Eutanásia
Eutanásia
Domingo, Fevereiro 08, 2009
DEIXEM ELUANA PARTIR
"Não tinha nem braços nem pernas. Atirou a cabeça para trás e começou a gritar de medo. Mas apenas começou porque não tinha boca com que gritar. Ficou tão surpreso de não gritar quanto tentou fazê-lo que começou a mexer as mandíbulas como um homem que descobriu algo interessante e quer experimentar. Estava tão seguro de que a idéia de não ter boca era um sonho que se sentia capaz de investigar a coisa calmamente. Tentou mexer as mandíbulas e não tinha mandíbulas. Tentou passar a língua do lado de dentro dos dentes e por sobre o céu da boca como se estivesse buscando uma semente de framboesa. Mas não tinha língua nem dentes. Não tinha céu da boca nem boca. Tentou engolir mas não podia porque não tinha palato e não lhe restavam músculos com que engolir.
Começou a sufocar e a arquejar. Era como se alguém lhe tivesse empurrado um colchão sobre o rosto e o estivesse mantendo ali. Respirava agora forte e depressa mas não estava realmente respirando porque nenhum ar passava pelo nariz. Não tinha nariz. Podia sentir o peito subir e descer mas nenhuma respiração passava pelo lugar onde era o nariz. Experimentou o desejo furioso e aterrorizante de morrer, de se matar."
Nestes dias em que a Igreja romana exibe publicamente sua face horrenda, se encarniçando – junto com Berlusconi – a prolongar a vida de uma menina que vive vida de vegetal há 17 anos, fui correndo até minha biblioteca em busca de um livro que li nos anos 70, Uma arma para Johnny, de Dalton Trumbo. Não o achei, deve ter sido extraviado em alguma de minhas mudanças. Buscando na Internet, tive a sorte de achar o trecho supra, publicado pela Gazeta de Alagoas, edição de hoje. O livro foi publicado em 1939 e o próprio autor o filmou em 1971, quando recebeu o prêmio especial da crítica no Festival de Cannes. Boas notícias para os catadores de obras esgotadas: o livro será relançado pela Relume Dumará, no próximo sábado. O ressurgimento da obra pretende ser um protesto à política belicista de George Bush.
Tanto o livro como o filme são sufocantes. Você entra no cinema e já se sente deprimido nos primeiros minutos. E sai arrasado. Lembro-me que ao sair, ocorreu-me mover os dedos e quase chorei de felicidade ao sentir que podia mover um dedo. O filme é duro, mas não deixa de ser um hino à vida.
Talvez a memória me traia um pouco. O filme abre com um quirófano – ou talvez quarto de hospital, não lembro – onde vemos um vulto sobre uma cama, coberto por um lençol. Ainda não sabemos, mas é o corpo de um soldado – Joe Bonham – que lutou na Primeira Guerra. Ao jogar-se em uma trincheira, uma granada caiu junto. O que restou é o que está sob o lençol. Ironicamente, seu sexo foi preservado. A narrativa é feita através de um monólogo interior.
Johnny acorda. Tenta rememorar seus últimos momentos. Ao tentar mover um braço, descobre que não tem mais braço. Revolta-se. Absurdo cortarem um braço sem sequer consultar o dono do braço. Tenta mover o outro. Também foi cortado. Ele não acredita. Me cortam dois braços sem sequer me perguntar se quero viver sem braços? Tenta mover uma perna. Não tem mais perna. Tenta mover a outra. Também foi cortada. Já nos primeiros minutos, não só Johnny, mas também o espectador, estão com o moral profundamente abalado. Tenta mover as mandíbulas. Não tem mais mandíbulas. Tenta tatear as mandíbulas com a língua. Não tem mais língua. Mais adiante descobrirá que não tem olhos nem ouvidos.
Johnny foi condenado à mais terrível das prisões, a prisão do próprio corpo. E não tem maneira alguma de comunicar-se com o exterior. É apenas um cérebro – vivo e pensante – encarcerado em um tronco. Em meio a seu desespero, Johnny descobre que conhece código Morse. Batendo com a cabeça na cabeceira da cama, tentar enviar uma mensagem: S.O.S, S.O.S, S.O.S. Um médico que ia passando, toma seu gesto como convulsões e lhe administra um calmante. Johnny, que julgara ter encontrado uma fórmula para comunicar-se, se apaga.
