Página 1 de 1

A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 23 Mar 2009, 10:53
por carlo
1) Escola Base. Na noite de 4.3.94, o Jornal Nacional, da Rede Globo, exibiu uma reportagem em que pais de alunos da Escola Base, situada no bairro da Aclimação, em São Paulo, acusavam diretores e professores de abusar sexualmente das crianças. Em apenas dez dias de investigações, o delegado responsável pelo caso concluiu que os acusados eram culpados por violento atentado ao pudor e formação de quadrilha. O casal proprietário do estabelecimento chegou a ser preso. Outros dois casais envolvidos passaram a ter sérios problemas psicológicos e financeiros. A escola foi fechada e em dezembro de 1999 seus dirigentes ainda tentavam recuperar-se dos prejuízos: entravam com uma ação contra o governo do Estado de São Paulo, já que o principal responsável pelo equívoco foi um delegado de polícia, que se precipitou e, com ele, praticamente toda a imprensa brasileira. Embora tenham sido expostos como hediondos para todo o país e tenham perdido o seu papel social de educadores e também o seu principal meio de vida, as vítimas da imprensa, nesse caso, conseguiram, até o momento, serem ressarcidas em apenas 100 salários mínimos, cada um dos diretores acusados.<<

2) Bar Bodega. Situado em Moema, bairro nobre de São Paulo, essa choperia foi palco, em 10.8.1996, de um assalto seguido do assassinato de um rapaz e uma moça, fato que motivou a criação do movimento Reage São Paulo. Em sua ânsia por apresentar serviços, 15 dias depois a Polícia prendeu sucessivamente vários suspeitos, nove ao todo, posteriormente absolvidos por falta de provas e sob a alegação de que haviam confessado o crime mediante torturas. Nesse caso, como em tantos, a imprensa embarcou na versão errônea da polícia. Convocada, fotografou, filmou e inquiriu os acusados, algemados e exibidos com placas penduradas em seus corpos, indicando números. Não é comum em países desenvolvidos a exibição de suspeitos. Na investigação de um homicídio ocorrido no Central Park, em Nova York, no mesmo ano, a polícia norte-americana deteve cerca de 800 suspeitos, mas nenhum deles foi apresentado à imprensa.<<

3) Ibrahim Abi-Ackel. Ministro da Justiça ao tempo do presidente João Batista Figueiredo (1980-85). Um contrabandista, preso nos Estados Unidos, disse a polícia que traficava pedras preciosas, a serviço do ministro e deputado federal brasileiro, pelo Estado de Minas Gerais. A imprensa explorou as acusações, mas o ministro foi inocentado. A sua imagem ficou, no entanto, associada à corrupção. A sua carreira política foi prejudicada. Perdeu a expressividade que tinha no plano federal, voltando a ser um político da província, marginalizado pelo noticiário.<<

4) Roberto Cardoso Alves. Ex-deputado e ex-ministro, foi acusado de corrupção e caracterizado como fisiologista, sobretudo, a partir da citação que fez, referindo-se a São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”. Processou a revista Veja, mas só obteve um direito de resposta um ano após a sua morte.<<

5) Alceni Guerra. Deputado federal e Ministro da Saúde ao tempo do presidente Fernando Collor de Mello (1990-92). Um amplo noticiário acerca de superfaturamento na compra de bicicletas para agentes de saúde procurou envolver o ministro, associando-o à imagem de corrupto. Foi objeto de reportagens e charges que o ridicularizaram e o levaram a pedir demissão. Um dia, o próprio procurador-geral da República, Aristides Junqueira, telefonou para o ministro para lhe dizer que mandara refazer várias vezes as investigações e nada encontrara que lhe caracterizasse como corrupto. Os próprios filhos do Ministro foram vítimas de humilhações. Alceni voltou ao plano político municipal e jamais conseguiu recuperar dos danos morais causados por um noticiário que, segundo a própria vítima contabilizou, bateu um recorde de ofensas: 104 horas de televisão e 10 mil metros quadrados (um hectare) de matérias na imprensa escrita.<<

6) Jorge Mirândola. Ex-oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores, foi acusado, preso e apresentado à imprensa como o autor de uma carta-bomba que em outubro de 1995 feriu a diplomata Andréia Rigueira David. O noticiário equivocado foi amplo e com chamadas de primeiras páginas. Posteriormente, foi inocentado. O verdadeiro terrorista foi identificado e preso. Mirândola, no entanto, teria apresentado seqüelas do trauma experimentado. Em março de 1996, concedeu uma entrevista dizendo-se portador de previsões feitas por espíritos que o faziam trabalhar para o FBI e auxiliar a polícia francesa, para quem enviava cartas com informações preciosas sobre terroristas. Após a comprovação de que Mirândola nada tinha a ver com o episódio, seus advogados entraram com uma ação reivindicando o pagamento de R$ 1 milhão por danos morais, o que não veio a ocorrer. Já o delegado que conduziu o caso foi promovido a adido da Polícia Federal no Paraguai.<<

7) Professor Leonardo. Provavelmente, nunca se saberá quem foi o responsável pela explosão da bomba no jato da TAM em 9.7.97, vôo 457, que resultou na morte do engenheiro Fernando de Moura, o único morto no incidente. Pode ser que também nunca venha a ser comprovado se o principal suspeito, o professor Leonardo Teodoro de Castro é culpado ou inocente. Durante uma semana, Moura ficou no noticiário como suspeito, para depois ser inocentado. A desconfiança foi então transferida para o professor, objeto de amplo noticiário nesse sentido, chegando a figurar na capa de Veja e em cartazes publicitários da revista, espalhados por bancas de todo o país. O “misterioso” professor ainda sofre as seqüelas de um atropelamento que o deixou sem condições sequer de depor. No seu caso, não funcionou a tradicional figura jurídica da presunção da inocência, mas, ao contrário, a presunção da culpa até que se prove a inocência. Esse, aliás, é um cacoete da imprensa, um comportamento repetitivo. Tanto a imprensa se apressa em acusar, como não tem o mesmo entusiasmo quando de corrigir os seus erros. No Brasil, pelo menos, é raro um órgão de imprensa pedir desculpas aos seu público. “PF não tem provas para indicar suspeito”, era o que noticiava a Folha de S. Paulo, em 22.7.97; “PF não tem provas contra suspeito do vôo da TAM”, informava O Globo; “Falta de sigilo fere os direitos humanos”, comentava O Estado de S. Paulo (23.7.97). Leonardo teve os tímpanos arrebentados pela explosão da bomba; foi atropelado; ficou em estado de coma; e definitivamente com a saúde prejudicada, não podendo, portanto, defender-se.<<

8) Ney Matogrosso. Ganhou ações contra a revista Amiga e Manchete por terem noticiado, falsamente, ser o cantor portador do vírus HIV.<<

9) Caetano Veloso. Ganhou ações contra a revista Amiga e Manchete por terem noticiado, falsamente, ser o cantor portador do vírus HIV. <<

10) Glória Perez. Ganhou ações contra vários veículos por terem noticiado, falsamente, ser a atriz portadora do vírus HIV. <<

11) Paula Burlamarqui. Ganhou ações contra vários veículos terem noticiado, falsamente, ser a atriz portadora do vírus HIV.<<

12) Luciana Silva. Ganhou ações contra vários veículos terem noticiado, falsamente, ser a modelo portadora do vírus HIV. <<

13) Cláudia Raia. Ganhou ações contra vários veículos terem noticiado, falsamente, ser a atriz portadora do vírus HIV. <<

14) Maria Zilda. Ganhou ações contra vários veículos terem noticiado, falsamente, ser a atriz portadora do vírus HIV. <<

15) Maitê Proença. Em 1995, a revista Playboy publicou um ensaio fotográfico contendo como atração principal as fotos da atriz. Nessa ocasião, a atriz apresentava, em Porto Alegre, um espetáculo teatral, gancho para o jornal Zero Hora publicar uma reportagem sobre ela, ilustrada com uma seleção das fotos do ensaio da Playboy. A atriz processou Zero Hora e a Playboy, por entender que ela havia posado para uma revista masculina e não para um jornal. E também porque não havia autorizado as reproduções. Ganhou a ação contra o Zero Hora, mas não conseguiu provar que a Editora Abril tivesse cedido as fotos, informação confirmada por Zero Hora, mas negada pela Playboy. Maitê Proença entendeu que as mesmas fotos num jornal, num momento em que ela trabalhava numa peça em Porto Alegre, prejudicava a sua imagem.<<

16) Milton Nascimento. Ganhou ações contra vários veículos por terem noticiado, falsamente, ser o cantor portador do vírus HIV. Na verdade, passou por uma crise de saúde e emagrecimento decorrentes de uma espécie de diabetes. <<

17) Glória Pires. Vítima de um boato de que o seu marido havia abusado sexualmente da filha do primeiro casamento. Processou os veículos de imprensa que reproduziram a versão.<<

18) Chico Buarque. Processou por racismo o Diário da Manhã, de Goiânia, por ter-se referido, em abril de 1997, ao seu neto, filho do cantor e compositor Carlinhos Brown, então recém-nascido, como “mulatinho de nariz chato e beiços largos”. <<

19) Chico Buarque e Marieta Severo. Processaram por danos morais as revistas Manchete, Amiga e Veja, o jornal O Dia e a TV Manchete, pelo noticiário sobre a separação do casal, após 30 anos de casamento. O problema, segundo o advogado do casal, Antonio Carlos de Sá, foi a forma sensacionalista como a separação foi abordada e a insinuação de que a mesma teria ocorrido por causa de uma cantora.<<

20) Vera Fischer. Poucas pessoas no Brasil terão tido a sua privacidade tão invadida quanto a atriz Vera Fischer, especialmente ao longo de 1995, quando teve a sua vida devassada por todo o tipo de assédio e noticiário que davam conta de todo e qualquer detalhe envolvendo a estrela, seja na sua vida doméstica, seja na sua vida afetiva, seja nas suas dificuldades em se livrar de dependência química.<<

