Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


E ai Dante? Andou sumido! (e reapareceu no mesmo dia do Karls, o que restaura antigas suspetias de redundancia de usarios)

Muito boa entrevista.

Milton Friedman conseguia sintetizar muito bem os principais argumentos de uma maneira que fossem bem compreensiveis sem distorce-los excessivamente, alem de dispor habilmente de um arsenal enorme de fatos e numeros que ilustram perfeitamente o que ele esta dizendo em cada ocasiao. Isso fazia dele uma figura formidavel para esse formato de entrevista ou para debates orais e programas de TV ("Free to choose" e um programa tao bom que eu as vezes nem acredito que isso tenha passado na TV em algum lugar do mundo em alguma epoca).

A sua contribuicao como economista foi grande, mas eu devo admitir que as suas principais teorias monetarias nao me convencem. Nessa entrevista ele comenta brevemente sobre isso, quando ele afirma que a grande depressao poderia ter sido evitada se o governo nao tivesse "contraido a moeda".

A grande depressao nao poderia ter sido evitada imprimindo ainda mais dinheiro, assim como a crise atual tambem nao foi evitada nem sera evitada pelos pacotes trilionarios lancados pelos governos.

A depressao e consequencia de um longo periodo onde a taxa de novos investimentos e a poupanca se encontravam defasados, causando realocacao de recursos necessarios para a manutencao do capital existente e endividamento perdulario, sustentado apenas pelas expectativas de crescimento que evidentemente nao eram sustentaveis.

Quanto mais tempo o acelerador inflacionario da economia e acionado, mais intensivo e mais longa e a duracao do periodo onde ha consumo real de capital mascarado por lucro aparente.

Ele ate reconhecia isso (e cada vez mais, com o passar do tempo), mas ao acreditar que os efeitos poderiam ser diminuidos injetando-se ainda mais liquidez durante uma crise, a titulo de salvar bancos da ruina, ele apenas recomenda uma dose ainda mais cavalar do veneno que causou a doenca.

De qualquer forma, ele foi verdadeiro um campeao da liberdade. Uma das figuras mais brilhantes e simpaticas do seculo passado. Gosto muito dos seus livros (nao tecnicos) Capitalismo e Liberdade, Free to Choose, Episodios da Historia Monetaria, mesmo nao necessariamente concordando com a tese sustentada nesse ultimo.
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Fedidovisk
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por Fedidovisk »

Os velhos ratos sempre aparecem. :emoticon12:

marcoscfh
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por marcoscfh »

Tantos falam do tal estímulo do governo na economia, injetando mais crédtos no mercado e sendo assim supostamente o responsável pela crise mundiail. Mas o que tem a ver a oferta monetária quando o "empréstimo do empréstimo" visa justamente a especulação em torno de um dinheiro que NÃO EXISTE?

A idéia do "empréstimo do empréstimo" funciona mais ou menos como uma pirâmide onde se ganha em cima de um dinheiro que não existe, dos juros do devedor final.O que acontece é que o governo vai lá e dá um estímulo inicial e deixa o bolo crescer sem controlá-lo é é aí que a coisa sai do controle. se houvesse regulamentação em cima dessa especulação exacerbada em cima do empréstimo do empréstimo, do dinheiro que não existe, a coisa não adquiria a magnitude que atingiu.

Não foram os pobres dos EUA que passaram a comprar casas financiadas e usá-las como âncoras de outros empréstimos, cujo dinheiro financiavam SUVs e bens de consumo. pobre não tem nem o que comer, não vai ficar fazendo financiamento sobre financiamento para suprir seus caprichos consumistas.

Quem fodeu com o mercado subprime foi a classe média que se valia dos financiamentos para ostentar seus quatro ou seis carros e passeios a cancun.

O governo estimulou a expansão do crédito, mas quem fez uma captação e cessão descontrolada foram os bancos e financiadoras, logicamente visando ganhar (muito) em cima desse tipo de crédito, que ao contrário do que você diz, cobrava juros mais altos que os do mercado por ser de risco.

Não existe essa de "equilibrio do mercado".Onde já se viu um meio onde um vive querendo esfaquear o outro pelas costas ter equilíbrio? Se o governo não estiver lá, presente para preservar os exageros e ataques especulativos, obviamente a coisa vai acabar em merda.

Foi assim em 1929, foi assim na década de 90 e está sendo assim agora!

Se tivessem estatizado de vez em vez de tentar vender os títulos das S&L, não teria resultado nisso.

Mas o governo americano decidiu que não sabia gerir os ativos dos pequenos bancos quebrados e tentou "privatizá-los". Como não conseguia vender os créditos podres, resolveu titularizá-los.

Daí já viu, né? tudo que vira título, algo meio que abstrato, vira ouro na mão dos especuladores... é aí que deu a merda.

Se o governo americano tivesse criado um banco estatal para gerir esses ativos, ou tivesse um BB ou CEF por lá para lidar com eles, isso não teria resultado na bolha que virou o subprime que gerou a crise.


E tenho dito! :emoticon13:

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carlo
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por carlo »

MARCOSFH:

"Não existe essa de "equilibrio do mercado".Onde já se viu um meio onde um vive querendo esfaquear o outro pelas costas ter equilíbrio? Se o governo não estiver lá, presente para preservar os exageros e ataques especulativos, obviamente a coisa vai acabar em merda."

hHEHEHE! Este caboclo ae abaixo pensava assim também:

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LORD KEYNES.

Por outro o Cabeça é bom teórico para caralho. Deve ter feito economia na PUC do Rio, a corrente de pensamento dos economistas de lá é idêntica à dele. Acertei?
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Herf
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por Herf »

Os especuladores são um dos bodes expiatórios preferidos das esquerdas.

Mas um especulador não difere em nada de qualquer pessoa que - respondendo a estímulos - resolve comprar um bem hoje para evitar pagar um preço mais alto amanhã, se ela por algum motivo prevê que o preço estará maior.

A função do especulador é essencial à alocação ideal dos recursos na sociedade. Mas como ocorre em todo cenário onde os preços são manipulados e não sinalizam a verdadeira relação entre oferta e demanda, a ação de qualquer agente do mercado - desde um mero pobre dos EUA que "não tem o que comer" nem tampouco "caprichos consumistas" até o mais bem sucedido dos especuladores -, irá alocar os recursos da forma errada.

Mas o que tem a ver a oferta monetária quando o "empréstimo do empréstimo" visa justamente a especulação em torno de um dinheiro que NÃO EXISTE?

O dinheiro/crédito existe sim. Basta o governo decretar que ele exista. Mas criar crédito e dinheiro não é o mesmo que criar riqueza. E o problema todo foi justamente essa elevação de crédito observada não ter a contrapartida de uma poupança proporcionalmente elevada.

Quando todo mundo percebeu que os investimentos realizados nesse tempo não estavam suportados por poupança, mas apenas na "inofensiva" criação de crédito do governo visando dar casas a quem não podia pagar por elas, deu no que deu.

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carlo
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por carlo »

Herf escreveu:Os especuladores são um dos bodes expiatórios preferidos das esquerdas.

Mas um especulador não difere em nada de qualquer pessoa que - respondendo a estímulos - resolve comprar um bem hoje para evitar pagar um preço mais alto amanhã, se ela por algum motivo prevê que o preço estará maior.

A função do especulador é essencial à alocação ideal dos recursos na sociedade. Mas como ocorre em todo cenário onde os preços são manipulados e não sinalizam a verdadeira relação entre oferta e demanda, a ação de qualquer agente do mercado - desde um mero pobre dos EUA que "não tem o que comer" nem tampouco "caprichos consumistas" até o mais bem sucedido dos especuladores -, irá alocar os recursos da forma errada.

Mas o que tem a ver a oferta monetária quando o "empréstimo do empréstimo" visa justamente a especulação em torno de um dinheiro que NÃO EXISTE?

O dinheiro/crédito existe sim. Basta o governo decretar que ele exista. Mas criar crédito e dinheiro não é o mesmo que criar riqueza. E o problema todo foi justamente essa elevação de crédito observada não ter a contrapartida de uma poupança proporcionalmente elevada.

Quando todo mundo percebeu que os investimentos realizados nesse tempo não estavam suportados por poupança, mas apenas na "inofensiva" criação de crédito do governo visando dar casas a quem não podia pagar por elas, deu no que deu.


Concordo com o que vc disse e com o exposto abaixo também. Por outro acho e vou ficar só no achismo que mercados precisam de uma certo "olhar" de regulação governamental. Veja abaixo:

A Origem do Termo Especulador.

