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Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 29 Mar 2009, 10:09
por carlo
Digressões em torno da liberdade humana
O filósofo Daniel Dennett, em seu livro Freedom Evolves (inédito no Brasil), queixa-se da “agenda oculta que tende a distorcer as teorias em todas as ciências sociais e da vida”: “a antipatia velada” a duas idéias, a de que “nossas mentes são apenas o que os nossos cérebros fazem sem milagres”, e a de que “os talentos do nosso cérebro tiveram que evoluir como qualquer outra maravilha da natureza”. Para defender essas duas idéias, vamos partir da crítica daquela que foi a ideologia dominante nas ciências sociais do século XX: o marxismo.

Por trás da utopia marxista, inspirada originalmente no bom selvagem de Rousseau (aquele que é virtuoso no estado de natureza, mas corrompido pela sociedade), sempre houve o propósito de re-fundar toda a cultura humana. Construir o comunismo era, antes de tudo, incutir nas mentes de todos o senso de igualdade. Assim, a solidariedade com o sofrimento alheio e a luta contra a opressão do homem pelo homem, levariam as pessoas a recusarem todo tipo de domínio, o que resultaria num futuro sem classes ou hierarquias.

Implícito por trás desse programa, encontramos, como em boa parte da teoria social que vicejou no século XX, a idéia da “Tabula Rasa”. A premissa era: se o que determina a conduta humana são os valores e práticas histórica e socioculturalmente construídos, bastaria promover uma revisão desses valores para se fundar uma nova humanidade.

Tendo essa idéia em vista, Mao Tsé-Tung levou a cabo a Revolução Cultural (1967-1977), uma das maiores atrocidades da História da Humanidade, com um saldo de pelo menos 1 milhão e meio de mortos, na qual bandos de jovens (era preciso começar pela juventude ingênua e com a “tabula” ainda vazia, não é mesmo?) assassinavam, destruíam obras de arte, templos e edificações milenares, humilhavam e violentavam seus compatriotas. Isso sem falar na “reeducação” dos “burgueses” (leia-se intelectuais). O Camboja de Pol Pot não fez diferente: para erradicar
a “cultura burguesa”, culpada pela desigualdade e o sofrimento do povo, mandava-se matar qualquer um que usasse óculos. No fim das contas, 1/5 da população do país foi massacrada. Contudo, nem nesses dois países, nem na União Soviética, a estrutura socialista foi capaz de eliminar a desigualdade e a exploração, tendo havido, no fim das contas, apenas uma troca na opressora elite dirigente.

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O que descobrimos a duras penas com esses e outros exemplos é que algumas características do homem simplesmente não podem ser “culturalmente alteradas”. Isso é apenas um indício de que temos boas razões para resgatarmos a noção de “natureza humana”, nesses tempos em que o pós-modernismo proscreveu essa expressão do vocabulário, por não ser “politicamente correta”.

Aliás, o debate atual, nesse início de milênio, é mesmo o de retomada do tradicional problema da filogenia versus ontogenia (ou nature vs. nurture), que no início do século XX dominou o debate entre os pais das ciências sociais (Sigmund Freud, Émile Durkheim, Franz Boas) e a ideologia racista e arrogante do século anterior: o comportamento é fruto da cultura ou da biologia? Naquela época, prevaleceu a tese da “Tabula Rasa”, que hoje é um lugar-comum, e que afirma que somos condicionados apenas por fatores socioculturais.

Não só isso: o senso comum tem clareza de que o ser humano é um ser dotado de uma alma ou espírito, e que essa é uma substância incorpórea que governa o corpo, conforme seu livre-arbítrio e seus valores. Acontece que esse dualismo mofado só pode ser sustentado dogmaticamente, via convicção religiosa. Cientificamente, precisa-se de uma relação de causalidade para a ação humana, o que é impossível de ser explicado se recorrendo ao “fantasma da máquina” que seria o espírito. O nosso comportamento tem que ser originado de alguma maneira naturalmente explicável.

Ou ele é gerado de forma completamente aleatória (imagine uma “loteria” que existisse no cérebro, sorteando as condutas possíveis... isso não parece plausível, não é mesmo?), ou ele é causado de alguma maneira. Vimos que para os pós-modernos e os marxistas, é somente a interação sociocultural que molda nosso comportamento.

