Abertura comercial e financeira indiscriminadas, privatizações aleatórias e sem critério, ideologia do Estado mínimo e abandono das políticas industriais, além de promoverem uma desnacionalização radical do parque produtivo e a disparada das remessas de lucros, deixaram a dinâmica do mercado interno brasileiro dependente das exportações de produtos primários para financiar importações de insumos para a indústria e bens de maior valor agregado para o consumo. Como agravante, a especulação com o preço das commodities (antes de 15 de setembro) e os juros altos para evitar fuga de capitais contribuíram para a sobrevalorização do real, arrasando com as exportações de manufaturados em muitos setores, como o têxtil e calçadista, que são grandes empregadores de mão-de-obra. Diversas empresas estão recorrendo à produção no exterior para driblar as condições adversas do Brasil.
Este é o retrato do país herdado após décadas de neoliberalismo, um modelo que foi ganhando força desde a crise da dívida, nos anos 80, que teve seu maior impulso nos anos FHC e foi aprofundado na gestão de Lula na Presidência da República. A receita, que teve também como temperos as políticas de ajuste fiscal e reformas microeconômicas, não evitou que o país convivesse com sucessivas crises cambiais e com a explosão da dívida interna, que passou a ser o canal da especulação internacional, ao lado da bolsa de valores.
Um triste exemplo de nossa dependência em relação ao exterior é o recente impacto da alta do dólar nos preços dos remédios. O presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Alexandre Geyer, reclama de problemas causados por impostos, controle de preços e pela alta do dólar, já que o setor importa mais de 80% dos insumos. Mas o ministro da Saúde, José Gomes Temporão tem outra versão para o fato.
"No anos 80, o país tinha uma indústria farmoquímica de razoável capacidade. Importávamos cerca de 40% dos insumos. Houve, nos anos 90, uma política deliberada de fragilização da estratégia para uma capacidade produtiva endógena", diz Temporão, lembrando que a Índia, hoje, é o país do mundo que mais produz genéricos e matéria-prima para fármacos, ignorou patentes e obteve grande vantagem com isso: "Enquanto assinamos um Acordo de Patentes de maneira muito precoce, quando não tínhamos capacidade tecnológica, a Índia construiu uma forte base de produção de genéricos através de um processo de cópia e de reengenharia." A Índia, por sinal, vende US$ 20 bilhões por ano em softwares, a partir de políticas públicas ativas, enquanto o Brasil exporta apenas US$ 200 milhões nesse segmento. E a produção aqui está nas mãos das multinacionais. Recentemente, a história da desnacionalização se repetiu no setor de auto-peças, que passou a ser deficitário.
Burrice
"A abertura na década de 90 foi feita de forma burra, sem exigência de contrapartida. Os chineses se abriram, mas com metas de transferência de tecnologia. Montaram, inclusive, um clone para cada empresa que entrava. A empresa estrangeira entrava para ser plataforma de exportação e para dar emprego aos chineses. Para abastecer o mercado interno, era criada imediatamente a empresa clone", comenta o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann.
"Desde a década de 1980, percebe-se que a indústria de transformação brasileira interrompeu a longa trajetória de expansão de sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) e na ocupação total do país", lamenta. Nos últimos 27 anos, segundo Pochmann, a indústria de transformação perdeu 19,5% na sua participação relativa na ocupação total (de 17,4% em 1980 para 14% em 2007). Sua participação no PIB foi reduzida a menos da metade entre 1985 e 2007: de 35,9% para 17,6% do valor adicionado.
O resultado só não foi pior, porque desde a última mudança importante do regime cambial, em 1999, a indústria de transformação recuperou 13% de sua participação relativa no valor agregado nacional. "Mas no ano de 2007, o peso da indústria de transformação no PIB foi 7,9% inferior ao verificado em 1950, embora tenha sido ainda no mesmo ano superior a 13% do verificado em 1998, ano que registrou a pior relação indústria/PIB nos últimos 57 anos, de apenas 15,7% do valor adicionado anual.
Do vinho para a água
Estudo do advogado Fábio Konder Comparato, intitulado A desnacionalização da economia brasileira e suas conseqüências políticas, publicado no portal do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) demonstra que o capital estrangeiro inicia o século XXI controlando, no Brasil, 90% do setor eletro-eletrônico; 89% do setor automotivo; 86% do setor de higiene, limpeza e cosméticos; 77% da tecnologia da computação; 74% das telecomunicações; 74% do farmacêutico; 68% da indústria mecânica; 58% do setor de alimentos; e 54% do setor de plásticos e borracha.
"Em setores onde o capital forâneo não tinha qualquer presença, ou a tinha inexpressiva, a situação se modificou. É o caso da siderurgia e metalurgia, onde, entre 1994 e 1999, o capital estrangeiro elevou sua participação de zero por cento para 34%. Também no comércio varejista a participação estrangeira, em 1994, era de apenas 7,1% e hoje está em mais de 60%. As grandes empresas varejistas que atuavam no Brasil eram brasileiras e hoje já não são", contabiliza Comparato.
No setor elétrico, houve um retorno à situação que prevalecia antes da Revolução de 1930, quando a maioria das energéticas era estrangeira. A Escelsa (ES) virou portuguesa; a Eletrosul (RS) ficou belga; a Cerj (RJ), chilena; a Coelce (CE), espanhola; a Coelba (BA), espanhola; a Celpe (PE), espanhola; a COSERN (RN), espanhola; a Cesp-Bandeirante (SP), portuguesa; a CEE-NNE (Norte e Nordeste do RS), norte-americana; a CEE-CO (Centro-Oeste do RS), norte-americana; a Eletropaulo, norte-americana; a Elektro, norte-americana; e a Cesp-Paranapanema (SP), norte-americana. "E tudo vendido com financiamento do BNDES, via Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)", reclama Comparato em seu estudo, chamando a atenção para a rapidez com que foi desnacionalizado o setor bancário.
"Em 1994, a parcela dos estrangeiros nesse setor girava em torno dos 10%. Hoje essa participação vai além dos 50%. Nos últimos cinco anos, o número de bancos estrangeiros saltou de 2% para 17% do total das agências existentes". Como agravante, o jurista diz que, enquanto em 1994 a especulação com títulos públicos correspondia a 4% das receitas dos bancos, no final de 1998 ela chegava a 43%. O estudo mostra que o avanço do sistema financeiro foi tal que a indústria no Brasil, pela primeira vez desde 1930, no período de 1989 a 1998 (nove anos), perdeu 5,3% de sua importância na formação do PIB brasileiro.
Veias abertas
Apesar da desnacionalização da produção, as exportações das multinacionais instaladas no Brasil não têm compensado o volume crescente de remessas de lucros e dividendos ao exterior. Segundo o Banco Central (BC), ano passado foram remetidos ao exterior a título de rende de investimento direto (lucros e dividendos) US$ 16,706 bilhões de dólares. Em 2008, apenas entre janeiro e agosto - portanto antes do agravamento da crise financeira mundial - US$ 17,434 bilhões já tinham saído do país sob a mesma rubrica.
"Antes de tudo, é interessante observar a disparada das remessas e a queda nas exportações de produtos industrializados, por causa do câmbio sobrevalorizado", observa o economista Rodrigo Ávila, ligado à Rede Jubileu Sul. Em contrapartida, o Brasil exportou US$ 160,6 bilhões em 2007. As grandes empresas, entre as quais estão as multinacionais, têm participação de 21,9% (US$ 35,17 bilhões) do total exportado (em dólares). Entre as grandes, porém, as líderes são a Petrobras, a Vale e a Embraer, todas estatais até bem pouco tempo. Enquanto a Petrobras ano passado exportou US$ 13,6 bilhões, a Vale vendeu US$ 7,9 bilhões ao exterior e os aviões da Embraer renderam US$ 4,7 bilhões em divisas para o Brasil. Juntas elas somam US$ 26,2 bilhões, restando apenas US$ 8,97 em dólares gerados pelas seguintes.
"Ainda assim, as multinacionais além de fazerem grandes remessas de lucros e dividendos, são grandes importadoras também", pondera Ávila. A Bunge Alimentos, multinacional comercializadora de soja, que vendeu US$ 3 bilhões em 2007, é a sétima maior importadora, com US$ 1,2 bilhão. "Depois vem a Volkswagen, que exporta US$ 2,1 bilhões, mas importou US$ 1 bilhão em 2007", resume o economista da Rede Jubileu Sul.
Rogério Lessa
Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações
Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."


