Nassif: A diferença entre o Brasil e os Estados Unidos
O caso Madoff e o caso Dantas
Coluna Econômica - 13/03/2009
por Luis Nassif, em seu blog
Bernard Maddof deu um golpe de US$ 65 bilhões no mundo. Menos de um ano depois de descoberto está preso. Ontem houve uma audiência e ele saiu de lá algemado até uma cela pequena. O juiz distrital Denny Chin Madoff considerou que Madoff poderia fugir, já que é prevista uma pena de 150 anos para ele. Madoff foi ao Tribunal com um colete à prova de bala, tal a fúria do público que cercou o local - parte deles, vítima de seus golpes.
Apesar de declaração de arrependimento, não divulgou o nome de familiares que participaram do golpe, nem de investidores que tinham recursos de origem duvidosa aplicados com ele.
Maddof estava livre após pagar fiança de US$ 10 milhões. O juiz revogou a fiança.
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É longa a relação de crimes admitidos por Maddof: fraudes com títulos, lavagem de dinheiro, falso testemunho, traição a quase 5 mil clientes, perdas de US$ 65 bilhões.
O esquema começou a ser praticado na década de 80. Consistia em pagar dividendos aos clientes mais antigos com os recursos depositados pelos novos clientes - o chamado “esquema Ponzi”, a popular corrente da felicidade que quebra quando o fundo deixa de crescer.
Para manter a bicicleta rodando, Madoff fez de tudo, fraudou contas, extratos, rodada o dinheiro entre bancos de Nova York e Londres, para passar a impressão de prosperidade.
Para girar uma roda de US$ 65 bilhões em depósitos, Maddof possuía apenas US $ 1 bilhão em ativos.
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Enquanto tais fatos ocorriam nos Estados Unidos, no Brasil, um banqueiro preso depois de um flagrante de tentativa de suborno, foi libertado duas vezes pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). O uso de algemas na sua prisão indignou Gilmar Mendes; a gravação do suborno, não.
Ao mesmo tempo, políticos, grandes jornais, redes de televisão entraram em uma corrente de criminalização dos funcionários da lei que desvendaram a trama do banco Opportunity. E pouco falam dos crimes de Daniel Dantas.
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No fundo esta é a grande diferença entre os Estados Unidos e o Brasil. Economistas liberais, jornalistas conservadores, cansaram os ouvidos da população com as reclamações contra a falta de segurança jurídica no país. Que o capital, para entrar e ajudar o país a se desenvolver, deveria ter regras rígidas nas quais confiar.
Uma dessas regras fundamentais - em qualquer economia capitalista moderna - é a capacidade das autoridades de levantar crimes e prender criminosos.
Quando se chega nesse universo dos colarinhos-brancos, cessa o discurso neoliberal. O exemplo que vem do norte não mais é invocado. Prisão de banqueiros desonestos, levantamento de esquemas de lavagem de dinheiro, condenação rápida dos infratores e esse conjunto de medidas rápidas, permite o renascimento permanente da economia norte-americana, após cada grande crise.
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Enquanto isto, o Brasil patina na impunidade, na complacência, nas armações - como a que junta a revista Veja com a CPI dos Grampos.
No fundo, esse é o grande desafio para o Brasil aspirar a ser uma nação grande e justa: romper com esse pacto de banditismo que parece ter se consolidado nos quatro poderes do país.