21) Esther Kosovski. Este é um dos casos em que a vítima foi inocentada e ainda ganhou uma ação de ressarcimento de danos morais. Foi acusada, em reportagem do Jornal do Brasil, de envolvimento com o tráfico de drogas. Depois de ter reconhecido o erro, o jornal franqueou espaço para resposta e até publicou um artigo da jurista. Entretanto, colegas seus moveram a ação contra o JB, que resultou no pagamento de R$ 80 mil (500 salários mínimos, (um terço do que foi solicitado), além de 20% por conta de honorários advocatícios. No caso do JB, ficou clara a inconseqüência dos dois repórteres autores da matéria que, confiando em boatos, não tiveram a mínima preocupação quanto a procedência das ‘informações’ recebidas. Preferiram a versão maledicente, não se dando sequer ao trabalho de facilmente constatar a idoneidade da pessoa em questão. Kosovski, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil e, na época da reportagem (15.1.93), dirigente regional do Conselho Federal de Entorpecentes e ainda presidente da Sociedade Brasileira de Vitimologia (por sua vez vinculada à World Society of Victimology) recebeu um único telefonema da reportagem sobre o que ela tinha a declarar acerca das denúncias contra ela. Chegou a pensar que era trote. Tratava-se, na realidade, da ânsia com que repórteres e editores se apressam em sair logo com uma matéria sensacional, antes que algum concorrente o faça. Julgando ter em seu poder um boa história, exclusiva, repórteres temem perdê-la, seja em função do prestígio dos nomes envolvidos, seja em decorrência de desmentidos. Arrisca-se, depois se vê as conseqüências. Nesse caso, os prejuízos não ficaram só com a vítima. Voltaram-se contra o jornal e contra a carreira dos repórteres. O caso Esther Kosovski espelha uma certa natureza intrínseca aos ‘fatos jornalísticos’, que é a propriedade que eles têm de fugir à ordem natural das coisas. A trama era perfeita em termos mediáticos. Uma situação absurda, mas, por isso mesmo, sensacional: uma autoridade do combate ao tráfico de drogas (supostamente) a serviço do mesmo. O resultado dessa imprudência foi a tramitação, por seis anos, até a indenização, período em que a jurista amargou uma imagem manchada, publicamente e perante os seus pares. Encontrava-se compondo a mesa de um congresso especializado, quando a notícia foi publicada. Esse caso demonstra que mesmo uma jurista pode levar seis anos para provar a sua inocência. Imagine-se o desfecho da mesma acusação se se tratasse de uma pessoa comum, sem o mesmo esclarecimento jurídico e sem a mesma capacidade de reação.<<

22) Nilo Batista. O ex-governador do Rio de Janeiro moveu 11 ações por danos morais (quase todas ganhas) pelo envolvimento, não confirmado, do seu nome num escândalo em torno de propinas pagas pelo bicheiro Castor de Andrade. Várias matérias e charges foram publicadas relacionando o governador ao jogo de bicho. A imprensa se baseou numa lista de beneficiados encontrada na “fortaleza” do bicheiro, quando de uma ação da polícia. As indenizações variaram de R$ 3,5 mil (US$ 1,7 mil, aproximadamente) a R$ 60 mil (cerca de US$ 30 mil). <<

23) Anestesista – Cláudia Liz. Em 1996, a modelo e atriz Cláudia Liz internou-se numa clínica para fazer uma lipoaspiração. A cirurgia não se concretizou devido a complicações anestésicas. O atendimento de emergência durou um minuto e 30 segundos. O fato, seguido da transferência da atriz para um grande e renomado hospital, complicou a vida da médica anestesista, a cirurgiã plástica Ana Helena Patrus de Souza, sócia da Clínica Santé, onde Cláudia Liz se internou. Sem checar se realmente se tratava de imperícia, a imprensa passou a assediar a médica, cuja carreira ficou prejudicada. Teve de se desfazer da sociedade e amargou sucessivos fracassos profissionais, morais e financeiros. Perdeu clientes e passou por situações vexaminosas, que atingiram também sua filha. A menina estressou-se tanto, a ponto de fazer xixi na roupa quando chegava à escola, onde era tratada pelos colegas como ‘... a filha da mulher que quase matou a atriz...’. No Conselho Regional de Medicina a conduta adotada pela médica foi considerada adequada. <<

24) Pegadinha - 1. Uma família de São Paulo (um casal e três filhos), ao passear no Parque Ibirapuera, encontrou uma carteira contendo R$ 50 (cerca de US$ 25, correntes) e um papel com o endereço de uma suposta proprietária. Dirigiram-se a um telefone público, quando foram abordados por três rapazes, pertencentes à produção do programa de tevê Domingo Legal, do SBT, que informaram tratar-se de uma “pegadinha”, brincadeira bastante comum em que as pessoas são filmadas sem o saber, em situações ‘engraçadas’. As cenas só foram ao ar um ano depois (16.11.1997), por coincidência, num dia em que era noticiada uma ‘pesquisa semelhante’, em âmbito mundial. Durante a exibição das imagens, o apresentador do programa, Augusto (Gugu) Liberato, fez comentários jocosos e incorretos, um deles, o seguinte: “Eles pegaram a carteira e foram embora...”. Quando foram abordados pela produção do programa, o casal assinou um documento permitindo o uso das imagens. Depois que isso aconteceu, no entanto, os membros da família passaram a ser objeto de piadinhas em qualquer lugar (‘Escondam as carteiras, que o fulano chegou’). As crianças foram ridicularizadas na escola e o casal alega ter tido prejuízos nos negócios. Sílvia Parisi Couri, veterinária, acredita ter perdido clientes em função do vexame a que foi exposta, numa “pesquisa sobre a honestidade dos cidadãos”. O marido, um consultor autônomo, deixou de fechar negócios. Sua sorte é que não era empregado de alguma empresa, pois, correria o risco de demissão. Embora tenha procurado telefonar para a suposta dona da carteira, a família foi mostrada como desonesta para uma audiência de 2 milhões de telespectadores. Neste caso, o SBT e o programa foram processados. <<

25) Pegadinha – 2. O cantor Rafael, ex-Polegar, amargou a constância com que o noticiário do show business explorou as suas dificuldades para se livrar das drogas. Refeito, teve, no entanto, a infelicidade de ser filmado por uma câmara oculta do programa de Sérgio Malandro (meados de 2000), com alguém lhe oferecendo droga, para ver se ele resistia tentação. Não concordou que a pegadinha e com a exibição das imagens, razão pela qual processou o apresentador. <<

26) Palmitos Gini. Em 14.2.1998, a Indústria de Conservas Gini Ltda., de São Paulo, foi surpreendida pela interdição da sua fábrica de palmitos e o recolhimento de todos os estoques. O diretor da empresa, Carlos Gini, só soube da suspeita de contaminação do seu produto pela bactéria Clostridium botulinum 15 minutos antes da imprensa, não tendo, portanto, tempo e condições para apurar o que estava acontecendo. Uma consumidora fez a denúncia ao Centro de Vigilância Sanitária, que constatou a contaminação. Ela foi hospitalizada e a empresa arcou com todos os gastos (R$ 600 mil), além de prover um emprego para a suposta vítima, suposta, pois, em todas as amostras examinadas por institutos especializados não constataram irregularidades. As indústrias Gini, após 30 anos de existência e sem jamais ter sido objeto de qualquer denúncia, amargou prejuízos estimados em R$ 1,6 milhão (aproximadamente, US$ 800 mil), sem contar com os danos à sua imagem e à imagem da marca. Existe a possibilidade de que a contaminação se tenha dado após a abertura do vidro de palmito.<<



27) Lilian Witte Fibe. A jornalista da TV Globo processou a revista Caras (edição Nº , de 7.4.95) a propósito de reportagem sobre a cirurgia de pálpebras que fez durante umas férias. Entrou na Justiça com uma ação de indenização por danos morais e violação do direito à imagem. A causa, para efeitos fiscais, recebeu o valor de R$ 100 mil (US$ 50 mil). Nos autos do processo a notícia foi qualificada de sensacionalista, entre outros motivos, por considerar que “se o público pudesse escolher o apresentador do Jornal Nacional da Globo, Lillian Witte Fibe (41) ficaria na lanterna dos eleitos”, expressão injuriosa, depreciativa, difamatória e antiética, na compreensão da jornalista.<<

28) Crime da Rua Cuba. O casal Jorge e Marília Cecília Bouchabki foi assassinado nesta rua de São Paulo, mas o caso não foi esclarecido. O erro da imprensa, no entanto, foi assumir como fato as suspeitas que recaíram sobre o filho do casal, o jovem Jorge Delmanto Bouchabki, à época com 18 anos, posteriormente inocentado.<<

29) “Assassino do pai”. No início de 1996, o dono da Agroceres e presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Ney Bittencourt, morreu em seu apartamento no bairro Jardins, em São Paulo, com um tiro. Portanto, por suicídio, homicídio ou acidente. A família inclinou-se por acreditar no suicídio, pois o empresário andava deprimido, tomando seis comprimidos por dia de um antidepressivo. A perícia encontrou resíduos de detonação (chumbo, zinco e cobre) numa das mãos do filho do empresário, Frederico Araújo, mas admitiu a possibilidade de que fosse verdadeira a versão de que ele lutou com o pai na tentativa de evitar o disparo, que acabou ocorrendo. Não foi esta, porém, a conclusão da promotoria. Quando foi decretada a prisão temporária de Frederico, ele se encontrava em Pato Branco (PR), na casa do sogro, para onde fora acompanhar o parto da esposa. A sua captura foi coberta pela imprensa e filmada por uma emissora de tevê, ocasião em que Frederico foi qualificado como fugitivo, embora apresentasse uma passagem de volta. A despeito da polêmica, entre a polícia e a Justiça, esse foi mais um caso em que a imprensa concluiu, por conta própria, que uma pessoa era criminosa,.<<

30) Matilde Borges. A polícia de São Paulo acusou Matilde Borges, e sua filha K., de 16 anos, de mandar matar o marido e pai. Quando se descobriu que o empresário Agenor Borges morrera num assalto, a imprensa sequer noticiou a inocência de Matilde e sua filha - à exceção da Folha de S. Paulo, em 13 linhas. <<

