai. Ninguém mais será livre em um lugar desses.
Mulheres são pagas atualmente para carregar os ovos de outra e parir seu filho. Por que homens não deveriam poder vender seus órgãos para terceiros e salvar suas vidas? No fundo, quem condena isso condena somente as intenções das pessoas, não seus atos em si. Afinal, o mesmo que aplaude uma doação “altruísta” fica revoltado quando ocorre um pagamento em troca. Não é com a integridade física do doador, nem com a saúde de quem necessita do órgão, que esta pessoa parece estar preocupada, mas sim com o fato de existir um preço o qual permite que a troca voluntária ocorra. Mas será que a existência desse preço, um fato da realidade, é mais imoral do que deixar morrer alguém que não precisaria morrer? Se a troca é voluntária, está beneficiando ambas as partes envolvidas, por definição. Quem precisa do rim, está disposto a pagar um determinado preço por ele. Quem o vende, está aceitando que as vantagens dessa venda superam as desvantagens. Ambos ficam mais felizes que antes, caso contrário não haveria troca. Não existe externalidade negativa nessa transação. Ninguém se prejudica. Por que impedir isso? Que sistema ético é esse que diz que proteger o sentimento de algumas pessoas é mais importante que permitir que um indivíduo salve sua vida comprando um rim de um vendedor voluntário? Se sua vida dependesse de um rim, você não estaria disposto a pagar por ele? E achando alguém disposto a vender, não deveria ter o direito de comprar? Afinal, seria parte do seu direito de viver!
De boas intenções o inferno está cheio. A imposição de que um ato que salvaria uma vida seja apenas fruto do altruísmo acaba condenando milhares a morte. Respeitando-se os motivadores subjetivos de cada indivíduo e permitindo que haja um livre mercado para os órgãos humanos, que são propriedade individual, estaremos não apenas salvando a liberdade de escolha dos indivíduos, como salvando muitas vidas.
Fonte :
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/ ... manos.html
Rodrigo Constantino
“Quando um economista vê uma diferença persistente entre demanda e oferta – como na demanda e oferta de órgãos para transplantes – ele geralmente conclui que existem obstáculos para o equilíbrio do mercado.” (Gary Becker)
Para tratar do delicado tema sobre um livre mercado para órgãos humanos, devemos deixar qualquer preconceito de lado, partindo de um questionamento sincero sobre suas vantagens e desvantagens, assim como refletindo honestamente sobre todos os argumentos apresentados. Qualquer um que sucumbir de imediato ao imposto pelo “politicamente correto” será vítima de opiniões sem embasamento, concluindo coisas muitas vezes absurdas e contraditórias, além de ineficientes. A busca sincera de verdades exige um compromisso com a razão. Espero apresentar a seguir sólidos argumentos em defesa de um livre mercado para órgãos humanos.
De fato, um notável economista, o prêmio Nobel de Chicago Gary Becker, debruçou-se sobre o tema e apresentou um estudo bastante profundo em defesa do estabelecimento de um livre mercado para órgãos. Neste estudo, ele mostra que incentivos monetários iriam aumentar a oferta de órgãos para transplante suficientemente para eliminar o sofrimento e as mortes de muitos que aguardam desesperados em filas de espera. Doadores vivos representam uma pequena parcela do total, e a principal razão para isso é a falta de doadores, não os riscos da cirurgia. Os principais doadores acabam sendo apenas familiares, já que o pagamento pelas doações é ilegal. A introdução de incentivos monetários iria tornar a oferta de órgãos altamente elástica em respeito aos custos, enquanto atualmente é completamente inelástica. O sistema atual ignora quase todos os potenciais doadores por não permitir o pagamento. A permissão da compra de órgãos iria essencialmente acabar com o mercado negro e os problemas de controle de qualidade. Economicamente falando, não há dúvidas de que um mercado legal acabaria com a ineficiência atual, aumentando muito a quantidade de oferta.
Muitos entendem isso, mas esbarram na questão moral. Entretanto, a justificativa moral é que cada adulto é dono do seu próprio corpo, e possui portanto o total direito de decidir em aspectos sobre ele, contanto que seja impedido de usar força ou fraude sobre os demais. A liberdade individual pressupõe a responsabilidade individual. Liberais entendem que indivíduos adultos são livres até para comer esterco ou cometer suicídio, se este for o seu desejo. Pessoas com viés autoritário gostariam de impor suas crenças morais aos outros via Estado, ou seja, força. Mas enquanto as decisões individuais exercerem impacto direto somente sobre seus autores, ninguém tem o direito de intervir. Podemos até considerar a idéia da venda de um rim repulsiva, mas não temos o direito de vetá-la, usando a força estatal, a quem pensa diferente. Caso contrário, abrimos uma perigosa porta, onde não haverá limites para o que o Estado pode decidir sobre a esfera individual. Tudo que for visto como repulsivo pela maioria, ainda que sejam ações totalmente individuais, será proibido. Se a prostituição é moralmente condenável, o Estado irá vetá-la. Se o paganismo for repulsivo para a maioria, teremos uma nova Inquisição. Se a bebida é moralmente condenável, teremos a Lei Seca. E por aí vai. Ninguém mais será livre em um lugar desses.
Mulheres são pagas atualmente para carregar os ovos de outra e parir seu filho. Por que homens não deveriam poder vender seus órgãos para terceiros e salvar suas vidas? No fundo, quem condena isso condena somente as intenções das pessoas, não seus atos em si. Afinal, o mesmo que aplaude uma doação “altruísta” fica revoltado quando ocorre um pagamento em troca. Não é com a integridade física do doador, nem com a saúde de quem necessita do órgão, que esta pessoa parece estar preocupada, mas sim com o fato de existir um preço o qual permite que a troca voluntária ocorra. Mas será que a existência desse preço, um fato da realidade, é mais imoral do que deixar morrer alguém que não precisaria morrer? Se a troca é voluntária, está beneficiando ambas as partes envolvidas, por definição. Quem precisa do rim, está disposto a pagar um determinado preço por ele. Quem o vende, está aceitando que as vantagens dessa venda superam as desvantagens. Ambos ficam mais felizes que antes, caso contrário não haveria troca. Não existe externalidade negativa nessa transação. Ninguém se prejudica. Por que impedir isso? Que sistema ético é esse que diz que proteger o sentimento de algumas pessoas é mais importante que permitir que um indivíduo salve sua vida comprando um rim de um vendedor voluntário? Se sua vida dependesse de um rim, você não estaria disposto a pagar por ele? E achando alguém disposto a vender, não deveria ter o direito de comprar? Afinal, seria parte do seu direito de viver!
De boas intenções o inferno está cheio. A imposição de que um ato que salvaria uma vida seja apenas fruto do altruísmo acaba condenando milhares a morte. Respeitando-se os motivadores subjetivos de cada indivíduo e permitindo que haja um livre mercado para os órgãos humanos, que são propriedade individual, estaremos não apenas salvando a liberdade de escolha dos indivíduos, como salvando muitas vidas.
Fonte :
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/ ... manos.html