A maioria das pessoas usa o termo especulador de forma incorreta. A palavra tem sua origem na raiz indo-germânica "Spec", que significa olhar. É dela que recebemos dezenas de outras palavras como

Especialista, aquele que olha com profundidade
Especial, aquilo que olhamos com carinho.
Espelho, olhar para si.
Respeito, olhar com orgulho.
Espetáculo, olhar algo deslumbrante.
Esperança, olhar o futuro positivamente
Espanto, olhar assustado

E, finalmente, especulador: aquele que olha na frente, aquele que enxerga aquilo que outros não vêem.

Portanto, etimologicamente, especulador é uma palavra positiva, sem a negatividade que hoje se lhe atribui. Toda sociedade precisa de especuladores, pessoas que enxergam na frente e mostram o caminho. Deveríamos venerar nossos especuladores, e não vilipendiá-los como fazemos costumeiramente.

Vocês que acessam O Brasil Que Dá Certo são provavelmente especuladores, pessoas que querem enxergar para frente, e não ficar remoendo o passado, achando que no passado é que iremos encontrar as soluções do presente.

Esta é a razão do grande fracasso dos intelectuais, dos filósofos, dos sociólogos e, principalmente, dos economistas neoclássicos, keynesianos e monetaristas em prever e evitar esta crise. A maioria está estudando o passado -- e não tentando decifrar o futuro.

Lamento dizer que, na história do mundo, os grandes especuladores de mercados, na versão negativa que se dá o termo, não têm sido os “Georges Soros” da vida, como se costuma espalhar por aí.

George Soros, considerado o maior especulador da década, percebeu que os economistas ingleses estavam mantendo a paridade da libra correlacionada com o marco alemão. Como George Soros sabia que a Inglaterra não é a Alemanha, vendeu libras e comprou marcos. Ele acabou mostrando que a Rainha da Inglaterra estava nua.

Ganhou fortunas com isso. Soros prestou um serviço ao povo da Inglaterra ao pôr fim àquela manipulação dos economistas ingleses. O grande especulador, na versão negativa que se dá o termo, normalmente é o poder público.

Por que então os especuladores, aqueles que olham o futuro, são tão odiados?

O problema é que especuladores ganham muito dinheiro, justamente porque ganham contra governos teimosos. Aí, recebem a ira dos burocratas, dos economistas e dos Ministros que deveriam ser demitidos pelos erros que fizeram, mas não o são.

E quem leva a culpa e a ira do governo são os especuladores que revelaram o erro público.

Stephen Kanitz
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

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marcoscfh,

Antes de sair acusando qual classe tem a culpa, e preciso entender que pessoas respondem a incentivos.

E o governo ao manipular as taxas de juros estava produzindo falsos sinais, que estimulavam o aumento tanto do consumo quanto do investimento em projetos novos.

Qualquer pessoa sensata sabe que isso e insustentavel. Para sustentar um investimento e preciso retrair o consumo, e para aumentar o consumo e preciso retrair o investimento, fixada uma renda.

Esse tipo de comportamento saudavel se produz exatamente quando ha uma taxa de juros que se ajusta determinando ambos os niveis.

Quando o governo falsifica os juros, pessoas poupam menos, investidores investem mais, e existe um desequilibrio que produz uma alocacao de capital ineficiente no longo prazo. O fato e que o capital e estruturado, e existem setores responsaveis pelas transformacoes intermediarias e pela reposicao do capital que e consumido durante o processo de producao.

Os juros equivocados fazem novos empreendimentos de longo prazo que nao sao interessantes parecerem interessantes, e como nao ha poupanca correspondente para justificar esses novos investimentos, eles so se produzem atraves do deslocamento de capital desses setores intermediarios importantes. Enquanto as pessoas estao iludidas por numeros adulterados que criam falsas expectativas, todos acreditam viver um momento de excepcional prosperidade, onde o consumo, o "investimento" e os lucros sao altos.

Mas o custo disso e cobrado no longo prazo, quando o preco da negligencia dos estagios intermediarios e de reposicao e cobrado e quando os investimentos de longo prazo se mostram desinteressantes. Nesse momento e que as empresas de automoveis se depararam com uma colossal quantidade de veiculos no estoque que nao podem ser vendidos sem amargar perdas.

E aqueles do governo responsaveis pelo desastre rapidamente se encarregam de fortalecer o coro dos urubus dizendo que a crise e um problema inerente do capitalismo de livre mercado.

Eu sinceramente nao entendo como um besteirol desses pode ser engolido, se o mercado de dinheiro e juros E O MAIS REGULADO ENTRE TODOS OS MERCADOS. E preciso muita fe na burocracia para aceitar uma patacoada ridicula dessas.

Nao foi a ganancia dos especuladores nem o consumismo da classe media que produziram a crise. Porque por mais gananciosos e consumistas que cada um deles seja, e muito dificil de acreditar que a maioria deles jogaria para perder fazendo pessimas previsoes e se endividando tanto. Pois eles estavam nutridos por informacoes falsas.
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

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marcoscfh escreveu:Não existe essa de "equilibrio do mercado".Onde já se viu um meio onde um vive querendo esfaquear o outro pelas costas ter equilíbrio? Se o governo não estiver lá, presente para preservar os exageros e ataques especulativos, obviamente a coisa vai acabar em merda.



O termo equilibrio de mercado e realmente inadequado em varias situacoes. As condicoes mudam e com elas as configuracoes especificas do mercado, de modo que a nocao usual de equilibrio tem pouca serventia.

Mas uma nocao um pouco mais sofisticada e correta de equilibrio pode ser encontrada quando entendemos como funciona o sistema de precos, e o seu carater dual de informacao e incentivo.

Os precos nao apenas representam uma informacao a respeito dos estoques e demandas atuais e futuros (estimados) de bens e servicos disponiveis, mas tambem servem como incentivos para que a producao de bens cuja demanda relativa a oferta e maior seja privilegiada na alocacao dos recursos futuros em funcao de bens cuja demanda relativa a oferta e menor.

Esse e o conceito de equilibrio. Os precos informam sobre a realidade geral das necessidades mais urgentes das pessoas e estimulam a acao individual visando satisfazer essas necessidades.

Como os fatores ambientais diversos nao sao estaveis, e as necessidades subjetivas por bens tampouco, esse nao e um equilibrio no sentido usual, de aproximacao assintotica de um estado estacionario ou orbital.

Embora nao exista o estado final, e atraves dessas informacoes e incentivos que toda uma cadeia de processos que permite que uma vaca seja ordenhada numa fazenda, que o leite cru seja transportado para uma usina de beneficiamento e pasteurizacao, e em seguida uma embalado por uma outra empresa, e transportado para o deposito do revendedor de atacado que o vendera para o revendedor de varejo aonde voce o encontrara na prateleira, sem filas quilometricas ou quotas legais, sem mercado negro, e sem uma unica ordem expressa de uma autoridade sequer dizendo o que cada um precisa fazer para que isso se realize.

Sera que e por magica que isso acontece? Que toda essa gente que nao se conhece colabora nessa atividade, que foi apenas parcial e localmente descrita (afinal, uma descricao completa de todos os fatores envolvidos precisaria descrever TODO o mercado)?

Isso e o "equilibrio" gerado pelo sistema de precos. E ele que garante que nao vai haver leite demais nem de menos na mercearia do lado da sua casa. E quando os burocratas bem intencionados do governo tentam controla-lo, cheios de nobres objetivos e belos discursos, o que ocorre em geral e isso: falta leite processado e embalado nas prateleiras enquanto leite cru e jogado fora por produtores.

Seria uma divertidissima falacia a afirmacao de que burocratas sao angelicais criaturas dotadas de inteligencia supradivina, capazes de corrigir o mercado com informacoes misteriosas que eles tem sobre a verdade dos fatos sabe-se la como. Eu disse seria, porque a repeticao ad nauseam dessa ideia e um fato a se lamentar, e nao tem nada de divertido.
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marcoscfh
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por marcoscfh »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
marcoscfh,

Antes de sair acusando qual classe tem a culpa, e preciso entender que pessoas respondem a incentivos.

E o governo ao manipular as taxas de juros estava produzindo falsos sinais, que estimulavam o aumento tanto do consumo quanto do investimento em projetos novos.

