salgueiro escreveu:
Acho que vcs não conseguem entender o que é dito. O Botanico já deixou suas opiniões tão clarinhas
Bjs
Pois é, Sal. O calor das emoções tem esse efeito. Mas posso escarecer? Escarecerei.
Desde que Kardec codificou o Espiritismo, três aspectos se encontravam nele: o científico, o filosófico e o religioso.
Bem, os fenômenos SÃO PASSÍVEIS DE ESTUDO CIENTÍFICO. É possível testemunhá-los, registrá-los e adotar os procedimentos propostos pelo método científico. Isso foi feito exaustivamente.
Entretanto, apesar do manual do método científico ser muito bonitinho, absolutamente neutro, etc e tal, OS HOMENS não são neutros. A Ciência usa certas referências para se nortear, pois senão não se faz ciência. Essas referências são as tais Leis Naturais. Até aí tudo bem. O problema é quando o que deveria ser uma referência se torna um dogma. E é isso que o acontece na prática.
Foi por essa razão que, apesar do estenso estudo que foi feito sobre a fenomenologia objetiva, a coisa não pegou.
O Márcio está insistindo que pessoas não devem fazer parte do método científico: só os registros gráficos valem. E eu lhe digo que as pessoas são parte do processo. E para piorar, a CAUSA DOS FENÔMENOS É HUMANA. Por se lançar a desconfiança de que humanos... podem fraudar, podem mentir, podem ter interesses, etc e tal, então a coisa não vale. Foi com base nisso que eu disse que o método científico não seria adequado para estudar os fenômenos. É uma opinião com base numa situação específica. Já disse que precauções contra fraudes foram tomadas, mas sempre se alega que de um jeito ou outro a fraude milagrosamente poderia acontecer; já disse que cientistas tinham exatamente o interesse de PROVAR A FRAUDE, mas acabaram endossando a realidade do evento _ aí vem se dizer que eles eram muito burros, imbecis ou pilantras.
Sendo assim...
O Gilga está todo condoído do Acauan e quer que eu responda ao texto fóssil dele. Bem, eu tinha respondido a tudo, mas por um azar, na hora de postar, deu pau e perdi tudo o que escrevi. Bem, não estou muito a fins de repetir tudo novamente, ainda mais com gente por aqui se queixando que não sou sintético. Então vou só no que interessa:
George Price in his article 'Science and the supernatural', published as leading article in Science (Price, 1955). He started by admitting that the opposition of parapsychology has been practically silenced by an impressive number of careful experiments and intelligent argumentation. However, in view of the fact that the existence of ESP must be considered in conflict with current theories in science, Price was forced to conclude that all significant results in parapsychology which cannot be explained by faulty experimental procedures, statistical errors or unconscious use of sensory cues, had to be due to "deliberate fraud or mildly abnormal mental conditions".
Se entendi direito: "Entretanto em vista do fato de que a existência da ESP necessariamente está em conflito com AS ATUAIS TEORIAS CIENTÍFICAS, Price viu-se obrigado a concluir que TODOS os resultados significativos em parapsicologia que não pudessem ser explicados por falhas metodológicas, erros estatísticos ou uso inconsciente dos sentidos, teriam de ser atribuídos a fraude deliberada ou condições mentais anormais."
Mas o que é que eu tenho dito? Que os céticos entendem que os cientistas que investigaram fenômenos mediúnicos, e endossaram os médiuns e resultados, ou eram burros (cometiam erros estatísticos, falhas metodológicas etc etal) ou canalhas. E não foi exatamente isso que o Price disse acima?
E por que apesar de tantos estudos, feitos por mais de 200 cientistas ao longo de mais de 80 anos, com a maioria dos resultados concordantes e com fraudadores desmascarados, a comunidade científica SE RECUSA A CONSIDERAR A COISA? O Price disse: "necessariamente está em conflito com AS ATUAIS TEORIAS CIENTÍFICAS". Ou seja: estão em contradição com os DOGMAS. E se está em contradição com os dogmas, então está necessariamente errado. Esta é outra regra não escrita do método científico: se o fato estiver em contradição com a teoria, rejeite o fato.
