Religião é Veneno

Esquentando notícias (a mentira tem pernas curtas)

A versão, para certas pessoas, muitas vezes é mais importante do que o fato. O ideal delas é criar uma impressão, mesmo que não corresponda à realidade. Como aconteceu nos últimos dias em relação a assessores de Benedita da Silva, a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, do Rio de Janeiro.

Eles procuraram esquentar uma notícia engendrada em suas entranhas, forçando a barra para que o país se convencesse de algo que na verdade não aconteceria – como não aconteceu.

Primeiro plantou na mídia a informação de que Benedita viria a Washington nesta quinta-feira (5 de fevereiro) para um café da manhã com o presidente Barack Obama, no Congresso dos Estados Unidos.

Conversa fiada. Ela veio para o Encontro Nacional de Oração, tradicional evento anual organizado pelo Congresso americano, com a participação do presidente dos EUA há cinco décadas. E Benedita, na verdade, era uma das pessoas na multidão de 3.500 convidados vindos de 180 países.

Pouco antes do embarque no Rio ela participara de um evento ao lado do presidente Lula no Morro Dona Marta, e ali disse que estava feliz com a oportunidade de poder cumprimentar Obama e "olhar olho no olho" dele. Na verdade, nem chegou perto.


"Eu não pude sequer tirar uma foto dele com o meu celular", lamentou-se Benedita.

O Serviço Secreto avisara à Casa Branca que como já havia muita gente no salão – o encontro foi no hotel Hilton, no centro de Washington – só um pequeno número de jornalistas americanos (um pool) poderia entrar. Os demais veriam o discurso de Obama pela TV e, no final, poderiam entrar para entrevistar os convidados.

Marcos Cordioli, um funcionário público de Brasília que fazia as vezes de assessor/cicerone de Benedita, reforçou a familiaridade dela com o governo americano, ao informar ao Globo e à Rede Globo que a secretária de Estado, Hillary Clinton, que também estava no evento, se lembrara da brasileira: "Hillary a reconhece de longe".

Evento terminado, portas abertas, os dois repórteres – que haviam combinado uma entrevista com Benedita - perguntaram ao cicerone dela onde, afinal, se encontrava a secretária de Assistência Social. A resposta estava na ponta da língua: "Está lá dentro com o presidente", disse ele, insinuando que estaria acontecendo um encontro entre ambos.


Benedita apareceu pouco depois. E confessou ter ficado frustrada por não ter podido posar para uma foto ao lado de Obama, e tampouco cumprimentá-lo pessoalmente. E muito menos "olhar olho no olho dele", como imaginara ao embarcar no Rio de Janeiro. Perto mesmo, só com binóculos.

"Eu não pude sequer tirar uma foto dele com o meu celular. Todos fomos avisados de que isso era proibido", disse. "Ele apareceu e fêz um cumprimento geral (à platéia)".

No Rio, porém, a máquina de esquentar notícias permanecia afiada.
"Ela achou ele (sic) muito simpático e atencioso. Não ficou desapontada com nada", contou sua assessora Salete Lisboa à imprensa carioca, depois de conversar com Benedita por telefone.


Surgiria um derradeiro detalhe enganoso: Benedita, segundo sua assessoria, fora "a primeira autoridade brasileira a se encontrar com o presidente Obama após a sua posse". Se encontrar?! Levando em conta tal afirmação, poderíamos dizer que no último dia 20 de janeiro cerca de duas milhões de pessoas se encontraram com Obama em Washington, quando ele tomava posse.