Qualquer pessoa sensata sabe que isso e insustentavel. Para sustentar um investimento e preciso retrair o consumo, e para aumentar o consumo e preciso retrair o investimento, fixada uma renda.

Esse tipo de comportamento saudavel se produz exatamente quando ha uma taxa de juros que se ajusta determinando ambos os niveis.

Quando o governo falsifica os juros, pessoas poupam menos, investidores investem mais, e existe um desequilibrio que produz uma alocacao de capital ineficiente no longo prazo. O fato e que o capital e estruturado, e existem setores responsaveis pelas transformacoes intermediarias e pela reposicao do capital que e consumido durante o processo de producao.

Os juros equivocados fazem novos empreendimentos de longo prazo que nao sao interessantes parecerem interessantes, e como nao ha poupanca correspondente para justificar esses novos investimentos, eles so se produzem atraves do deslocamento de capital desses setores intermediarios importantes. Enquanto as pessoas estao iludidas por numeros adulterados que criam falsas expectativas, todos acreditam viver um momento de excepcional prosperidade, onde o consumo, o "investimento" e os lucros sao altos.

Mas o custo disso e cobrado no longo prazo, quando o preco da negligencia dos estagios intermediarios e de reposicao e cobrado e quando os investimentos de longo prazo se mostram desinteressantes. Nesse momento e que as empresas de automoveis se depararam com uma colossal quantidade de veiculos no estoque que nao podem ser vendidos sem amargar perdas.

E aqueles do governo responsaveis pelo desastre rapidamente se encarregam de fortalecer o coro dos urubus dizendo que a crise e um problema inerente do capitalismo de livre mercado.

Eu sinceramente nao entendo como um besteirol desses pode ser engolido, se o mercado de dinheiro e juros E O MAIS REGULADO ENTRE TODOS OS MERCADOS. E preciso muita fe na burocracia para aceitar uma patacoada ridicula dessas.

Nao foi a ganancia dos especuladores nem o consumismo da classe media que produziram a crise. Porque por mais gananciosos e consumistas que cada um deles seja, e muito dificil de acreditar que a maioria deles jogaria para perder fazendo pessimas previsoes e se endividando tanto. Pois eles estavam nutridos por informacoes falsas.



O governo só se valeu de um mercado que já existia para repassar os ativos assumidos com a desregulamentação dos Savings.
O resto, ficou por conta da gula do mercado mesmo com a especulação em torno desses títulos. Daí virou festa, todo mundo queria ganhar em cima dos generosos juros pagos após a colher de chá inicial. O que não contavam é que justamente a classe média, aquela que não se preocupava em perder a segunda casa financiada justamente para servir de lastro para financiamentos aventureiros comessasse a dar calotes.

Quando a inadimplência passou dos previstos 5% para 10, 15%, aí a ciranda da alegria acabou e virou pânico.

Não sei como voces conseguem usar como base as teorias de Mises Ou Frieldman.Terias que mentem descaradamente, coisa de desonesto intelecutal, fingindo que o capitalismo é bonzinho e benemerente. Deixar tudo nas mãos dos capitalistas que o mundo se ajusta por si próprio.Imagine um mundo onde os especuladores sejam todos éticos, humanos e que não vão jamais fazer algo que prejudique um próximo?

Nem o Marx bêbado colocaria tanta fé no ser humano. :emoticon26:

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King In Crimson
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por King In Crimson »

Não é questão de se a economia estaria melhor na mão dos burocratas ou da iniciativa privada. Confesso que não tenho informações para dar a resposta. (Porém a primeira situação parece bem implausível)

O problema real está no fato que é imoral que o estado decida onde e como as pessoas devem gastar seu dinheiro. Isso é escravidão.

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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

marcoscfh escreveu:O governo só se valeu de um mercado que já existia para repassar os ativos assumidos com a desregulamentação dos Savings.
O resto, ficou por conta da gula do mercado mesmo com a especulação em torno desses títulos. Daí virou festa, todo mundo queria ganhar em cima dos generosos juros pagos após a colher de chá inicial. O que não contavam é que justamente a classe média, aquela que não se preocupava em perder a segunda casa financiada justamente para servir de lastro para financiamentos aventureiros comessasse a dar calotes.



E interessante isso. Voce aplaude os objetivos da medida e vaia os seus efeitos reais. Toma cianureto como remedio e quando morre bota a culpa na reacao inesperada e irracional do seu figado.

Veja, o governo coloca em operacao um mecanismo de controle de precos que como qualquer outro distorce incentivos. E claro que ele faz isso com a melhor das intencoes: estimular a economia a crescer.

Por uma misteriosa razao os proponentes desses milagres economicos acreditam que o aparente crescimento poderia ser sustentavel se as pessoas nao fossem tao consumistas ou gananciosas e usassem os financiamentos baratos apenas para investimentos reais, e nao "consumo" ou "especulacao".

Acontece que ao tornar financiamentos baratos para investimentos, o governo diminui a remuneracao para a poupanca. Isso e um simples fato. Os juros remuneram os poupadores. Se eles sao diminuidos, as pessoas poupam menos.

E verdade que os juros sao tambem o custom dos investidores, mas isso e apenas a outra face da mesma moeda. Nao da para manipular apenas uma das faces. Criando incentivos monetarios para os investimentos o governo vai estar, simultaneamente, criando desestimulos para a poupanca que pagaria esses novos investimentos. Simples assim.

O resultado desse desequilibrio e que o capital e transferido e consumido enquanto os investimentos de longo prazo parecem lucrativos, retroalimentado pelas falsas expectativas criadas pelo aparente momento economico favoravel, onde todos consomem mais e investem mais.

Os politicos nao descobriram uma formula magica de riqueza. Eles descobriram como fazer numa escala nacional o que todo mundo ja sabia na escala pessoal: que e possivel sacrificar o futuro em funcao do presente. Que se nao nos preocuparmos com a manutencao do nosso estoque de capital intermediario podemos aumentar tanto o consumo quanto os projetos, mas esse descaso cedo ou tarde cobrara o seu preco.

Veja que embora isso pareca bastante inconsequente do ponto de vista do individuo, do ponto de vista dos governantes pode ser bem interessante, sobretudo em democracias representativas onde ha alternancia de poder.

Como politico voce nao precisa se preocupar com o longo prazo, mas apenas com a duracao do seu mandato. Se voce conseguir manter altas taxas de crescimento e consumo as custas do endividamento e sucateamento do capital intermediario durante um tempo longo o suficiente, quem vai ter que arcar com os problemas vao ser os seus sucessores, talvez membros de outros partidos.

Cara, de verdade, se houvesse uma formula magica burocratica para a prosperidade, eu nao teria nenhuma razao de me colocar contra ela. Mas o que o governo esta querendo e enganar a todos, jogando uma culpa que e sua em anonimos especuladores e consumistas da classe media, estimulando uma divisao absurda de classes e clamando por mais poder.


marcoscfh escreveu:Quando a inadimplência passou dos previstos 5% para 10, 15%, aí a ciranda da alegria acabou e virou pânico.


Pois e, so que o que voce nao esta querendo perceber foi que os burocratas que criaram essa situacao.

O sinal que os juros mandavam era um (e ele gritava: COMPRE AGORA PAGUE DEPOIS!!!), mas a realidade (ou seja, o nivel de poupanca para cobrir esses financiamentos) era outro. Quando o “depois” veio as pessoas nao tinham dinheiro para pagar.

Apesar de normalmente serem os banqueiros e as firmas financeiras aqueles oferecem esses creditos criativos e vantajosos, eles sao apenas os portadores dessa mensagem.

Os unicos com poder de fabrica-la sao os burocratas do governo, mais precisamente seus colegas do banco central. Eis os culpados.


marcoscfh escreveu:Não sei como voces conseguem usar como base as teorias de Mises Ou Frieldman.Terias que mentem descaradamente, coisa de desonesto intelecutal, fingindo que o capitalismo é bonzinho e benemerente. Deixar tudo nas mãos dos capitalistas que o mundo se ajusta por si próprio.Imagine um mundo onde os especuladores sejam todos éticos, humanos e que não vão jamais fazer algo que prejudique um próximo?

Nem o Marx bêbado colocaria tanta fé no ser humano.



Fe no ser humano por fe no ser humano, voce coloca fe em burocratas que tem todos os motivos do mundo para trapacear e enganar, muito mais do que empresarios que dependem de acordos voluntarios para prosperar e que colocam o seu proprio patrimonio e reputacao em jogo.

