No início da consulta ele me perguntou qual era meu problema, e eu simplesmente respondi que só queria perguntar dúvidas. Ele aceitou a consulta e foi muito educado e elucidativo. Ouvi falar dele através de uma pessoa que obteve resultados impressionantes se tratando com ele, ela tinha diversos distúrbios (mania de perseguição, ouvia vozes...) e agora consegue viver uma vida normal.
Entre minhas dúvidas, óbvio que não poderia faltar perguntas sobre a fé, principalmente depois do flood de tópicos de pesquisas sobre os efeitos positivos da religião que houve no fórum. Vou escrever aqui sobre esse pedaço da conversa da maneira mais fiel possível. Em tempo, o psiquiatra em momento algum descobriu que eu era ateu, nem desconfiou de meus pontos de vista sobre o assunto, pois eu queria que ele fosse o mais sincero possível, mesmo sabendo que ele provavelmente estaria na defensiva para evitar algum possível constrangimento caso eu fosse um crente.
Eu: O que o senhor acha da fé? Crer em Deus, energias, etc...
Psiquiatra: Eu não discuto religião. Mas pesquisas mostram que pessoas que possuem fé, qualquer uma, vivem mais e melhor.
Eu:![]()
Psiquiatra: Ter convicções sobre efeitos positivos da religião, vida após a morte e essas coisas ajuda a diminuir angústias que as pessoas tem. Qualquer religião pode trazer esses efeitos nesse sentido.
Eu: Se uma pessoa não possuir essas angústias, a religião pra ela não teria esses efeitos?
Psiquiatra: Se você possui a convicção de que a religião não pode te ajudar, ou que você não precisa dela, então ela não pode.
Eu: O senhor poderia me explicar sobre o efeito placebo? Por que ele acontece geralmente em quadros mais relacionados a um comportamento nocivo de alguma forma que uma pessoa tenha, mas não pra algo como uma infecção? Se alguém tomar água achando que vai se curar de uma infecção ela não vai, assim como se alguém tomar um antibiótico crendo que não vai ter efeito o medicamento vai curar igual...
Psiquiatra: O efeito placebo também acontece em doenças como infecções. Se alguém tiver uma infecção e tomar um remédio qualquer, com toda convicção de que vai se curar com ele, a pessoa pode passar a se sentir melhor, mesmo que não se cure. E também existe o efeito anti-placebo, se alguém toma uma medicação correta para algum tratamento, com toda convicção de que ele não vai funcionar, existe a chance de que o remédio não surta o efeito desejado, ou apenas uma parte dele.
É o cérebro que manda em nossos sistemas, e essas coisas podem influenciar.
Eu: Então uma fé religiosa, assim como uma fé em um placebo, dependem exclusivamente do efeito que o nosso próprio corpo concede a ela?
Psiquiatra: É, nosso corpo possui diversos mecanismos para se manter saudável.
Eu: (Now we are talking)![]()
Eu ainda estou avaliando o que eu tiro disso tudo. Uma resposta do tipo "essa pesquisa tá errada porque é óbvio" não me convence.
Basicamente, acho que o ser humano pode perfeitamente ter os efeitos positivos que as crenças trazem aos crentes sem precisar se iludir. Creio que todos temos valores muito importantes pra nós mesmos que vão muito além do materialismo, e não é algo espiritual, não são crenças irracionais, não há evidências que os conteste. As convicções que fazem bem aos crentes podem ser direcionadas a valores muito mais positivos ao ser humano, e que não dependem da ignorância.