Autoridades defendem proibição de games que geram violência
Enviado: 17 Jan 2009, 21:18
Autoridades defendem proibição de games que geram violência.
Poucos dias depois da doméstica Sirley Dias, de 32 anos, ter sido agredida por jovens de classe média na Barra da Tijuca - ao ter sido confundida com uma prostituta, o que não justifica a selvageria -, crianças de apenas dez anos, também de classe média alta, são consideradas suspeitas de protagonizar um ato de vandalismo. Elas teriam invadido uma residência no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, furtado objetos e "revirado" a casa. Tais atitudes retomaram a discussão sobre a influência de jogos eletrônicos violentos na formação das crianças e adolescentes.
Após o assalto no Recreio, o filho da vítima, um menino de oito anos, comentou com a mãe, a promotora artística P. N., de 33, que a atitude dos menores foi muito semelhante à observada no jogo GTA. No game, personagens percorrem a cidade e ganham pontos ao cometerem delitos como homicídios, roubos a carro e agressão a prostitutas.
A atuação dos jogos eletrônicos no comportamento das crianças e adolescentes é vista de forma relativa pelo promotor de Justiça Romero Lyra.
"Os games, dependendo dos pais, podem, em tese, influenciar na formação das crianças. Mas, acima de qualquer jogo está a participação dos pais na vida da criança, pois quando a família não ocupa seu espaço, alguma outra coisa o ocupa", destaca o representante do Ministério Público.
O promotor, que coordenou a Área de Investigação de Crimes eletrônicos de 1997 a 2005, apesar de não atribuir o comportamento violento de certas crianças exclusivamente aos jogos violentos, acha inaceitável o comportamento de algumas "lan houses" – locais onde as pessoas costumam acessar a Internet.
"Não pode ser tolerado que crianças acessem páginas e jogos inadequados. O poder público tem que fazer o seu papel", defende Lyra.
O titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói, Carlos Henrique Pereira Machado, concorda com Romero Lyra em relação à fiscalização.
"A fiscalização tem que ser feita e alguns jogos, dependendo do que contenham, têm que ser proibidos", prega o delegado. Mas o policial não acredita que o jogo, por si só, leve a criança a praticar algum tipo de crime.
Segundo Machado, no cotidiano da delegacia observa-se a predominância de outros fatores como grandes responsáveis pela entrada de crianças e adolescentes no mundo do crime.
"O tráfico, a pobreza e o desamparo ainda são as principais razões da entrada de crianças na marginalidade", frisa.
Para o diretor dos Direitos da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj), Aramis Lopes, os games podem servir de modelo para crianças, estimulando-as a cometer atos ilícitos, já que nos jogos não há punição. Segundo ele, o jogo pode sugerir uma atitude agressiva, mas este comportamento se deve à fragilidade da criança.
"A violência não emerge do nada, ela é progressiva", explica o especialista.
-Cenas de violência extrema
Os jogos Grand Theft Auto e Counter Strike, mais conhecidos como GTA e CS, respectivamente, são hoje os mais procurados por jovens na Internet. Ambos estimulam a prática de atos ilegais. Lançado em 1997, o game GTA (que em português significa grandes roubos a carro) provocou polêmica em todas as dez edições lançadas e continua gerando muita discussão. Com o enredo baseado na vida de um criminoso numa grande metrópole, o jogo permite ao jogador roubar, se envolver com o crime organizado, vender drogas e até cometer homicídios.
De acordo com os usuários, o aspecto mais interessante é a liberdade dada pelo game. Nessa "liberdade", o personagem pode percorrer toda a cidade e decidir qual tipo de crime deseja cometer. Já o CS possui armamentos como fuzis e pistolas e o principal objetivo é matar adversários que são considerados terroristas. O jogador tem o direito de escolher entre ser terrorista ou policial.