Mas e claro, os discursos desses burocratas sao sempre repletos de melhores intencoes.
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

King In Crimson escreveu:Não é questão de se a economia estaria melhor na mão dos burocratas ou da iniciativa privada. Confesso que não tenho informações para dar a resposta. (Porém a primeira situação parece bem implausível)

O problema real está no fato que é imoral que o estado decida onde e como as pessoas devem gastar seu dinheiro. Isso é escravidão.



Cara, nao tem muito misterio por tras do fato do capitalismo funcionar melhor que o socialismo.

No capitalismo, VOCE usa o seu dinheiro para voce, ou para outras pessoas a quem voce quer ajudar, ou com quem quer cooperar. VOCE tem todos os incentivos para fazer isso direito. VOCE e o fim ultimo da sua acao, e por isso tentara evitar os desperdicios do seu esforco caso procure atingir esse fim ultimo.

No socialismo, OUTRA PESSOA dispoe do seu dinheiro (ou trabalho ou esforco) para teoricamente servir a voce, ou para servir terceiros. Nao e dificil ver que OUTRA PESSOA nao tera os mesmos incentivos que VOCE tem, afinal, o fim ultimo desssa OUTRA PESSOA continua sendo ela propria. OUTRA nao tera muitos motivos para nao desperdicar os seus esforcos, ou para nao desvia-los para si.
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marcoscfh
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por marcoscfh »

user f.k.a. Cabeção escreveu:E interessante isso. Voce aplaude os objetivos da medida e vaia os seus efeitos reais. Toma cianureto como remedio e quando morre bota a culpa na reacao inesperada e irracional do seu figado.

Veja, o governo coloca em operacao um mecanismo de controle de precos que como qualquer outro distorce incentivos. E claro que ele faz isso com a melhor das intencoes: estimular a economia a crescer.

Por uma misteriosa razao os proponentes desses milagres economicos acreditam que o aparente crescimento poderia ser sustentavel se as pessoas nao fossem tao consumistas ou gananciosas e usassem os financiamentos baratos apenas para investimentos reais, e nao "consumo" ou "especulacao".

Acontece que ao tornar financiamentos baratos para investimentos, o governo diminui a remuneracao para a poupanca. Isso e um simples fato. Os juros remuneram os poupadores. Se eles sao diminuidos, as pessoas poupam menos.

E verdade que os juros sao tambem o custom dos investidores, mas isso e apenas a outra face da mesma moeda. Nao da para manipular apenas uma das faces. Criando incentivos monetarios para os investimentos o governo vai estar, simultaneamente, criando desestimulos para a poupanca que pagaria esses novos investimentos. Simples assim.

O resultado desse desequilibrio e que o capital e transferido e consumido enquanto os investimentos de longo prazo parecem lucrativos, retroalimentado pelas falsas expectativas criadas pelo aparente momento economico favoravel, onde todos consomem mais e investem mais.

Os politicos nao descobriram uma formula magica de riqueza. Eles descobriram como fazer numa escala nacional o que todo mundo ja sabia na escala pessoal: que e possivel sacrificar o futuro em funcao do presente. Que se nao nos preocuparmos com a manutencao do nosso estoque de capital intermediario podemos aumentar tanto o consumo quanto os projetos, mas esse descaso cedo ou tarde cobrara o seu preco.

Veja que embora isso pareca bastante inconsequente do ponto de vista do individuo, do ponto de vista dos governantes pode ser bem interessante, sobretudo em democracias representativas onde ha alternancia de poder.

Como politico voce nao precisa se preocupar com o longo prazo, mas apenas com a duracao do seu mandato. Se voce conseguir manter altas taxas de crescimento e consumo as custas do endividamento e sucateamento do capital intermediario durante um tempo longo o suficiente, quem vai ter que arcar com os problemas vao ser os seus sucessores, talvez membros de outros partidos.

Cara, de verdade, se houvesse uma formula magica burocratica para a prosperidade, eu nao teria nenhuma razao de me colocar contra ela. Mas o que o governo esta querendo e enganar a todos, jogando uma culpa que e sua em anonimos especuladores e consumistas da classe media, estimulando uma divisao absurda de classes e clamando por mais poder.


Existe uma coisa básica que um político que tenha um mínimo de orgulho próprio tenha: passar para a história, coisa que um mau carater que só quer encher os bolsos com determinado investimento até que ele comece a afundar e parta para o próximo nunca vai ter.
Ou você é extremamente ingênuo a ponto de saber que a economia é feita de ciclos e que os especuladores JAMAIS têm interesse em perpetuar nenhum deles, já que a estabilidade reduz os seus ganhos.Você fica papagaiando teorias, citando vigaristas mas não é capaz de enxergar a realidade que está aí sob os olhos de quem quiser ver: especulador não tem interesse algum em fazer progredir, manter ou conservar nada, o negócio deles é faturar com as oscilações e depois partir para outra.

Pare de pensar que todo político age como um deputadozinho do DEM ou PP que só quer fazer crescer o próprio patrimônio, até o Sarney e o Collor gostariam de passar para a história de forma positiva. Ninguém que chega a presidente ou governador quer ser lembrado como um idiota, só esses lixos fisiológicos que jamais passam de vereador ou no máximo deputado. Esses sim, são os lixos que não tem compromisso algum com o futuro, pois sabem que no máximo serão relembrados pelos netos ou por algum prefeito puxa-saco que lhes dará o nome a uma rua.


Pois e, so que o que voce nao esta querendo perceber foi que os burocratas que criaram essa situacao.

O sinal que os juros mandavam era um (e ele gritava: COMPRE AGORA PAGUE DEPOIS!!!), mas a realidade (ou seja, o nivel de poupanca para cobrir esses financiamentos) era outro. Quando o “depois” veio as pessoas nao tinham dinheiro para pagar.

Apesar de normalmente serem os banqueiros e as firmas financeiras aqueles oferecem esses creditos criativos e vantajosos, eles sao apenas os portadores dessa mensagem.

Os unicos com poder de fabrica-la sao os burocratas do governo, mais precisamente seus colegas do banco central. Eis os culpados.


O governo foi lá, abriu uma oportunidade. Que óbvio, poderia até dar chances de ganhos e funcionar perfeitamente SE houvesse uma regulamentação coibindo a prostituição da coisa que virou a tal "diversificação do risco", que é o empréstimo do empréstimo, a venda das dívidas ou seja lá o que quiserem chamar.
Nada disso teria acontecido se o negócio não virasse a tradicional bola de neve onde algumas pessoas compravam o carro financiado, pagavam os dois primeiros anos com juros baixos e depois passavam para a frente e pegavam outro carro. enquanto o preço dos imóveis estava superficialmente inflado, beleza. foi só aumentar o nível de inadimplência e os bancos começarem a tomar as casas que a realidade bateu e tudo caiu: o valor dos tais títulos, o preço dos imóveis, a liquidez dos bancos sumiu porque tinham que cobrir as perdas, etc.

É óbvio que a bomba caiu no colo da semi-estatal fannie e das seguradoras, obrigadas a segurar a bucha até pelas suas finalidades existenciais.Já os bancos, os mais vorazes estão ai pagando pelo preço da ganância.

Questiono muito o conhecimento de alguem sobre economia ao dizer que os bancos foram "obrigados" a emprestar dinheiro. :emoticon5:


Fe no ser humano por fe no ser humano, voce coloca fe em burocratas que tem todos os motivos do mundo para trapacear e enganar, muito mais do que empresarios que dependem de acordos voluntarios para prosperar e que colocam o seu proprio patrimonio e reputacao em jogo.

Mas e claro, os discursos desses burocratas sao sempre repletos de melhores intencoes.



Que patrimônio? Os empresários americanos também fazem tudo com o dinheiro alheio, a primeira coisa que fazem por lá é arrumar um financiamento de um banqueiro ou de algum sócio maior, senão ele é massacrado pela concorrência.Você novamente está tentando misturar a realidade americana com a realidade brasileira. E que reputação? Empresário lá liga para reputação? Ou ele lá sabe o que é isso?
Não viaja, daqui a pouco você vai dizer que um empresário tem maior preocupação com o próprio nome do que o presidente da república, que o governador. não seja piadista!

O único interesse no estado mínimo é a liberdade para se explorar os empregados, tratá-los como lixos descartáveis, sonegar, desviar, praticar concorrência desleal, passar por cima das leis ambientais, enfim, ter a liberdade para fazer o que quiser em nome do lucro.

