cabeção escreveu:DDV escreveu:3- Certas situações ou conjunturas onde o comportamento racional em nível individual é altamente irracional em nível global. (Ex: um excesso de poupança em épocas de depressão econômica).
Isso aqui até me dá raiva, do quanto que essa grosseria é repetida ad infinitum, com a maior das caras de pau. Não me refiro a você, eu entendo perfeitamente que quando pressupostos doutores e prêmios nobéis economistas dizem algo, pessoas sem treinamento mas inteligentes acabam aceitando sem refletir muito quase que por reflexo. Mas isso é apenas uma daquelas mentiras que tenta-se repetir incansavelmente até que se torne uma verdade, e sim, prêmios nobéis também mentem, e pior ainda, alguns até acreditam nas mentiras que contam.
O que me espanta na verdade é a incompreensão de um princípio tão básico de macroeconomia por parte de muitas pessoas.
Eu já observei que as pessoas que vivem de negócio próprio compreendem quase instantaneamente o porquê de uma onda generalizada de poupança ser péssimo para a economia. A maioria dos que acham esse fato (primeiramente mostrado de forma clara por Keynes) um contra-senso, ou uma "inversão das coisas" são assalariados.
A razão está no seguinte: os assalariados possuem uma renda fixa e dada. Eles não tem uma ligação mental e financeira com vendas, da mesma forma que têm os empresários e vendedores comissionários.
INa hora de raciocionarem sobre suas poupanças, para o assalariado é ÓBVIO que quanto mais ele poupar, mais terá para investir no futuro. Quanto mais ele poupar, mais rico ele será. Isso é claro, óbvio e verdadeiro. [b]O problema surge quando ele tende extrapolar esse raciocínio para a economia como um todo.
Como a renda do assalariado é fixa, ele tende a considerá-la como algo dado,
não sujeita a alterações decorrentes da poupança alheia.Para o empresário, o vendedor, o comissionário ou prestador de serviços, está CLARO e ÓBVIO que quanto mais as pessoas pouparem, menores receitas terão. Suas rendas dependem de forma direta das compras feitas pelos demais.
O assalariado pode não perceber inicialmente, mas a sua renda TAMBÉM está conectada ao grau de consumo feito pelas demais pessoas. Se as pessoas em geral iniciarem uma onda de poupança, comprarão menos. A empresa na qual esse assalariado trabalha terá suas receitas diminuidas, e a depender da gravidade dessa queda no consumo, poderá ter prejuízos e ser obrigada a demitir o assalariado em questão.
Em resumo: poupar é "enriquecedor" em nível individual, pois podremos considerar a renda dese indivíduo como dada. Mas em nível global, cada 100 reais que você deixa de gastar será 100 reais a menos nas receitas de alguma empresa ou pessoa. E cada 100 reais que um cliente seu resolver poupar será 100 reais a menos em sua receita.
Se
apenas você poupar, enquanto os seus clientes ou os clientes da empresa onde você trabalha continuam a todo vapor nos gastos, sua situação será ÓTIMA. Mas essa sorte não acontece. Toda vez que o país (ou o mundo) inteiro inicia uma onda de poupança e queda no consumo,
é estagnação e miséria o resultado inevitável, para todos.A poupança é sim necessária para financiar investimentos. Mas poupança em excesso feita por todas as pessoas também deprime a atividade econômica, causa e mantém o desemprego alto.
Os investinentos dependem sim da poupança para serem financiados. Mas a poupança em excesso AMEDRONTA os investidores. É óbvio que você sabe que toda produção é feita com o objetivo de ser vendida, não?
cabeção escreveu:Acontece que recomendar gastança na crise é como recomendar whiskey para curar ressaca. Não importa quantos PhDs de Princeton me digam o contrário, até porque é possível encontrar outros tantos, até de Princeton, que afirmam examente isso.
As pessoas reagem racionalmente em crises desse tipo, porque o mecanismo de preços avisa para elas, ainda que tardiamente, que elas já gastaram mais do que deveriam ter gastado, que os seus investimentos e planos estavam errados, e que elas precisam segurar-se.
É uma decisão racional em nível individual (quando você considera sua renda como dada e não-dependente da poupança alheia), mas em nível global é PÉSSIMO.
Me diga uma coisa: não acha um grande contra-senso uma pessoa reduzir suas compras e ainda querer ou ter esperança que os demais continuem comprando seus produtos? É um contra-senso inconsciente, claro.
Toda a produção feita é para ser VENDIDA, para ser CONSUMIDA. É irracional uma pessoa desejar que a sociedade inteira pare de consumir e
ao mesmo tempo querer que ela continue trabalhando e investindo, produzindo coisas para serem consumidas.
cabeção escreveu:
Isso porque em geral o gasto foi estimulado por políticas monetárias particulares, que visam exatamente turbinar as estatísticas econômicas real-time, ignorando que a economia também comporta uma estrutura temporal de capital, e que é sempre possível aumentar o padrão de vida do presente consumindo o capital que seria poupado para o futuro.
Você está se esquecendo que não estamos em uma aldeia primitiva ou em uma ilha deserta.
Em uma aldeia primitiva, cada pessoa produz suas próprias roupas, sua própria comida, suas ferramentas, etc
Dentro dsse quadro de auto-suficiência individual, é óbvio que ela não depende em nada do consumo alheio.
No nosso mundo, a coisa é radicalmente diferente.