31) Dr. Fritz. O médium e curandeiro Rubens Farias Júnior, do Rio de Janeiro, que diz incorporar o espírito do médico alemão Adolph Frederick Yerperssoven, foi acusado pela ex-mulher de ser o responsável pela morte de ‘clientes’ e da ocultação dos cadáveres dos mesmos. Não ficou comprovado. Um dia, o médium atendeu ao apelo de uma emissora de TV para que desse uma entrevista. O médium recebeu a equipe da tevê, em casa, e deu o seu depoimento. Surpreendeu-se, no entanto, quando constatou o resultado de sua boa fé: a entrevista fora editada de forma a incriminá-lo. Já uma revista semanal de São Paulo, não só o acusou, como atribuiu-lhe frases sem nunca lhe ter sequer telefonado. Como as acusações não foram comprovadas, a imprensa silenciou sobre o caso, outra forma de injustiça, bastante comum – o esquecimento. Já uma outra emissora de tevê convidou-o para um programa e deu-lhe espaço, mas, acabou por pedir dele um espetáculo, o de incorporar ao vivo o espírito do Dr. Fritz, para o deleite da platéia. O Dr. Fritz ganhou notoriedade por atender multidões de populares, mas também por tentar curar doenças de personalidades da vida pública, a exemplo do ex-presidente João Figueiredo, de 79 anos, que a ele recorreu na esperança de se livrar de dores crônicas na coluna que já ameaçavam seus movimentos. Após as supostas denúncias contra o médium, sua carreira, se é que se pode falar assim, foi prejudicada. Ele teria se mudado do Brasil. <<

32) “Máfia dos advogados”. Jorge Dino, advogado, residente em Brasília, professor de Direito. Chegou a depor quatro horas na “CPI do Judiciário”, em 1999, tentando provar a sua inocência face a acusação, à época transitando na Justiça, mas não julgada, de que teria, como um dos integrantes da “Máfia dos Advogados”, dilapidado a fortuna de um órfão. Dino acumula um acervo de documentos que totalizam cerca de quatro mil páginas de documentos e também processos contra vários jornalistas, por calúnia. A maioria deles pegou o bonde andando, tomando as acusações como tácitas. O advogado alega que, em aproximadamente onze anos, nunca teve oportunidade de conceder uma entrevista para se defender. Chegou a atender a um telefonema de uma repórter, mas inferiu que ela só queria ouvi-lo para legitimar a “lei dos dois lados”. Segundo esta “vítima” da imprensa, foi alegado à jornalista, que o processo é imenso e complexo, sendo impossível que o assunto fosse esclarecido por telefone. De qualquer maneira, o jurista mencionado não estava interessado em ver declarações suas, ao lado de acusações. Ele preferiu argüir na Justiça os repórteres, e exigir das empresas jornalísticas indenizações por danos morais, inclusive daqueles que pegaram o bonde andando e apenas deram prosseguimento às acusações. Em setembro de 2000, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal considerou Jorge Dino inocente. O fato mereceu uma pequena nota do serviço eletrônico (Correio Web) do Correio Braziliense, jornal que só em uma matéria sobre “a máfia dos advogados” havia dedicado ao assunto uma página inteira, sem anúncios. As acusações a Dino prosseguiram mesmo depois de ter sido absolvido pela Procuradoria Geral da República. Independentemente do que venha ainda a ser julgado, pois o caso envolve outros desdobramentos e outros nomes, nesse caso, o erro da imprensa consiste em não ouvir os acusados; em não considerar que as dívidas deixadas junto com os bens arrolados no espólio; e em dar suíte as acusações sem checá-las, sobretudo num caso complexo como esse e ainda inconcluso. A “máfia dos advogados” teria roubado R$ 30 milhões do menor. Jorge Dino disse no seu depoimento à CPI do Judiciário que as dívidas deixadas pelo empresário Washington Nominato (morto em 1987) eram quase tão altas quanto o patrimônio deixado. Mesmo assim, afirma ter conseguido deixar para o órfão Luiz Gustavo e sua mãe Miramar Rocha bens líquidos em valor acima de R$ 1 milhão. O juiz titular da Vara de Órfãos do Sucessões do Fórum de Brasília, hoje desembargador, Asdrubral Cruxen, foi quem nomeou uma comissão gestora do espólio, constituída, entre outros nomes, pelo de Jorge Dino. Cruxen chegou a ser mostrado no programa Fantástico como o principal responsável pela desaparecimento da herança do menor. Desde então, Cruxen não emite declarações sobre o caso, mas processa cada jornalista e empresa que ousam acusá-lo.<<

33) Decana de Extensão. Em Brasília, na Universidade de Brasília, a Decana de Extensão, Maria José Rossi (1998), fechou um Posto de Extensão na cidade-satélite do Gama, após constatar que o mesmo já não estava sendo utilizado por nenhum projeto, mas, para fins outros, inclusive, indecorosos (para que supostos usuários levassem para lá mulheres de “programas”). Além disso, o local continuava gerando despesas de manutenção, água, luz etc. Um aluno da UnB, contrariado pela decisão da decana, foi a um jornal local e acusou-a de abuso de autoridade e de nepotismo: manter o esposo como assessor. O professor da UnB, mesmo sendo esposo da decana, foi nomeado não por ela, mas pelo Reitor, em função das suas competências e aptidões para a função, passageira, circunstancialmente, no âmbito administrativo em que também se encontrava a professora decana e sua mulher. Apesar de procurado, verbalmente e por escrito, para os esclarecimentos, estes foram ignorados pela direção do jornal que veiculou a denúncia, o Jornal de Brasília, que preferiu ficar com as acusações do aluno, ou seja, só concedeu publicidade a um dos lados da questão. Esse episódio é exemplar de como a imprensa acolhe facilmente a denúncia, mas não tem a mesma predisposição em ouvir os vários lados da polêmica. <<

34) “Estuprador da filha”. Em meados de 2000, a Rádio CBN noticiou um caso ocorrido em Alagoas de imputação falsa de crime. Um homem fora acusado de estuprar a própria filha, uma criança. O pai, inocentado, teria confessado o crime sob tortura. <<

35) Delegada “assassina”. Em Brasília, em 1997, uma delegada de polícia foi acusada pela reportagem do Correio Braziliense de ter sido responsável pela morte de uma criança atropelada. Segundo a delegada, a criança já estava morta, razão pela qual ordenou que o corpo fosse mantido no local, para a realização da perícia. A repórter do jornal tentou interferir e providenciar a remoção da criança para um pronto-socorro, no que foi impedida pela delegada, para quem a criança já estava morta. Na reportagem publicada ela foi retratada como responsável pela morte da criança.<<

36) Conflitos. Durante o V Congresso de Direitos Humanos, realizado na Câmara dos Deputados, em meados de 2000, um oficial da Polícia Militar de Alagoas relatou, no GT sobre “Mídia e Direitos Humanos”, a sua experiência em negociação de conflitos de terra. Segundo informou, o governo de Alagoas conseguiu realizar, pacificamente, cerca de 200 reintegrações de posse, sem que isso fosse noticiado, ao contrário do que ocorria sempre que havia algum conflito. Segundo seu depoimento, os cinegrafistas chegavam a tirar plantões, à espera de choques entre sem-terra e proprietários, mas não se interessava por conflitos solucionados.<<

37) Garoto “beijoqueiro”. No Pará, uma professora tampou com fita adesiva a boca de uma criança que, na escola, insistia em beijar os coleguinhas. O fato foi denunciado pela imprensa, inclusive, pelos telejornais de âmbito nacional, como uma prática desumana e pouco pedagógica. A imagem da criança, no entanto, foi exposta, o que não é permitido por lei. <<

38) Fitas eróticas. Em 1996, em Brasília, um casal tomava emprestado fitas de vídeo numa locadora, quando foi abordado por uma repórter de jornal que informou estar fazendo uma reportagem sobre preferências do público. Na reportagem, o casal apareceu identificado entre aqueles que apreciam filmes pornográficos, mas tem vergonha de assumir o gosto. O casal não havia dado essa informação e tampouco alugara fitas do gênero. A repórter cumpriu a sua pauta, mesmo falseando as informações. Usou identificações verdadeiras para dar veracidade a sua matéria, mas falseou as informações.<<

39) Elisabeth Lofrano. Algumas pessoas têm a infelicidade de ter a sua privacidade invadida, mesmo depois de mortas, como foi o caso de Elisabeth Lofrano, cuja vida pessoal foi vasculhada por reportagens de um caderno especial publicado pelo Correio Braziliense (1997). Com o propósito de cobrir amplamente os casos de corrupção do âmbito da CPI do Orçamento e especialmente o envolvimento do economista José Carlos Alves dos Santos, a repórter pautada pelo jornal para fazer uma série de encartes no formato tablóide sobre o assunto teve acesso aos autos do processo e de lá reproduziu fotos de família e retirou revelações até sobre o relacionamento sexual da morta com o seu marido e mandante (não confesso) de seu assassinato. <<

40) Pênis decepado. No Rio de Janeiro, um rapaz teve o seu pênis decepado por uma companheira ciumenta. O caso foi noticiado e a identidade do moço foi revelada. Foi vitimado duas vezes. O caso poderia ter sido noticiado com um pseudônimo e assim caracterizado com tal. Veja caso, a seguir. <<

41) Marido traído. Em Brasília, um caminhoneiro desconfiou que a esposa o traía. Depois de constatar a suspeita, levou o caso à polícia, que montou um flagrante, supreendendo a mulher com o amante, em um motel. O caso foi narrado pelo Correio Braziliense, com todos os detalhes, mas preservando a identidade da vítima do adultério, uma maneira de evitar a humilhação pública de quem já estava passando por sofrimentos e vexames. Faltou, no entanto, criar nomes fictícios também para a esposa e o amante. Ou seja, o marido traído ainda não estava totalmente protegido.<<