Mas isso tampouco faz sentido. Pergunte a um pai que cria dois filhos da mesma forma se eles não têm personalidades muito distintas. Ou então junte dois gêmeos idênticos criados em lares separados e veja o quanto do comportamento de ambos é semelhante (há uma extensa pesquisa disso sendo conduzida pelo Depto. de Psicologia de Harvard, e os resultados são impressionantes). Ou então vamos analisar a lista de “universais humanos”, isto é, características que ocorrem em todas as sociedades humanas, por mais distintas que sejam suas culturas. Cada sociedade tem as mais variadas formas de vestir-se; mas em todas elas vestimenta ou ornamentação corporal são símbolo de status. Há sociedades canibais, há outras em que isso é impensável, há sociedades que estimulam a pedofilia e o homossexualismo, há outras que criminalizam essas condutas. Mas em todas elas os homens são mais violentos que as mulheres. Temos no ocidente o “due processo of law”, um processo penal que garante direitos humanos e ampla defesa, mas entreguemos o estuprador às mãos do pai ou marido da vítima, e veremos uma vingança brutal e sangrenta.

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Se o homem é uma “Tabula Rasa”, por que é que as crianças começam a rir a partir dos 3 meses de vida, mesmo que tenham nascido cegas ou surdas? Se os nossos valores éticos é que guiam o comportamento, como explicar que consideremos compreensível que um pai que tenha que escolher entre a morte de um filho seu e a de 5 outras crianças deixe com que estas pereçam?
É... algo deve estar errado com a visão tradicional de que o homem é um animal para algumas coisas (sexo, alimentação, ou outros ramos da existência em que dominam os “instintos”) e um frio e meticuloso intelecto em outros (seria a nossa parte “racional”, que guia a nossa interação social).

A etologia e, notadamente, os primatologistas, estão nos fazendo o grande favor de mostrar que há outros animais com vida social e complexos traços culturais (linguagem, uso de ferramentas, comportamentos morais, disputas políticas, etc). Com isso, podemos acreditar que há uma “natureza humana” de fato. E que ela não se limita ao nosso lado “selvagem”, mas governa boa parte de nossa existência. Por fim, concluímos que, se isso vem de algum lugar, a única explicação bem fundamentada que temos hoje é que o homem e suas características comportamentais resultam de um processo de seleção natural, inserido nos milhões de anos de evolução da sua espécie, e que possibilitou a transmissão hereditária daquilo que nos define.

Para o humanista que estiver lendo essas linhas indignado, peço que releia as milhares de páginas que a literatura ocidental nos legou. De Homero a Shakespeare, passando por Cervantes, Guimarães Rosa, Dostoievski, Machado de Assis, Sófocles e Dickens, temos facilmente reconhecíveis os vícios e virtudes universais da espécie humana. E não é pretensioso afirmar que, assim como no passado e agora, no futuro aquelas pessoas expansivas e com melhor retórica dominarão grupos carismaticamente, os políticos sempre mentirão, a violência e o crime estarão presentes em qualquer sociedade, haverá desigualdade social* e sempre haverá ciúme, inveja e ganância, mas também esperança, altruísmo e cooperação. Em outras palavras: eis a natureza humana. "Homo sum. Nihil alienum homini a me puto", escreveu o dramaturgo latino Terêncio (“Sou humano. Nada do que é humano julgo ser alheio a mim”).

Estou dizendo que tudo está nos genes do Homo sapiens? Absolutamente não. Como qualquer um versado minimamente em genética sabe, os genes sozinhos não são nada. O nosso comportamento resulta de uma complexa interação entre o que é universal (estrutura biológica) com o que é imensamente variável (o ambiente: aí incluímos desde a geografia até a cultura humana, que é incrivelmente diversificada). Não temos a oposição nature vs. nurture, mas a dinâmica correlação entre ambas. O nosso “instinto moral” pode nos dar um senso inato de equidade, mas “o que é justo?” é uma pergunta cuja resposta depende inteiramente do contexto sociocultural. Os nossos genes podem ser programados para procriarmos o máximo possível e reagirmos violentamente à agressão, mas a cultura pode nos ensinar planejamento familiar e pacifismo. E por isso a cultura continua sendo fundamental.

