Diário de um Maometano-Bomba

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O ENCOSTO
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Diário de um Maometano-Bomba

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Diário de um homem-bomba

http://br.news.yahoo.com/060124/11/119mp.html

Pois os olhos verdes do palestino galã Kais Nashef servem com maestria à causa do mecânico Said – um moço que perdeu a esperança e, quem sabe, a vida, mas não a ternura. Mesmo durão e desiludido com o sistema de opressão que Israel impõe às comunidades palestinas, ele acredita na resistência leva a vida.

Said nasceu num campo de refugiados e seu pai era informante do Mossad (o serviço secreto israelense). Um trabalho considerado sujo em contraste com o dos louvados mártires, mas que também termina em morte – matada, diga-se, e não morrida com orgulho dos homens-bomba.

Última noite

Acontece que Said também sempre andou metido com guerrilheiros e terroristas desde a adolescência, com o amigo Khaled (Ali Suliman, também em sensacional performance). Agora chegou a hora de ambos darem a vida pela libertação da Palestina. Está decidido: eles vão se explodir no dia seguinte. Estão conscientes que foram escolhidos por Deus para a tarefa. E assim começa sua preparação.

Banalização

É justamente aí que o filme revela todo o seu mérito de desvendar o universo que materializa a ideologia de grupos como o Hamas, que mesclam religião e política na luta contra Israel e outros "infiéis". A banalização da violência é total. Numa Palestina contemporânea, dois rapazes normais aceitam de bom grado detonar alguns soldados do inimigo, da mesma maneira que se submetem impávidos ao ritual antes da operação explosiva.

Primeiro, a gravação do tradicional vídeo com pouco criativa e emocional mensagem aos que ficam, sempre uma com uma HK em riste (que depois podem ser comprados ou alugados em lojas de Nablus a Jenin) – parte mais patética da preparação. Depois, a aprovação prévia dos cartazes com a foto dos mártires (cada homem-bomba é tido como um) que serão colados pela comunidade (marketing para novos alistamentos). Daí, vêm o banho caprichado, o barbeamento, a colocação dos explosivos no corpo, o terno e a gravata que vestem com misto de elegância e uniforme capitalista os mártires ("Vocês vão a um casamento?", os mais ingênuos perguntam), as instruções do chefão-lenda da Intifada, a farta refeição servida antes da condução para a morte.

Deus nos acuda

Tudo é feito dentro de um esquema industrial – Said e Khaled não são os primeiros nem os últimos homens-bomba. O operação mela quando algo dá errado num checkpoint e os homens-bomba se separam e se desencontram, impedindo a ação.

A partir daí é um Deus nos acuda, abrindo espaços para questionamentos – estes são capitaneados pela palestina Suha, filha de mártir, que estudou na Europa, defende outros meios de luta que não a violência e, pior, está afinzona de Said.

A moça logo saca as más intenções do sexy e determinado mecânico: ele vai se explodir. Só não se sabe mais onde e quando. O porquê é o que o filme lança no ar.

BOX 1 - Uma filmagem insana

(BR Press) - Reproduzimos a seguir uma conversa entre Ewen MacAskill, editor diplomático do jornal inglês The Guardian que fez a cobertura do conflito Israelo-palestino, e o diretor Hany Abu-Assad.

*

Foi um problema filmar em Nablus?

Hany Abu-Assad - Realizar uma filmagem ali foi uma idéia insana. Diariamente tínhamos algum tipo de problema. Tanto os israelenses como os palestinos estavam acostumados a conviver com pequenas equipes de reportagem, mas não podíamos realizar um filme com uma equipe reduzida. Havia 70 pessoas e 30 caminhões, não dava para passarmos despercebidos! Alguns atiradores palestinos acreditavam, por alguma razão, que estávamos fazendo um filme contra os palestinos. No entanto, outros grupos e facções apoiaram o filme por acreditarem que estávamos lutando pela liberdade e a democracia. Um grupo, porém, achou que o filme não estava mostrando os homens-bomba suicidas sob um bom ângulo, então se aproximaram portando armas e nos disseram para parar. Continuamos filmando porque os outros combatentes estavam do nosso lado.

A equipe chegou a se ver em meio ao fogo cruzado?

Hany Abu-Assad - Não houve um único dia em que não tivéssemos de interromper as filmagens. Parávamos e esperávamos até que os tiros cessassem, e então continuávamos o trabalho.