42) Maestro – “abuso sexual”. Em Caruaru (PE), um maestro montou uma orquestra com a participação de crianças pobres. A iniciativa fez sucesso e os pequenos músicos foram contemplados com reportagens e elogios da mídia, incluindo telejornais e programas dominicais de grande audiência. Posteriormente, o maestro ganhou notoriedade pela falsa acusação de ter abusado sexualmente de uma das crianças. Maestro e orquestra foram por água abaixo por causa de um boato. <<

43) Fotos trocadas. Em meados de 1999, o Correio Braziliense publicou a foto de uma criança identificada como portadora de necessidades especiais (deficiente). Foi um engano e a família do menor processou o jornal, alegando que a criança “normal” virou motivo de brincadeiras na escola e o pai,
revoltado, pediu R$ 160 mil de indenização. O Correio procurou entrar em acordo, para pagar menos. Houve, por parte da direção do jornal uma orientação, por escrito, para que fossem adotadas precauções, não só em função de eventuais perdas na justiça, mas também par não transmitir aos leitores a impressão de descuido. Embora tendo razão, o pai da criança – que relatou ao Correio os vexames pelo qual passou na escola --, partilhava, na verdade, de um preconceito para com os portadores da Síndrome de Down.<<

44) Cesariana. Em Brasília, o ginecologista e obstetra Ademir Neves foi acusado por uma paciente de ser o responsável pela morte de seu filho, durante trabalho de parto. O médico alega que seguiu todos os procedimentos técnicos e foi este o parecer do Conselho Regional de Medicina. Mesmo assim, a paciente revolveu levar o caso à Justiça, podendo tornar-se o primeiro caso de um suposto erro médico a ser julgado por um júri popular. O caso desenrola-se por cinco anos, sem que a Justiça tenha chegado a uma conclusão. A carreira do Dr. Ademir, no entanto, ficou prejudicada, apesar do apoio dos seus pares. A imprensa local noticiou amplamente o caso e, embora tenha ouvido o médico e o CRM, a desproporção entre acusação e defesa foi muito grande. <<

45) “O Correio errou”. Brasília, DF, julho de 2000. Um repórter do Correio Braziliense recebe informações de uma fonte, segundo a qual o ex-secretário da Presidência da República, Eduardo Jorge, mantinha um esquema de corrupção junto ao Banco do Brasil, envolvendo uma suposta prestação de serviços, no valor aproximado de R$ 140 milhões (cerca de 70 milhões de dólares). Conforme relataria em pedido de desculpas, o repórter admitiu que, por ter ouvido uma única fonte, foi induzido a um erro clamoroso. O jornal acabou sendo obrigado a publicar uma retratação em primeira página, no meio da semana, e o chefe de Redação ainda teve de renovar o pedido de desculpas aos leitores na sua Carta ao Leitor semanal, num texto em que, segundo ele, a única informação correta na matéria era a expressão Banco do Brasil. O caso foi tomado como um paradigma de correção, por parte do Correio Braziliense, no que se refere ao pedido de perdão aos leitores. Entretanto, tratava-se de um anunciante poderoso que, logo em seguida, publicaria 14 páginas de balanço nas páginas do Correio. A pergunta é: se a denúncia improcedente envolvesse um cidadão comum, ou uma pequena empresa, haveria por parte do veículo a mesma disposição e o mesmo espaço dado ao desmentido?<<

46) “Massagistas”. Em Brasília, foram constatados crimes contra a reputação de mulheres, consistindo na publicação em seu nome da oferta falsa de serviços de “massagista”, entre os anúncios de prostituição. A pessoa que anuncia dita, por telefone, para os atendentes os nomes verdadeiros das supostas “massagistas” e os seus telefones. As vítimas acabam tendo muito aborrecimento. Uma delas não se conformou e processou um jornal.<<

47) Legendas. Legendas de foto são um perigo. Frases são retiradas do texto da matéria e funcionam isoladamente ou ganham conotações outras quando associadas a uma foto. O pior, no entanto, é quando, por acidente ou ma fé, as legendas são trocadas. Descuidos como esse podem afetar a reputação e a vida das pessoas. Vejamos este exemplo de correção publicada no jornal O Globo, em 2/4: “Diferentemente do que diz a legenda da página 16 de segunda-feira, a mulher que aparece na foto não é uma prostituta. Ela é dona de um bar na Vila Mimosa”. <<

48) Boa fé. O falsário e estelionatário Alexandre dos Santos Selva Neto, de longa ficha policial e detenções em diferentes Estados brasileiros, realizou a proeza de ser entrevistado duas vezes pelo programa Jô Soares Onze e Meia, da TV-Globo, onde foi apresentado no principal talk-show do Brasil como o “profeta” Omar Kayam, uma suposta reencarnação do poeta; o homem mais sábio do mundo, integrante de 200 sociedades secretas; possuidor de 107 títulos de doutor honoris causa, além de dominar 33 idiomas e 72 dialetos. Nem a produção do programa, nem o próprio Jô Soares desconfiaram da idoneidade de tal mago e “médico”. E a audiência muito menos, tanto, que a segunda aparição do farsante se deu em função do congestionamento das linhas telefônicas, fax e e-mail do programa, pedindo mais uma entrevista. Kayam, que dizia ter 30 mil discípulos no Brasil e mais de um milhão no mundo, rendeu, de fato, vários pontos de audiência a Jô Soares. Esse episódio demonstra a credulidade com que a mídia embarca em erros e o quanto é pouco dada à checagem das informações que lhe são transmitidas pelas “fontes”, no caso, um “assessor” do curandeiro que, além de outras proezas, garante ter curado casos de Aids, câncer e mal de Alzheimer.<<

49) Má fé. Diferentemente de erro, não intencional, embora fruto de má apuração ou descuido, é o dolo, a má fé, pura e simples, com finalidades outras que não a de informar. Exemplos: matéria de capa da revista Sexy, intitulada “Barbara Gancia nua” (1995, edição 170). A moça da capa estava nua, mas não era a jornalista Barbara Gancia. Resultado: a revista foi condenada a pagar uma indenização de 400 salários mínimos. <<

50) Entrevistas falsas. Não raro, aparecem entrevistas falsas de pessoas famosas. Em junho de 2000, a revista Sexy publicou uma entrevista grosseira – cheia de erros -, e jamais concedida pelo cantor e compositor Chico Buarque de Holanda. Com chamada de primeira página, a entrevista era, na verdade, um conto do vigário, em sete páginas.<<

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 23 Mar 2009, 12:29
por Apo
Não chamem de mídia o que é jornalismo. Tem a parte comercial também.

Digam Mídia Jornalística.

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 23 Mar 2009, 13:10
por carlo
Apo escreveu:Não chamem de mídia o que é jornalismo. Tem a parte comercial também.

Digam Mídia Jornalística.


Calma, não comecei a rastrear as improbidades da comercial ainda!
:emoticon13:

Vai sobrar prá todo mundo! :emoticon45:

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 23 Mar 2009, 13:16
por carlo
51) Busca e apreensão. A mesma revista Sexy teve, em 1995, uma de suas edições apreendida nas bancas de Maceió por força de uma ação movida pela secretária de Turismo de Alagoas, Thereza Collor, que considerou injuriosa a reportagem “Um sonho de viúva”, razão pela qual exigiu uma indenização no valor de R$ 3 milhões.<<

52) Manipulação criminosa. O programa de televisão Aqui Agora, do SBT, foi condenado a pagar indenização de 15 mil salários mínimos pela exploração sensacionalista do suicídio da adolescente Danielle Lopes Alves, de 17 anos (5.7.93), seguida de entrevista que obteve dos pais da garota, que ainda não sabiam que a filha estava morta. O casal foi convidado pela reportagem a ir a uma delegacia e, de lá, convencer a filha a não pular de um prédio. A entrevista era uma farsa e tinha como única finalidade rechear a reportagem com mais sensacionalismo e, assim, assegurar a sua maior duração e maior audiência.<<

53) Trote virtual. Boatos, notícias falsas, falsas declarações e até poesias falsas têm circulado por meio do correio eletrônico nos moldes das prosaicas correntes de sorte ou azar. Por vezes, tais “informações” são seguidas do apelo “passe para mais dez endereços”, ou, difunda o máximo que puder. Em setembro de 2000, circulou pelo correio eletrônico uma mentira usando o nome do jornalista Franklin Martins (TV-Globo e CBN) para atingir o deputado Jutahy Magalhães Junior (PSDB-BA). A mensagem dizia que o Congresso teria aprovado uma lei de autoria de Jutahy proibindo a investigação de denúncias de corrupção contra o presidente da República, os governadores e outras autoridades. O que estava em discussão era um projeto que transferia para a segunda instância da Justiça o início dos processos contra políticos denunciados por crimes. O que disseram os envolvidos: "Foi uma maluquice que se espalhou com uma ferocidade extraordinária" - Jutahy Magalhães Junior. "A internet abre a possibilidade de veiculação de muita bobagem, mas o episódio não passou de um trote", declarou Franklin Martins. Pouco antes, meados de 2000, circulou um poema atribuído ao Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel Garcia Marquez, que estaria enfermo de doença incurável. A poesia é, de fato, comovente, mas é de autoria desconhecida. O escritor colombiano, por sua vez, estava com boa saúde. <<

54) Invasão de privacidade. Em Brasília, a filha de uma personalidade envolvida num crime, seqüestro seguido de assassinato, no caso, da esposa do assassino e mãe da pessoa espionada, teve os seus muros escalados por fotógrafos e foi seguida em vias públicas para a realização de fotos não autorizadas. Ora, em casos como esses, já não basta a dor de ter um pai criminoso e de ter perdido a mãe de forma tão trágica? Além do mais, que culpa tem uma pessoa de ser filha de um homicida, se culpa não se transfere? Numa outra circunstância, também em Brasília, um cão matou uma criança. O fotógrafo, para obter a foto do cão, valeu-se de um buraco da cerca e o fotografou. Nesse caso, a invasão de privacidade foi pertinente? Justifica-se? A argumentação óbvia é: se o fotógrafo tivesse tocado a campainha da residência dos donos do cão, poderia ter sido impedido de realizar a foto. A questão, no entanto, é a seguinte: a foto, mesmo em se tratando de um cão, se obtida de forma oculta, não torna antiético o procedimento do jornalista? Algum jornalismo é válido, se tiver praticado um deslize moral? O interesse público justifica licenças morais e éticas?<<