Mas não desiste de tentar comunicar-se. Uma enfermeira, compadecida, o masturba. Johnny se desespera, não era isso o que esperava. Algum tempo depois, uma equipe de médicos e militares vai visitá-lo. Obstinadamente, Johnny continua batendo sua cabeça na cabeceira da cama. É quando um militar, assustado, descobre: isso é Morse e este homem está pedindo socorro. Finalmente, a comunicação se estabelece. O militar responde em Morse, batendo com os dedos em sua testa. Johnny pede para morrer. Negativo. Segundo um general presente, o regulamento proíbe tirar a vida de um soldado ferido. Para concluir: a enfermeira, num gesto de generosidade, acaba por desligá-lo. Do fundo do coração, Johnny exulta: obrigado, obrigado.
Obviamente, não estou escrevendo sobre a obra de Trumbo em protesto à política de Bush no Iraque. Se a Relume Dumará o republica por estas razões, eu o evoco por uma outra, essa obstinada vontade do Vaticano e de Berlusconi de não permitir que seja interrompida a alimentação de Eluana Englaro, que há 17 anos vive como um vegetal. Testemunhei de perto, em minha família, essa condição. Minha sogra entrou em coma irreversível. Quando os médicos disseram ser a boa hora para interromper a alimentação, a família não aceitou a sugestão. A coitada viveu quatro anos como um nabo, sem reação alguma a nada, sem poder expressar coisa alguma. Johnny tinha mais recursos: conhecia código Morse e estava consciente.
O pior destas circunstâncias é que a pessoa chega a um estado em que não tem condições nem mesmo de pedir que a desliguem. Eluana não manifestou vontade de suicidar-se, dizem alguns sádicos que adoram assistir ao sofrimento alheio. Nem poderia manifestar. Quem a manifesta é sua família, com todo direito e por amor. Terá o Estado ou Igreja o direito de impedir que morra quem já não mais vive? Quando João Paulo II agonizava, eu – que não tenho simpatia alguma por papas – fiquei condoído e considerei que o melhor a ser feito era deixá-lo partir. Fui chamado de nazista para cima. Mais tarde, um cardeal confessou que João Paulo chegou a pedir para morrer. “Deixem-me ir ao encontro do Pai” – disse o papa.
É sadismo, desumanidade absoluta, tentar preservar viva pessoa que já não mais vive. Não conseguimos sequer saber se essa pessoa está sofrendo, pois nem o sofrimento consegue expressar. Todo ser humano tem o direito de decidir quando quer partir. Particularmente quando se encontra nessas condições terminais. Quando manifestei meu contentamento com a morte de Mariana Bridi, a modelo que perdeu pés e mãos, não faltou quem me chamasse de nazista, afinal todo defensor da eutanásia só pode ser nazista.
Isso sem falar no sofrimento da família, que tem de conviver por anos e anos com aquele vegetal que um dia foi sua filha. Sem falar também em uma outra questão bem menos metafísica, mas nem por isso menos importante. Uma pessoa nessas condições, dilapida rapidamente todas as posses de uma família. Para início de conversa, precisa da assistência de pelo menos três enfermeiras. Mais os gastos de manutenção do semi-cadáver. A pessoa não está mais viva e a família vai afundando junto com aquele ser em condição vegetal.
Estes senhores contrários à eutanásia, são em geral devotos daquele Deus que deixou o Filho morrer em condições cruentas. Faz sentido.
