Escolas privadas gaúchas têm desempenho ruim
Enviado: 04 Mai 2009, 06:25
Colégios particulares de elite do RS ficaram para trás na comparação com os melhores de outros Estados
Itamar Melo | itamar.melo@zerohora.com.br
A julgar pelos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as escolas de elite do Rio Grande do Sul não são tão de elite assim. A divulgação por colégio das médias obtidas nas provas de 2008 revelou que as particulares gaúchas ficaram para trás na comparação com as melhores escolas de outros Estados.
Na lista dos cem estabelecimentos privados com nota mais alta no Enem, apenas dois são do Rio Grande do Sul – contra 28 do Rio de Janeiro, 22 de São Paulo e 19 de Minas Gerais. Entre as 200 primeiras do ranking, os gaúchos emplacaram apenas seis instituições. A melhor posicionada, o Colégio Província de São Pedro, surgiu em um modesto 54º lugar. A outra gaúcha no Top 100 das privadas foi o Colégio Sinodal, de São Leopoldo.
A rede particular do pampa, em seu conjunto, obteve a 10ª melhor média entre todas do país – foi superada pelas redes de Estados como Goiás, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina. O mau resultado ganha ainda mais relevo em razão do desempenho da rede pública gaúcha, que foi o melhor do Brasil. Combinados, esses dois fenômenos fizeram do Rio Grande do Sul o segundo Estado com menor diferença de notas entre as escolas públicas e privadas. Na maioria do país, há um abismo entre as duas redes.
O desempenho opaco dos colégios privados de um Estado que se orgulha de estar entre os mais ricos e educados do país surpreendeu e alarmou especialistas. A doutora em Educação Helena Sporleder Côrtes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que exames como o Enem devem ser relativizados, por serem pontuais, mas que não podem ser ignorados.
– O resultado é preocupante para o Rio Grande do Sul. É uma surpresa, porque temos instituições com tradição de qualidade. É preciso que as escolas examinem os resultados e encaminhem soluções, ainda que se sintam injustiçadas. Um resultado desses deve sempre encaminhar uma autocrítica.
A professora acredita que uma hipótese para explicar a escassez de particulares gaúchas no topo do ranking do Enem pode ser o foco exagerado em preparar para o vestibular – em lugar de valorizar em sala de aula as habilidades previstas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas quais o Enem é calcado.
– Muitas escolas se organizaram em função do vestibular. Na medida em que fazem isso, deixam de lado a formação – observa.
Enem pode ajudar particulares a repensarem seu ensino
O doutor em Educação Raimundo Helvécio Aguiar professor de política educacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) faz a ressalva de que a capacidade de avaliações como o Enem para medir a qualidade do ensino é questionável. Mesmo assim, diz que o exame deve levar as escolas privadas a se repensarem.
– Se pensarmos no conceito de que escolas particulares, via de regra, recebem a elite, a indicação que o Enem dá é de que a elite gaúcha está sendo mal preparada. É surpreendente. Se for assim, essas escolas vão formar pessoas com menores condições para o mundo do trabalho. O Estado pode perder espaço em relação a outros – analisa.
Segundo Aguiar, uma possibilidade é que a qualidade de ensino tenha caído nas particulares gaúchas devido à perda de alunos ao longo dos últimos anos, o que teria levado as escolas a perderem professores e remunerarem pior.
Itamar Melo | itamar.melo@zerohora.com.br
A julgar pelos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as escolas de elite do Rio Grande do Sul não são tão de elite assim. A divulgação por colégio das médias obtidas nas provas de 2008 revelou que as particulares gaúchas ficaram para trás na comparação com as melhores escolas de outros Estados.
Na lista dos cem estabelecimentos privados com nota mais alta no Enem, apenas dois são do Rio Grande do Sul – contra 28 do Rio de Janeiro, 22 de São Paulo e 19 de Minas Gerais. Entre as 200 primeiras do ranking, os gaúchos emplacaram apenas seis instituições. A melhor posicionada, o Colégio Província de São Pedro, surgiu em um modesto 54º lugar. A outra gaúcha no Top 100 das privadas foi o Colégio Sinodal, de São Leopoldo.
A rede particular do pampa, em seu conjunto, obteve a 10ª melhor média entre todas do país – foi superada pelas redes de Estados como Goiás, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina. O mau resultado ganha ainda mais relevo em razão do desempenho da rede pública gaúcha, que foi o melhor do Brasil. Combinados, esses dois fenômenos fizeram do Rio Grande do Sul o segundo Estado com menor diferença de notas entre as escolas públicas e privadas. Na maioria do país, há um abismo entre as duas redes.
O desempenho opaco dos colégios privados de um Estado que se orgulha de estar entre os mais ricos e educados do país surpreendeu e alarmou especialistas. A doutora em Educação Helena Sporleder Côrtes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que exames como o Enem devem ser relativizados, por serem pontuais, mas que não podem ser ignorados.
– O resultado é preocupante para o Rio Grande do Sul. É uma surpresa, porque temos instituições com tradição de qualidade. É preciso que as escolas examinem os resultados e encaminhem soluções, ainda que se sintam injustiçadas. Um resultado desses deve sempre encaminhar uma autocrítica.
A professora acredita que uma hipótese para explicar a escassez de particulares gaúchas no topo do ranking do Enem pode ser o foco exagerado em preparar para o vestibular – em lugar de valorizar em sala de aula as habilidades previstas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas quais o Enem é calcado.
– Muitas escolas se organizaram em função do vestibular. Na medida em que fazem isso, deixam de lado a formação – observa.
Enem pode ajudar particulares a repensarem seu ensino
O doutor em Educação Raimundo Helvécio Aguiar professor de política educacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) faz a ressalva de que a capacidade de avaliações como o Enem para medir a qualidade do ensino é questionável. Mesmo assim, diz que o exame deve levar as escolas privadas a se repensarem.
– Se pensarmos no conceito de que escolas particulares, via de regra, recebem a elite, a indicação que o Enem dá é de que a elite gaúcha está sendo mal preparada. É surpreendente. Se for assim, essas escolas vão formar pessoas com menores condições para o mundo do trabalho. O Estado pode perder espaço em relação a outros – analisa.
Segundo Aguiar, uma possibilidade é que a qualidade de ensino tenha caído nas particulares gaúchas devido à perda de alunos ao longo dos últimos anos, o que teria levado as escolas a perderem professores e remunerarem pior.