55) Crueldade. Um mesmo caso recebeu, em Brasília, diferentes tratamentos pelos dois jornais concorrentes. Numa localidade de periferia, uma moça foi assaltada e brutalizada por assaltantes, que riscaram o seu corpo com lâminas. Numa das redações, editores e repórteres concluíram que seria sensacionalismo publicar fotos da moça mostrando o seu corpo, naquelas condições. Procedimento oposto foi adotado pelo concorrente, sob a alegação de que a vítima fazia questão de ser fotografada daquele jeito para demonstrar o quanto as pessoas da comunidade estavam expostas à sanha dos marginais. A pergunta que restou desse caso foi a seguinte: mesmo quando as vítimas de violência se voluntariam, elas devem ser expostas, uma vez que não é ético publicar cenas de crueldade e morbidez?<<

56) Câmera oculta. Ainda que com bons propósitos, poderá a imprensa passar por cima da lei, da ética e dos princípios morais utilizando-se do expediente da câmera oculta? Uma equipe de tv vai a um presídio e faz uma entrevista com um preso que, evidentemente, se soubesse que estava sendo filmado e gravado, não daria a mesma entrevista. Terá agido corretamente? Entrevista? Ou, roubo de informações? Em 2000, investigando o caso Antônio Pimenta, o jornalista que matou por ciúmes a ex-namorada, também jornalista, a equipe de um telejornal conseguiu filmar uma reunião a portas fechadas, utilizando-se de uma maleta e de um cúmplice, presente ao mesmo encontro. Os fins justificam os meios? A mesma emissora utiliza-se de câmera oculta para denunciar uma rede de prostituição e escravidão de brasileiras na Espanha. Neste caso, justifica-se o uso de câmera oculta? Em meados de 2000, o então técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, foi filmado por uma câmera oculta, no vestiário, quando dava orientações aos jogadores. O material foi exibido em telejornais da TV-Globo (ver caso 100). Em caso de denúncias de crime é sempre necessário o cuidado para que as imagens e a voz das vítimas não sejam identificadas pelos criminosos, dando margem à chamada “queima de arquivos”.<<

57) Simulações. Por vezes, repórteres constituem ou reconstituem fatos, de forma a amparar a realidade, para que esta se mostre mais claramente ao público. Um exemplo: uma repórter do jornal-laboratório Campus foi pautada para cobrir a instalação de um posto de gasolina no campus da Universidade de Brasília, forma inédita de obtenção de recursos para finalidades acadêmicas. O posto estava com data marcada para inauguração, mas, à altura, a edição já estaria impressa. A repórter, tentando se antecipar, obteve o favor, por parte dos funcionários do Posto, de simularem o funcionamento do mesmo. Conseguiu, portanto, montar a foto de um carro sendo abastecido, mesmo com os tanques e bombas vazios. A inauguração foi postergada várias vezes. Mesmo assim, saiu publicada a foto do posto, inaugurado e em funcionamento. A questão é: pode a realidade ser ‘editada’ em nome da verosimilhança e pessoas serem dirigidas teatralmente, de forma a representar um fato? Nesses casos, o leitor ou telespectador não deve ser informado de que se trata de uma simulação? Outra angulação do problema, diz respeito a pessoas que são aleatoriamente escolhidas para serem filmadas e fotografadas, de modo a compor cenas e fotos sobre as quais não terão o menor controle, em matéria de edição. Na verdade, são usadas pelas reportagens. <<

58) Seqüestro de bebê. Na categoria simulações, no entanto, a conduta mais grave já ocorrida em Brasília refere-se à simulação do seqüestro de um bebê, num hospital. A repórter acabou sendo detida pela polícia e foi necessária a intervenção do próprio Governador do Distrito Federal, para que ela não fosse mantida presa. Evidentemente, a alegação da jornalista era de que a finalidade do pseudo-seqüestro era demonstrar o quanto era fácil raptar uma criança em Brasília, onde, de fato, crianças já desapareceram em hospitais.<<

59) Tempo perdido. Não é procedimento dos repórteres dar conhecimento aos seus entrevistados de que os seus depoimentos poderão não ser publicados; serem publicados parcialmente; ou serem reescritos. São freqüentes queixas e decepções de pessoas que consideram terem perdido o seu tempo concedendo entrevistas que não saíram, ou que somente uma frase ou outra apareceu. O mais grave é quando a fonte verifica que as suas palavras foram “distorcidas” ou usadas por conveniência como peça de encaixe num relato mais amplo. O mesmo acontece com poses para fotos, jamais publicadas, mas que permanecem em arquivo, para eventual utilização. Não raro, as pessoas são fotografadas com um pretexto e as fotos utilizadas com outra finalidade, às vezes, contra os interesses dos fotografados.<<

60) Pessoas privadas. Ganhou notoriedade a reportagem de capa da publicação Caros Amigos, de São Paulo, acerca do suposto filho, não assumido, do presidente Fernando Henrique Cardoso, ao tempo em que era senador, fruto de uma relação extraconjugal com uma jornalista, há vários anos residindo na Espanha, depois de ter morado também em Portugal. O que era corrente nos bastidores virou fato publicado graças a coragem de um órgão da chamada imprensa alternativa, já que a grande imprensa agraciou o atual Chefe de Governo com uma condescendência não assegurada a outros presidentes, governadores e candidatos ao Palácio do Planalto. Ao ser ouvida, na Espanha, a mãe do garoto argumentou que ela era pessoa privada e que, portanto, nem ela nem o filho tinham de ser expostos. Recomendou que a reportagem fosse procurar a “pessoa pública”, já que era esse o seu interesse. Um aspecto, no entanto, deixou de ser levado em conta: a exposição pública da identidade e imagem (embora fotos não foram publicadas) de uma criança, que pode a vir prejudicada em função de fatos que dizem respeito aos seus pais.<<

61) Escala sucessiva. É a continuidade de calúnia, injúria e difamação quando um veículo de imprensa parte do erro de outro, dando suíte a uma notícia falsa. Ocorre também quando os noticiários de rádio e televisão reproduzem informações dos jornais que, logo em seguida, serão desmentidas. Quando a matéria incorreta é distribuída através de agências de notícias, inclusive, para outros países, os danos são incontornáveis. Também ocorre quando um repórter pega informação com outro e, sem checar, publica-a. A Lei de Imprensa (5.250/67), no entanto, adota o princípio da “responsabilidade sucessiva”, e “não solidária”, ou seja, se identificado o autor originalmente causador do dano, somente a este caberá ação penal.<<

62) Amnésia. Este é um dos piores atavismos da imprensa. Cobre certos fatos com o maior estardalhaço e depois os esquece, às vezes, para sempre. Pessoas que foram vítimas de crimes e constrangimentos são beneficiadas, inicialmente, com a exposição dos criminosos e o resgate das vítimas. Em seguida, vão-se os spots, os flashes e as lentes. Com o tempo e a ausência da imprensa, os crimes voltam a ser cometidos e as vítimas voltam a ser vítimas, por vezes, eliminadas por vingança ou “queima de arquivo”. Uma repórter se apresenta a uma família como sendo operária, aluga um quarto e passa um mês convivendo e partilhando do dia a dia, inclusive, das frugais refeições. Depois, relata tudo em um livro. Ganha notoriedade, tendo mostrado a sua proeza, os aspectos prosaicos etc. E a família? Em que condições estará hoje? Por que um sem número de casos não merece voltar às atenções? Por quê, essas circunstâncias não merecem a típica suíte? Uma das características marcantes da imprensa é o esquecimento. Para alguns, é algo bastante oportuno. Para outros, representa mágoa e estigma que podem perdurar uma vida. Vejamos, no primeiro caso: vereadores de São Paulo são investigados e cassados por envolvimentos em esquemas de corrupção. O assunto ganha páginas nos jornais, primeira página no dia da cassação para, em seguida, ser tragado por um imenso buraco negro de amnésia. No segundo caso, estão os inocentes. Sua vida não será mais a mesma, mesmo que a sua idoneidade seja provada e mesmo que a imprensa assim publique. Quando um inocente é acusado e, pior ainda, é publicamente exposto nessa condição, sua reputação se estilhaça em fragmentos, dificilmente reagrupáveis na sua antiga inteireza. É como um retrato feito em pedaços e atirado aos quatro cantos, Não volta a ser o mesmo, por mais que sejam recolhidos e as emendas feitas por um restaurador de grande perícia. E, em se tratando de imprensa, alguém irá atrás destes pedacinhos e os reunirá com a mesma avidez com que se buscou a ‘informação’ que, depois de publicada, comprovou-se errônea? Em se tratando de escândalos, se um fato foi fartamente explorado, por que esquecê-los? Para onde foram os “anões do orçamento”? Já pagaram o bastante e cumprem exemplarmente a sua pena e, portanto, não é justo que sofram mais, ou, ao contrário, beneficiaram-se por uma espécie de anistia virtual que sempre acobertou as elites no Brasil desde que aqui aportaram há 500 anos? O que justifica a amnésia em casos como este? Sabe-se, que um dos envolvidos se reintegrou moralmente. Agora, prega a palavra de Deus. Por isso, voltou a ser notícia. E outros? E o Tesouro? Se foi ressarcido, seria notícia. Se não o foi, notícia também. Por vezes, as vítimas também se calam. Ficam quietinhas. Fingem-se de mortas. Não reagem, não desmentem, não fazem nada, tal como a presa que aprendeu que a serpente sofre de cegueira, mas detecta qualquer movimento, até de um cílio. Melhor deixar o tempo passar e esperar que as atenções do predador se voltem para outro atrativo. Um mal menor. Melhor ser acusado e o assunto sumir rapidamente, mesmo sem reparação, do que espernear, gritar, clamar e, de duas uma: ou o grito sai editado e dele só se publica um murmúrio, ou o barulho só serve para botar mais lenha na fogueira, fazer com que o escândalo renda mais espaço. Em outros casos, as vítimas tiram proveito da súbita notoriedade, algo mais que os 15 minutos previstos por Andy Warhol. Não raro, viram capas de revistas, aparecem no Fantástico. Depois, somem.<<