Janer Cristaldo
http://cristaldo.blogspot.com/2009/02/d ... a-nem.html
DEIXEM ELUANA PARTIR
"Não tinha nem braços nem pernas. Atirou a cabeça para trás e começou a gritar de medo. Mas apenas começou porque não tinha boca com que gritar. Ficou tão surpreso de não gritar quanto tentou fazê-lo que começou a mexer as mandíbulas como um homem que descobriu algo interessante e quer experimentar. Estava tão seguro de que a idéia de não ter boca era um sonho que se sentia capaz de investigar a coisa calmamente. Tentou mexer as mandíbulas e não tinha mandíbulas. Tentou passar a língua do lado de dentro dos dentes e por sobre o céu da boca como se estivesse buscando uma semente de framboesa. Mas não tinha língua nem dentes. Não tinha céu da boca nem boca. Tentou engolir mas não podia porque não tinha palato e não lhe restavam músculos com que engolir.
Começou a sufocar e a arquejar. Era como se alguém lhe tivesse empurrado um colchão sobre o rosto e o estivesse mantendo ali. Respirava agora forte e depressa mas não estava realmente respirando porque nenhum ar passava pelo nariz. Não tinha nariz. Podia sentir o peito subir e descer mas nenhuma respiração passava pelo lugar onde era o nariz. Experimentou o desejo furioso e aterrorizante de morrer, de se matar."
Nestes dias em que a Igreja romana exibe publicamente sua face horrenda, se encarniçando – junto com Berlusconi – a prolongar a vida de uma menina que vive vida de vegetal há 17 anos, fui correndo até minha biblioteca em busca de um livro que li nos anos 70, Uma arma para Johnny, de Dalton Trumbo. Não o achei, deve ter sido extraviado em alguma de minhas mudanças. Buscando na Internet, tive a sorte de achar o trecho supra, publicado pela Gazeta de Alagoas, edição de hoje. O livro foi publicado em 1939 e o próprio autor o filmou em 1971, quando recebeu o prêmio especial da crítica no Festival de Cannes. Boas notícias para os catadores de obras esgotadas: o livro será relançado pela Relume Dumará, no próximo sábado. O ressurgimento da obra pretende ser um protesto à política belicista de George Bush.
Tanto o livro como o filme são sufocantes. Você entra no cinema e já se sente deprimido nos primeiros minutos. E sai arrasado. Lembro-me que ao sair, ocorreu-me mover os dedos e quase chorei de felicidade ao sentir que podia mover um dedo. O filme é duro, mas não deixa de ser um hino à vida.
Talvez a memória me traia um pouco. O filme abre com um quirófano – ou talvez quarto de hospital, não lembro – onde vemos um vulto sobre uma cama, coberto por um lençol. Ainda não sabemos, mas é o corpo de um soldado – Joe Bonham – que lutou na Primeira Guerra. Ao jogar-se em uma trincheira, uma granada caiu junto. O que restou é o que está sob o lençol. Ironicamente, seu sexo foi preservado. A narrativa é feita através de um monólogo interior.
Johnny acorda. Tenta rememorar seus últimos momentos. Ao tentar mover um braço, descobre que não tem mais braço. Revolta-se. Absurdo cortarem um braço sem sequer consultar o dono do braço. Tenta mover o outro. Também foi cortado. Ele não acredita. Me cortam dois braços sem sequer me perguntar se quero viver sem braços? Tenta mover uma perna. Não tem mais perna. Tenta mover a outra. Também foi cortada. Já nos primeiros minutos, não só Johnny, mas também o espectador, estão com o moral profundamente abalado. Tenta mover as mandíbulas. Não tem mais mandíbulas. Tenta tatear as mandíbulas com a língua. Não tem mais língua. Mais adiante descobrirá que não tem olhos nem ouvidos.
Johnny foi condenado à mais terrível das prisões, a prisão do próprio corpo. E não tem maneira alguma de comunicar-se com o exterior. É apenas um cérebro – vivo e pensante – encarcerado em um tronco. Em meio a seu desespero, Johnny descobre que conhece código Morse. Batendo com a cabeça na cabeceira da cama, tentar enviar uma mensagem: S.O.S, S.O.S, S.O.S. Um médico que ia passando, toma seu gesto como convulsões e lhe administra um calmante. Johnny, que julgara ter encontrado uma fórmula para comunicar-se, se apaga.
