Afinal, dói ou não dói???
Enviado: 23 Mar 2009, 16:01
Pessoas que não sentem dor têm dificuldade para detectar doenças
JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo
Mariana Cotrim dos Reis, 19, sempre foi considerada calma e muito forte. Quando criança, nunca chorava após um machucado, mesmo depois de quebrar o braço ao cair de uma mesa ou de ter o dedo prensado no portão por um primo. Também sempre tomou injeções de benzetacil passivamente --até hoje diz que prefere agulha a comprimido, para evitar que se esqueça de tomá-lo.
Mais suspeitas, no entanto, sempre foram as reações de seu pai, o metalúrgico Ismail Reis, 50. Apesar de os familiares considerarem anedota boa parte das histórias, ele insiste em contar da vez em que, num jogo de futebol, deslocou o joelho e "resolveu ali mesmo" o problema, recolocando-o no lugar.
Sem contestação é o fato, testemunhado por sua mulher, de que Ismail arrancou um dente em casa, com a mão. "O dente estava latejando, incomodava muito. Então o arranquei no quintal mesmo e depois lavei a boca com água e sal", explica.
Até cinco anos atrás, pai e filha não tinham explicação para a insensibilidade à dor.
"Nunca estive no corpo de outra pessoa para entender o que é sentir dor. Como poderia saber que a falta da sensação era anormal?"
Doença congênita
...
Com diagnósticos indo de amiloidose (incluindo a indicação para um transplante de fígado) a hanseníase, Mariana foi enviada ao Hospital das Clínicas de São Paulo, onde exames descartaram as duas hipóteses.
A amputação foi evitada e hoje ela usa palmilha especial e tênis com amortecedor e precisa ficar longe de salto alto ou sandálias sem proteção nos dedos, já que há risco de formação de feridas sem que ela perceba.
O departamento de neurologia do HC constatou que a menina sofre de neuropatia hereditária sensitiva autonômica --ou insensibilidade congênita à dor. A doença, genética e sem tratamento, prejudica a sensibilidade dos nervos periféricos, responsáveis por transmitir as sensações de dor para a medula óssea e para o encéfalo.
Investigando antecedentes familiares, chegaram ao pai, que sofre do mesmo distúrbio.
...
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cien ... 9005.shtml
JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo
Mariana Cotrim dos Reis, 19, sempre foi considerada calma e muito forte. Quando criança, nunca chorava após um machucado, mesmo depois de quebrar o braço ao cair de uma mesa ou de ter o dedo prensado no portão por um primo. Também sempre tomou injeções de benzetacil passivamente --até hoje diz que prefere agulha a comprimido, para evitar que se esqueça de tomá-lo.
Mais suspeitas, no entanto, sempre foram as reações de seu pai, o metalúrgico Ismail Reis, 50. Apesar de os familiares considerarem anedota boa parte das histórias, ele insiste em contar da vez em que, num jogo de futebol, deslocou o joelho e "resolveu ali mesmo" o problema, recolocando-o no lugar.
Sem contestação é o fato, testemunhado por sua mulher, de que Ismail arrancou um dente em casa, com a mão. "O dente estava latejando, incomodava muito. Então o arranquei no quintal mesmo e depois lavei a boca com água e sal", explica.
Até cinco anos atrás, pai e filha não tinham explicação para a insensibilidade à dor.
"Nunca estive no corpo de outra pessoa para entender o que é sentir dor. Como poderia saber que a falta da sensação era anormal?"
Doença congênita
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Com diagnósticos indo de amiloidose (incluindo a indicação para um transplante de fígado) a hanseníase, Mariana foi enviada ao Hospital das Clínicas de São Paulo, onde exames descartaram as duas hipóteses.
A amputação foi evitada e hoje ela usa palmilha especial e tênis com amortecedor e precisa ficar longe de salto alto ou sandálias sem proteção nos dedos, já que há risco de formação de feridas sem que ela perceba.
O departamento de neurologia do HC constatou que a menina sofre de neuropatia hereditária sensitiva autonômica --ou insensibilidade congênita à dor. A doença, genética e sem tratamento, prejudica a sensibilidade dos nervos periféricos, responsáveis por transmitir as sensações de dor para a medula óssea e para o encéfalo.
Investigando antecedentes familiares, chegaram ao pai, que sofre do mesmo distúrbio.
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http://www1.folha.uol.com.br/folha/cien ... 9005.shtml