63) Falsidade ideológica. Ainda que atendendo a bons propósitos, será que se justifica e será moralmente correta? Um repórter, para investigar uma rede de prostituição infantil, não se apresenta como repórter, mas como empresário ou qualquer outra identidade. Vai para a cama com as meninas, ainda que não mantenha com elas relações sexuais. Ouve os depoimentos, preserva a identidade das mesmas, faz a sua reportagem, escreve um livro, ganha notoriedade nacional. Mas, as pessoas que foram objeto de sua narrativa não foram enganadas? Não foram usadas? Um ser humano deve ser usado por outro como meio para atingir alguma finalidade?<<

64) Interesse do público. Há uma distinção que obrigatoriamente deveria ser feita pela imprensa, entre interesse público e interesse do público. Tanto um quanto o outro geram notícias, mas o segundo nem sempre está relacionado com o primeiro. A vida privada e a intimidade de uma pessoa pública não são do interesse público, embora possam despertar o interesse do público. O presidente da República passa um fim de semana numa clínica para fazer uma cirurgia de correção de pálpebras. Isto é do interesse público? Certamente, que será notícia para qualquer editor, mas, certamente, por ser um fato de interesse do público. O mesmo ocorre em relação ao silicone implantado com finalidades estéticas por uma atriz, embora não seja um fato de interesse público.<<

65) Direito à imagem. A quem pertence a imagem? Aos fotógrafos? Aos bancos de imagem? Às agências de notícia e imagem? Há alguns anos, em Goiânia, um jornal local enviou repórter e fotógrafo a um clube de nudismo. Publicou a sua reportagem. Membros do clube foram à redação, a propósito das fotos. Não queriam processar a empresa. Ao contrário, gostaram imensamente da reportagem e queriam cópias das fotos para promover o clube, inclusive, para a impressão das mesmas em camisetas promocionais. Para a sua surpresa, os direitos autorais impediam que as pessoas fotografadas tivessem acesso às fotos de si próprias, ainda mais, nuas. As suas imagens haviam adquirido um proprietário e um direito exclusivo de uso comercial e industrial. <<

66) Juiz de futebol. Outro aspecto do direito à imagem e sobre a imagem: usualmente, os fotógrafos não perguntam às pessoas que são fotografadas se elas estão de acordo em ser fotografadas ou filmadas. Exemplo claro, ocorreu com um juiz de futebol, perseguido pelas câmeras, estendendo a mão a todo o momento, numa tentativa desesperada de impedir as filmagens e bradando e xingando: “A minha imagem me pertence. Vocês não podem fazer isto. Tirem esta p... daqui!”. As imagens foram ao ar, a despeito da indignação do árbitro.<<

67) Fonte apócrifa. Com muita freqüência, escândalos vão parar nas redações, através de fotocópias de ‘documentos’ e fitas de gravador e de vídeo que são enviados por fontes que não se identificam. Ainda que as informações venham a ter a sua autenticidade comprovadas, devem os veículos de imprensa publicar fac-símiles, trechos ou íntegras de tais ‘documentos’? por vezes, os próprios órgãos de fé pública produzem informações e acusações que, posteriormente, são desmentidas. Em nome do interesse público, a imprensa deve publicar informações de fontes apócrifas e anônimas, adotando, assim, procedimento semelhante ao que era estimulado pela Inquisição? O próprio presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e vários de seus ministros e assessores, tiveram diálogos gravados e divulgados para a imprensa por meio de uma fonte identificada apenas como “Senhor X”.<<

68) Etiqueta e ética. Uma versão visual do comentário sobre a distinção entre interesse público e interesse do público são as fotos ‘jornalísticas’ de pessoas públicas em poses ‘indiscretas’. A falta de discrição, no entanto, raramente são das pessoas fotografadas. Em dado momento, primeiras damas e ministras tiveram as suas calcinhas à mostra, fato que mereceu do Observatório da Imprensa o seguinte comentário: “Em fins de 1995, Hilary Clinton, a esposa do presidente Bill Clinton, que dirige o mais rico país do mundo, visitou o Brasil. A fotografia de Hilary que mais foi publicada quase não mostra seu rosto. A atração principal era sua calcinha. Como se não bastasse quase todos os jornais de grande circulação terem publicado essa fotografia, o jornal da Associação de Repórteres Fotográficos do Rio de Janeiro (Paparazzi) repetiu-a em sua edição 46, de dezembro de 1995, com uma legenda lastimável, dizendo entre outras coisas que "a primeira-dama Hilary Clinton se descuidou das regras de etiqueta em momento de descontração". Não foi Hilary Clinton quem se descuidou da etiqueta, mas sim vários editores que escorregaram na ética. Em 4/11/96, na primeira página do segundo caderno de O Globo, a história se repetiu, só que dessa vez a vítima foi a atriz Christiana Guinle, que protagoniza e assina a peça A dama do mar. Numa foto de 26 X 21 cm, a calcinha acaba sendo o ponto principal, em meio a expressão e gesto sem significado e um cenário fora de foco. Está bem que fotógrafos ainda não tenham saído da adolescência. Mas os editores de jornais também?” (Ivan Lima, fotógrafo, do Rio de Janeiro).Também foram vítimas do mesmo tipo de fotojornalismo a então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Melo; e a primeira-dama Ruth Cardoso.<<

69) Nádegas no ar. Sob o pretexto de ajudar pessoas desamparadas e até de suprir as lacunas do Estado, da saúde pública, da polícia e das instituições, programas sensacionalistas exploram a condição humana, sob o pretexto de ajuda humanitária, dada a constatação já há muito tempo notória para as emissoras de tevê, de que a morbidez e os dramas humanos rendem pontos de audiência. Segundo a revista Imprensa (junho de 1998, p. 35) “cerca de 2 mil pessoas procuram, diariamente, a produção do programa Ratinho Livre, mas no máximo só dez casos são mostrados no ar”. Ou seja, somente aqueles que combinam os ingredientes de sensacionalismo, a exemplo, do caso do homossexual Evandro Silva (11.4.98) que, a pedido do apresentador Carlos Massa, baixou as calças e teve as suas nádegas apalpadas para que “Ratinho” constatasse o problema para o qual pedia amparo: precisava de uma cirurgia para retirar um implante malfeito de silicone.<<

70) Coca-cola e cocaína. Um outro caso em que a imprensa não esperou a comprovação de uma denúncia para assumi-la. Em setembro de 2000, a Coca-Cola do Brasil publicou anúncios de página inteira para desmentir a informação de que teria importado cocaína para utilizá-la na fabricação da bebida. A denúncia foi passada à imprensa por um ex-funcionário, em litígio trabalhista com a empresa.<<

71) Preferências eleitorais. Um dos princípios básicos da doutrina do pluralismo na Comunicação Social consiste em conceder espaço equilibrado aos candidatos dos diversos partidos, ou, pelo menos espaços proporcionais à representatividade percentual das suas respectivas bancadas. O que se observa, no entanto, é a mídia com as suas preferências e favoritismos. Segundo relatório entregue pelo presidente do PT, Luiz Inácio “Lula” da Silva ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Ilmar Galvão, houve uma disparidade muito grande entre o espaço concedido pelas emissoras de TV em seus telejornais ao candidato Fernando Henrique Cardoso e à sua candidatura. Uma pesquisa feita pelo PT, entre os dias 1°; e 11 de agosto de 1998, nos cinco telejornais (Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal da Band, Jornal da CNT e Jornal da Manchete) mostrou o “governo federal” com um espaço de 2h19’05”, contra os 0h17’48” para o candidato do PT. <<

72) Fé pública. Pode a imprensa atribuir informações erradas a fontes de fé pública e, com isso, retirar de si a sua parcela de responsabilidade? Se a fonte é de fé pública, a imprensa não precisa checar as informações? Com base numa informação do Detran, o jornal Folha de S. Paulo fez uma denúncia contra o candidato do PT, Luiz Inácio “Lula” da Silva, no dia 15.8.98, segundo a qual o carro de Lula havia sido vendido a empresa Baralt Comércio de Veículos Ltda., que havia contribuído na última campanha de Lula à Presidência. Nos dois dias seguintes, os jornais repercutiram a matéria da Folha, dando pouco espaço às explicações de Lula. No dia 19 de agosto, a Folha se retratou. Em segunda manchete, na primeira página, afirma que o carro não foi vendido para um “doador” da campanha. Os dados fornecidos pelo Detran estavam errados.<<

73) Mau gosto. Desde os anos 70 que a chamada “comunicação do grotesco” (expressão de Moniz Sodré) vem sendo apontada como um fenômeno da mídia no Brasil, embora seja mundial. O mau gosto, no entanto, rende audiência e leitores. Trata-se do sensacionalismo não relacionado a fatos jornalísticos, mas produzido, com o claro intuito de obter pontos de Ibope, ou venda de jornais e revista em bancas. Vejamos um caso: em 1998, o apresentador “Sérgio Malandro”, durante um programa dominical prometeu e cumpriu que mostraria um homem engolindo um rato. Mas não engolia apenas ratos, mas também objetos. Deglutia-os para depois devolvê-los. O próprio apresentador recomendou, naquele final de tarde, que as crianças não imitassem “aquele louco”. Disse, no entanto, que trazia aquele tipo de “número” para o seu programa porque “isso dá Ibope”.<<

74) Concursos. Uma das formas da “comunicação do grotesco” são os concursos. O que seria o limite do insuportável para um ser humano pode representar aumento de audiência. Em 1969, o apresentador Sílvio Santos recebeu uma advertência da Censura Federal por causa de um concurso em que o vencedor seria aquele que tomasse mais purgante. Noutra competição promovida pelo mesmo apresentador, um grupo de pessoas tinha que retirar um cartão de dentro de caixas com baratas e ratos. Recentemente, agosto de 2000, a TV Globo atingiu uma audiência estimada em 25 milhões de telespectadores com o programa No Limite. Num dos episódios da série, os concorrentes tinha de comer olhos de cabra.<<