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Eu, Azenha, acrescento: testemunhei, nos Estados Unidos, o papel "educativo" desempenhado pelo FBI e pelo IRS, o Internal Revenue Service, o Leão americano. Vi de perto no caso de Leona Helmsley, dona de uma cadeia de hotéis que foi em cana por fraude fiscal. Isso lá atrás, nos anos 80. Não houve escândalo midiático, nem editoriais falando em "estado policial", nem CPI no Congresso dos Estados Unidos. Ela foi em cana, cumpriu a sentença e saiu. Assim como, depois, foram condenados e cumpriram pena políticos, policiais, empresários, financistas e muitos outros. Nos anos 80, no grande julgamento da máfia de Nova York, as autoridades acusaram o advogado de John Gotti, o chefão, de associação com o crime. Bruce Cutler foi afastado do caso pela Justiça, que concordou com a promotoria. Gotti foi condenado e morreu na cadeia. Desde então a Justiça americana estabeleceu com bastante clareza a distinção entre a defesa de um cliente e a associação com o crime. Um advogado promover o assassinato de caráter de um juiz ou de um policial federal usando a mídia, nos Estados Unidos, é crime punível com cadeia e a perda do direito de advogar
Infelizmente não no Brasil II.
- carlo
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Re: Infelizmente não no Brasil II.
Nassif escreveu:Quando se chega nesse universo dos colarinhos-brancos, cessa o discurso neoliberal. O exemplo que vem do norte não mais é invocado. Prisão de banqueiros desonestos, levantamento de esquemas de lavagem de dinheiro, condenação rápida dos infratores e esse conjunto de medidas rápidas, permite o renascimento permanente da economia norte-americana, após cada grande crise.
Mais uma bela perola de Luis Nassif. Esse cara deveria fazer uma dupla sertaneja com Paulo Henrique Amorim.
Eu gostaria de saber de onde o autor tirou que os "neoliberais" nao condenam fraudes financeiras.
So que o que o jornalista tapado nao comenta, e que o maior "esquema Ponzi" dessa estoria nao foi o do Maddoff, mas foi o elaborado pelo FED e pelos politicos americanos que continuaram subsidiando credito para o mercado imobiliario mesmo quando ja estava claro que havia ali uma bolha.
Mas nem o Greenspan nem o Bernake nem todos aqueles congressistas que em de 2003 a 2006 mantiveram-se favoraveis a esse enorme esquema vao ser algemados. Ao contrario, eles sao chamados para "resolver" a crise com o mesmo veneno que a causou.
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- carlo
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Re: Infelizmente não no Brasil II.
Nassif escreveu:
Quando se chega nesse universo dos colarinhos-brancos, cessa o discurso neoliberal. O exemplo que vem do norte não mais é invocado. Prisão de banqueiros desonestos, levantamento de esquemas de lavagem de dinheiro, condenação rápida dos infratores e esse conjunto de medidas rápidas, permite o renascimento permanente da economia norte-americana, após cada grande crise.
Cabeção, posso até concordar do que vc pensa do nassif, mas, por outro, acho que vc não entendeu o que ele quiz dizer com "cessa o discurso neoliberal". Eu entendi que os que pregam o neoliberalismo aqui não o copiam como no norte quando o assunto é punição. Veja bem: O neoliberalismo não compactua com crime financeiro e com criminosos, isto criaria a perda de credibilidade no sistema, acho que ele quiz dizer é que o exemplo que vem do norte, PUNIÇÃO, não é copiado aqui pelos que pregam o neoliberalismo.
Quando se chega nesse universo dos colarinhos-brancos, cessa o discurso neoliberal. O exemplo que vem do norte não mais é invocado. Prisão de banqueiros desonestos, levantamento de esquemas de lavagem de dinheiro, condenação rápida dos infratores e esse conjunto de medidas rápidas, permite o renascimento permanente da economia norte-americana, após cada grande crise.
Cabeção, posso até concordar do que vc pensa do nassif, mas, por outro, acho que vc não entendeu o que ele quiz dizer com "cessa o discurso neoliberal". Eu entendi que os que pregam o neoliberalismo aqui não o copiam como no norte quando o assunto é punição. Veja bem: O neoliberalismo não compactua com crime financeiro e com criminosos, isto criaria a perda de credibilidade no sistema, acho que ele quiz dizer é que o exemplo que vem do norte, PUNIÇÃO, não é copiado aqui pelos que pregam o neoliberalismo.

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