Cientistas vão estudar experiências de 'sair do corpo'
Enviado: 20 Set 2008, 15:25
"O Globo" 19/09/08
Na fronteira da morte
Estudo analisará atividade cerebral dos que vivem a sensação de 'sair do corpo'
Cientistas resolveram investigar o que acontece no cérebro dos pacientes que relatam a chamada experiência de quase-morte, em que muitos narram a sensação de “sair do corpo”, “de caminhar num túnel de luz” ou de “ver uma luz muito brilhante”. O estudo envolvendo 25 hospitais no Reino Unido e nos Estados Unidos analisará a atividade cerebral de vítimas de ataque cardíaco que apresentam parada cardiorrespiratória e redução das funções cerebrais a níveis críticos, mas que têm o quadro revertido devido à ação das equipes de emergência.
O objetivo é examinar 1,5 mil casos de sobreviventes para verificar se as pessoas que tiveram suspenso o seu batimento cardíaco ou redução de atividade cerebral podem, de fato, ter experiências de se ver fora do próprio corpo, como já foi relatado.
O estudo está previsto para durar três anos e será coordenado pela Universidade de Southampton, no Reino Unido. Algumas pessoas dizem ter visto um túnel ou luz forte nessas ocasiões. Outras, dizem se lembrar de observar a atividade de médicos e enfermeiros, do teto do quarto do hospital. Para testar essa “visão de cima”, os pesquisadores vão instalar prateleiras especiais em áreas de atendimento de emergência de hospitais.
Elas vão conter fotografias, que só poderão ser vistas de cima.
— Se pudermos demonstrar que a consciência se mantém depois que o cérebro “desliga”, isso abre caminho para a possibilidade de que a consciência seja uma entidade separada — disse o coordenador do estudo, Sam Parnia, da Universidade de Southampton, em entrevista a BBC.
Parnia e outros médicos vão analisar a atividade cerebral de mais de mil sobreviventes de ataques cardíacos e verificar se eles podem se lembrar das imagens nas fotos das prateleiras.
— É pouco provável que nós encontremos muitos casos em que isso aconteça, mas temos que manter a mente aberta — contou o médico. — E se ninguém vir as fotos, isso vai demonstrar que essas experiências são ilusões ou representam memórias falsas. Esse é um mistério que agora nós podemos submeter a um estudo científico.
Ciência nunca explorou questão adequadamente
Parnia trabalha como médico em uma unidade de terapia intensiva. Por conta de sua experiência diária, ele observou que a ciência não explorou adequadamente a questão da “quase-morte”.
— Diferente da percepção geral, a morte não é um momento específico — explicou Parnia. — É um processo que começa quando o coração pára de bater, os pulmões param de trabalhar e o funcionamento do cérebro é reduzido, criando essa condição médica chamada de parada cardíaca.
Segundo o coordenador do estudo, durante uma parada cardíaca, todos os três critérios estão presentes. Então se segue um período de tempo, que pode durar de poucos segundos a uma hora ou mais, em que esforços médicos podem conseguir fazer com que o coração volte a bater, revertendo o processo.
— O que as pessoas experimentam durante esse período oferece uma oportunidade única para entender algo que possivelmente todos experimentaremos.