Mas não desiste de tentar comunicar-se. Uma enfermeira, compadecida, o masturba. Johnny se desespera, não era isso o que esperava. Algum tempo depois, uma equipe de médicos e militares vai visitá-lo. Obstinadamente, Johnny continua batendo sua cabeça na cabeceira da cama. É quando um militar, assustado, descobre: isso é Morse e este homem está pedindo socorro. Finalmente, a comunicação se estabelece. O militar responde em Morse, batendo com os dedos em sua testa. Johnny pede para morrer. Negativo. Segundo um general presente, o regulamento proíbe tirar a vida de um soldado ferido. Para concluir: a enfermeira, num gesto de generosidade, acaba por desligá-lo. Do fundo do coração, Johnny exulta: obrigado, obrigado.
Obviamente, não estou escrevendo sobre a obra de Trumbo em protesto à política de Bush no Iraque. Se a Relume Dumará o republica por estas razões, eu o evoco por uma outra, essa obstinada vontade do Vaticano e de Berlusconi de não permitir que seja interrompida a alimentação de Eluana Englaro, que há 17 anos vive como um vegetal. Testemunhei de perto, em minha família, essa condição. Minha sogra entrou em coma irreversível. Quando os médicos disseram ser a boa hora para interromper a alimentação, a família não aceitou a sugestão. A coitada viveu quatro anos como um nabo, sem reação alguma a nada, sem poder expressar coisa alguma. Johnny tinha mais recursos: conhecia código Morse e estava consciente.
O pior destas circunstâncias é que a pessoa chega a um estado em que não tem condições nem mesmo de pedir que a desliguem. Eluana não manifestou vontade de suicidar-se, dizem alguns sádicos que adoram assistir ao sofrimento alheio. Nem poderia manifestar. Quem a manifesta é sua família, com todo direito e por amor. Terá o Estado ou Igreja o direito de impedir que morra quem já não mais vive? Quando João Paulo II agonizava, eu – que não tenho simpatia alguma por papas – fiquei condoído e considerei que o melhor a ser feito era deixá-lo partir. Fui chamado de nazista para cima. Mais tarde, um cardeal confessou que João Paulo chegou a pedir para morrer. “Deixem-me ir ao encontro do Pai” – disse o papa.
É sadismo, desumanidade absoluta, tentar preservar viva pessoa que já não mais vive. Não conseguimos sequer saber se essa pessoa está sofrendo, pois nem o sofrimento consegue expressar. Todo ser humano tem o direito de decidir quando quer partir. Particularmente quando se encontra nessas condições terminais. Quando manifestei meu contentamento com a morte de Mariana Bridi, a modelo que perdeu pés e mãos, não faltou quem me chamasse de nazista, afinal todo defensor da eutanásia só pode ser nazista.
Isso sem falar no sofrimento da família, que tem de conviver por anos e anos com aquele vegetal que um dia foi sua filha. Sem falar também em uma outra questão bem menos metafísica, mas nem por isso menos importante. Uma pessoa nessas condições, dilapida rapidamente todas as posses de uma família. Para início de conversa, precisa da assistência de pelo menos três enfermeiras. Mais os gastos de manutenção do semi-cadáver. A pessoa não está mais viva e a família vai afundando junto com aquele ser em condição vegetal.
Estes senhores contrários à eutanásia, são em geral devotos daquele Deus que deixou o Filho morrer em condições cruentas. Faz sentido.
Janer Cristaldo
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Re: Eutanásia
Um professor de ética nos contou esta história na faculdade.
Foi aí que decidi - colocando-me no lugar do soldado e de outras pessoas, crianças, jovens, velhos e pedaços de carne em geral - que seria sempre a favor da eutanásia.
Deixem matar e morrer aqueles que não tem mais vida digna. A prisão no próprio corpo é coisa que a maioria nega-se a imaginar. O mais fácil é falar em vida pela vida....uma estupidez romântica sem fim.
Foi aí que decidi - colocando-me no lugar do soldado e de outras pessoas, crianças, jovens, velhos e pedaços de carne em geral - que seria sempre a favor da eutanásia.
Deixem matar e morrer aqueles que não tem mais vida digna. A prisão no próprio corpo é coisa que a maioria nega-se a imaginar. O mais fácil é falar em vida pela vida....uma estupidez romântica sem fim.