Digo isso porque, mesmo admitindo que nossas ações resultam não de um espírito imaterial, mas da cognição, e que esta se passa no cérebro humano, moldado após milhões de anos da evolução da espécie, e conforme interações entre o que nos é inato e o que a vida em sociedade nos apresenta, não temos que aceitar um determinismo tosco. Afinal, como afirma Dennett no livro citado, nós humanos temos plena consciência do que se passa conosco, e somos, mais do que qualquer outro animal, capazes de planejar nosso futuro. Nosso comportamento tem causas que podem ser exploradas, mas nós temos a nítida percepção de sermos livres. O livre-arbítrio, nesse sentido, se coaduna com uma explicação naturalista, não-sobrenatural, da condição humana.

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O filósofo italiano Pico della Mirandola (1463-1494) escreveu: “tu és árbitro e soberano artífice de si mesmo”. Revisitando a fala do pensador, eu diria que sim, somos árbitros do nosso destino, porque assim nos sentimos; podemos não ser soberanos, mas, exatamente para podermos ser um pouco mais donos de nós mesmos, temos que conhecer bem aquilo que inevitavelmente faz parte de nossa natureza**.
* Não estamos com isso esposando nenhum conformismo com a pobreza ou a miséria. Fato é que toda organização animal, em face de recursos escassos (alimentos, território e parceiros sexuais) resulta em desigualdade social. Contudo, devemos buscar, dentro da desigualdade que é inevitável, um mínimo de dignidade para todos. John Rawls, em seu Theory of Justice, assevera que a desigualdade em si não tem problema algum, desde que todos tenham, no “ponto de partida”, condições iguais para batalhar, meritocraticamente, por riquezas. Acreditamos que a democracia só é possível se o Estado garante a todos os cidadãos os direitos sociais básicos.
** Como já afirmei aqui antes, creio que os avanços da tecnologia nos campos da genética e da robótica possibilitarão, ainda no período de nossas vidas, mudanças radicais no que chamo de “natureza humana”. Aí sim, teremos transcendido os limites do humano, demasiado humano
.

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 10:37
por user f.k.a. Cabeção

Claro que nao e.

O marxismo e um credo mistico escatologico que anteve os eventos do Fim da Historia nas profecias "materialistas" de Karl Marx sobre as erupcoes sociais finais (a Revolucao) produzidas pela intensificacao da exploracao da mao de obra pelo capital, que terminariam por introduzir uma nova sociedade baseada numa etica de "igualitarismo".

Ninguem precisa professar uma crenca tao ridicula para ser contra a miseria. Nem mesmo as variantes modernas que foram introduzidas quando a antiga crenca se mostrava cada vez menos crivel.

Na verdade, os grandes ideologos da miseria sao os esquerdistas modernos e pos-modernos. Os miseraveis sao seu gado, habilmente tocados pela sua imponente retorica "social".

Mas a verdade e que o pobre menos precisa para deixar de se-lo e de um Estado que tome as decisoes por ele. Esse e o pior dos cenarios, e aquele que intensifica a mentalidade da dependencia que esta nas raizes do fenomeno da miseria.

O que o pobre precisa e que os burocratas parasitas do Estado e as demais entidades para-estatais (ONGs e sindicatos) nao fiquem na sua frente o impedindo de prosperar. O pobre precisa de liberdade para cacar suas oportunidades, essa e a materia basica para escapar da miseria, sem a qual sao inocuas e mesmo contraprodutivas as pretensas garantias de saude, moradia, educacao e qualidade de vida que todo politica esquerdista (e uma maioria dos "direitistas") adora oferecer.

Os milhares de imigrantes europeus e asiaticos que chegaram na America no fim do seculo XIX e comeco do seculo XX nao eram engenheiros ou medicos, eram agricultores e peoes semi-analfabetos e famintos. Eles e suas respectivas familias nao prosperaram porque o governo americano lhes deu sopa e instrucao "de graca", mas porque eles podiam ganhar seus centavos por dia e ficar com eles, e nenhum burocrata ou intelectual socialista ia impedi-los disso.

O pobre nao precisa de vale isso ou aquilo, de bolsa isso ou aquilo, de salario minimo, de SUS, de cheque cidadao, de programa casa propria, nem de merda nenhuma dessas. Porque isso no fim das contas so e produzido as custas do dinheiro que deles ou da riqueza que eles poderiam ter produzido.

