Teoria de que Moisés tomou chá do Daime cria polêmica
Enviado: 16 Fev 2009, 23:24
Teoria de que Moisés tomou chá do Daime cria polêmica em Israel
Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil
Moisés é considerado o principal profeta da religião judaica
O especialista em psicologia cognitiva Benny Shanon, da
Universidade Hebraica de Jerusalém, afirma que Moisés, considerado o
principal profeta da religião judaica, pode ter ingerido a substância
ayhuasca, conhecida no Brasil como chá do Daime.
A afirmação foi publicada nesta semana em um artigo na revista
de filosofia Time and Mind e causou polêmica em Israel.
A idéia de que Moisés poderia estar sob a influência de "drogas"
provocou a indignação de líderes religiosos em Israel e, segundo os
críticos, a teoria de Shanon "é uma ofensa ao maior profeta do povo
judeu".
O rabino Yuval Sherlo disse à Radio Pública de Israel que "a
teoria é absurda e nem merece uma resposta séria". De acordo com o
rabino, a publicação da teoria de Shanon "põe em dúvida a seriedade
tanto da ciência como da mídia".
Uma das obras de Benny Shanon, o livro Antipodes of the Mind,
que analisa a relação entre a planta ayhuasca e a criação das
religiões, foi publicado em 2003 pela Oxford University Press, uma das
editoras acadêmicas mais renomadas do mundo.
Em entrevista à BBC Brasil, Shanon contou que começou a
pesquisar a relação entre os efeitos da planta e a criação das grandes
religiões, quando ele próprio experimentou o chá do Daime no Brasil.
De acordo com o pesquisador, a criação dos Dez Mandamentos
poderia ser conseqüência de uma experiência com substâncias
psicotrópicas, que alteram o estado cognitivo do indivíduo, e se
encontram em plantas existentes inclusive no deserto do Sinai.
Foi no deserto do Sinai que, segundo a tradição, Moisés teria
recebido as Tábuas da Lei, consideradas a base da civilização
judaico-cristã.
Brasil
"Tudo começou quando estive no Brasil em 1991, a convite da
Unicamp, para dar uma palestra sobre linguagem e pensamento", afirma
Shanon.
"Depois da palestra, viajei pelo Brasil por dois meses e
experimentei pela primeira vez o chá do Daime em Rio Branco, no Acre."
"Também participei de rituais religiosos e espirituais do Santo
Daime, apesar do fato de que não sou adepto de nenhuma religião",
acrescenta o pesquisador.
"Tinha 42 anos naquela época, e a experiência mudou a minha
visão do mundo", afirma. Comecei, então, a pesquisar os efeitos dessa
planta sob o aspecto da minha área, a psicologia cognitiva."
"Muitas pesquisas já foram feitas sobre os efeitos da planta,
mas principalmente na área da antropologia, e não da psicologia", diz
Shanon.
"Os antropólogos geralmente escrevem apenas por meio da
observação, mas sem experimentar, eles próprios, a substância", avalia
o professor titular da Universidade Hebraica. "Acho que é como
escrever um livro sobre música sem ouvir música."
Desde 1991, Shanon diz ter visitado o Brasil dezenas de vezes e
afirma que já ingeriu o chá do Daime mais de 100 vezes.
Experiência
"A substância abriu para mim uma dimensão do sagrado que nunca
tinha vivenciado antes, tive visões muito fortes, inclusive de cantar
junto com milhares de anjos", descreve o pesquisador israelense. "A
experiência foi tão forte que me levou a querer integrá-la no estudo
da fenomenologia da consciência humana."
"Estudei, então, todos os contextos culturais e religiosos
ligados à ingestão da ayhuasca", conta Shanon.
"Cheguei à conclusão de que, nas religiões mais antigas, como a
zoroastra e a hinduísta, também houve rituais ligados à ingestão de
substâncias que levam a alterações cognitivas, nos quais os
participantes 'viram Deus' ou 'viram vozes'."
O professor de psicologia cognitiva cita o fenômeno da
sinestesia, em que se cria uma relação entre planos sensoriais
diferentes e o indivíduo se encontra em um estado neurológico que
possibilita que ele "veja sons".
"Na Bíblia, há frases como 'o povo viu as vozes', que me
chamaram a atenção, pois descrevem exatamente a sinestesia que ocorre
com a ingestão da ayhuasca", afirma Shanon. "Encontrei frases
semelhantes em textos e cânticos de outras religiões."
Críticas
O pesquisador, que já recebeu críticas negativas de religiosos
em Israel, diz que sua tese não constitui um desrespeito à religião,
mas sim "uma tentativa de entender momentos tão importantes para toda
a humanidade".
"Não acredito na visão ontológica, segundo a qual a história de
Moisés e os Dez Mandamentos teria sido um evento cósmico
extraordinário", afirma. "Mas também não acho que um momento tão
importante possa ser considerado como uma simples lenda."
"A minha tese, segundo a qual as substâncias ingeridas por
Moisés teriam gerado uma abertura cognitiva que possibilitou um
contato com o sagrado, pode ser uma explicação razoável e também
respeitosa de como a religião judaica nasceu", diz Shanon.
"Mas não é qualquer pessoa que ao ingerir a substância é capaz
de criar os Dez Mandamentos, é necessário ser um Moisés para isso",
acrescenta. "Ao meu ver, a ayhuasca libera uma criatividade interna,
como a arte."
Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil
Moisés é considerado o principal profeta da religião judaica
O especialista em psicologia cognitiva Benny Shanon, da
Universidade Hebraica de Jerusalém, afirma que Moisés, considerado o
principal profeta da religião judaica, pode ter ingerido a substância
ayhuasca, conhecida no Brasil como chá do Daime.
A afirmação foi publicada nesta semana em um artigo na revista
de filosofia Time and Mind e causou polêmica em Israel.
A idéia de que Moisés poderia estar sob a influência de "drogas"
provocou a indignação de líderes religiosos em Israel e, segundo os
críticos, a teoria de Shanon "é uma ofensa ao maior profeta do povo
judeu".
O rabino Yuval Sherlo disse à Radio Pública de Israel que "a
teoria é absurda e nem merece uma resposta séria". De acordo com o
rabino, a publicação da teoria de Shanon "põe em dúvida a seriedade
tanto da ciência como da mídia".
Uma das obras de Benny Shanon, o livro Antipodes of the Mind,
que analisa a relação entre a planta ayhuasca e a criação das
religiões, foi publicado em 2003 pela Oxford University Press, uma das
editoras acadêmicas mais renomadas do mundo.
Em entrevista à BBC Brasil, Shanon contou que começou a
pesquisar a relação entre os efeitos da planta e a criação das grandes
religiões, quando ele próprio experimentou o chá do Daime no Brasil.
De acordo com o pesquisador, a criação dos Dez Mandamentos
poderia ser conseqüência de uma experiência com substâncias
psicotrópicas, que alteram o estado cognitivo do indivíduo, e se
encontram em plantas existentes inclusive no deserto do Sinai.
Foi no deserto do Sinai que, segundo a tradição, Moisés teria
recebido as Tábuas da Lei, consideradas a base da civilização
judaico-cristã.
Brasil
"Tudo começou quando estive no Brasil em 1991, a convite da
Unicamp, para dar uma palestra sobre linguagem e pensamento", afirma
Shanon.
"Depois da palestra, viajei pelo Brasil por dois meses e
experimentei pela primeira vez o chá do Daime em Rio Branco, no Acre."
"Também participei de rituais religiosos e espirituais do Santo
Daime, apesar do fato de que não sou adepto de nenhuma religião",
acrescenta o pesquisador.
"Tinha 42 anos naquela época, e a experiência mudou a minha
visão do mundo", afirma. Comecei, então, a pesquisar os efeitos dessa
planta sob o aspecto da minha área, a psicologia cognitiva."
"Muitas pesquisas já foram feitas sobre os efeitos da planta,
mas principalmente na área da antropologia, e não da psicologia", diz
Shanon.
"Os antropólogos geralmente escrevem apenas por meio da
observação, mas sem experimentar, eles próprios, a substância", avalia
o professor titular da Universidade Hebraica. "Acho que é como
escrever um livro sobre música sem ouvir música."
Desde 1991, Shanon diz ter visitado o Brasil dezenas de vezes e
afirma que já ingeriu o chá do Daime mais de 100 vezes.
Experiência
"A substância abriu para mim uma dimensão do sagrado que nunca
tinha vivenciado antes, tive visões muito fortes, inclusive de cantar
junto com milhares de anjos", descreve o pesquisador israelense. "A
experiência foi tão forte que me levou a querer integrá-la no estudo
da fenomenologia da consciência humana."
"Estudei, então, todos os contextos culturais e religiosos
ligados à ingestão da ayhuasca", conta Shanon.
"Cheguei à conclusão de que, nas religiões mais antigas, como a
zoroastra e a hinduísta, também houve rituais ligados à ingestão de
substâncias que levam a alterações cognitivas, nos quais os
participantes 'viram Deus' ou 'viram vozes'."
O professor de psicologia cognitiva cita o fenômeno da
sinestesia, em que se cria uma relação entre planos sensoriais
diferentes e o indivíduo se encontra em um estado neurológico que
possibilita que ele "veja sons".
"Na Bíblia, há frases como 'o povo viu as vozes', que me
chamaram a atenção, pois descrevem exatamente a sinestesia que ocorre
com a ingestão da ayhuasca", afirma Shanon. "Encontrei frases
semelhantes em textos e cânticos de outras religiões."
Críticas
O pesquisador, que já recebeu críticas negativas de religiosos
em Israel, diz que sua tese não constitui um desrespeito à religião,
mas sim "uma tentativa de entender momentos tão importantes para toda
a humanidade".
"Não acredito na visão ontológica, segundo a qual a história de
Moisés e os Dez Mandamentos teria sido um evento cósmico
extraordinário", afirma. "Mas também não acho que um momento tão
importante possa ser considerado como uma simples lenda."
"A minha tese, segundo a qual as substâncias ingeridas por
Moisés teriam gerado uma abertura cognitiva que possibilitou um
contato com o sagrado, pode ser uma explicação razoável e também
respeitosa de como a religião judaica nasceu", diz Shanon.
"Mas não é qualquer pessoa que ao ingerir a substância é capaz
de criar os Dez Mandamentos, é necessário ser um Moisés para isso",
acrescenta. "Ao meu ver, a ayhuasca libera uma criatividade interna,
como a arte."