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Re: Eutanásia
Sou a favor da eutanásia quando for vontade expressa da pessoa mentalmente sã.
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Re: Eutanásia
King In Crimson escreveu:Sou a favor da eutanásia quando for vontade expressa da pessoa mentalmente sã.
Como se sabe que um neurovegetativo ou em estados intermediários de consciência está mentalmente são, se nem consegue se comunicar com o exterior? E neste caso citado no tópico? Bater com a cabeça desesperadamente é sinal de insanidade da parte dele? Penso que ninguém pode dizer que seja, já que descobriram que ele estava pedindo socorro para se ver livre daquela prisão.
Re: Eutanásia
http://www.acidigital.com/noticia.php?id=15190
Descobriram?
Apo escreveu:King In Crimson escreveu:Sou a favor da eutanásia quando for vontade expressa da pessoa mentalmente sã.
Como se sabe que um neurovegetativo ou em estados intermediários de consciência está mentalmente são, se nem consegue se comunicar com o exterior? E neste caso citado no tópico? Bater com a cabeça desesperadamente é sinal de insanidade da parte dele? Penso que ninguém pode dizer que seja, já que descobriram que ele estava pedindo socorro para se ver livre daquela prisão.
Descobriram?
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Re: Eutanásia
Tarcísio escreveu:http://www.acidigital.com/noticia.php?id=15190Apo escreveu:King In Crimson escreveu:Sou a favor da eutanásia quando for vontade expressa da pessoa mentalmente sã.
Como se sabe que um neurovegetativo ou em estados intermediários de consciência está mentalmente são, se nem consegue se comunicar com o exterior? E neste caso citado no tópico? Bater com a cabeça desesperadamente é sinal de insanidade da parte dele? Penso que ninguém pode dizer que seja, já que descobriram que ele estava pedindo socorro para se ver livre daquela prisão.
Descobriram?
Não leu o texto? Nem o livro?
Sugiro que o faça.
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Re: Eutanásia
Apo escreveu:King In Crimson escreveu:Sou a favor da eutanásia quando for vontade expressa da pessoa mentalmente sã.
Como se sabe que um neurovegetativo ou em estados intermediários de consciência está mentalmente são, se nem consegue se comunicar com o exterior? E neste caso citado no tópico? Bater com a cabeça desesperadamente é sinal de insanidade da parte dele? Penso que ninguém pode dizer que seja, já que descobriram que ele estava pedindo socorro para se ver livre daquela prisão.
Não se sabe e nunca se saberá.
Na dúvida, é melhor não matar.
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Re: Eutanásia
A questao da eutanasia no caso de expressa vontade de alguem sao e perfeitamente discutivel. .
Ja o caso de alguem em estado vegetativo ou de alguma forma incapacitado de elaborar ou comunicar seu desejo expressamente nao. Nao ha absolutamente nada a ser questionado aqui, os responsaveis legais pelo individuo em questao nao podem dar um fim nele por presumirem que ele estaria melhor assim.
Essa abertura de precedente e algo completamente imoral.
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Re: Eutanásia
O cérebro é uma caixa mágica envolvida em mistério - quase um produto milagroso. "Neuros-isso", "Neuros-aquilo", não dá pra confiar nessa gente da medicina. Por isso que quando eu adoeço, recorro aos orixás.
é muita incerteza
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Re: Eutanásia
Se eu pedir...por favor...me deixem morrer ou me matem ok? Não há vida na dor absoluta. É apenas desespero e loucura.
Re: Eutanásia
É bom também não se esquecer do outro lado...
Eu não gostaria de passar 20 anos em estado vegetativo, deve ser agoniante
[]s
Eu não gostaria de passar 20 anos em estado vegetativo, deve ser agoniante
[]s
"Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico" (Onfray)
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Re: Eutanásia
Suyndara escreveu:É bom também não se esquecer do outro lado...
Eu não gostaria de passar 20 anos em estado vegetativo, deve ser agoniante
[]s
Não é só isto. Há muitas formas de agonia. Algumas bem conscientes.
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Re: Eutanásia
Suyndara escreveu:É bom também não se esquecer do outro lado...
