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Morre Machado de Assis

Enviado: 02 Out 2008, 09:51
por O ENCOSTO
Após a existência gloriosa e fecunda para a Patria e para as letras nacionaes, a quem deu o maior brilho e destaque, finou-se na capital da Republica, o insigne mestre Machado de Assis. Rara vez, entre nós, povo iniciante, sem cultura literária e sem as grandes preocupações estheticas, voltado de preferencia, para a absorvente vontade política; rara vez uma existencia tem sido tão glorificada e um nome tem sido mais estremecido e respeitado.

Sem ter a preocupação de crear typos, Machado de Assis, grande e silencioso dos homens e das cousas do seu tempo, nos deixa verdadeiros retratos de vultos, exoticos alguns, petulantes e triviaes outros, com que, a cada passo, se topa nas scenas ordinarias da vida humana. Morre aos 69 annos de idade, e era membro fundador da Academia Brazileira, cujos destinos, desde a sua fundação, dirigia, occupando a cadeira de José de Alencar. Há tres annos, morrera lhe a esposa idolatrada, a sua inesquecivel Carolina, a quem elle dedicou o seguinte soneto, de uma tristeza infinita e desoladora, denunciando o estado de profundo abatimento daquella alma de um justo e de um santo, irremediavelmente ferida, em seus ultimos dias de existencia, no que elle tinha de mais caro e inestimavel.

Foi, talvez, a sua ultima producção poetica, e, poucas vezes, temos lido versos tão tristes e ouvido soluços tão sinceramente doloridos de quem, nos ultimos restos de vida, vê tão fundamente lanceado o coração, separando o de sua meiga e santa companheira para mortos, os deixar e separados.
Citamol-o de cór (abaixo):

Querida, ao pé do leito derradeiro,
Em que descanças dessa longa vida,
Aqui venho, e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquelle afecto verdadeiro,
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existencia appetecida,
E num recanto poz um mundo inteiro.
Trago-te flôres – restos arrancados
Da terra que nos viu passar, unidos,
E ora mortos nos deixa separados-.
Que eu, si tenho, nos olhos mal feridos,
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


Fonte: Há um século no Correio do Povo

Re: Morre Machado de Assis

Enviado: 02 Out 2008, 10:51
por Apo
Que fim levou o outro tópico? Tava tão legal... :emoticon16:

Re: Morre Machado de Assis

Enviado: 02 Out 2008, 15:44
por emmmcri
O ENCOSTO escreveu:Após a existência gloriosa e fecunda para a Patria e para as letras nacionaes, a quem deu o maior brilho e destaque, finou-se na capital da Republica, o insigne mestre Machado de Assis. Rara vez, entre nós, povo iniciante, sem cultura literária e sem as grandes preocupações estheticas, voltado de preferencia, para a absorvente vontade política; rara vez uma existencia tem sido tão glorificada e um nome tem sido mais estremecido e respeitado.

Sem ter a preocupação de crear typos, Machado de Assis, grande e silencioso dos homens e das cousas do seu tempo, nos deixa verdadeiros retratos de vultos, exoticos alguns, petulantes e triviaes outros, com que, a cada passo, se topa nas scenas ordinarias da vida humana. Morre aos 69 annos de idade, e era membro fundador da Academia Brazileira, cujos destinos, desde a sua fundação, dirigia, occupando a cadeira de José de Alencar. Há tres annos, morrera lhe a esposa idolatrada, a sua inesquecivel Carolina, a quem elle dedicou o seguinte soneto, de uma tristeza infinita e desoladora, denunciando o estado de profundo abatimento daquella alma de um justo e de um santo, irremediavelmente ferida, em seus ultimos dias de existencia, no que elle tinha de mais caro e inestimavel.

Foi, talvez, a sua ultima producção poetica, e, poucas vezes, temos lido versos tão tristes e ouvido soluços tão sinceramente doloridos de quem, nos ultimos restos de vida, vê tão fundamente lanceado o coração, separando o de sua meiga e santa companheira para mortos, os deixar e separados.
Citamol-o de cór (abaixo):

Querida, ao pé do leito derradeiro,
Em que descanças dessa longa vida,
Aqui venho, e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquelle afecto verdadeiro,
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existencia appetecida,
E num recanto poz um mundo inteiro.
Trago-te flôres – restos arrancados
Da terra que nos viu passar, unidos,
E ora mortos nos deixa separados-.
Que eu, si tenho, nos olhos mal feridos,
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


Fonte: Há um século no Correio do Povo



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Re: Morre Machado de Assis

Enviado: 02 Out 2008, 16:24
por docdeoz
Machado de Assis, mulato, provavelmente não podia assistir as aulas, assistia aulas de fora da escola, pela janela.

O único gênio literário do Brasil, a meu ver...

Descanse em paz...