75) Vida sexual. A intimidade das pessoas sempre foi um filão explorado pelos meios de comunicação de massa, mas não só de celebridades, como no caso do episódio Clinton-Lewinski. Em 1970, o apresentador de televisão Flávio Cavalcanti recebeu uma advertência da Censura Federal por entrevistar um homem que, após ficar impotente, havia emprestado a mulher para o vizinho. Depois de se curar, ele queria a esposa de volta.<<

76) Violência ao vivo. A exploração da violência permeia o conteúdo dos meios de comunicação de massa em geral, mas, sobretudo da televisão, desde os desenhos animados aos filmes e telejornais. Em agosto de 2000, causou muita polêmica a transmissão, ao vivo, no Rio de Janeiro, do seqüestro do ônibus da linha 174, tendo como conseqüência a morte de uma passageira e, após tal desfecho trágico, o assassinato do seqüestrador (fora do alcance das câmeras) por policiais, no interior de uma viatura. Em Los Angeles (30.4.97), a maior parte das principais redes de TV norte-americanas transmitiu ao vivo um suicídio, às 15h, de um homem de 40 anos, Daniel Jones, que, armado, interrompia o trânsito numa auto-estrada, depois que seu carro pegou fogo. Em seguida, deu um tiro na cabeça. Segundo notícia veiculada por agências (JB, 2.5.97), “os telespectadores congestionaram os telefones das redes de TV e das rádios para protestar contra as cenas chocantes e algumas emissoras passaram o resto da tarde pedindo desculpas, alegando que tudo aconteceu depressa demais e não tiveram tempo de desviar as câmeras na hora do tiro”. O público e os executivos das redes concordaram que fora ultrapassada a fronteira entre jornalismo e espetáculo.<<

77) Uso indevido de imagem. Em 1985, a modelo Enoli Lara obteve na Justiça uma indenização paga pela TV-Globo, no valor de R$ 40 mil (cerca de US$ 20 mil), por ter veiculado num comercial, sem autorização da dona, imagens do seu “bumbum”.<<

78) Caridade eletrônica. Por vezes, emissoras de televisão são multadas por transgredir o Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe a exploração sensacionalista de crianças em programas, ainda que com autorização dos pais. Foi o que aconteceu com a Rede Record, condenada pela Justiça a pagar R$ 100 mil de multa cada vez que exibiu crianças defeituosas a título de promover auxílio médico para os seus casos, um tipo de caridade eletrônica que rende altos índices de audiência ao programa Ratinho Livre. Em setembro de 1996, a TV Globo foi repreendida por ter exibido, no programa Domingão do Faustão um garoto de 15 anos, que mede apenas 87 centímetros por ser portador de uma doença rara (Síndrome de Seckel).<<

79) Ficção jornalística. Uma “boa história” sempre rende “boas” reportagens. O problema é quando são inventadas, como no caso do Prêmio Pulitzer que teve de ser devolvido porque a autora foi desmascarada pela invenção de um garoto de oito anos viciado em heroína. Em 1995, o repórter free-lancer alemão, Michael Born, que vendia matérias para televisões de seu país e da Suíça, com as quais faturou US$ 225 mil, foi condenado por fraude, racismo e crueldade com animais. Ele pagava a amigos e parentes para atuar em cenas que eram filmadas e vendidas como “reais”. As “reportagens de impacto” chegaram a ser compradas até por canais públicos.<<

80) Capuzes improvisados. Com muita freqüência, as televisões exibem pessoas suspeitas de crimes que, para não ser filmadas, cobrem a cabeça com as suas camisas. Por lei, ninguém pode ser fotografado ou filmado contra a sua própria vontade. Foi por este motivo que, em 1997, o programa Cidade Alerta, da Rede Record, foi processado por Luciana Torres, suspeita de assalto a banco.<<

81) Imagens desfocadas. O artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a exibição do rosto de menores de idade. Por não ter desfocado (ou truncado) a imagem de um garoto de 15 anos (acusado de tráfico de drogas), o programa Na Rota do Crime, da antiga Rede Manchete (atual Rede TV!) foi processado (janeiro de 1997).<<

82) Sensualidade infantil. No início de 1998, o Juizado de Menores de São Paulo proibiu que a rede SBT continuasse promovendo concursos de dança entre crianças (programa Domingo Legal) por entender que certas manifestações artísticas de sensualidade são impróprias (danças do tipo axê, “boquinha da garrafa” e outras) quando os concorrentes são crianças, tipificando exploração de menores.<<

83) Ratinho Livre. Do gênero talk-show é o de maior sucesso entre as camadas populares. É também o maior alvo de protestos e processos, entre outros, por casos de falsidade ideológica: falsos maridos traídos; falsos pais-de-santo; falsos amantes; falsos travestis; falsos donos de lojas etc. Em 1998, foi descoberta uma produtora encarregada das filmagens de tais farsas, o chamado “Esquema Osasco”. Uma dessas montagens acabou no 23º Distrito Policial e se tornou uma ação indenizatória por danos morais de R$ 2 milhões.<<

84) Falsas irregularidades. Prejudicam a qualquer pessoa, mas sobretudo, podem mudar os destinos de candidatos e, conseqüentemente, da política. Luiz Inácio “Lula” da Silva, do Partido dos Trabalhadores (13.8.98) foi ‘denunciado’ pelo Jornal da Band (Rede Bandeirantes) por irregularidades na emissão de um cheque no valor de R$ 10 mil relacionado a um negócio imobiliário. A conseqüência foi a obtenção, por parte de Lula, do direito de resposta, no mesmo telejornal e nos mesmos seis minutos utilizados para a reportagem caluniosa.<<

85) Denúncias procedentes, mas apuração ilegal. Em nome do interesse público repórteres podem utilizar-se de falsa identidade para realizar apurações? A justiça norte-americana entende que não. Pelo menos foi o que julgou quando dois repórteres da rede ABC empregaram-se numa cadeia de supermercados (Food Lion) para documentar com microcâmeras a adulteração dos prazos de validade de produtos. A reportagem foi ao ar em 1992, e as vendas das 1.100 lojas da rede desabaram. A empresa não contestou a veracidade das informações, mas conseguiu judicialmente acusar os jornalistas de mentira, deslealdade e conspiração, já que estavam sendo pagos pelo supermercado, mas a serviço de uma TV. Em 21.1.97, a ABC foi condenada a pagar US$ 5,5 milhões de dólares em indenização. Houve, no entanto, numerosas manifestações de repúdio à decisão do júri, por entendê-la como um cerceamento à liberdade de expressão.<<

86) Falsa tentativa de suicídio. Em geral, as vítimas das pegadinhas são pessoas privadas, mas, em novembro de 1999, o programa do apresentador “Sérgio Malandro” (TV CNT/Gazeta) produziu uma delas contra o Corpo de Bombeiros, ao pagar um homem (contratado por R$ 100) para escalar um semáforo numa movimentada rua de São Paulo. Uma equipe de resgate foi deslocada acreditando tratar-se de uma tentativa de suicídio.<<

87) Falsa invasão. Em dezembro de 1999, o programa Domingo Legal, do SBT, exibiu uma pegadinha em que um falso grupo de sem-tetos invadia um terreno em São Paulo, para dar um “susto” na proprietária. O episódio gerou um pedido de direito de resposta por parte do Movimento dos Sem-Teto, por considerar que o quadro caracterizava os sem-tetos como vândalos. (Fonte: Folha de S. Paulo, Caderno TV Folha, 5/12/99).<<

88) Escolha religiosa. Por que as emissoras estatais transmitem missas da Igreja Católica Apostólica Romana e não difundem atos religiosos de outras religiões? Ou teriam de adotar uma postura ecumênica, atendendo a todas as solicitações, ou não deveriam beneficiar nenhuma, para não caracterizar um tipo de aliança, conduta proibida pela Constituição Federal (Art. 19). Em janeiro de 2000, a TV Cultura recebeu uma carta de telespectadores questionando a exibição de cultos católicos na programação da emissora.<<

89) Padres mediáticos. Em fevereiro de 2000, no auge da popularidade do Padre Rossi, a Igreja Católica manifestou-se contra a exploração de padres-estrelas, capazes de garantir elevação nos índices de audiência das emissoras. A TV estaria impondo um modelo de padre moderno (bonito, desenvolto e comunicativo). <<

90) “Iniciais com currículo”. A expressão, irônica, é do Instituto Gutenberg, de São Paulo, ao denunciar em uma de suas edições a burla ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe a divulgação de nomes de menores envolvidos em crimes ou acusados dos mesmos. Ao identificar tais menores com iniciais, os veículos respeitam a lei. Entretanto, anulam o cuidado ao divulgar junto com as iniciais dados identificadores. Exemplo: “R.S.S., 15, primo de [nome completo de uma menina de 13 anos, estuprada e assassinada e, por ter sido morta, identificada pelo nome completo] confessou o crime à polícia”.<<

91) Advogados e clientes. Virtudes e defeitos de clientes não podem ser transferidos aos seus advogados. Em 29.3.97, a Folha de S. Paulo noticiou: “Morre defensor de Collor no Rio”. O advogado Evaristo de Moraes Filho morreu, aos 63 anos, com um vasto currículo, tendo defendido outros políticos, entre os quais, Juscelino Kubitschek; Fernando Henrique Cardoso; Arthur da Távola; José Serra; e Marcello Alencar.<<

92) Fontes científicas. Se uma fonte de qualificação técnica ou científica passa uma informação à imprensa, dificilmente repórteres e editores irão questionar ou cotejar tais informações com o auxílio de outros peritos e cientistas. Da mesma forma como fontes de fé pública podem errar ou agir de má fé, o mesmo pode acontecer com especialistas e cientistas de má fé. Em junho de 2000, telejornais da Globo News (canal a cabo, da Rede Globo) e O Globo noticiaram que um dentista teria descoberto que o flúor faz mal à saúde. A notícia foi contestada, por leitores, que escreveram, e por pesquisdores, entre eles, Maria da Conceição Tavares, da Universidade de Michigan. O jornal publicou matéria sobre as reações e contestações, mas a Globo News não voltou atrás. Notícias médicas sem fundamento podem prejudicar a saúde de pessoas. Dietas da moda são difundidas, sem as advertências necessárias, em casos de contra-indicações. Houve uma época de propalação dos efeitos milagrosos da beringela. Há pessoas, no entanto, para as quais a beringela é contra-indicada.<<

