Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado minimo

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

DDV escreveu:Dá para citar FÁCIL empreendimentos, tanto atuais quanto em épocas menos globalizadas, que não atraiam capital privado nem que a vaca tossisse. Isso mesmo sendo necessários e demandados por milhões de indivíduos.

Os governos em geral esperam, convidam, favorecem e às vezes IMPLORAM para agentes privados investirem, na maioria das vezes sem sucesso.

Ou seja, os estados em sua maioria mais procuram do que repelem investimentos privados em certas áreas, e só tomam iniciativa eles próprios quando não conseguem o investimento privado.



Vou tentar ir identificando os problemas do seu pensamento e depois eu vou remeter a cada um dos itens já tratados.

Falácia no 1: O setor privado às vezes não quer investir, LOGO, o Estado deve fazê-lo (ou obrigar/estimular as empresas a fazerem).

Refutação de 1:

Você parte da premissa de que o investimento realmente deve ser feito, o que muitas vezes é um conceito pouco claro.

De onde vem o "dever" de se realizar um investimento? No mercado, investimentos são feitos porque se espera deles extrair um retorno satisfatório, admitindo-se riscos administráveis.

Não existe escala máxima de tamanho ou tempo de maturação que separe os investimento apropriado para a iniciativa privada e para o governo. As considerações para justificar um investimento são sempre as mesmas : viabilidade financeira.

Mas na prática, o governo representa um risco institucional para qualquer agente que pense em investir pesadamente num setor. Isso porque governos, sobretudo aqueles calcados em instituições instáveis politicamente, podem sabotar o projeto de diversas maneiras: criando novos impostos, barreiras comerciais, modificando leis de propriedade privada, saqueando através da inflação ou mesmo nacionalizando algum recurso.

Ou seja, em muitos casos, ao criar esse risco estrutural, o governo fabrica também a sua própria "necessidade". De certo, nenhum empresário capitalista se arriscaria a construir uma auto-estrada que fosse na Bolívia ou na Venezuela (ao menos sem algum conchavo enorme por tras), portanto, dentro da sua lógica, as obras de Hugo Chavez e Evo Moralez são extremamente necessárias para estabelecer a infraestrutura do seu país. O socialismo é uma profecia auto-realizável, essa foi talvez a sacada genial de Marx e cia.

O segundo erro é o de que não existe iniciativa estatal eficiente. Ela pode no máximo tentar emular uma iniciativa privada, mas sempre incorrerá em graves erros, por conta da inexistência de um cálculo econômico socialista. No final, as arbitrariedades dos burocratas na administração dos recursos que lhes são postos a disposição sempre gerará mais desperdícios do ponto de vista de cada indivíduo do que a organização espontânea do mercado através do sistema de preços. A validade desse teorema já foi demonstrada inúmeras vezes, o problema é que as pessoas sempre voltam a sucumbir a ilusão de que de alguma maneira os burocratas tem como criar riqueza do ar, bastando para isso usarem sua retórica impressionante.
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user f.k.a. Cabeção
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

DDV escreveu:Parece que você não entendeu. O problema do carona não é problema para o governo, mas é para empresas privadas.

QUALQUER empreendimento onde não seja possível separar quem paga de quem não paga na hora de desfrutar não atrairá a iniciativa privada (exceto em poucas situações onde o empreendimento possa ser usado para fins propagandísticos).

Como o caronismo não é problerma para o governo (pois ele não está interessado primordialmente no lucro), quase sempre só restará o governo para empreeder tais atividades.



Falácia 2: Muitos serviços e empreendimentos públicos não podem ser realizados por cias privadas porque seus custos não podem ser cobrados diretamente de cada usuário, criando-se oportunidade para caronistas. LOGO o Estado deve prover esse tipo de serviço.

Essa é a minha falácia favorita (junto com a sua irmã gêmea, as externalidades negativas), pois os debates econômicos em torno dela são sempre os mais interessantes.

Pois então, o primeiro fato é: externalidades existem e num certo sentido são inevitáveis. E como externalidades são uma forma de ineficiência, a sua existência consiste num incentivo enorme para que a iniciativa privada dos indivíduos dirija seus esforços para encontrar soluções eficientes para elas.

Um exemplo é a televisão. As ondas de rádio chegam a sua casa como externalidade (positiva) do fato de uma antena estar as emitindo, e você não paga nada para assistir. Mas os empresários de tv não fazem nada por caridade, eles descobriram uma forma de lucrar com um serviço sem cobrar diretamente de seus consumidores: incluiram os comerciais.

Essa anedota ilustra o que um socialista costuma não perceber: que a externalidade é uma contingência de um contrato específico, e não das "necessidades humanas fundamentais" que estariam sendo atendidas pelo contrato. Eu posso distribuir sapatos publicamente de um helicóptero e cobrar impostos por isso. Sapatos não se tornariam externalidades por conta dessa estupidez.

Se um contrato for sujeito a tantas externalidades que ele acabe se tornando ineficiente, ele simplesmente não é realizado, e qualquer necessidade que fique inatendida cria uma demanda por contratos auxiliares que contornem esse problema gerado pelas externalidades.

A primeira falácia aqui, portanto, é achar que certas necessidades são de carater exclusivamente ou proeminentemente externo de tal modo que seria impossível criar-se um mecanismo contratual para atendê-las, e que tais necessidades individuais justificariam o uso de um aparato de violência e compulsão para serem atendidas.