Da mesma marca do game GTA, o jogo eletrônico "Manhunt II" (em português, caça ao homem), lançado nos últimos meses, foi vetado em alguns países da Europa. A proibição no Reino Unido, na Itália e na Irlanda seria devido às cenas de violência extrema (há casos em que o jogador mata pessoas a facadas e marteladas).
A primeira versão de "Manhunt" teria inspirado o assassinato do inglês Stefan Pakeerah, de 14 anos, segundo parentes da vítima. A polícia, entretanto, não encontrou prova que confirmasse a ligação.
-Pais devem observar filhos
Os pais devem estar alertas ao que o filho está sujeito, estabelecer regras claras e limites. Uma criança exposta durante muito tempo a essas cenas sem a supervisão de um adulto que possa ajudá-la a realizar um julgamento crítico poderá apresentar um comportamento agressivo.
"Uma criança que se identifica com estes personagens já possui essa violência dentro dela. Os pais precisam estar atentos", esclarece a psicóloga Lúcia Helena Saavedra.
Os primeiros sinais de agressividade podem aparecer em crianças de apenas três anos.
"Observar o tipo de relação que os filhos têm com os colegas é muito importante para detectar um futuro comportamento baseado na intimidação e agressão", alerta o pediatra Aramis Lopes.
-Niterói registra casos
Nos Conselhos Tutelares de Niterói já foram atendidas crianças que cometeram pequenos delitos para poder jogar. No Conselho Tutelar da Zona Norte, um menino de apenas sete anos passou a pegar coisas de dentro de casa só para poder custear a ida a locais onde há jogos eletrônicos.
"Há alguns casos já registrados em que se observou uma influência negativa desses jogos para a criança, em especial quando se trata do vício. Os games influenciam muito a cabeça delas", afirma a conselheira tutelar Luciene Melo, da Zona Norte.
No Conselho Tutelar do Centro foi registrado o caso de um menino de 15 anos que ficou viciado nos jogos eletrônicos a ponto de cometer furtos só para pagar pela utilização de computadores de uma "lan house".
Reportagem: Colin Vieira e Tamara Ferreira
http://www.culturanime.com/modules/news ... oryid=1162
Poucos dias depois da doméstica Sirley Dias, de 32 anos, ter sido agredida por jovens de classe média na Barra da Tijuca - ao ter sido confundida com uma prostituta, o que não justifica a selvageria -, crianças de apenas dez anos, também de classe média alta, são consideradas suspeitas de protagonizar um ato de vandalismo. Elas teriam invadido uma residência no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, furtado objetos e "revirado" a casa. Tais atitudes retomaram a discussão sobre a influência de jogos eletrônicos violentos na formação das crianças e adolescentes.
Após o assalto no Recreio, o filho da vítima, um menino de oito anos, comentou com a mãe, a promotora artística P. N., de 33, que a atitude dos menores foi muito semelhante à observada no jogo GTA. No game, personagens percorrem a cidade e ganham pontos ao cometerem delitos como homicídios, roubos a carro e agressão a prostitutas.
A atuação dos jogos eletrônicos no comportamento das crianças e adolescentes é vista de forma relativa pelo promotor de Justiça Romero Lyra.
"Os games, dependendo dos pais, podem, em tese, influenciar na formação das crianças. Mas, acima de qualquer jogo está a participação dos pais na vida da criança, pois quando a família não ocupa seu espaço, alguma outra coisa o ocupa", destaca o representante do Ministério Público.
O promotor, que coordenou a Área de Investigação de Crimes eletrônicos de 1997 a 2005, apesar de não atribuir o comportamento violento de certas crianças exclusivamente aos jogos violentos, acha inaceitável o comportamento de algumas "lan houses" – locais onde as pessoas costumam acessar a Internet.
"Não pode ser tolerado que crianças acessem páginas e jogos inadequados. O poder público tem que fazer o seu papel", defende Lyra.
O titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói, Carlos Henrique Pereira Machado, concorda com Romero Lyra em relação à fiscalização.