Fodam-se as empresas menores, que serão obrigados a se pendurar em bancos, os empregados,os pobres, os agricultores e todo o setor primário, o que importa é aumentar os lucros.

Não sou a favor do exagero no aparelhamento estatal, até porque tem muita coisa inútil e a descentralização de certas coisas só tende a causar lentidão e desorganização. mas sou a favor de aumentar a fiscalização e o policiamente de forma ostensiva, acabar com essa festa da sonegação que é o Brasil isso sim.

Pelo menos em certos políticos eu votaria, como por exemplo na Heloisa Helena, certa vez ela disse que se efosse eleita, a primeira coisa que iria fazer é uma auditoria na previdência, o que político algum tem culhões. O INSS virou um poço sem fundo de indenizações fantasmas,inadimplência, fraudes e todo tipo de sacanagem.
Se forem atrás das dívidas e pegarem os empresários inadimplentes com o INSS e fizerem como fazem nos Estados Unidos, tomar a casa, tomar o carro, a casinha do cachorro, as jóias da mulher do cara, o governo levanta facilmente 50 bilhões de reais de uma hora para outra.

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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

marcoscfh escreveu:Existe uma coisa básica que um político que tenha um mínimo de orgulho próprio tenha: passar para a história, coisa que um mau carater que só quer encher os bolsos com determinado investimento até que ele comece a afundar e parta para o próximo nunca vai ter.
Ou você é extremamente ingênuo a ponto de saber que a economia é feita de ciclos e que os especuladores JAMAIS têm interesse em perpetuar nenhum deles, já que a estabilidade reduz os seus ganhos.Você fica papagaiando teorias, citando vigaristas mas não é capaz de enxergar a realidade que está aí sob os olhos de quem quiser ver: especulador não tem interesse algum em fazer progredir, manter ou conservar nada, o negócio deles é faturar com as oscilações e depois partir para outra.



Ingenuidade e acreditar em intencoes ao inves de resultados e fatos.

Voce, e quase todas as pessoas, quando interpretam fatos complexos tendem a julga-los sempre intencionais. Algum poder decidiu que seria assim.

Nao vou entrar nos pormenores filosoficos da coisa, por hora nao e necessario.

O fato e que mesmo as boas intencoes dos politicos podem nao ser o suficiente. Todos esses controles e regulacoes criados visando um objetivo especifico, muitas vezes nobres, como por exemplo, o salario minimo, acabam afetando fatores nao observados e tendo resultados gerais negativos.

No caso do salario minimo e facil perceber. Ele coloca trabalhadores cujas habilidades especificas nao justificam esse salario fora do mercado. Esse controle de precos e favoravel a uma classe especifica de trabalhadores, qual seja, os membros de sindicatos e outros trabalhadores ja empregados, que sofrem menor concorrencia de trabalhadores nao afiliados. Essas leis, onde quer que sejam passadas, apenas prejudicam os mais pobres, obrigando-os a viver da esmola privada ou estatal por nao poderem ter um emprego.

Nao foram apenas os politicos fisiologicos, aliciados ou oriundos de sindicatos, que passaram leis desse tipo. Muitos bem intencionados politicos, representando setores da sociedade sinceramente preocupados com os niveis de vida dos mais pobres concidadaos, apoiam essas leis.

E contiuam apoiando, pois a sutileza logica desse fato e algo que nao e assimilado instantaneamente. As pessoas nao costumam seguir mais do que algumas poucas implicacoes simples na hora de formar suas opinioes. Entre uma sequencia falsa de implicacoes simples o suficiente para serem compreendidas, e uma sequencia sofisticada porem mais verdadeira, eles acabam escolhendo a simples, ja que a sofisticacao da segunda os impede de notar a sua veracidade.

No caso dos salarios, a implicacao simples e falsa e: se o salario minimo e maior, trabalhadores pobres que ganham salarios minimos terao aumentos na sua renda.

As implicacoes sofisticadas envolvem mais variaveis: um salario minimo maior pode tornar o custo de um trabalhador especifico maior do que o beneficio do trabalho que ele e capaz de realizar, e isso faria os seus empregadores reconsiderarem suas contratacoes, desempregando-os. Finalmente, os mais pobres e menos qualificados acabam sendo prejudicados por nao encontrar quem os possa empregar.

Quase todas as pessoas com quem eu conversei, mesmo as mais "educadas" e "eruditas", de uma forma ou de outra, apegavam-se a modalidades do primeiro tipo de pensamento.

Que as coisas sao o que sao apenas porque ninguem decretou que elas deveriam ser melhores, ou porque pessoas mas lutam para impedir esses decretos de "funcionarem". Isso e uma forma de pensamento magico.

No caso dos juros e dos ciclos economicos o pensamento magico se manifesta de maneira quase analoga.

Por alguma razao, as pessoas acreditam que a intencao de promover investimentos manifestada por politicos que reduzem os juros poderia ser concretizada se as pessoas [das classes ricas, o que as vezes esta implicito, as vezes mesmo explicito] nao fossem patologicamente consumistas ou oportunistas imorais.

Isso e uma mistura venenosa de demagogia classista barata com cruzada quixotesca contra os fatos.

A primeira coisa a se perceber e que nao ha caneta com poder suficiente no mundo para fazer brotar riqueza. Todo acumulo de riqueza so se da atraves da poupanca de parte da producao. E todo investimento sustentavel precisa ser financiado por poupancas. Se o investimento total for maior do que a poupanca total, ou ha endividamento externo (recursos para investimento vindos do exterior da economia) ou ha consumo de capital (recursos de investimento retirados da propria estrutura de capital ja instalada). Isso e uma lei basica de conservacao.

Como eu expus acima, juros sao sinais claros para investidores e poupadores acerca do quanto as pessoas valorizam o futuro. Se esses sinais forem distorcidos, para baixo, os calculos de renda atualizada de projetos futuros indicarao valores maiores do que antes. Projetos com rendas altas de longo prazo parecerao vantajosos quando nao sao, sobrepondo-se a projetos de menor prazo, como reposicao ou manutencao do capital ja instalado. O capital dos projetos em curso pode ser deteriorado se os projetos de longo prazo para onde sao desviados os recursos de manutencao parecerem mais vantajosos. Isso se prova com um simples calculo de rendas atualizadas. Isso explica o lancamento de projetos mirabolantes, como por exemplo a construcao de arranha-ceus cada vez maiores, nos periodos de boom economico.

Por outro lado, uma reducao dos juros, mantidas constantes as demais variaveis, reduz a propensao das pessoas a poupar. Ora, se a mesma pessoa tera em um ano 5% de premio ao inves de 7 ou 8% sobre o capital inicial poupado, ela, sendo a mesma pessoa, estara mais inclinada a gastar sua renda com bens atuais, pois o aumento futuro de poder aquisitivo nao e mais atraente que a preferencia que ela tem pelo consumo no presente. Trocando em miudos, menor poupanca e realizada, o que explica o consumismo voraz manifestado nessas epocas.

Conforme vimos acima, o desnivel entre poupanca e investimento e traduzido em dois fenomenos: endividamento externo e consumo de capital. As proporcoes desses dois fenomenos dependem bastante de como a economia e encarada por investidores externos e o que os demais governos estao fazendo, pois se todos adotarem politicas similares, ninguem estara poupando para ninguem, e apenas capital estara sendo consumido.

Outramente, se o governo nao alterasse a taxa basica de juros, por uma simples questao de solvencia o nivel esperado dos juros seria exatamente aquele que equilibrasse a balanca entre poupanca e investimentos.

O que acontece no longo prazo? Por que isso nao pode se manter indefinidamente?

Lembremos que os projetos de longo prazo estavam mal valuados. As pessoas nao valorizavam tanto esses projetos quanto a contabilidade parecia indicar. Elas valorizavam o presente (e o aumento no consumo mostra exatamente isso). Esses projetos foram iniciados supondo que a taxa de juros era um sinal verde para eles, mas no meio tempo o que aconteceu foi o sobre-endividamento e o sucateamento do capital que permitia a manutencao do nivel de consumo. Como o output ficou menor do que o esperado esses projetos ambiciosos acabam sendo abandonados ou finalizados de qualquer jeito para ser liquidados em leiloes. Arranhaceus sao largados pela metade, fabricas ultra-modernas e caras sao fechadas antes de abrir e tantas outras ampliacoes de capital finalmente se mostram impagaveis. Muita gente que estava empregada precisa ser demitida pois fica claro que seus empregos nao sao viaveis. E todas as outras coisas lamentaveis que vemos em tempos de crise.