Re: Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações
Abertura comercial e financeira indiscriminadas
Por que isso é algo ruim? Não quero ter tolhida minha liberdade de comerciar com pessoas de outros países.
privatizações aleatórias e sem critério, ideologia do Estado mínimo e abandono das políticas industriais
Por que isso é algo ruim? Não é justo que pessoas devam ser obrigadas a pagar por coisas que não querem consumir.
- user f.k.a. Cabeção
- Moderador
- Mensagens: 7977
- Registrado em: 22 Out 2005, 10:07
- Contato:
Re: Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações
Claro, os burocratas tem a capacidade de prever e calcular os mercados futuros e portanto teriam sido muito mais competentes que a iniciativa privada na gestão das políticas industriais do Brasil...
O que é que um demente desses tem na cabeça?
É evidente que os preços do mercado oscilam, e que quando há especialização há também o risco dos produtos especializados que vendemos oscilarem momentaneamente para baixo enquanto aqueles que compramos oscilam para cima. Mas alegar que a saída e conduzir uma política nacionalista auto-suficiente é um completo despautério.
É a mesma coisa que dizer que um engenheiro mecânico deve ser também engenheiro químico porque o mercado de mecânica pode estar mais fraco que o de química e ele precisa se proteger disso. Ninguém é auto-suficiente nas suas necessidades de saúde, segurança e mecânica de automóveis, porque a droga de um país precisa ser auto-suficiente industrialmente, quando poderia ser muito mais rico fazendo as coisas que pode fazer melhor que os outros e comprando aquilo que os outros fazem melhor?
O discurso desses asnos não tem nenhum sentido.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
- Sorrelfa
- Mensagens: 2441
- Registrado em: 27 Mar 2007, 10:21
- Gênero: Masculino
- Localização: Rua Sem entrada e Sem saida, Nº Infinito
- Contato:
Re: Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações
Ispulsen us gringu ki querein roba nossu goldi !!!!
Essis capitalistias safadus ki ficam isploranu o povaum probi du nossu braziu.
morti aos yankees safadus que querem num faze iscravus do neu-liberalismio !!!!!!!
Essis capitalistias safadus ki ficam isploranu o povaum probi du nossu braziu.
morti aos yankees safadus que querem num faze iscravus do neu-liberalismio !!!!!!!
Vendo a justificável insistência de todos, humildemente sou forçado à admitir que sou um cara incrível !
Re: Produção desnacionalizada deixa Brasil refém de exportações

Os mercados oscilam?



"Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico" (Onfray)
"Your God is dead and no one cares" (Sartre)
"Your God is dead and no one cares" (Sartre)