93) Brinquedo assassino. Em fevereiro de 2000, no Distrito Federal, na cidade de Santa Maria, um garoto de nove anos quase matou com 25 facadas uma menina de sete, quando assistiam ao filme Brinquedo Assassino. O Conselho da Criança e do Adolescente do DF promoveu um debate para discutir a violência na TV. O representante da rede de televisão que havia exibido o filme alegou que a exibição se dera às 22h17m. Ficou sem debate, no entanto, porque a TV necessita exibir filmes violentos, a despeito dos horários. <<

94) Lei dos dois lados. O senso comum aconselha ao repórter não desprezar a “lei dos dois lados”, ou seja, o preceito de ouvir o outro lado da notícia, sobretudo, quando estão em jogo acusações. Não ouvir os acusados pode não só prejudicar a compreensão do público sobre o fato noticiado, mas dar origem a processos indenizatórios. Juiz e promotor de Santa Cruz do Rio Pardo se julgaram ofendidos com reportagens do "Debate". Em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), o juiz Osny Bueno de Camargo condenou o jornal e seu diretor, Sérgio Fleury Moraes, a indenizar o juiz Antônio Magdalena e o promotor Carlos Aparecido Rinard com R$ 345 mil. O motivo da ação movida pelo juiz foi a publicação, em 1995, de supostos privilégios do juiz, como o fato de ele morar em uma casa cujo aluguel era pago pela prefeitura, embora dispusesse de outra casa na cidade destinada aos funcionários do Poder Judiciário. O magistrado teria preferido morar em outra casa porque a do Judiciário não ofereceria conforto. Como o promotor também foi citado, os dois processaram o jornal. A empresa não suporta o pagamento e, de acordo com Sérgio Moraes, poderá fechar as portas "ao completar 20 anos. Houve protestos e lamentações. O jornal poderia, no entanto, pelo menos ter dado voz aos acusados.<<

95) Exageros na edição. Com muita freqüência, não são as matérias jornalísticas que causam problemas, mas a edição, incluindo chamadas de primeira página; manchete interna; olhos e legendas. Os editores, para tornar o noticiário mais atraente, “carregam nas tintas” ao redigir os títulos e outros destaques. Por vezes, o resultado é que um aspecto da reportagem, geralmente negativo, ganha especial relevo, a ponto de configurar uma “distorção”. Em agosto de 2000, o Correio Braziliense publicou uma manchete de primeira página dizendo que polícia e bandido são a mesma coisa para um alto percentual da população do Distrito Federal. Esta projeção tornou-se possível a partir de um dos resultados da pesquisa realizada pela professora Estela Porto, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, segundo o qual parte dos entrevistados informavam temer a violência tanto procedente de marginais, quanto de policiais. A edição da matéria, tal como aconteceu, causou indignação no âmbito da Polícia Militar do DF, que reagiu oficialmente, manifestando repúdio, e extra-oficialmente, tendo a socióloga recebido telefonemas desaforados e intimidadores. <<

96) Mito. A necessidade do mito, dizem os estudiosos de Mitologia, visa preencher uma lacuna primordial no ser humano. É natural, portanto, que o mito seja explorado pela mídia como uma forma de assegurar leitura e audiência, mas é possível que a demanda imperiosa do mito se sobredetermine aos fatos, levando repórteres em encontrar mitos, mesmo onde eles não se apresentam. Durante as Olimpíadas de Sidney, a pequena delegação da Guiné Equatorial passou por alguns vexames, como o de um atleta para o qual foi um sacrifício extremo conseguir completar 100 metros rasos. O fato, por si só, era notícia: a presença em competições olímpicas de atletas sem o menor preparo e condição física. Entretanto, um dos jornais australianos publicou uma inusitada explicação: a razão do despreparo dos nadadores daquele país eram as circunstâncias em que treinavam: em rios infestados de crocodilos, o que foi desmentido com muita indignação pelos desportistas africanos.<<

97) Ônus da prova. Reza a tradição jurídica que o ônus da prova cabe a quem acusa. No caso da imprensa, a quem denuncia. ‘Será que a minha denúncia resiste às contraprovas?’ Se esta pergunta fosse feita, mesmo a título de imaginação, provavelmente muitas ações indenizatórias seriam evitadas e as matérias jornalísticas seriam melhor checadas. Mesmo veículos de grande reputação, como o The Wall Street Journal, o maior dos Estados Unidos em circulação, já tiveram de responder na Justiça pelas conseqüências danosas de suas denúncias. Em 1997, o The W. S. Journal informou que a corretora MMAR havia administrado mal negócios de clientes e, por isso, estava sendo processada por investidores lesados. No tribunal, a MMAR conseguiu provar que cinco pontos importantes da reportagem eram caluniosos. Resultado, o jornal foi condenado por um júri federal a pagar US$ 222,7 milhões à MMAR Inc., sendo US$ 22,7 milhões pelo valor da empresa e US$ 200 milhões pelos danos causados. A repórter que assinou a matéria, Laura Jereski, também foi condenada (US$ 20 mil), mesmo alegando ter ouvido 30 fontes para fazer a matéria.<<

98) Perícia criminal. Uma atribuição da polícia. Quando a imprensa tenta fazê-lo, por vezes o desastre é grande, sobretudo quando transmitida a audiências de 40 milhões de pessoas. Em 20.8.95, no Fantástico e, no dia seguinte, no Jornal Nacional, o motorista da Universidade de São Paulo, Antonio de Moraes Filho, foi identificado como um receptador de objetos roubados e chegou a ser filmado dirigindo um carro da USP, como se retornasse da própria cena do crime. A reportagem se utilizou, como se tratasse de um flagrante, as imagens de uma fita de vídelo gravada por um cinegrafista amador em setembro de 1994, ou seja, quase um ano antes. O acusado conseguiu provar na Justiça a inconsistência da denúncia e obteve, além de indenização, retratação do Fantástico, embora o Jornal Nacional não tenha feito o mesmo.<<

99) Flagrantes forjados. A imprensa não pode cometer um crime para denunciar o mesmo. Com a invenção de microcâmeras, no entanto, o expediente da câmera oculta – um recurso a ser utilizado somente em função do interesse público e depois de esgotados todos outros – tornou-se banal. O pior, no entanto, são os flagrantes forjados. Por exemplo: o repórter, com câmera oculta, para comprovar a denúncia de que um funcionário público aceita suborno, apresenta-se como um cidadão qualquer, oferece e paga o suborno. Valer-se de câmera oculta é dispor uma câmera à espera de que um crime possa ser documentado, o que pode levar horas, dias e até não se atingir o objetivo. Criar as circunstâncias do crime tem alguns inconvenientes legais: falsidade ideológica, seguida de indução ao crime e, no caso do exemplo, corrupção ativa. Há outras conseqüências, uma delas, o direito à imagem, que qualquer pessoa tem, de não ser filmada contra a sua vontade, ainda mais, antes de vir a ser, de fato, julgada por um crime.<<

100) Imprensa versus imprensa. Em Brasília, no ano 2000, os dois principais jornais, Correio Braziliense e Jornal de Brasília, várias vezes trocaram acusações, em decorrência do posicionamento contrário dos dois com relação ao governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. O Correio apontou em várias reportagens, irregularidades que teriam sido cometidas no financiamento da compra do JBr por um grupo de empresários, com apoio do Banco de Brasília (BRB). O JBr acusou o superintendente dos Diários Associados, Paulo Cabral, de ter desviado cerca de R$ 200 milhões. Em meio à troca de acusações, por vezes, os atingidos são os repórteres. O jornalista Antonio Vital, do Correio Braziliense, fez uma série de reportagens denunciando ações de grileiros no Distrito Federal, que seriam acobertados e até sócios do governador Joaquim Roriz. Os supostos grileiros foram à forra da seguinte maneira: ingressaram na Justiça com uma denúncia de grilagem contra o próprio repórter, casado com uma juíza que teria sido beneficiada com um lote, em troca de favores judiciais. Tal acusação, já haviam merecido um processo por calúnia, que rendeu à juíza indenizações por danos morais. Mesmo assim, o Jornal de Brasília acolheu a nova denúncia, dessa vez, tentando atingir o repórter do Correio Braziliense, que prontamente reagiu: entrou na Justiça com um processo de queixa-crime e na Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, contra os editores do Jornal de Brasília. <<

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 23 Mar 2009, 14:43
por Apo
carlo escreveu:
Apo escreveu:Não chamem de mídia o que é jornalismo. Tem a parte comercial também.

Digam Mídia Jornalística.


Calma, não comecei a rastrear as improbidades da comercial ainda!
:emoticon13:

Vai sobrar prá todo mundo! :emoticon45:


XIU, quieto!

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 19 Out 2009, 09:41
por Johnny
ISso merece um blog: A midia COM máscara.

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 19 Out 2009, 12:03
por Apo
Tupiniquim. Com "m" final.

Mas a mídia só é uma droga quando não mostra o bebum travestido de santo.
Se mostrar as maravilhas lulistas não fez mais do que obrigação.

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 19 Out 2009, 13:09
por Johnny
Apo escreveu:Tupiniquim. Com "m" final.

Mas a mídia só é uma droga quando não mostra o bebum travestido de santo.
Se mostrar as maravilhas lulistas não fez mais do que obrigação.

APO, tá de chico?

Re: A mídia tupiniquin é uma droga!

Enviado: 19 Out 2009, 13:17
por Apo
Johnny escreveu:
Apo escreveu:Tupiniquim. Com "m" final.

Mas a mídia só é uma droga quando não mostra o bebum travestido de santo.
Se mostrar as maravilhas lulistas não fez mais do que obrigação.

APO, tá de chico?


Não, amore. O Lulla existe e isto é uma merda. Merda fede o tempo todo.