[
Uma outra forma de olhar o problema, que e equivalente, porem mais "financeira", e a seguinte:

os juros determinam a probabilidade de risco neutro de investimentos. Voce ve isso claramente na transformacao de probabilidade que transforma o preco de um ativo numa martingala. A expectativa de retorno atualizada pela taxa de juros nesse "universo de risco neutro" de um ativo financeiro e a seu valor de face atual.

A transformacao de probabilidade e um artificio matematico, mas ela esconde uma verdade economica: dentro das assuncoes naturais de um mercado suficientemente liquido (ausencia de oportunidade de arbitragem, no jargao), a taxa de juros representara exatamente a sensibilidade marginal dos agentes ao risco futuro.

Essa sensibilidade e um dado que depende dos agentes, e fundamentalmente define como eles agem. A taxa de juros e um dado gerado pelo comportamento das pessoas com relacao ao futuro.

Reduzir artificialmente os juros aumenta o valor de ativos financeiros que se realizam no futuro, sem afetar o seu risco inerente. Negocios mais arriscados sao realizados, nao porque as pessoas querem arriscar mais, mas porque elas simplesmente estao enganadas quanto ao risco real.

Como esses riscos se realizam no futuro, ate que eles se tornem um problema visivel um certo tempo ja se passou, durante o qual todos estavam euforicos.
]


Os economistas "vigaristas" expuseram apenas dura realidade dos fatos: nao e possivel gerar riqueza manipulando dados e mandando falsos sinais para o mercado. A falsa sensacao temporaria de riqueza e rapidamente esgotada quando o "longo prazo keynesiano" comete a indelicadeza de chegar cedo demais. Lord Keynes morreu antes, mas outras pessoas continuaram vivas para perceber que o tal "longo prazo" nao era tao longo assim, e que nenhum milagre exogeno os salvou da corrosao do capital e do endividamento insustentavel.

Voce pode escolher ignorar a verdade e os fatos, mas nao pode muda-los.

E dificil dizer tracar a linha que separa a intencao dos politicos em explorar esses fenomenos sabendo as suas consequencias gerais da profunda ingenuidade animista que fomenta esse otimismo de que as coisas podem ser mudadas bastando suficiente vontade politica.

O fato e que a pratica de sacrificar o longo prazo se tornou ubiqua em todas as democracias representativas onde ha rotatividade do poder. E nao e dificil entender os incentivos que fomentam essa tradicao: "resultados" rapidos e fantasticos permitem a gloria atual do politico, enquanto as calamidades futuras se produzirao sobretudo no colo de outras pessoas, que serao julgadas responsaveis porque as pessoas so conseguem ver causas proximas para os problemas que tem.

Isso nao precisa ser intencional para se tornar uma estrategia vitoriosa no campo da politica. Muitos politicos a aplicaram sem estarem conscientes, apenas copiando a formula que outros antes deles adotaram.

Eu nao duvido nada que um Lula acreite que a crise tenha sido causada pela ganancia de capitalistas e consumistas de olhos azuis, e nao por medidas burocraticas de regulacao que ele e seus colegas sacramentam.

Politica finalmente e a arte de recolher louros de meritos que ou nao existem ou nao sao seus, e encontrar perfeitos bodes expiatorios para os seus erros. E Lula, assim como seus colegas estrangeiros, sao ases nisso.
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carlo
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por carlo »

O cabeça hoje tá que tá, estas teorias contra o salário mínimo foi derrotada no Brasil na revolução de 32, quando São Paulo foi às armas, ôrra, vai gostar de hayeck assim lá no jardim do Éden!!!!


CABEÇA:

"No caso do salario minimo e facil perceber. Ele coloca trabalhadores cujas habilidades especificas nao justificam esse salario fora do mercado. Esse controle de precos e favoravel a uma classe especifica de trabalhadores, qual seja, os membros de sindicatos e outros trabalhadores ja empregados, que sofrem menor concorrencia de trabalhadores nao afiliados. Essas leis, onde quer que sejam passadas, apenas prejudicam os mais pobres, obrigando-os a viver da esmola privada ou estatal por nao poderem ter um emprego.

Nao foram apenas os politicos fisiologicos, aliciados ou oriundos de sindicatos, que passaram leis desse tipo. Muitos bem intencionados politicos, representando setores da sociedade sinceramente preocupados com os niveis de vida dos mais pobres concidadaos, apoiam essas leis.

E contiuam apoiando, pois a sutileza logica desse fato e algo que nao e assimilado instantaneamente. As pessoas nao costumam seguir mais do que algumas poucas implicacoes simples na hora de formar suas opinioes. Entre uma sequencia falsa de implicacoes simples o suficiente para serem compreendidas, e uma sequencia sofisticada porem mais verdadeira, eles acabam escolhendo a simples, ja que a sofisticacao da segunda os impede de notar a sua veracidade.

No caso dos salarios, a implicacao simples e falsa e: se o salario minimo e maior, trabalhadores pobres que ganham salarios minimos terao aumentos na sua renda.

As implicacoes sofisticadas envolvem mais variaveis: um salario minimo maior pode tornar o custo de um trabalhador especifico maior do que o beneficio do trabalho que ele e capaz de realizar, e isso faria os seus empregadores reconsiderarem suas contratacoes, desempregando-os. Finalmente, os mais pobres e menos qualificados acabam sendo prejudicados por nao encontrar quem os possa empregar.

Quase todas as pessoas com quem eu conversei, mesmo as mais "educadas" e "eruditas", de uma forma ou de outra, apegavam-se a modalidades do primeiro tipo de pensamento.

Que as coisas sao o que sao apenas porque ninguem decretou que elas deveriam ser melhores, ou porque pessoas mas lutam para impedir esses decretos de "funcionarem". Isso e uma forma de pensamento magico.

No caso dos juros e dos ciclos economicos o pensamento magico se manifesta de maneira quase analoga."


Houve um caboclo em uma época, na história de uma nação, que foi extamente contra esta corrente de pensamento e´ao sê-lo a transformou na nação mais poderosa do mundo isto em 1933.

Criou o sálário mínimo, a previdência social e quetais:


Saul Leblon


Franklin Roosevelt, o presidente americano frequentemente evocado quando se trata de buscar um paradigma à altura das tarefas colocadas pela crise mundial, tomou posse no dia 3 de março de 1933. Era uma sexta-feira e, neste caso, detalhes de calendário têm um significado político como se verá a seguir.

No domingo, dia 5, Roosevelt emitiria uma nota convocando o Congresso dos EUA para sessão extraordinária que deveria ocorrer na quinta-feira, dia 9. Não detalhou a pauta, mas trabalharia exaustivamente sobre ela nas horas seguintes. A uma da madrugada, já na segunda-feira, dia 6, o presidente democrata socorreu-se de uma lei da Primeira Guerra Mundial que confere poderes adicionais ao chefe de Estado norte-americano tanto na esfera monetária quanto cambial. Roosevelt decretou um feriado bancário de quatro dias, assegurando-se de que não haveria corrida às agências até a sessão legislativa.

As precauções eram justificáveis. A insegurança, a especulação e o desemprego faiscavam por todo o país. O medo do futuro sentava-se à mesa de milhões de lares sem ter sido convidado.

O emprego, a casa, a comida e o dinheiro estavam por um fio.

Independente de quantas voltas a chave pudesse girar na fechadura , nada, nem ninguém, podia sentir-se em posição confortável naquele momento. Não havia um centímetro de chão sólido no imaginário norte-americano em março de 1933.

Bolsas, bancos, fundos, grande conglomerados, advogados, políticos e justiça compunham diante da sociedade a caricatura de um enorme ladravaz. Uma bocarra disposta a devorar até a última lasca da economia em benefício próprio. A ameaça do futuro resmungava sua língua pestilenta em cada esquina.

A estrutura bancária dos EUA era uma montanha desordenada de reputações em ruína; rachaduras abriam-se em fendas até se tornarem buracos sem fundo, do dia para a noite. Notícias de demissões faziam fila de espera nas manchetes de jornais. Havia a percepção crescente de que as autoridades estavam à reboque dos acontecimentos, engasgavam com as notícias no café da manhã; à noite rezavam em silêncio pelo dia seguinte. Números azedos comandavam a economia sem que se erguesse uma voz capaz de comandá-los.

O monólogo dos tempos difíceis ia impondo sua ordem unida na frente da produção, do dinheiro, do emprego e da política.