Outro ponto é que na medida que muitos serviços são oferecidos coletivamente, as pessoas passam a acreditar que essa seria a única forma de se fazê-lo, ou que seria a mais eficiente, esquecendo-se inclusive de soluções passadas bem-sucedidas. Ruas e escolas primárias privadas são um bom exemplo desse tipo de mentalidade.

Para finalizar, a falácia se completa na incapacidade do burocrata de dizer que as "necessidades públicas" que ele atende (ao menos em teoria) são de ordem superior (que ordem?) que as necessidades privadas que são sufocadas em função disso.
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

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Samael
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por Samael »

Passe logo à parte da poupança, porra. É a mais interessante do debate.

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DDV
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por DDV »

É bom ficarem cientes que no longo prazo estaremos todos mortos. :emoticon1:
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por Ahura-Mazda »

Samael escreveu:Passe logo à parte da poupança, porra. É a mais interessante do debate.

Reload!
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

DDV escreveu:Isso não condiz com o que se vê atualmente. O governo quase sempre corre atrás de investimentos privados em quase toda obra a ser feita.

Aqui no Brasil, os empresários não são NADA chegados ao risco. Possuem psicologia inflacionária (preferem vender pouco, caro, do que muito, barato). Geralmente eles esperam o governo investir, fazendo a parte mais difícel, e apenas quando as obras estão preparadinhas e aparentemente rentáveis, eles se oferecem para comprá-la.




Falácia 3: Os empresários/consumidores daqui são psicologicamente diferentes dos dali, e por isso o sistema de preços e livre mercado não pode funcionar aqui como funciona lá.

Essa não é a falácia mais sofisticada e interessante do mundo, mas merece uma atenção pois é suficientemente comum.

O problema dessa falácia é que à la base ela repousa sobre um fato real: os comportamento estratégico de empresários vai variar de acordo com o ambiente institucional no qual eles estão presentes.

O risco de se investir em infraestrutura pesada e em projetos de retorno no super-longo prazo é enorme em países politicamente mais instáveis, onde existem partidos políticos que volta e meia lançam mão do discurso da desapropriação e da nacionalização dos ativos privados, ou onde as políticas monetárias são voláteis, criando riscos estruturais para qualquer investimento de maior porte, cujos retornos precisam ser calculados sob hipóteses de estabilidade.

Dito isso, a falácia acaba remetendo ao caráter de profecia auto-realizável que o Estado possui: quanto mais ele intervém, mais a sua intervenção se justifica.

De fato, parasse o Estado de investir em infraestrutura e outras "grandes obras" e possivelmente num primeiro momento os investidores ainda temessem esse tipo de empreitada, mas tão logo esses investimentos se mostrassem tão interessantes do ponto de vista da rentabilidade, e o risco estrutural se mostrasse suficientemente pequeno (ou seja, burocratas se refreassem de roubar e de mudar a regra do jogo), os investimentos necessariamente seriam feitos, simplesmente porque não é a psicologia do empresário brasileiro que é diferente da do empresário europeu ou japonês, mas o risco instituicional que o Estado brasileiro ainda representa para o investidor privado.
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

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DDV escreveu:Uma coisa não exclui a outra. Existe sim setores de interesse estratégico. O governo pode não estar 100% certo ou bem-intencionado, mas também não está 100% errado ou mal-intencionado como você coloca.



Falácia 4: O governo não é composto 100% de canalhas.

Talvez 100% seja um exagero, mas chega bem perto disso.
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

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DDV escreveu:Essa sua opinião sobre determinante cultural é exótica.

O mercado sozinho não conseguiria oferecer adequadamente serviços de saúde e educação a TODOS (mesmo os que não tiverem, por qualquer motivo, condições de pagar). Os casos de maior sucesso na saúde estão em países de "medicina socializada".



Falácia 5: Os melhores resultados no setor X estão em países onde o setor X é socializado.

Essa uma pérola entre as falácias esquerdistas. Uma das mais perigosas armas do discurso deles. E uma das falácias que erra em mais níveis.

O primeiro é que em geral os setores X em questão costumam ser socializados na maioria dos países up to some extent. É o caso da saúde, que nos EUA misturava assistencialismo via medcare, um poder enorme aos sindicatos de médicos estilo AMA e aos planos de saúde, num mercado EXCESSIVAMENTE regulado. Chamar isso de livre mercado é simplesmente debochar do interlocutor.

Dito isso, o fato de um sistema estatal de distribuição de serviços gerar aparentes resultados esconde os custos de oportunidade que ele está criando. Como burocratas não calculam, eles podem de fato destacar enormes orçamentos para a medicina ou para a pesquisa de física de partículas, e de fato algo de bom pode sair de todo esse dinheiro.

Mas isso é o que se vê. O que não se vê foram todos os outros usos alternativos que foram simplesmente descartados no momento em que a verba gigantesca foi empatada em hospitais, aceleradores de partícula e etc.

Inegavelmente os soviéticos possuiam os melhores atletas em diversos esportes, assim como os melhores alunos de matemática e jogadores de xadrez. Cuba também.

Um triunfo do socialismo, ou apenas a parte visível de um sistema errado de incentivos elaborado por burocratas que não tem idéia exata do que estão fazendo?

Ora, qualquer pessoa com uma visão mais ampla das coisas pode notar que o sistema socialista eventualmente colapsou, com pessoas passando fome em filas de supermercado, não foi por outra coisa se não exatamente por presepadas na alocação desses recursos escassos.
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DDV
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Re: Breve paragrafo sobre a miseria filosofica do Estado min

Mensagem por DDV »

Então?

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