zumbi filosófico escreveu:O que eu considero a "essência" do estado, é simplesmente a admissão de que, se eu, você, e outros quinze fulanos ou quantos quer que sejam, trabalhamos independentemente, cada um visando primariamente o lucro pessoal, pode ser, que em uma boa parte do tempo, os resultados positivos para um poderiam ser bem indesejavelmente negativos para outros, de maneira que poderia não se considerar justa. Estabelecido isso, então paramos e pensamos se não há um jeito de minimizar essas perdas, pensando em certas regras que fizessem com que se tivesse o melhor resultado para todos e para cada um, em vez de apenas total liberdade para os ganhos pessoais. Meio como no filme do John Nash.
Sim, com a mesma lógica essencial, do melhor para todos, pode-se culminar em algo bem ineficiente e desastroso, se não feito direito, mas não é diferente para mera não-agressão como limitação (que também poderia ser igualmente questionada sem legitimidade muito menor, ela também é para "o bem de todos").
Assim, seria provavelmente interessante que a sociedade, como gente civilizada, fizesse em muitas situações, desse tipo de acordos mutuamente benéficos.
Não significa que isso devesse ocorrer para tudo que fosse imaginável e inimaginável, que tudo que um estado faça ou dite seja inerentemente benéfico e preferível. Não estou sugerindo que devesse privilegiar uma empresa de software, colocar cadeiras no cinema para canhotos, ou qualquer coisa do tipo, é só um ponto bem genérico, de que o estado não é essa receita para o desastre, é meramente uma espécie de acordo entre as partes da sociedade, reconhecendo possíveis prejuízos do mercado livre e desencoleirado.
Você volta a esquecer da democracia do consumidor e do estado como parte desnecessária no processo.
Se os consumidores não são capazes de escolher empresas que não criem esses problemas, também não são capazes de escolher políticos para corrigir esses problemas.
A única diferença é que ao concentrar esse tipo de poder intervencionista na mão de burocratas, você cria um ambiente atrativo a canalhas que vão usar desse poder em beneficio próprio, vão buscar o poder visando o próprio lucro.
Você acrescenta um camada desnecessária que se torna parasitaria no sistema.
zumbi filosófico escreveu:Sim, eu até estou em alguns momentos dizendo "algo como o estado", que não precisaria ser exatamente "ele mesmo". Mas é interessante em boa parte lembrar a natureza "não-lucrativa" desses acordos/conselhos/ONGs. Se são só grupos visando o lucro financeiro em comum, pode-se ter simplesmente uma espécie de cartel ou qualquer outra coisa do tipo.
Mais ou menos relacionado, me parece que algum representante da monsanto disse algo como "o nosso negócio não é zelar por produtos saudáveis", ou algo nesse sentido, de que o que interessa principalmente é vender, a qualidade é algo secundário. (não sou contra transgênicos)
Organizações não governamentais e sem fins lucrativos podem sobreviver bem dentro do capitalismo.
A grande questão é que a diferença básica é sempre a questão da concorrência e da pulverização do poder
Algo como o estado vai existir, mas com instituições competindo entre si e com o poder pulverizado.
Mesmo que alguns monopólios surjam no meio do caminho, nunca temos um ente gigante presente e com poder em todos os setores da economia e da vida das pessoas, assim como não temos um ente com poder de policia para impedir que alguém tente se aventurar em um mercado monopolizado.
As barreiras econômicas criadas por monopólios, nunca são tão grandes quanto as barreiras criadas por governos, as ultimas podem ser intransponíveis.
zumbi filosófico escreveu:Acho que isso é uma idealização platônica. Não tem porque imaginar que o mercado livre iria garantir que não houvessem concentrações de poder que pudessem ser indesejáveis para a sociedade. Teoricamente, o estado poderia ser visto como justamente tendo esse papel, de assegurar uma forma de poder mais ou menos independente do poder financeiro, para todos os cidadãos, em vez de terem poder apenas exatamente na medida em que têm dinheiro no bolso.