A percepção de que as rédeas escapavam às mãos que deveriam controlá-las fornecia a ração diária de ceticismo e pânico que engrossava a cintura do colapso econômico. O relógio da crise adiantava seu despertar a cada dia. O salve-se quem puder de cada unidade produtiva fornecia combustível à imolação coletiva.

Na semana em que Roosevelt assumiu a presidência dos EUA, o país tinha proporcionalmente o maior contingente de desempregados do mundo. Mais de 14 milhões de pessoas perambulavam pelas cidades e estradas sem trabalho, número que somado às respectivas famílias equivalia a uma população maior que a da Inglaterra. A perda de confiança no futuro funcionava como uma empresa demolidora; milhões de marretas anônimas trabalhavam dia e noite para desmontar o que restava do alicerce social e econômico.

É nesse ponto que o timming das ações do governo – de qualquer governo – faz enorme diferença.

Cada gesto, cada decisão, cada anúncio adquire uma dimensão estratégica; a forma como as providências são comunicadas, ademais de sua contundência, sobre a qual não pode pairar dúvida, ou se revelam inócuas - ganha importância de variável histórico insubstituível.

Uma crise tem um tempo certo para ser derrotada, ou derrotará o governo --a produção e o emprego - que vacilar diante dela.

Nisso, sobretudo nisso, Roosevelt revelou-se o estadista cuja habilidade ainda tem lições a oferecer aos seus contemporâneos; inclusive no Brasil onde o colapso da ordem neoliberal já arromba fronteiras da economia, da política e do imaginário social.

A primeira lição de Roosevelt: a rapidez em ocupar a frente do processo; contemporizar seria a capitulação.

Em apenas uma semana de mandato ele tomou algumas decisões que não exorcizaram todos os demônios, mas foram afrontá-los em seu próprio campo. Olhando esse momento histórico a partir do mirante crítico de 2009, não se pode dizer que foram medidas acanhadas. Hoje ainda elas sugerem tudo menos tibieza e hesitação diante do grande vendaval que se forma quando o pânico e o dinheiro se encontram numa mesma esquina.

Quantos dos atuais chefes de Estado teriam a coragem de anunciar, quase 70 anos depois, o que Roosevelt proclamou naqueles idos de março de 1933?

Os tempos são outros, alega-se. A globalização tornou tudo mais difícil, justificam aqueles que ocultam sua hesitação nas dificuldades do presente para ofuscar o componente de coragem dos personagens do passado.

Em 12 de março, ao fazer seu segundo discurso à Nação, Roosevelt trazia alguns troféus do primeiro round de uma luta que se estenderia até 1944, quando os EUA declararam guerra ao Eixo. Só então, de fato, seu potencial produtivo pode, finalmente, ser acionado a plena carga para desvencilhar-se da recessão, graças às encomendas bélicas.

Muitos relativizam o alcance das medidas anti-cíclicas tomadas nos 11 anos que antecederam esse momento. Mas poucos lembram de se perguntar o que teria acontecido com o presidente democrata, reeleito quatro vezes (de 1933 a 1945), se a sua autoridade tivesse fraquejada no primeiro mandato, na primeira semana ou no primeiro dia de março.

É sobre isso que os chefes de Estado de hoje deveriam refletir em vez de adiarem decisões num dominó protelatório à espera de um milagre de auto-ajuste do nercado; ou da caneta tinteiro redentora de Barack Obama.

O maior desafio é exorcizar aquele risco apontado por Roosevelt no discurso de posse exaustivamente citado em palavrórios oficiais, mas pouca vezes assumido na prática: diante de uma crise divisora, só devemos temer o nosso próprio medo.

O torpor imobilizante parece ter contaminado até um pedaço da esquerda diante de um colapso , batizada por Chico de Oliveira como a primeira grande crise da globalização capitalista - uma crise clássica de realização do valor, declarou o sociólogo em entrevista à Carta Maior.

Sua especificidade estaria no fato de não ter origem num centro geográfico, mas na engrenagem planetária irrestrita consolidada pelo capital. O motor do monstro insaciável que avança de mercado a mercado com apetite de saco sem fundo seria a impossibilidade de realização da mais-valia extraída das novas frentes de exploração abertas nos últimos 20 anos, sobretudo na Ásia, mas também no leste europeu. Essas novas fronteiras fizeram mais que dobrar a oferta de mão-de-obra, barateando o custo do trabalho urbi et orbe.

No primeiro momento do ciclo – quando FHC enxergou a emergência um novo “renascimento” no apogeu do Consenso de Washington,- detentores de capital fictício experimentariam fastígio e glória inigualáveis; agora, na reversão, sobrevém o colapso abrupto, o derretimento financeiro incontrolável, o desemprego assustador em todo o globo.

Ao risco da simplificação, vale a fórmula: se a extração da mais-valia implica que uma parte da riqueza produzida não é paga ao produtor, padece o sistema de um desequilíbrio inerente que se amplia na proporção em que se expande a engrenagem. Um pedaço cada vez maior do valor gerado não encontra meios para se realizar. Marx ensinou que as crises de superprodução - de capital e de capacidade produtiva - são o apanágio do sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção. Estamos diante de uma delas. De abrangência e agressividade proporcional às dimensões magnificadas pela globalização capitalista.

Decorre desta característica uma parte da perplexidade que a crise fomenta e diante da qual se agiganta a lição de timming político de Roosevelt.

Em 1929 havia pouca clareza teórica - exceto para marxistas e mesmo assim com grau de sofisticação restrito a franjas minoritárias - sobre a natureza da crise irradiada dos EUA. Marx era esconjurado; Keynes apenas buscava legitimidade e nem Roosevelt apostaria nele num primeiro momento.

A ignorância pode ter facilitado o desassombro. Hoje dá-se o oposto. O objeto é razoavelmente conhecido, mas paradoxalmente intangível, dada a abrangência planetária de sua mecânica e a ausência de instituições correspondentes.

O antídoto implícito na narrativa conservadora - a regularização das finanças ensandecidas – resume-se ao de sempre: dinheiro público a rodo e substituição da história pela moralidade. Alguns “imorais”, como o mega-golpista Madoff, serão condenados à fogueira. Sabe-se que no fundo apenas protagonizam a busca insaciável do sistema pelo santo Graal da acumulação pura –o sonho ancestral burguês desde o dia seguinte da Revolução francesa. Ontem, como hoje, o capital que se livrar das amarras da história, buscando um porto-seguro onde a reprodução desdobre-se em dízima dele mesmo (D-D). Finalmente entoa estaria livre dos encargos trabalhistas, das greves, dos Morales e suas constituições refundadoras. No nirvana do dinheiro, as circunstâncias abrigadas na danação marxista do D-M-D sumiriam. O mercado, a mídia, os milionários e os especuladores levitaram nessa bolha até o estouro ensurdecedor das sub-primes nos EUA.

A verdade, porém, é que se a globalização ampliou as condições para a utopia capitalista, o dragão afrontado por Roosevelt em 1933 exalava as mesmas obsessões. E, mais que hoje, ele não dispunha também de nenhuma estrutura internacional com a qual se aliar ou dividir tarefas.

Seu valioso contrapeso era intuição política para atuar no vácuo da crise sem se deixar engolir por ela, mesmo quando hesitava.

Foi assim que fez o Congresso discutir e aprovar, em um único dia, uma Lei de Emergência Bancária em rito fulminante, na quinta-feira, dia 9, seis dias depois da posse.

Para se ter uma medida de comparação, basta dizer que hoje o conservadorismo brasileiro não aceita, sequer, que o Presidente da República tenha influência sobre o Banco Central. A Emergência Bancária, ao contrário, facultava a ingerência estatal sobre todo o sistema financeiro público e privado dos EUA. Com tais poderes, Roosevelt colocou as instituições –sadias, poucas; e podres, a maioria - sob custódia federal, numa espécie de estatização branca, ainda que temporária, mas radical e impiedosa com o rentistismo.

Naturalmente, estamos falando de um democrata progressista com forte dosagem de austeridade conservadora e não de um bolchevique – e nisso se assemelha muito à cabeça de alguns líderes progressistas, como o Presidente Lula, por exemplo. A exemplo deles, Roosevelt não pretendia liderar uma revolução para derrubar o capitalismo. Queria reformá-lo para que pudesse outra vez fazer prosperar o emprego e a produção, eliminar a fome e a miséria no seio das famílias.