Eu não gostaria de passar 20 anos em estado vegetativo, deve ser agoniante
[]s
Ha uma solucao hipotetica porem licita para esse caso:
Produza um documento autenticado onde voce declara que, caso voce esteja em estado vegetativo por X anos, e os medicos do instituto A ou B de sua confianca desesperançarem uma eventual recuperacao, seus filhos e ou parentes proximos estao autorizados a pedir o desligamento dos mecanismos que te mantem viva.
O que nao da e para projetar o seu hipotetico desejo de morrer, dadas certas condicoes, numa terceira pessoa que se encontraria em situacao analoga e assim determinar que ela deve morrer, porque voce preferiria isso para voce mesma.
Isso e tao absurdo quanto o sodomita que acha que tem o direito de estuprar e espancar um outro homem qualquer pelo simples fato dele achar que seria muito bom para ele ser estuprado e espancado por um estranho.
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Re: Eutanásia
user f.k.a. Cabeção escreveu:Suyndara escreveu:É bom também não se esquecer do outro lado...
Eu não gostaria de passar 20 anos em estado vegetativo, deve ser agoniante
[]s
Ha uma solucao hipotetica porem licita para esse caso:
Produza um documento autenticado onde voce declara que, caso voce esteja em estado vegetativo por X anos, e os medicos do instituto A ou B de sua confianca desesperançarem uma eventual recuperacao, seus filhos e ou parentes proximos estao autorizados a pedir o desligamento dos mecanismos que te mantem viva.
O que nao da e para projetar o seu hipotetico desejo de morrer, dadas certas condicoes, numa terceira pessoa que se encontraria em situacao analoga e assim determinar que ela deve morrer, porque voce preferiria isso para voce mesma.
Isso e tao absurdo quanto o sodomita que acha que tem o direito de estuprar e espancar um outro homem qualquer pelo simples fato dele achar que seria muito bom para ele ser estuprado e espancado por um estranho.
Ninguém pode prever os casos em que se desesperaria assim. Crianças pequenas podem entrar em sofrimento antes mesmo de saber escrever ou que lei existe.
Absurdo é não ver a dor alheia. É virar as costas e ir para sus casa curtir um som, enquanto um amigo ou filho agoniza.
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Re: Eutanásia
Boa tentativa, mas eu nao acho que na categoria "fazer alguma coisa para ajudar alguem" se encontre o ato de "tomar no lugar da pessoa a decisao de tirar a sua vida".
Voce e que esta dizendo que matar a pessoa ira ajuda-la, mas essa e uma impressao sua, que voce deve guardar para voce. Como eu disse, um sodomita pode acreditar que a sodomia vai ajudar quem sofre tambem, o que nao lhe da nenhum direito de pratica-la contra a vontade alheia.
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Re: Eutanásia
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Boa tentativa, mas eu nao acho que na categoria "fazer alguma coisa para ajudar alguem" se encontre o ato de "tomar no lugar da pessoa a decisao de tirar a sua vida".
Fazer o quê quando métodos existentes não podem mais nada e só resta a dor, cabeção?
Voce e que esta dizendo que matar a pessoa ira ajuda-la, mas essa e uma impressao sua, que voce deve guardar para voce. Como eu disse, um sodomita pode acreditar que a sodomia vai ajudar quem sofre tambem, o que nao lhe da nenhum direito de pratica-la contra a vontade alheia.
Nem vou comentar isto aqui, querido. Seara totalmente diferente.
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Re: Eutanásia
Eu sou contra em todo caso simplesmente porque é uma inversão completa e irracional do trabalho do médico. Quem não enxerga de cara os precedentes que se abrem com a eutanásia que coloque óculos.
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Re: Eutanásia
Apo escreveu:user f.k.a. Cabeção escreveu:
Boa tentativa, mas eu nao acho que na categoria "fazer alguma coisa para ajudar alguem" se encontre o ato de "tomar no lugar da pessoa a decisao de tirar a sua vida".
