Ihram
Enviado: 17 Fev 2009, 17:18
Ihram
Publicado originalmente em (__/__/__/)
por Acauan
O Hajj, a peregrinação que todo muçulmano deve fazer à Meca pelo menos uma vez na vida, é um dos pilares do Islã.
Para um observador cético ocidental é fácil confundir o Hajj com os rituais de sacrifício cristãos, cujos objetivos são mortificar a carne, enaltecer o espírito e penitenciar os pecados.
O Hajj de fato é um sacrifício, uma exaustiva sequência de compromissos ritualísticos meticulosamente definidos pelas rígidas e complexas leis islâmicas, os quais o peregrino terá que cumprir enfrentando a inclemência do clima, as multidões que dividem espaços de trânsito exíguos, a abdicação a confortos básicos, como se lavar com sabonete perfumado, proibido no período.
Aliás quem diz que entende de Islã deveria citar de memória o que é proibido (ilícito), obrigatório, recomendável e desaconselhável durante o Hajj. Eu não conseguiria fazer nem a primeira etapa, o Tawaf, as voltas em torno da Caaba, sem um personal-Hajj-training me dizendo o que e como eu teria de proceder. Existem regras, aos montes, para tudo e as regras têm sub-regras e exceções.
Mas como eu estava dizendo, o Hajj não pode ser confundido com o sacrifício cristão por mais que as condições mortifiquem o peregrino (houve casos de mortes de pessoas, espremidas pela multidão que tentava se aproximar da Caaba).
Uma das particularidades do Hajj que talvez torne a peregrinação e seus rituais inalcançáveis para o observador não muçulmano é o chamado estado Ihram, uma combinação de disposições mentais, comportamentais e físicas às quais o peregrino deve se submeter durante o cumprimento das etapas do Hajj.
Estudiosos não muçulmanos por vezes definem o Ihram apenas como um estado de extrema paciência, no qual o peregrino se dispõem a aceitar todas as tribulações da peregrinação, mantendo-se sereno e gentil com os demais.
Acho tais explicações simplistas, não que eu tenha uma melhor, também não entendi muito bem a coisa toda e as fontes muçulmanas sobre o assunto são dirigidas a muçulmanos, pessoas capazes de associar os rituais a um determinado estado mental ou emocional, coisa que o leitor alienígena obviamente não pode fazer.
Mas é claro para mim que sem o estado de Ihram o Hajj perde todo o seu significado.
Se não estou viajando nas idéias, o Ihram (que também é o nome da vestimenta despojada que os peregrinos usam) define as exigências interiores, mentais, emocionais e comportamentais do Hajj, tanto quanto os roteiros definem as exigências exteriores.
Para o muçulmano o Iham seria a peregrinação da alma, tanto quanto o cumprimento das obrigações físicas do Hajj, que incluem longas caminhadas e jogar pedras em Jamrah, o diabo, devidamente representado por colunas de pedras, representa a peregrinação do corpo.
O que é visível ao observador ocidental e laico é o poder uniformizador do Ihram.
As centenas de milhares de peregrinos que circundam a Caaba, fazem a parada de Arafah, caminham até a colina As-Safaa e jogam pedras em Jamrah, se despem de suas diferenças de origem quando colocam a vestimenta Ihram e assumem o estado Ihram. Comerciantes ricos e beduínos pobres, sheiks cultos e tuaregues analfabetos, sudaneses e indonésios se tornam fisicamente semelhantes pela roupa e semelhantes no comportamento pelo estado de espírito.
Os do contra podem dizer que tudo isto é lavagem cerebral. Não acho, todas as regras do Hajj e do Ihram pregam uma extrema interiorização, enquanto lavagens cerebrais destroem o interior para substituí-lo por alguma outra coisa.
É claro que, no resumo, acho tudo muito esquisito e não me imagino fazendo nada daquilo nunca. Mas Ihram proporciona a aceitação de uma mistura única de rituais físicos forçados, quase torturantes, com significados sutis, que talvez sejam desconhecidos mesmo por muito de seus praticantes.
De toda a forma, uma interessante lição para quem enxerga no Islã apenas os versos do Corão que ensinam como o muçulmano deve se portar em combate.