Uma pessoa produz roupas. Se ela não conseguir vender essas roupas, ela não terá dinheiro para comprar comida. Uma outra produz comida, se ela não conseguir vender essa comida, não terá dinheiro para comprar roupas ou carros. E assim as coisas vão. A divisão do trabalho é TOTAL em nossa sociedade. TODA e CADA pessoa precisa vender os bens ou serviços que produz. Do contrário, ela ficará apenas com sua roupa, ou com sua comida, ou com suas bolas de soprar,ou com seus sapatos, ou com seu carro...e mais nada.
Resumindo. As pessoas precisam consumir. Se não fizerem isso, todo o sistema irá ruir.
A parte poupada da renda dos indivíduos DEVERÁ ser usada para financiar a produção de bens de capital, ou seja, bens não destinados ao consumo. Se isso não ocorrer, as pessoas aí empregadas (seja os trabalhadores, sejam os investidores) não terá nenhum tipo de renda, e nem de onde obter essa renda.
cabeção escreveu: Se as pessoas veem uma taxa de juros mais baixa, por exemplo, elas recebem o sinal errado de que já existe suficiente poupança para manter seus padrões de consumo, e consomem mais, até que cedo ou tarde se descobre a fraude.
Não é a poupança que "mantém" o consumo.
Se as pessoas consumirem sem usar nenhum tipo de crédito, mas apenas suas rendas imediatas, NUNCA haverá crises de crédito.
Para você estar correto, deveria falar do
consumo a crédito, e não do consumo em geral.
cabeção escreveu: Enquanto isso, outros investimentos indevidos de longo prazo são feitos por conta de valuações incorretas de retornos futuros. Qualquer um sabe que é impossível aumentar ao mesmo tempo consumo e investimento, e na verdade o que ocorre é retração da poupança e consumo do capital intermediário (mediante, por exemplo, não manutenção: você cuida menos do seu carro atual se você achar que daqui a 2 anos você poderá comprar um zero. O problema é que em pouco tempo a crise estoura e você se vê sem dinheiro e sem o carro antigo).
Se a poupança cair demais, faltará capital para financiar os investimentos em bens de capital e intermediários.
Se a poupança subir demais, ocorrerá queda na renda dos indivíduos; haverá prejuízos, falências e demissões. Esse quadro ESPANTA investimentos, mesmo havendo dinheiro disponível a juros baixos*.
*Os juros nunca caem o suficiente para compensar uma onda de pânico dos investidores. Keynes estabelece 2% ao ano como um limite inferior das taxas de juros reais (devido a custos administrativos e securitários). Se fosse possível tornar o dinheiro mais fácil, daria para superar crises de pânico dos investidores sem precisar usar os gastos estatais, bastando apenas baixar mais os juros.
cabeção escreveu:COMEÇAR A POUPAR NUNCA FAZ MAL. CRISES SE PRODUZEM POR ESCASSEZ DE POUPANÇA E,
Errado.
As crises de caracterizam por SUPERPRODUÇÃO, ou seja, mais bens disponíveis, esperando serem comprados, do que pessoas dispostas a comprá-los.
A falta de poupança NUNCA levaria à uma superprodução, muito pelo contrário. Levaria a uma SUBPRODUÇÃO (a demanda efetiva dos indivíduos maior do que os bens disponíveis), ocasionando INFLAÇÃO, e não recessão com deflação, como se observa.
cabeção escreveu:RECIPROCAMENTE, EXCESSO DE CONSUMO/MAL-INVESTIMENTO. QUAL FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ SE VIU ENDIVIDADO POR TER POUPADO PARA O FUTURO?
Conforme já explicado: se APENAS VOCÊ poupar, a sua renda não correrá riscos, e a sua poupança apenas lhe fará bem.
Se TODO MUNDO poupar, sua renda ficará ameaçada (seja por queda em suas vendas, seja por sua demissão de uma empresa que teve queda nas vendas). Nesse caso, você se fode.
cabeção escreveu:Não se ofenda, não estou gritando com você em particular, mas isso é simplesmente algo que eu sempre falo, e acho que está na hora de colocar isso da forma mais clara e evidente possível.
A única coisa que o governo faz nessas crises financeiras é tomar as providências para consolidar o poder dos burocratas, escorados na incompreensão global do problema. Perceba que não há absolutamente nada de atípico em burocratas e tecnocratas afirmarem que para resolver essas crises econômicas é necessário que a população tolere mais invasões e assim mais poder lhes seja concedido. O que me espanta é o quanto eles desenvolveram em termos de tecnologia retórica e jargão pseudo-científico/matemático para sustentar esse golpe. Na verdade, nem isso.
Em resumo os burocratas num primeiro momento criam uma euforia artificial, estimulando gastos e investimentos errados, e ao fazê-lo selam um futuro amargo para dali há uns anos, que quando se consolida, eles tratam de botar a culpa em algum "demônio invisível" do mercado, que só eles podem enxergar e combater com seus pacotes e medidas. Parece até piada, se não fosse a notícia do dia.
Depois eu cuido do resto.
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Você deveria considerar a possibilidade da não existência de uma conspiração por parte dos burocratas e da maioria dos economistas para "se dar bem" em cima dos demais. Você considera essa possibilidade?
Você considera a possibilidade de Keynes, Stiglitz e demais economistas pró-intervencionismo não serem agentes a serviço de burocratas malignos, tentando enganar todo mundo?
Já leu Keynes? Já leu Stiglitz? Já leu ALGUMA COISA de macroeconomia?
Enquanto você se amparar em idéias sobre conspirações de burocratas, ou sobre dominações culturais, fica difícil.