"A fiscalização tem que ser feita e alguns jogos, dependendo do que contenham, têm que ser proibidos", prega o delegado. Mas o policial não acredita que o jogo, por si só, leve a criança a praticar algum tipo de crime.
Segundo Machado, no cotidiano da delegacia observa-se a predominância de outros fatores como grandes responsáveis pela entrada de crianças e adolescentes no mundo do crime.
"O tráfico, a pobreza e o desamparo ainda são as principais razões da entrada de crianças na marginalidade", frisa.
Para o diretor dos Direitos da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj), Aramis Lopes, os games podem servir de modelo para crianças, estimulando-as a cometer atos ilícitos, já que nos jogos não há punição. Segundo ele, o jogo pode sugerir uma atitude agressiva, mas este comportamento se deve à fragilidade da criança.
"A violência não emerge do nada, ela é progressiva", explica o especialista.
-Cenas de violência extrema
Os jogos Grand Theft Auto e Counter Strike, mais conhecidos como GTA e CS, respectivamente, são hoje os mais procurados por jovens na Internet. Ambos estimulam a prática de atos ilegais. Lançado em 1997, o game GTA (que em português significa grandes roubos a carro) provocou polêmica em todas as dez edições lançadas e continua gerando muita discussão. Com o enredo baseado na vida de um criminoso numa grande metrópole, o jogo permite ao jogador roubar, se envolver com o crime organizado, vender drogas e até cometer homicídios.
De acordo com os usuários, o aspecto mais interessante é a liberdade dada pelo game. Nessa "liberdade", o personagem pode percorrer toda a cidade e decidir qual tipo de crime deseja cometer. Já o CS possui armamentos como fuzis e pistolas e o principal objetivo é matar adversários que são considerados terroristas. O jogador tem o direito de escolher entre ser terrorista ou policial.
Da mesma marca do game GTA, o jogo eletrônico "Manhunt II" (em português, caça ao homem), lançado nos últimos meses, foi vetado em alguns países da Europa. A proibição no Reino Unido, na Itália e na Irlanda seria devido às cenas de violência extrema (há casos em que o jogador mata pessoas a facadas e marteladas).
A primeira versão de "Manhunt" teria inspirado o assassinato do inglês Stefan Pakeerah, de 14 anos, segundo parentes da vítima. A polícia, entretanto, não encontrou prova que confirmasse a ligação.
-Pais devem observar filhos
Os pais devem estar alertas ao que o filho está sujeito, estabelecer regras claras e limites. Uma criança exposta durante muito tempo a essas cenas sem a supervisão de um adulto que possa ajudá-la a realizar um julgamento crítico poderá apresentar um comportamento agressivo.
"Uma criança que se identifica com estes personagens já possui essa violência dentro dela. Os pais precisam estar atentos", esclarece a psicóloga Lúcia Helena Saavedra.
Os primeiros sinais de agressividade podem aparecer em crianças de apenas três anos.
"Observar o tipo de relação que os filhos têm com os colegas é muito importante para detectar um futuro comportamento baseado na intimidação e agressão", alerta o pediatra Aramis Lopes.
-Niterói registra casos
Nos Conselhos Tutelares de Niterói já foram atendidas crianças que cometeram pequenos delitos para poder jogar. No Conselho Tutelar da Zona Norte, um menino de apenas sete anos passou a pegar coisas de dentro de casa só para poder custear a ida a locais onde há jogos eletrônicos.
"Há alguns casos já registrados em que se observou uma influência negativa desses jogos para a criança, em especial quando se trata do vício. Os games influenciam muito a cabeça delas", afirma a conselheira tutelar Luciene Melo, da Zona Norte.
No Conselho Tutelar do Centro foi registrado o caso de um menino de 15 anos que ficou viciado nos jogos eletrônicos a ponto de cometer furtos só para pagar pela utilização de computadores de uma "lan house".
Reportagem: Colin Vieira e Tamara Ferreira
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