Fazer o quê quando métodos existentes não podem mais nada e só resta a dor, cabeção?Voce e que esta dizendo que matar a pessoa ira ajuda-la, mas essa e uma impressao sua, que voce deve guardar para voce. Como eu disse, um sodomita pode acreditar que a sodomia vai ajudar quem sofre tambem, o que nao lhe da nenhum direito de pratica-la contra a vontade alheia.
Nem vou comentar isto aqui, querido. Seara totalmente diferente.
Acontece que assassinar inocentes nunca sera panaceia para a dor de ninguem, por mais aguda que ela seja. E apenas uma solucao covarde e imoral, de pessoas que nao assumiram as suas responsabilidades individuais.
Eu espero jamais ter um filho deficiente. Eu sei que isso e algo dificil. Mas as dificuldades que a vida nos impoe nao podem servir de carta branca para eu agir como eu quiser, ignorando o fato de que eu sou responsavel pelos meus atos e por suas consequencias. Algumas consequencias dos meus atos podem ate fugir das minhas intencoes, de certo ninguem espera ter um filho deficiente, muitas vezes ninguem espera ter filho algum. O que nao elimina ou reduz a responsabilidade assumida ao concebe-lo como resultado de uma acao completamente voluntaria, e cujas eventuais consequencias e riscos sao amplamente conhecidos.
Quanto ao "sodomita benevolente", e exatamente a mesma coisa. Trata-se de uma pessoa decidindo para outra que algo que ela considera bom para si sera bom para ela. Voce tem todo direito de deixar uma carta expressando seu desejo de nao ser mantida viva por meios artificiais caso se encontre em um estado muito grave de saude. Mas voce nao pode deduzir isso para outra pessoa. O sodomita tem direitos plenos de gostar que enfiem potes de mayonese no seu reto, mas nao pode achar que outras pessoas gostariam de ter seus tubos digestivos sendo violados.
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Re: Eutanásia
Eu sou contra [...]porque[...] precedentes que se abrem
hummm.
Re: Eutanásia
Se alguém me deixar vegetando, eu viverei apenas para odiar meus parentes até o último suspiro
Se a pessoa não vive mais, não tem mais capacidade para se manter viva sozinha, não vejo sentido no egoísmo dos parentes em ficar mantendo a pessoa presa a um corpo inerte apenas por encargo de consciência, se fingir de bonzinho enquanto o outro sofre.
Não dá para pensar apenas no lado ético: "ah, se desligarmos o aparelho, a pessoa vai morrer e isso é assassinato, etc." é preciso pensar também no que significa estar preso ao corpo, sem a menor chance de viver
Aquela menina estava em coma irreversível, ela nunca mais voltaria a viver. Por que mantê-la presa durante 50 anos? Por sadismo?
[]s
Se a pessoa não vive mais, não tem mais capacidade para se manter viva sozinha, não vejo sentido no egoísmo dos parentes em ficar mantendo a pessoa presa a um corpo inerte apenas por encargo de consciência, se fingir de bonzinho enquanto o outro sofre.
Não dá para pensar apenas no lado ético: "ah, se desligarmos o aparelho, a pessoa vai morrer e isso é assassinato, etc." é preciso pensar também no que significa estar preso ao corpo, sem a menor chance de viver
Aquela menina estava em coma irreversível, ela nunca mais voltaria a viver. Por que mantê-la presa durante 50 anos? Por sadismo?
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Re: Eutanásia
Um bebe nao tem capacidade de se manter sozinho. Um tetraplegico tambem. Alguem com retardo mental significativo tambem. "Coma irreversivel" e um conceito que muda bastante com o tempo. Varios deles se mostraram menos irreversiveis do que pareciam.
Eu apenas acho que quando nos responsabilizamos por alguem, nao podemos tomar a decisao que e mais conveniente para nos. Pais nao podem sacrificar um filho problematico, conjuges nao podem abandonar o outro na doenca. Existem vinculos de responsabilidade que nao podem ser dissolvidos unilateralmente, caso contrario estaremos destruindo toda a nocao de instituicao familiar na qual se baseia a nossa civilizacao.
Permitir esse tipo de solucao covarde e simplesmente implodir com os principios morais fundamentais.
