Olavo e Doria trocam amabilidades
Enviado: 07 Dez 2008, 02:19
Olavo de Carvalho e Michael Moore
December 1st, 2008 · · 340 Comentários
Pedro Doria
Nos comentários abaixo que ainda questionam a cidadania norte-americana de Barack Obama, o Fernando José cita um texto do filósofo e astrólogo e comentarista político Olavo de Carvalho sem deixar claro que está citando Olavão.
Olavo é sempre divertido. Ele usa a técnica Michael Moore de difamação. Funciona assim: basta começar a fazer elohttps://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewforum.php?f=1s. Por exemplo, na frase:
O site FactCheck pertence à ONG Chicago Annenberg Challenge, que contribuiu para a campanha de Obama e onde ele trabalhou ao lado de William Ayers, coletando dinheiro para organizações esquerdistas.
(Me lembra tanto Michael Moore mostrando as relações da família Bush com o negócio do petróleo, com a família real saudita e, por fim, com os bin-Laden.)
Há algum fato errado na frase? Não. É só que a lógica é primária. Por exemplo, a frase abaixo é igualmente correta:
A Annenberg Challenge de Chicago é coordenada pela Annenberg Foundation que também coordena as Edison Schools, compradas em 2003 pelo fundo de pensão para funcionários do sistema público de educação da Flórida, controlado pelo então governador Jeb Bush.
Também são impecáveis os fatos desta frase:
A Fundação Annenberg financia o programa Philadelphia READS, festejado pela primeira-dama Laura Bush em cerimônia oficial dentro da Casa Branca.
Dependendo de que fatos escolhermos, podemos construir a imagem da Fundação Annenberg, um portento que distribui alguns bilhões de dólares para iniciativas várias que envolvem milhares de pessoas e atende a milhões de outras, da maneira que quisermos.
O site FactCheck.org apareceu ao público pela primeira vez em 2004, quando Dick Cheney, o vice de Bush, o citou em campanha. Os fatos levantados pelo site caracterizavam bem sua conduta como presidente da Halliburton. Halliburton, esta, alvo de constantes ataques da esquerda nos EUA. (Talvez o FactCheck não fosse uma entidade financiadora de terroristas em 2004.)
Sou ateu, mas não sou como Richard Dawkins ou Carl Sagan. Se alguém quer acreditar que a posição da Lua no dia de seu nascimento diz algo a respeito de sua personalidade, não acho que isto queira dizer que o sujeito é algum tipo de irracional delirante. (Talvez apenas um pouco excêntrico.) Olavo de Carvalho é divertido e o fato de ser astrólogo me diz algo a respeito dele. Ele é um homem procurando elos e padrões repetidos não importa onde para definir o comportamento de pessoas e entidades.
Mas, assim como Michael Moore, não pode ser levado a sério como analista político.
Política é uma arte na qual se dá um passo à frente, dois para trás. Políticos, pela sua natureza, fazem acomodações. Cumprimentam-se, sorriem. O inimigo de ontem é o aliado de hoje e o rival mortal de amanhã. Política não se compreende por dogmas, certos absolutos e o mal encarnado do outro lado. Numa democracia, nenhum dogma se sustenta e toda visão de mundo é permitida. Num ambiente assim, pureza ideológica não existe e certezas não têm espaço. Idéias podem ser mudadas.
Olavo de Carvalho tem pureza ideológica no coração. Tem convicções. Ele sabe o que é certo e sabe o que é errado. Se alguém criticou o seu lado, de presto ele fará uma meia dúzia de conexões e – à moda de Michael Moore – apresentará um encadeamento ‘lógico’ que prova que aquele alguém é financiado pelo terrorismo internacional, pelo Foro de São Paulo, pelo perigoso ‘esquerdista’ George Soros ou pelos três ao mesmo tempo.