É verdade que seis técnicos alemães deixaram o set de filmagens?

Hany Abu-Assad - (Risos) Eu não os culpo, fizeram a coisa certa. A vida é mais importante que um filme. Partiram depois de 20 dias, quando houve o ataque de um míssil israelense que atingiu um carro que se encontrava nas proximidades. Atiradores também nos mandaram partir. Mas eles foram embora sobretudo porque estávamos muito próximos à destruição e a situação estava piorando. O maior perigo era representado pelos mísseis. Quando ouvíamos disparos, podíamos sair para outro lugar, mas não dá para ver os mísseis se aproximando; é bem mais assustador.

Apesar de ter continuado a trabalhar em tais condições, a equipe acabou tendo de deixar Nablus e seguir para Nazaré?

Hany Abu-Assad - Houve uma grande explosão e três homens morreram numa área em que tínhamos filmado na noite anterior. Achamos que não tínhamos outra opção senão partir. Foi um transtorno porque queríamos continuar a filmar em Nablus em função da continuidade. Mas no final, esteticamente, deu tudo certo.

De onde surgiu a idéia do filme?

Hany Abu-Assad - Todos os dias tomamos conhecimento de ataques suicidas pelos jornais. É um ato tão radical que comecei a questionar, como todo mundo, como alguém pode fazer isso – o que levaria alguém a fazê-lo. Eu me dei conta de que nunca ouvimos a história dessas pessoas, o lado delas. Como justificam tal ato, não só para as famílias como para elas mesmas? Podemos julgá-las, mas têm uma história e uma base lógica.

Você optou por filmar em 35 mm, embora fosse mais fácil e rápido usar equipamento digital. Por quê?

Hany Abu-Assad - Foi uma forma de diferenciar o filme das imagens jornalísticas que vemos na televisão diariamente. O filme não apenas retrata a realidade, também usa a realidade para pintar um quadro.

Ainda assim o filme parece realista.

Hany Abu-Assad - Bem, ele é naturalista, mas continua sendo um filme, uma história de ficção. Por um lado é ficção e ao mesmo tempo queremos que soe real. Pensei nele como um thriller. É um thriller político e também um filme psicológico, um faroeste e filme de gângster, tudo isso num só. Por estar sob ocupação, a Cisjordânia se assemelha ao Velho Oeste. Foi essa sem dúvida a sensação que tivemos ao filmar!

Como pesquisou o tema dos homens-bomba?

Hany Abu-Assad - Estudei a transcrição de interrogatórios de homens-bomba que falharam. Também li relatórios oficiais israelenses. Conversei com pessoas que conheceram pessoalmente esses suicidas: seus amigos e familiares, suas mães. Ficou claro que não há estereótipos, nenhuma história é igual à outra.

Acredita que haverá protestos contra o filme por parte de grupos de israelenses e judeus pelo fato de o filme ser imparcial em relação aos homens-bomba?

Hany Abu-Assad - Sinceramente, espero que não haja esse tipo de confusão. O filme pretende apenas estimular o debate e torço para que provoque uma discussão produtiva acerca das verdadeiras questões em jogo. Todos parecem estar preocupados com o que as pessoas irão pensar, mas esperamos que o filme seja bem-sucedido nesse aspecto, ou seja, que estimule a reflexão! Ao se assistir ao filme, acho que fica óbvio que ele não desculpa o ato de se tirar vidas. Pela minha experiência, boa parte dos comentários e protestos se origina da idéia contida no filme e não do filme em si. Geralmente a reação ao tema é bastante previsível. Posso somente torcer para assistam ao filme antes de tecer comentários, é tudo o que peço. O interessante é que, ao longo das filmagens, todos os dias nos preocupávamos com o que os palestinos pensavam. Embora eu tenha dado um rosto aos homens-bomba, também os critico e nem por isso me perguntam que reação acho que eles terão. A questão é: o que a ocupação faz aos seres humanos? Qual é a realidade? Não importa o que se pense dessas pessoas e de suas ações, trata-se de seres humanos.

Você sugere que existe uma equivalência moral entre os ataques israelenses em Gaza e na Cisjordânia e os homens-bomba?

