Nouriel Roubini alertou sobre a crise
Enviado: 30 Jan 2009, 10:45
“Mais fundos hedges (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito cascata nem começou a ser sentido. As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido”.
Chama a atenção que esta colossal crise financeira que debilita a economia mundial não tenha sido pressentida nem pelos maiores países nem pela elite do capitalismo contemporâneo.
As pessoas comuns, entre as quais os leitores e o autor desta coluna, estamos todos espantados que tenham ruído de repente os alicerces do capitalismo em todo o mundo, sem que ninguém com responsabilidade tivesse advertido o mundo sobre esta catástrofe.
***
Ou melhor, um homem só, um solitário economista em todo o mundo previu esta tragédia.
Foi o economista Nouriel Roubini, nascido em Istambul e criado no Irã e na Itália, tendo depois trabalhado em todo o mundo, tendo sido até mesmo assessor político do Tesouro dos EUA.
Há três anos, Nouriel Roubini foi tachado de fatalista e enganador quando detectou uma enorme vulnerabilidade no sistema bancário dos EUA, prevendo o seu colapso.
Em 2006, Roubini fez um discurso no Fundo Monetário Internacional, afirmando, entre outras coisas, que a economia norte-americana corria o risco de um colapso imobiliário e uma profunda recessão, com consequências funestas para o mundo inteiro.
Exatamente como aconteceu e está acontecendo.
***
Ele próprio declara agora que outras pessoas previram o cenário atual, mas ninguém foi tão preciso e tão grave como ele.
Quando é confrontado com opiniões de que só teve muita sorte em prever esta monumental crise e que “até um relógio parado acerta a hora duas vezes por dia”, reage, acusando de ingênuos seus contestadores, que previram crescimento quando a crise já se intensificava.
Ele declara: “Dizer que foi apenas sorte da minha parte é um absurdo. Fiz previsões concretas que acabaram sendo certas. Exatamente certas”.
***
Nouriel Roubini cita um estudo de sua autoria, elaborado em fevereiro do ano passado, faz quase um ano, intitulado “Doze passos para o desastre financeiro”, no qual, segundo ele, “cada passo foi exatamente como a crise se desenvolveu nos últimos seis meses”.
“Eu disse que as duas maiores corretoras dos EUA iriam à falência e não haveria nenhuma grande corretora independente nos próximos dois anos. Ora, bastaram sete meses para a Bear Stearns e o Lehman (Brothers) quebrarem. Não foi uma análise imprecisa da minha parte quando declarei que ocorreria uma crise financeira. Fui bem explícito. E acertei.”
E acertou na mosca, salientando a fragilidade bancária e das corretoras, chamando a atenção para a precariedade do sistema imobiliário e suas anêmicas hipotecas.
***
Ele explica suas exatas e certas previsões com estudos comparativos do padrão de movimento econômico dos EUA com os de países emergentes, notando em ambos a mesma “exuberância irracional’, que na sua opinião só poderia ser seguida de um enorme colapso.
“Tivemos dezenas de sinais distintos de que tudo acabaria num ponto de não-retorno. A ocorrência de uma crise era algo totalmente óbvio para mim.”
***
Mas o mais trágico é que este homem marcado pela genialidade de suas previsões, contrárias a todas as expectativas dos mercados e dos governos até meses atrás, continua prevendo. E prevendo mais tragédias: “Mais fundos hedges (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito cascata nem começou a ser sentido. As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido”.
Nouriel Roubini dá a impressão de que agora não há mais tempo para corrigir os males constantes de suas previsões.
Paulo Santana
Chama a atenção que esta colossal crise financeira que debilita a economia mundial não tenha sido pressentida nem pelos maiores países nem pela elite do capitalismo contemporâneo.
As pessoas comuns, entre as quais os leitores e o autor desta coluna, estamos todos espantados que tenham ruído de repente os alicerces do capitalismo em todo o mundo, sem que ninguém com responsabilidade tivesse advertido o mundo sobre esta catástrofe.
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Ou melhor, um homem só, um solitário economista em todo o mundo previu esta tragédia.
Foi o economista Nouriel Roubini, nascido em Istambul e criado no Irã e na Itália, tendo depois trabalhado em todo o mundo, tendo sido até mesmo assessor político do Tesouro dos EUA.
Há três anos, Nouriel Roubini foi tachado de fatalista e enganador quando detectou uma enorme vulnerabilidade no sistema bancário dos EUA, prevendo o seu colapso.
Em 2006, Roubini fez um discurso no Fundo Monetário Internacional, afirmando, entre outras coisas, que a economia norte-americana corria o risco de um colapso imobiliário e uma profunda recessão, com consequências funestas para o mundo inteiro.
Exatamente como aconteceu e está acontecendo.
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Ele próprio declara agora que outras pessoas previram o cenário atual, mas ninguém foi tão preciso e tão grave como ele.
Quando é confrontado com opiniões de que só teve muita sorte em prever esta monumental crise e que “até um relógio parado acerta a hora duas vezes por dia”, reage, acusando de ingênuos seus contestadores, que previram crescimento quando a crise já se intensificava.
Ele declara: “Dizer que foi apenas sorte da minha parte é um absurdo. Fiz previsões concretas que acabaram sendo certas. Exatamente certas”.
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Nouriel Roubini cita um estudo de sua autoria, elaborado em fevereiro do ano passado, faz quase um ano, intitulado “Doze passos para o desastre financeiro”, no qual, segundo ele, “cada passo foi exatamente como a crise se desenvolveu nos últimos seis meses”.
“Eu disse que as duas maiores corretoras dos EUA iriam à falência e não haveria nenhuma grande corretora independente nos próximos dois anos. Ora, bastaram sete meses para a Bear Stearns e o Lehman (Brothers) quebrarem. Não foi uma análise imprecisa da minha parte quando declarei que ocorreria uma crise financeira. Fui bem explícito. E acertei.”
E acertou na mosca, salientando a fragilidade bancária e das corretoras, chamando a atenção para a precariedade do sistema imobiliário e suas anêmicas hipotecas.
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Ele explica suas exatas e certas previsões com estudos comparativos do padrão de movimento econômico dos EUA com os de países emergentes, notando em ambos a mesma “exuberância irracional’, que na sua opinião só poderia ser seguida de um enorme colapso.
“Tivemos dezenas de sinais distintos de que tudo acabaria num ponto de não-retorno. A ocorrência de uma crise era algo totalmente óbvio para mim.”
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Mas o mais trágico é que este homem marcado pela genialidade de suas previsões, contrárias a todas as expectativas dos mercados e dos governos até meses atrás, continua prevendo. E prevendo mais tragédias: “Mais fundos hedges (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito cascata nem começou a ser sentido. As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido”.
Nouriel Roubini dá a impressão de que agora não há mais tempo para corrigir os males constantes de suas previsões.
Paulo Santana