Ao contrário de alguns desses líderes da atualidade, tinha a vantagem de saber que isso não aconteceria sem erradicar a especulação, a jogatina, a obesidade mórbida do rentismo que se atava à jugular do trabalhador e ao caixa da produção.

Em 1933, Roosevelt sabia intuitivamente o que hoje é um consenso teórico, mas não político. Para salvar a economia do colapso financeiro é preciso subordinar o crédito –portanto todo o sistema bancário— aos desígnios da produção, do emprego e do consumo. Nem que seja uma estatização temporária do crédito, como recomendou o professor Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista à Carta Maior, no início da crise (15-10-2008). Só o Estado é capaz de fazê-lo em tempo hábil, antes que a epidemia se alastre e derreta o metabolismo econômico.

A Lei de Emergência dava ao Estado norte-americano essa faculdade e Roosevelt a exerceu com rapidez e apetite de um estadista.

Enquanto seus potenciais seguidores patinam na hesitação em 2009, no longínquo de março de 1933, Franklin Roosevelt pode apresentar-se à Nação, apenas oito dias depois da posse, como um Presidente vencedor. Ele havia enfrentado o foco da doença in locu, submetendo o sistema bancário sem tergiversações. Vencera o primeiro round.

A incerteza foi duramente atingida. No domingo,dia 12 de março, quando estreou seu programa “Conversa junto à Lareira” , o Presidente tinha o que dizer; e milhões queriam ouvi-lo. Sua palavra estava sintonizada com o espírito das ruas e viria reforçar a espiral da auto-confiança em diferentes setores e segmentos.

As filas no guichê dos bancos já não eram mais para sacar depósitos. Agora elas reuniam cidadãos trazendo de volta suas economias porque o Estado lhes devolvera a garantia e a segurança no sistema.

Roosevelt foi além, na tarefa de devolver otimismo a uma sociedade acuada e sem futuro. Não se limitou a medidas rotineiras, nem confiou o destino da sociedade aos “canais convencionais’, tão a gosto dos acanhados chefes de Estado da atualidade.

Cada vez que falava à Nação, a voz de Roosevelt dizia coisas inteligíveis à angústia do pai de família que acordara empregado e fora dormir demitido. Suas mensagens e políticas pavimentavam o futuro sem negligenciar a emergência. Traziam respostas para o presente.

Multiplicar providências imediatas para sacudir a sociedade entorpecida pelo medo e a descrença, esse foi o seu objetivo ao criar a Administração para o Progresso do Trabalho. Com ela encarou o desafio de enxugar imediatamente a inundação de desemprego que afogava as famílias, as cidades e o interior do país. A mensagem era simples e convincente: os EUA foram divididos em zonas salariais; para cada uma delas fixou-se um seguro-salário proporcional; o governo passou a contratar até três milhões de trabalhadores por ano, em troca desse pagamento. A nova força-tarefa semearia canteiros de obra pelo país; estradas, ruas, escolas, canalizações, hospitais, parques infantis, pontes, caminhos vicinais foram recuperados, expandidos e construídos.

A Administração para o Progresso do Trabalho ganhou um braço cultural. Em um mês inauguraria 100 mil salas de alfabetização com um milhão de adultos inscritos na luta contra o analfabetismo. Artistas e escritores desempregados foram engajados também. Sua mobilização desencadearia uma revolução cultural ampliando as franjas de apoio progressista ao governo, taxado de comunista pela direita raivosa e a mídia cínica. O Presidente também convocou a juventude. Milhares de jovens foram incorporados a serviços florestais dando vida a planos de replantio de matas, preservação e proteção de bosques.

O democrata austero continuou falando ao futuro e à angústia do presente. Na Conversa ao Pé da Lareira de outubro de 1933, Roosevelt deu um aviso ensurdecedor aos ouvidos da crise: se houver qualquer família nos EUA, disse, a ponto de perder a casa em que mora, a terra, ou seus pertences, essa família deverá telegrafar imediatamente para a Administração de Crédito Rural ou à Companhia de Empréstimo aos Proprietários de Residência; ela receberá o auxílio de que necessita.

Para além das discussões técnicas sobre a viabilidade ou não de um novo New Deal, sobretudo na periferia do capitalismo, há uma lição de extrema atualidade a extrair dessa prontidão exibida pelo governo democrata de Franklin Roosevelt.

Ele tinha a exata noção de que, quando o extraordinário acontece, as ferramentas da rotina têm pouca eficácia e serventia. Antes de sensatez, ensejam fracassos e derrotas.

Esse talvez seja o principal legado que a experiência dos anos 30 tem a oferecer aos governantes progressistas que continuam a contemporizar de forma temerária ante as evidências de agravamento do colapso mundial. Mas não só eles. O paradigma do desassombro, associado ao realismo, convoca também sujeitos coletivos, como o Fórum Social Mundial. Deles se espera agendas e respostas a salvo da dispersão e do descompromisso em relação às ansiedades e urgências da sociedade, neste divisor da história.
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user f.k.a. Cabeção
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Re: Cabeção: Milton Friedman em Entrevista Clássica

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Carlo,

Podemos gostar ou nao de FDR, mas seja qual for nossa ideologia, certamente nao da para eleva-lo a categoria de criador da nacao mais poderosa do mundo.

FDR assumiu a presidencia durante os escolios de uma profunda crise, a mais profunda da historia do pais. E ele nao teve absolutamente nada a ver com sua causa.

Essa talvez seja a posicao mais confortavel para assumir um gabinete, principalmente se voce e um sujeito carismatico e bom orador, coisa que FDR com certeza era. E confortavel porque voce recebe a credibilidade de um messias, mas nao recebe a respectiva cobranca, ja que a heranca maldita pode ser sempre culpada por tudo de errado. E tambem porque depois de atingir o fundo do poco, por mais que o governo faca tudo errado, a tendencia e que as coisas melhorem assim mesmo.

Roosevelt nao propos nada de revolucionario pros EUA. Ele apenas botou em pratica a mesma cartilha socialista que ja vinha sendo praticada na Inglaterra, na Franca, e com ainda mais vigor, na Alemanha, ha algumas decadas.

Por mais que ele seja visto como o salvador da depressao, com suas medidas sociais, a verdade e que ainda que essas medidas de transferencia de renda tenham sido um alivio momentaneo de certas tensoes, elas prolongaram os efeitos da depressao.

Como Friedman comenta na entrevista acima, o salario minimo simplesmente colocou milhares de negros definitivamente fora do mercado de trabalho. Alias, esse foi um dos argumentos sustentados pelos representantes que apresentaram a proposta: proteger brancos da concorrencia de negros por trabalho. Naquela epoca os politicos eram definitivamente menos hipocritas.

Se alguem me disser que quer impedir a competicao por trabalho vinda de negros e outras minorias com muitos membros sem qualificacao, eu vou ter que concordar que uma das melhores ideias e impor um salario minimo que os coloque fora do mercado.

As outras medidas de seguranca social cairam como uma bencao na epoca, mas porque as pessoas nao realizaram que elas se davam exatamente ao custo da caridade privada que sempre foi uma enorme instituicao americana. Pior, tiravam o incentivo das pessoas de buscar melhorias, criando "direitos" a renda e ao bem estar, o que e uma ofensa aos ideais de liberdade que fundaram aquele pais.

Isso sem mencionar a fraude que e dizer que os custos sao divididos entre trabalhadores e empregadores. Todos os custos sao pagos pelo trabalhador, como o proprio Friedman comenta.

Alem disso, muitas delas serviam aos privilegios dos ricos. Por exemplo, a previdencia, simplesmente porque ricos comecam a trabalhar mais tarde e vivem mais, contribuindo por menos tempo e recebendo durante sua mais longa aposentadoria muito mais do que pobres.

O pior de tudo e que esses programas nao simplesmente falharam ao cumprir seus objetivos, mas que eles nao foram desmantelados quando a depressao passou, mas tornaram-se uma vaca sagrada cada vez mais gorda.

Barry Goldwater, que se candidatou contra Lindon Johnson, cometeu o suicidio politico de tentar matar essa vaca, mas tivesse ele matado naquela epoca, a America certamente teria menos com o que se preocupar agora.

Certamente a responsabilidade nao e apenas de FDR. No final das contas, ele tambem nao previa a desproporcao que atingiriam essas medidas emergenciais que ele achou que devia tomar. Mas certamente ele armou a bomba relogio, outras pessoas adicionaram mais TNT.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

Trancado