Hany Abu-Assad - É impossível retratar o peso e a complexidade da tragédia palestina na sua totalidade em um filme. Nenhum lado pode alegar uma posição moral porque tirar uma vida não é uma ação moral. A situação se encontra fora do que podemos chamar de moralidade. Acho que é seguro afirmar que a ocupação é responsável pelos ataques suicidas. Alguns israelenses dizem que os palestinos devem primeiro parar a violência para que se inicie o processo de paz. Mas trata-se de um argumento cíclico. Ninguém merece sofrer uma ocupação.

Como você se descreveria: um árabe-israelense (descrição preferida dos israelenses para os palestinos que vivem em Israel) ou um palestino?

Hany Abu-Assad - Não sou um árabe-israelense, esse termo é incorreto. Sou palestino. Tenho passaporte israelense, mas isso não faz de mim um israelense. Enquanto Israel permanecer um estado judaico, não posso ser israelense, pois não sou judeu. Não tenho nada contra a presença de judeus na Palestina; sua cultura é do Oriente Médio, porém não posso concordar com um estado que faz de um povo estrangeiros em sua própria terra.

Há participação israelense no filme?

Hany Abu-Assad - Um co-produtor é israelense, Amir Harel.

Por que fez esse filme?

Hany Abu-Assad - Para abrir o debate e para tornar visíveis as histórias daqueles que são invisíveis.

BOX 2 - Palestina: uma breve história

(BR Press) - A Palestina tem sido assolada por mudanças e ocupação no decorrer de sua história, tendo estado sob o controle de egípcios, assírios, persas e romanos em diversas épocas, antes de ser conquistada pelos árabes em 643 AD. Permaneceu um país árabe muçulmano até o século 20 (afora um breve período durante as Cruzadas no século 12), fazendo parte do Império Otomano de 1516 a 1917.

Após a I Guerra Mundial, o território ficou sob mandato da Grã-Bretanha e foi oficialmente denominado Palestina. Seguindo os termos da Declaração de Balfour, o território foi declarado lar nacional dos judeus e o estado de Israel foi criado em 1948. Em conseqüência, milhões de palestinos foram forçados a se estabelecer como refugiados na Faixa de Gaza, na costa oeste, na Cisjordânia e outros países.

Guerilha

A Palestina deixou de existir como entidade política. Isto ficou conhecido como "A Catástrofe", a "Naqba". O deslocamento dos palestinos inevitavelmente causou imenso descontentamento e, em 1964, foi criada a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), iniciando-se uma ação de guerrilha contra Israel a partir de sua base na Jordânia.

Após a guerra de 1967, tanto a Faixa de Gaza quanto o Cisjordânia ficaram sob a ocupação de Israel. Após mudar-se para o Líbano, a OLP acabou sendo reconhecida como representante oficial do povo palestino em 1974.

No final da década de 1980, a tensão na região se intensificou seguindo-se à eleição de um governo de extrema direita em Israel, provocando a primeira Intifada (levante palestino contra o estado de Israel) na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O Conselho Nacional Palestino, sediado na Tunísia, aceitou a divisão em dois estados, renunciou à violência e buscou a negociação de um acordo para a retirada de Israel dos territórios ocupados.

Em 1993, o Acordo de Oslo, que apresentou o princípio de "ceder terras em troca da paz", viu Israel abrir mão de certos poderes e responsabilidades em favor das autoridades palestinas, como parte do autogoverno interino na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Os palestinos, então, controlavam a segurança de algumas grandes cidades. Certas questões ainda estavam sendo negociadas, como o estabelecimento de um estado palestino e suas fronteiras, o status de Jerusalém, o assentamento dos judeus nos territórios ocupados e o destino de 3,5 milhões de refugiados palestinos das guerras de 1948 e 1967.

A Autoridade Palestina ratificou um plano para declarar a independência em setembro de 2000, porém a data transcorreu sem a declaração. Nesse mesmo mês, uma segunda Intifada eclodiu seguindo-se à controvertida viagem do primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon aos locais sagrados dos muçulmanos em Al-Quds (Jerusalém) – ato considerado uma provocação por palestinos.

Embora a OLP tenha renunciado à violência, outras facções, como o Hamas, continuam a campanha de retaliação a Israel. Suas ações incluem, principalmente, o suicídio de homens-bomba em alvos israelenses – já que não há condições materiais de lutar com igualdade perante o poderio bélico israelense, fruto do apoio norte-americano.
O ENCOSTO


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Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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Azathoth
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Registrado em: 30 Out 2005, 12:08

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