Chimpanzés são capazes de planejar para o futuro
Enviado: 12 Mar 2009, 07:38
"O Globo" 11/03/09
Chimpanzé faz planos também
Santino mora na Suécia. No começo do dia, ele cata pedras ao seu redor, calmamente, até formar um pequeno monte. Quando o zoológico de Furuvik é aberto ao público, Santino se aproxima do monte de pedras que preparou e começa a arremessá-las nas pessoas, conforme planejado.
Santino é um chimpanzé. De acordo com especialistas da Universidade de Lunk, que observaram o seu comportamento, ele prova que esses animais são capazes de premeditar os seus atos, como fazem os seres humanos.
Os pesquisadores acreditam ter provas de que os chimpanzés planejam o que vão fazer, antecipando os acontecimentos, numa visão apurada do futuro. É o que explica Matthias Osvatch, autor do trabalho, que foi publicado na revista “Current Biology”.
— Essas observações mostram, de maneira bem convincente, que os nossos primos, os macacos, antecipam o que vai ocorrer de maneira complexa — diz o pesquisador. — Isto permite acreditar que eles têm um grau de consciência muito elevado, incluindo a ca-pacidade de simular possíveis acontecimentos futuros.
Coleta de pedras antes de futuro ataque Para Osvath, é bastante possível que os animais também sejam capazes de relembrar episódios já vividos e que pensem no futuro.
— Os chimpanzés que vivem na natureza juntam pedras antecipando um ataque e planejam, provavelmente, o que vem pela frente.
Acredito que eles devem antecipar a maior parte do seu comportamento cotidiano — conta Osvath, ressaltando que mostrar que animais têm a capacidade de antecipar estados mentais futuros sempre foi tarefa difícil de comprovar A pesquisa teve início depois que, em meados dos anos 1990, funcionários do zoológico de Furuvik , na Suécia, descobriram que o chimpanzé coletava e guardava pedras que seriam, posteriormente, arremessadas contra o público. Ele guardava as pedras enquanto estava calmo, antes da abertura do zoológico.
Os arremessos aconteciam horas depois, durante demonstrações de dominância, quando o primata já se encontrava em um estado bem mais agitado.
— Estou convencido de que os chimpanzés planejam para necessidades futuras — assegura o pesquisador.
Santino desenvolveu uma técnica para detectar pedaços mais vulneráveis do concreto de sua jaula, que poderiam ser mais facilmente retirados.
Quando a água entra por dentro de frestas no concreto e se congela, o pedaço infiltrado se torna mais frágil e produz um som diferente ao toque. Santino foi observado dando tapas no concreto para descobrir os pontos mais fracos, destacando pequenos pedaços e os armazenando em estoques para munição. Isso reforçou, junto aos pesquisadores, a ideia de que ele possui um comportamento cognitivo, ou racional — Não me surpreenderia se descobríssemos esse tipo de comportamento em golfinhos e outras espécies também — afirma o cientista sueco.