Com encadeamentos do tipo, é possível ‘provar’ que George W. Bush liderou a conspiração mundial para encher a Arábia Saudita de dinheiro e espalhar mesquitas wahabitas pela Europa, financiando com dinheiro público norte-americano o terror islâmico no Velho Mundo. O encadeamento de relações é possível mas não corresponderá à verdade. Porque, no mundo real, não há uma grande conspiração. O que há são decisões às vezes difíceis, às vezes fáceis, sendo tomadas por inúmeros atores e que trarão alguns resultados previsíveis e outros nem tanto. Diplomatas, presidentes de empresas, políticos, em geral não decidem nada sozinhos mas sofrem pressões de vários lados e buscam caminhos que façam sentido, que acomodem tantas pressões quanto possível. Às vezes, tomam decisões no ímpeto; outras, calculam; noutras ainda, inseguros, optam sem qualquer convicção por um caminho. Pode dar certo, pode não dar. Mas o bom líder, embora transmita segurança, sabe que não há certezas, que algo sempre pode dar errado a partir das decisões que tomou.
É fácil olhar para a história no passado e dizer, por exemplo, – como eu mesmo já disse – que se o Império Britânico tivesse oferecido Meca e Medina para a família hashemita governar, não haveria al-Qaeda. Os hashemitas, moderados, educados em Oxford, continuam lá na Jordânia. E os al-Sauds, em sua Arábia Saudita, espalharam pelo mundo sua vertente radical, praticamente inexistente um século atrás, de Islã. Mas há alguma injustiça com os britânicos aí: eles não tinham como saber. Agiram conforme seus interesses de então: acreditavam que seria mais fácil controlar a família Saud, de nômades iletrados, do que os nobres e orgulhosos Hashemitas, descendentes e governantes de Meca desde os tempos do Profeta. Acreditavam nisso e, por um ângulo, é realmente mais fácil se relacionar com os Sauds do que com os Hashemitas, independentes demais, ainda hoje. Só que houve conseqüências não previstas.
É evidente que é tentador enxergar no mundo uma grande conspiração. Faz você se sentir melhor: você ‘entende’ o jogo. Entende as artimanhas. Sabe que há um grupo milimetricamente articulado, estupendamente organizado, disposto a controlar tudo. Podem ser os comunistas, os judeus, os muçulmanos, as empresas petrolíferas. Daí, sai traçando seus elos e prova com determinação a ‘verdade’. (O mundo é muito mais complicado. Vai e volta. É cheio de talvez quem sabe.)
Os norte-americanos nem são o povo ignorante com sede de petróleo que elegeu Bush, nem o povo esperançoso revoltado com as injustiças que elegeu Obama. São, como qualquer povo, o vizinho da casa ao lado com suas esquisitices, o paranóico do 203, a moça bonitinha que de short curto passeia com o cachorrinho na esquina, aquele sujeito boa praça que é um ótimo papo durante o chope. Às vezes, esse conjunto elege George W. Às vezes, elege Obama. Tem pra Kennedy, tem pra Nixon. No Brasil, tem pra Lula, tem pra FH, tem pra Collor. Em Israel, tem pra Rabin – tem pra Netanyahu. É o mesmo povo tentando entender o mundo à volta naquele momento, com seus medos e otimismos, e tomando uma decisão a partir daí.
Olavão não é o único maniqueísta no mundo e por certo é confortável ter certezas. Dúvida só traz angústia. Aquele com certezas é imbuído de uma missão: deve contar ao mundo, e repetir, e repetir ininterruptamente, a verdade até que todos a vejam. Afinal, o outro lado também têm uma missão – e a massa, ingênua e ignara, não o vê. Traz uma sensação agradável esta de se estar certo. Posicionar-se de um lado mas entender os clamores do outro é que é difícil. É mais fácil ver o adversário como inimigo, como o mal, aquele que está errado por definição. Olavão me lembra meu personagem favorito de Fernando Pessoa: o Esteves sem metafísica. Olavo de Carvalho foi, é e sempre será, fundamentalmente, divertido.
Meu único argumento, no fim, é que seu caminho pode ser mais fácil – mas não tem nada a ver com compreender o mundo. E, com muita justiça, Olavão poderia dizer: quem não compreende é você – sou eu. (Ou então que ajo de má fé, intoxicado pela ideologia do Foro de São Paulo, como agente do islamismo internacional ou financiado por George Soros.)