Camada desnecessária, o poder democrático do consumidor é infinitamente maior que o poder do eleitor.
zumbi filosófico escreveu:zumbi filosófico escreveu:Digamos que uma empresa esteja poluindo a água de uma cidade. Meio como na história dramatizada no filme "Erin Brockovich". Sem estado, a quem se recorre? Vai lá se mendigar por justiça na porta da empresa? Ou simplesmente, as empresas que poluírem suas vizinhanças terão menos clientes saudáveis nas suas vizinhanças, logo menos lucro, eventualmente falindo, enquanto empresas não/menos-poluentes prosperam? Ou, isso eventualmente se torna público, e as pessoas, mesmo sem individualmente terem poder de influenciar a mídia como presumivelmente teria uma empresa, conseguem criar pressão popular-mercadológica para a empresa sanar esses problemas?
Teremos uma policia privada aplicando a lei, ou melhor, muitas policias privadas aplicando a lei.
E sim, nós pagaremos por ela, assim como pagamos pela policia que temos hoje.
E se as empresas que nos prejudicam puderem pagar mais, aí então danou-se. Justamente como seria se, os burocratas do estado fossem subornados, mas seriam burocratas da iniciativa privada.
O Estado não tem concorrência, na iniciativa privada os meios de prevenção e monitoramento são multiplicados.
zumbi filosófico escreveu:Mas não existe nenhuma garantia de que não haverão concentrações de poder, alianças para mais poder, isso é uma idealização, uma utopia. Não existe no processo em si algo que garanta que isso não ocorra.
Então na pior das hipóteses o Estado iria emergir da anarquia.
Mas a meu ver esse cenário radical é que se poderia chamar de uma bela distopia, já que as barreiras que precisariam ser transpostas para se chegar a tal concentração de poder, são maiores que as necessárias para derrubar as instituições do estado, pois na anarquia elas são multiplicadas.
Entraríamos em guerra civil antes disso ocorrer.
zumbi filosófico escreveu:Monopólios não são impossíveis. Se a polícia-privada corrupta é mais bem armada, mais rica e mais numerosa que a polícia-honesta, pode simplesmente ocorrer uma fusão, o contingente que trabalhava para o lado honesto está agora no lado corrupto, na melhor das hipóteses, ou, nada impede da polícia corrupta considerar a polícia honesta, de menor porte, ilegal, e prendê-la.
... continuo mais tarde
Vamos entender antes que a policia não é um órgão legislativo e não pode 'decidir' que a policia honesta é ilegal, depois vamos entender que um monopólio em escala nacional não é algo fácil de se conseguir com uma firma de segurança e a população pode e deve agir em pró da existência da diversidade de firmas de segurança.
Vamos então aceitar que essas barreiras foram derrubadas.
As pessoas ficariam paradas assistindo a tudo pacificamente?
Os funcionários de tal policia iriam abdicar de suas liberdades e lutar para tornar seu patrão o ditador supremo?
Talvez os canalhas busquem justamente criar uma conspiração, se infiltrar e tomar o controle de instituições de segurança para conseguir tomar o poder.
Ok, então os canalhas após um feito grandioso conseguem trazer de volta o Estado.
Esse é o pior cenário? a volta do Estado? Viva a anarquia...
Talvez você diga, não só do Estado (que pode ser Estado de direito), mas uma ditadura. Hoje temos apenas as organizações monopolistas mantidas pelo estado e elas pode tomar o poder a qualquer momento muito mais facilmente do que qualquer um poderia fazer em um livre-mercado com uma boa concorrência. O exercito mesmo já tomou o poder e pode fazer novamente se quiser.
Sem contar que, 'tomar o poder', é muito mais fácil em uma sociedade com um poder central existindo na forma de Estado, já que existe um alvo especifico e reconhecido por todos como sendo a autoridade.