O Acauan está chateado comigo por eu generalizar demais, ou seja, colocar "céticos" no plural, sem descriminar as idéias e opiniões de cada um. Bem, ao que parece _ de novo posso estar errado _ numa coisa estão de acordo: essa estória de fenômenos mediúnico é balela, os que se meteram a estudá-los são trouxas ou canalhas, os espíritas são um bando de mistificadores e por aí vai. Se pisei na bola de novo, generalizei demais outra vez, então vou tentar me policiar quanto a isso e pelo menos tenho em quem jogar a culpa: George Price ('Science and the supernatural', Science 1955).
Como a filosofia da ciência é dinâmica e coisas mudam com o tempo, isso também afetou o estudo do Espiritismo. Tem sido alegado aqui que o estudo científico do Espiritismo era "válido naquele tempo por causa do positivismo". Mas o positivismo dançou e hoje vale o negativismo. Tem um tal de Pompéia aí, que é o grande bambambam do momento e diz que temos que negar e não afirmar (falei besteira?). Assim, portanto, se NÃO SE PODE PROVAR QUE ESPÍRITOS NÃO EXISTEM, então está confirmado que não existem os espíritos... cientificamente falando. É com base nisto que estou dizendo que não brigo mais para afirmar que o Espiritismo seja científico, uma vez que não tenho argumentos para refutar essa posição filosófica.
Eu fico apenas com a questão de não querer substituir os espíritos (quando estes se enquadram em tudo que se esperiaria que eles dissessem) por coisas como ESP, inconsciente quevediano, força PSI, etc, atribuindo-se a elas a onisciência divina associada com velhacaria demoníca.
Bem, quanto ao fracasso do Espiritismo na França, tudo começou com o panaca do gerente de Kardec, Pierre Gaetan Leymarie, que assumiu a direção da Revista Espírita com o falecimento de Kardec. Leymarie, desusadamente liberal, abriu espaço na Revista para tudo quanto era corrente esotérica. Ficou-se discutindo lá o Teosofismo, o Rustenguismo, Budismo e outras correntes filosóficas espiritualistas. E para piorar, caiu no conto do vigário, fazendo publicar fotos fraudulentas de fantasmas, o que lhe rendeu um processo criminal e desprestígio para o Espiritismo. Espírita passou a ser sinônimo de canalha lá na França.
Ainda que figuras de peso, como Leon Denis, Jean Meyer, Gabriel Delanne tentassem salvar a situação, o estrago já estava feito. Depois do falecimento de Geley, o espólio do Instituto de Metapsíquica foi assumido pelo fervoroso católico Robert Amadou. Por essa época já estava em alta a charmosa parapsicologia, que como George Price diz acima, silenciou os opositores com os numerosos experimentos e boa argumentação (é, os números não mentem). Amadou mergulhou de cabeça nela e sumiu com tudo que fosse ligado a Espiritismo. E a Sociedade Espírita Francesa foi pelo mesmo caminho. A parte filosófica e religiosa do Espiritismo foi desaparecendo e a parapsicologia foi tomando o seu lugar. A pá de cal veio com René Dumas, que liquidou com a Revista Espírita e a Sociedade Espírita Francesa, substituindo-as por publicação e sociedade dedicadas... a estudos parapsicológicos. Queria ele que o Espiritismo fosse exclusivamente científico. Gostaria de ver a cara dele quando, entrando numa livraria francesa, visse os livros espíritas em estantes dedicadas a folclore e misticismo.
Já no Brasil, com uma elite intelectual livresca e um povão burro e analfabeto e altamente místico (se minha família está morrendo de fome enquanto eu gasto to o meu salário enchendo a cara no bar, é porque Deus quer...) o lado científico do Espiritismo nunca teve muita chance por aqui. A FEB, formada por ex-católicos carolas, cuidou então de divulgar o misticismo, a tolice rustenguista, e o que seria a filosofia e religião espíritas. Deu certo porque quem está satisfeito com essas duas coisas, não precisa da comprovação científica. E assim temos esses milhões de espíritas por aqui.
Não estou dizendo que acho que esse tenha sido o melhor caminho ou que concorde com essa situação. Apenas verifico um fato. E não é por causa disso que vou dizer que o Espiritismo não é científico. O motivo, eu já disse acima.
É isso.