Publicado originalmente em (__/__/__/)
por Acauan
O Hajj, a peregrinação que todo muçulmano deve fazer à Meca pelo menos uma vez na vida, é um dos pilares do Islã.
Para um observador cético ocidental é fácil confundir o Hajj com os rituais de sacrifício cristãos, cujos objetivos são mortificar a carne, enaltecer o espírito e penitenciar os pecados.
O Hajj de fato é um sacrifício, uma exaustiva sequência de compromissos ritualísticos meticulosamente definidos pelas rígidas e complexas leis islâmicas, os quais o peregrino terá que cumprir enfrentando a inclemência do clima, as multidões que dividem espaços de trânsito exíguos, a abdicação a confortos básicos, como se lavar com sabonete perfumado, proibido no período.
Aliás quem diz que entende de Islã deveria citar de memória o que é proibido (ilícito), obrigatório, recomendável e desaconselhável durante o Hajj. Eu não conseguiria fazer nem a primeira etapa, o Tawaf, as voltas em torno da Caaba, sem um personal-Hajj-training me dizendo o que e como eu teria de proceder. Existem regras, aos montes, para tudo e as regras têm sub-regras e exceções.
Mas como eu estava dizendo, o Hajj não pode ser confundido com o sacrifício cristão por mais que as condições mortifiquem o peregrino (houve casos de mortes de pessoas, espremidas pela multidão que tentava se aproximar da Caaba).
Uma das particularidades do Hajj que talvez torne a peregrinação e seus rituais inalcançáveis para o observador não muçulmano é o chamado estado Ihram, uma combinação de disposições mentais, comportamentais e físicas às quais o peregrino deve se submeter durante o cumprimento das etapas do Hajj.
Estudiosos não muçulmanos por vezes definem o Ihram apenas como um estado de extrema paciência, no qual o peregrino se dispõem a aceitar todas as tribulações da peregrinação, mantendo-se sereno e gentil com os demais.
Acho tais explicações simplistas, não que eu tenha uma melhor, também não entendi muito bem a coisa toda e as fontes muçulmanas sobre o assunto são dirigidas a muçulmanos, pessoas capazes de associar os rituais a um determinado estado mental ou emocional, coisa que o leitor alienígena obviamente não pode fazer.
Mas é claro para mim que sem o estado de Ihram o Hajj perde todo o seu significado.
Se não estou viajando nas idéias, o Ihram (que também é o nome da vestimenta despojada que os peregrinos usam) define as exigências interiores, mentais, emocionais e comportamentais do Hajj, tanto quanto os roteiros definem as exigências exteriores.
Para o muçulmano o Iham seria a peregrinação da alma, tanto quanto o cumprimento das obrigações físicas do Hajj, que incluem longas caminhadas e jogar pedras em Jamrah, o diabo, devidamente representado por colunas de pedras, representa a peregrinação do corpo.
O que é visível ao observador ocidental e laico é o poder uniformizador do Ihram.
As centenas de milhares de peregrinos que circundam a Caaba, fazem a parada de Arafah, caminham até a colina As-Safaa e jogam pedras em Jamrah, se despem de suas diferenças de origem quando colocam a vestimenta Ihram e assumem o estado Ihram. Comerciantes ricos e beduínos pobres, sheiks cultos e tuaregues analfabetos, sudaneses e indonésios se tornam fisicamente semelhantes pela roupa e semelhantes no comportamento pelo estado de espírito.
Os do contra podem dizer que tudo isto é lavagem cerebral. Não acho, todas as regras do Hajj e do Ihram pregam uma extrema interiorização, enquanto lavagens cerebrais destroem o interior para substituí-lo por alguma outra coisa.
É claro que, no resumo, acho tudo muito esquisito e não me imagino fazendo nada daquilo nunca. Mas Ihram proporciona a aceitação de uma mistura única de rituais físicos forçados, quase torturantes, com significados sutis, que talvez sejam desconhecidos mesmo por muito de seus praticantes.
De toda a forma, uma interessante lição para quem enxerga no Islã apenas os versos do Corão que ensinam como o muçulmano deve se portar em combate.