E quem dirá que ele não está certo? =)
http://pedrodoria.com.br/2008/12/01/ola ... ael-moore/
Retirado do Blog Pedro Doria
December 1st, 2008 · · 340 Comentários
Pedro Doria
Nos comentários abaixo que ainda questionam a cidadania norte-americana de Barack Obama, o Fernando José cita um texto do filósofo e astrólogo e comentarista político Olavo de Carvalho sem deixar claro que está citando Olavão.
Olavo é sempre divertido. Ele usa a técnica Michael Moore de difamação. Funciona assim: basta começar a fazer elohttps://antigo.religiaoeveneno.com.br/viewforum.php?f=1s. Por exemplo, na frase:
O site FactCheck pertence à ONG Chicago Annenberg Challenge, que contribuiu para a campanha de Obama e onde ele trabalhou ao lado de William Ayers, coletando dinheiro para organizações esquerdistas.
(Me lembra tanto Michael Moore mostrando as relações da família Bush com o negócio do petróleo, com a família real saudita e, por fim, com os bin-Laden.)
Há algum fato errado na frase? Não. É só que a lógica é primária. Por exemplo, a frase abaixo é igualmente correta:
A Annenberg Challenge de Chicago é coordenada pela Annenberg Foundation que também coordena as Edison Schools, compradas em 2003 pelo fundo de pensão para funcionários do sistema público de educação da Flórida, controlado pelo então governador Jeb Bush.
Também são impecáveis os fatos desta frase:
A Fundação Annenberg financia o programa Philadelphia READS, festejado pela primeira-dama Laura Bush em cerimônia oficial dentro da Casa Branca.
Dependendo de que fatos escolhermos, podemos construir a imagem da Fundação Annenberg, um portento que distribui alguns bilhões de dólares para iniciativas várias que envolvem milhares de pessoas e atende a milhões de outras, da maneira que quisermos.
O site FactCheck.org apareceu ao público pela primeira vez em 2004, quando Dick Cheney, o vice de Bush, o citou em campanha. Os fatos levantados pelo site caracterizavam bem sua conduta como presidente da Halliburton. Halliburton, esta, alvo de constantes ataques da esquerda nos EUA. (Talvez o FactCheck não fosse uma entidade financiadora de terroristas em 2004.)
Sou ateu, mas não sou como Richard Dawkins ou Carl Sagan. Se alguém quer acreditar que a posição da Lua no dia de seu nascimento diz algo a respeito de sua personalidade, não acho que isto queira dizer que o sujeito é algum tipo de irracional delirante. (Talvez apenas um pouco excêntrico.) Olavo de Carvalho é divertido e o fato de ser astrólogo me diz algo a respeito dele. Ele é um homem procurando elos e padrões repetidos não importa onde para definir o comportamento de pessoas e entidades.
Mas, assim como Michael Moore, não pode ser levado a sério como analista político.
Política é uma arte na qual se dá um passo à frente, dois para trás. Políticos, pela sua natureza, fazem acomodações. Cumprimentam-se, sorriem. O inimigo de ontem é o aliado de hoje e o rival mortal de amanhã. Política não se compreende por dogmas, certos absolutos e o mal encarnado do outro lado. Numa democracia, nenhum dogma se sustenta e toda visão de mundo é permitida. Num ambiente assim, pureza ideológica não existe e certezas não têm espaço. Idéias podem ser mudadas.
Olavo de Carvalho tem pureza ideológica no coração. Tem convicções. Ele sabe o que é certo e sabe o que é errado. Se alguém criticou o seu lado, de presto ele fará uma meia dúzia de conexões e – à moda de Michael Moore – apresentará um encadeamento ‘lógico’ que prova que aquele alguém é financiado pelo terrorismo internacional, pelo Foro de São Paulo, pelo perigoso ‘esquerdista’ George Soros ou pelos três ao mesmo tempo.