A ideia de que seria "sadismo" manter uma pessoa em coma viva simplesmente parte do principio que ela estaria sofrendo e preferiria morrer, mas isso nao e necessariamente verdade. Quem esta sofrendo sao os seus familiares, e sao eles que preferiam que a pessoa estivesse morta. Eles projetam essa vontade nela como forma de eliminar a responsabilidade moral que lhes e imputada. Isso nao pode ser outra coisa se nao covardia.
Como eu disse antes, se voce acha que seria melhor sofrer eutanasia a ser mantida viva nessas condicoes, voce poderia em principio defender a possibilidade de pessoas deixarem documentos liberando seus parentes e conjuges das responsabilidades morais automaticas, dada a sua vontade manifestamente contraria. Algo completamente diferente de deixar a completa revelia deles decidir quais sao suas responsabilidades morais.
Se uma mae der um tiro no filho porque ele tem dificuldades mentais e alegar depois que "ele sofria e por isso preferia morrer", todos terao certeza que ela e louca. E apenas isso que eu estou falando.
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- Aranha
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Re: Eutanásia
- Já vi vários episódios de House onde a equipe pede a pacientes ou familiares (quando o doente está inconsciente ou incapacitado para decidir por si próprio) que autorizem certos procedimentos arriscados.
- Tal é feito porque os tais procedimentos autorizados podem levar à invalidez ou mesmo à morte.
- Porque então o paciente ou a família não poderiam também autorizar o desligamento de aparelhos quando não acreditam mais em recuperação, ou quando julgarem que não vale a pena viver?
Abraços,
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Ben Parker
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Re: Eutanásia
Boa colocacao Aranha;
E subentendida a confianca dos pacientes no desejo dos familiares ou responsaveis de fazer o possivel para salvar-lhes a vida, assim como dos pacientes e familiares nos medicos que propoem e executam esses procedimentos.
A base dessa nocao e a de que o paciente, ainda que nao exprima isso, quer se recuperar, viver e buscar sua felicidade. Esssa e a unica coisa que deve ser subentendida da condicao dele enquanto ser vivo e humano.
E completamente contraditorio portanto admitir a priori que os familiares possam deduzir que mata-lo e o que o deixara mais feliz. A eutanasia pode ate parecer razoavel em certos casos de coma profundo, ou outros tipos extremos de debilidade e sofrimento onde a pessoa nao pode comunicar ou mesmo elaborar um desejo de viver ou morrer, mas isso e simplesmente enganador, pois nos estamos generalizando um sentimento que e nosso. Voce pode preferir morrer a ficar entrevado numa maca. Outra pessoa pode preferir morrer a ser abandonado pela namorada. Isso nao da o direito a ninguem de te matar se voce ficar sofrer em profunda depressao depois de levar um pe na bunda.
O precedente moral que esta se abrindo e o de parentes tomarem decisoes fatais que convenientemente eliminam suas responsabilidades individuais para com aquele individuo. Isso nao pode ser admitido sem que abandonemos todos os valores milenares sobre familia que adquirimos.
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Re: Eutanásia
SickBoy escreveu:Eu sou contra [...]porque[...] precedentes que se abrem
hummm.
É.
Não há problema algum com determinados precedentes. Ou continuaríamos na idade das trevas.
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Re: Eutanásia
Suyndara escreveu:Se alguém me deixar vegetando, eu viverei apenas para odiar meus parentes até o último suspiro
Se a pessoa não vive mais, não tem mais capacidade para se manter viva sozinha, não vejo sentido no egoísmo dos parentes em ficar mantendo a pessoa presa a um corpo inerte apenas por encargo de consciência, se fingir de bonzinho enquanto o outro sofre.
Não dá para pensar apenas no lado ético: "ah, se desligarmos o aparelho, a pessoa vai morrer e isso é assassinato, etc." é preciso pensar também no que significa estar preso ao corpo, sem a menor chance de viver
Aquela menina estava em coma irreversível, ela nunca mais voltaria a viver. Por que mantê-la presa durante 50 anos? Por sadismo?
[]s
Idem.
Fingir-se de bonzinho é coisa do demo.