Mas depois que o governo cria, as pessoas se acostumam a depender disso.

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 11:14
por Jack Torrance
carlo escreveu:Tendo essa idéia em vista, Mao Tsé-Tung levou a cabo a Revolução Cultural (1967-1977), uma das maiores atrocidades da História da Humanidade, com um saldo de pelo menos 1 milhão e meio de mortos, na qual bandos de jovens (era preciso começar pela juventude ingênua e com a “tabula” ainda vazia, não é mesmo?) assassinavam, destruíam obras de arte, templos e edificações milenares, humilhavam e violentavam seus compatriotas. Isso sem falar na “reeducação” dos “burgueses” (leia-se intelectuais).


Foi esse o número de mortos em 10 anos?

Claro que ele disse "pelo menos", pois qualquer valor acima do 1 milhão e meio é válido.

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 13:14
por carlo
Jack Torrance escreveu:
carlo escreveu:Tendo essa idéia em vista, Mao Tsé-Tung levou a cabo a Revolução Cultural (1967-1977), uma das maiores atrocidades da História da Humanidade, com um saldo de pelo menos 1 milhão e meio de mortos, na qual bandos de jovens (era preciso começar pela juventude ingênua e com a “tabula” ainda vazia, não é mesmo?) assassinavam, destruíam obras de arte, templos e edificações milenares, humilhavam e violentavam seus compatriotas. Isso sem falar na “reeducação” dos “burgueses” (leia-se intelectuais).


Foi esse o número de mortos em 10 anos?

Claro que ele disse "pelo menos", pois qualquer valor acima do 1 milhão e meio é válido.

Põe um milhão e meio nisto:

Coisinhas destes loucos, vamos começar com uma obra do Stalin:
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vítimas de Stalin.
abaixo obras do Pol Pot:
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Aqui o caramunhão mortinho da silva:
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Ele deveria ter acado como Benito:
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Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 13:22
por carlo
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Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 13:28
por carlo
A segunda foto do post acima é do ator do Gritos do silêncio?

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OS MALUCOS:
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Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 13:34
por carlo
A PRISÃO DO SANGUINÁRIO:
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Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 30 Mar 2009, 15:11
por Apo
Enjoada, aqui...

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 01 Out 2010, 06:52
por Apáte
Carlo anti-comuna. :-\

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 01 Out 2010, 08:47
por Fernando Silva
O que descobrimos a duras penas com esses e outros exemplos é que algumas características do homem simplesmente não podem ser “culturalmente alteradas”.

Nascemos diferentes e ficamos ainda mais diferentes a cada dia. Igualdade simplesmente não existe, a não ser diante da lei.
E isto é bom. Precisamos de todos os tipos de gente, de todos os tipos de talento.
Precisamos de que as pessoas tenham a liberdade de evoluir através do próprio esforço, o que, naturalmente, as tornará superiores a quem não se esforça (ou é incapaz por natureza).

A igualdade só é possível nivelando-se por baixo.
Não é possível transformar um perna de pau em Pelé, mas é possível obrigar o Pelé a jogar como um perna de pau (para não humilhar os pernas de pau).

Re: Não ser marxista, não é ser a favor da miséria!

Enviado: 01 Out 2010, 12:45
por Acauan
Jack Torrance escreveu:
carlo escreveu:Tendo essa idéia em vista, Mao Tsé-Tung levou a cabo a Revolução Cultural (1967-1977), uma das maiores atrocidades da História da Humanidade, com um saldo de pelo menos 1 milhão e meio de mortos, na qual bandos de jovens (era preciso começar pela juventude ingênua e com a “tabula” ainda vazia, não é mesmo?) assassinavam, destruíam obras de arte, templos e edificações milenares, humilhavam e violentavam seus compatriotas. Isso sem falar na “reeducação” dos “burgueses” (leia-se intelectuais).


Foi esse o número de mortos em 10 anos?

Claro que ele disse "pelo menos", pois qualquer valor acima do 1 milhão e meio é válido.


Os mortos somam dezenas de milhões se considerados também os que foram vitimados no "Grande Salto para Frente", o programa de modernização comunista que seguindo o padrão gerou apenas fome epidêmica e repressão brutal.

A Revolução Cultural era basicamente um expurgo nos quadros do Partido, da burocracia estatal e do professorado, o que torna o mais de milhão de mortos um número gigantesco.