Com encadeamentos do tipo, é possível ‘provar’ que George W. Bush liderou a conspiração mundial para encher a Arábia Saudita de dinheiro e espalhar mesquitas wahabitas pela Europa, financiando com dinheiro público norte-americano o terror islâmico no Velho Mundo. O encadeamento de relações é possível mas não corresponderá à verdade. Porque, no mundo real, não há uma grande conspiração. O que há são decisões às vezes difíceis, às vezes fáceis, sendo tomadas por inúmeros atores e que trarão alguns resultados previsíveis e outros nem tanto. Diplomatas, presidentes de empresas, políticos, em geral não decidem nada sozinhos mas sofrem pressões de vários lados e buscam caminhos que façam sentido, que acomodem tantas pressões quanto possível. Às vezes, tomam decisões no ímpeto; outras, calculam; noutras ainda, inseguros, optam sem qualquer convicção por um caminho. Pode dar certo, pode não dar. Mas o bom líder, embora transmita segurança, sabe que não há certezas, que algo sempre pode dar errado a partir das decisões que tomou.
É fácil olhar para a história no passado e dizer, por exemplo, – como eu mesmo já disse – que se o Império Britânico tivesse oferecido Meca e Medina para a família hashemita governar, não haveria al-Qaeda. Os hashemitas, moderados, educados em Oxford, continuam lá na Jordânia. E os al-Sauds, em sua Arábia Saudita, espalharam pelo mundo sua vertente radical, praticamente inexistente um século atrás, de Islã. Mas há alguma injustiça com os britânicos aí: eles não tinham como saber. Agiram conforme seus interesses de então: acreditavam que seria mais fácil controlar a família Saud, de nômades iletrados, do que os nobres e orgulhosos Hashemitas, descendentes e governantes de Meca desde os tempos do Profeta. Acreditavam nisso e, por um ângulo, é realmente mais fácil se relacionar com os Sauds do que com os Hashemitas, independentes demais, ainda hoje. Só que houve conseqüências não previstas.
É evidente que é tentador enxergar no mundo uma grande conspiração. Faz você se sentir melhor: você ‘entende’ o jogo. Entende as artimanhas. Sabe que há um grupo milimetricamente articulado, estupendamente organizado, disposto a controlar tudo. Podem ser os comunistas, os judeus, os muçulmanos, as empresas petrolíferas. Daí, sai traçando seus elos e prova com determinação a ‘verdade’. (O mundo é muito mais complicado. Vai e volta. É cheio de talvez quem sabe.)
Os norte-americanos nem são o povo ignorante com sede de petróleo que elegeu Bush, nem o povo esperançoso revoltado com as injustiças que elegeu Obama. São, como qualquer povo, o vizinho da casa ao lado com suas esquisitices, o paranóico do 203, a moça bonitinha que de short curto passeia com o cachorrinho na esquina, aquele sujeito boa praça que é um ótimo papo durante o chope. Às vezes, esse conjunto elege George W. Às vezes, elege Obama. Tem pra Kennedy, tem pra Nixon. No Brasil, tem pra Lula, tem pra FH, tem pra Collor. Em Israel, tem pra Rabin – tem pra Netanyahu. É o mesmo povo tentando entender o mundo à volta naquele momento, com seus medos e otimismos, e tomando uma decisão a partir daí.
Olavão não é o único maniqueísta no mundo e por certo é confortável ter certezas. Dúvida só traz angústia. Aquele com certezas é imbuído de uma missão: deve contar ao mundo, e repetir, e repetir ininterruptamente, a verdade até que todos a vejam. Afinal, o outro lado também têm uma missão – e a massa, ingênua e ignara, não o vê. Traz uma sensação agradável esta de se estar certo. Posicionar-se de um lado mas entender os clamores do outro é que é difícil. É mais fácil ver o adversário como inimigo, como o mal, aquele que está errado por definição. Olavão me lembra meu personagem favorito de Fernando Pessoa: o Esteves sem metafísica. Olavo de Carvalho foi, é e sempre será, fundamentalmente, divertido.
Meu único argumento, no fim, é que seu caminho pode ser mais fácil – mas não tem nada a ver com compreender o mundo. E, com muita justiça, Olavão poderia dizer: quem não compreende é você – sou eu. (Ou então que ajo de má fé, intoxicado pela ideologia do Foro de São Paulo, como agente do islamismo internacional ou financiado por George Soros.)
E quem dirá que ele não está certo? =)
http://pedrodoria.com.br/2008/12/01/ola ... ael-moore/
Retirado do Blog Pedro Doria