O Portal Ateu divulgou:
“Gud finns nog inte”
http://www.portalateu.com/2009/06/12/gu ... -nog-inte/Posters colocados em Stockholm, Suécia, dizem que “Deus não é provável”. O anúncio diz igualmente que 7 milhões de Suecos não têm qualquer religião (de um total de 9 milhões de habitantes). No entanto, o sub-titulo do poster diz que “Deus afecta a nossa vida, principalmente por causa dos impostos que se paga para sustentar a igreja estatal”.
Responsável pela publicidade é a Sociedade Humanista da Suécia, que procura promover o humanismo e o debate sobre o efeito da religião na política e nas políticas. No anúncio vem o endereço electrónico da Associação, onde se pode preencher um questionário para saber qual o nível de crença em Deus e qual a opinião sobre o lugar que a religião deve ter na sociedade Sueca.
Gosto principalmente de terem escolhido a bandeira para o anúncio. Nenhum país deve ser considerado como um “país cristão” ou um “pais muçulmano” ou país judaico”. Os países são um grupo de pessoas que podem acreditar em coisas tão dispares como achar que deus é provável ou não.
O link para a Associação Humanista Sueca pode ser encontrado aqui.
Heja Sverige!!!
Os comentários, como se preza o portalateu(de adm. portuguesa), são quentissímos:
1. alfredo a 12 Junho, 2009 às 12:25 pm:
Caro Ricardo,
Estes suecos são terríficos. Já ultrapassaram o conservador Dawkins que ainda por aí a dizer que ‘e provável que Deus não exista’. Como terão lá chegado? Podiam explicar isso, sobretudo aos que estão demasiado dominados pela religião para lá chegarem sozinhos. Não podes meter uma cunhazinha para eles publicarem essa explicação/prova/demonstração?
Obrigado.
Um abraço,
Alfredo Dinis
2. Ricardo Silvestre a 12 Junho, 2009 às 2:49 pm:
Caro Alfredo
Quem desenha Volvos têm direito a um voto de confiança sobre questões de ausência de provas de não existências.
Devem adoptar os mesmos preceitos que os levam a não acreditar em Trolls e em fadas.
3. João Carvas a 12 Junho, 2009 às 7:12 pm:
Mas ainda existem religiosos na Suécia?
4. Rui Rodrigues a 12 Junho, 2009 às 7:33 pm:
“Dr Dawkins, speaking at the launch in Central London, said he would have rather not had the word “probably” in the advertisement. He said the existence of God was about as likely as that of the tooth fairy. ”
in
http://www.timesonline.co.uk/tol/commen ... 459138.ece “O Dr. Dawkins, enquanto discursava no lançamento feito na baixa Londrina, disse que teria preferido que a palavra “provavelmente” não estivesse no anuncio. Afirmou que a existência de deus, era tão provável como a existência da fada dos dentes.”
Alfredo Dinis disse: “Podiam explicar isso, sobretudo aos que estão demasiado dominados pela religião para lá chegarem sozinhos.”
É uma questão de literacia. Os países nórdicos, são aqueles onde a aprendizagem faz parte do sistema de ensino. Não se processam alunos como chouriços, ensinam-se pessoas.
Já em Portugal, ser doutor é por si só uma espécie de licença para dizer disparates. (nem interessa qual é o curso - geralmente humanidades, que a matemática é difícil) e pronto. Já temos o Portugal do Eça em velocidade de cruzeiro.
Então quando o doutor também é “sábio” nas coisas da fé, ui! ninguém o segura!
Educação é poder. Cultura é poder. Informação é poder. Temos muita falta de todas em Portugal.
Atentamente,
Rui Rodrigues
5. alfredo a 13 Junho, 2009 às 11:16 am:
Caro Ricardo,
Pensei que talvez te interesse ler uma afirmação de Dawkins que sempre me parece mais racional do que a simples negação de Deus, como se isso fosse uma questão do género de negar a existência de sereias ou outros seres mitológicos. Trata-se de uma afirmação feita em diálogo com Francis Collins, e publicado na TIME [Sunday, Nov. 05, 2006, God vs. Science, by Dan Cray/Los Angeles]
“My mind is not closed, as you have occasionally suggested, Francis. My mind is open to the most wonderful range of future possibilities, which I cannot even dream about, nor can you, nor can anybody else. What I am skeptical about is the idea that whatever wonderful revelation does come in the science of the future, it will turn out to be one of the particular historical religions that people happen to have dreamed up. When we started out and we were talking about the origins of the universe and the physical constants, I provided what I thought were cogent arguments against a supernatural intelligent designer. But it does seem to me to be a worthy idea. Refutable–but nevertheless grand and big enough to be worthy of respect. I don’t see the Olympian gods or Jesus coming down and dying on the Cross as worthy of that grandeur. They strike me as parochial. If there is a God, it’s going to be a whole lot bigger and a whole lot more incomprehensible than anything that any theologian of any religion has ever proposed.”
Como é evidente, não tenho a concepção de Dawkins acerca do paroquialismo do cristianismo, mas, por outro lado, compreendo que ele considere paroquial a concepção que tem do crisitianismo, e que não é a minha. Cristo não desceu do céu nem subiu ao céu, no sentido em que se pensava até recentemente, quando o céu estaria ‘lá em cima’, por detrás das estrelas. O Cristo de Dawkins é o dos não crentes em geral: anda por aí de bloco-notas na mão a tomar nota das nossas maldades para se divertir depois a fazer connosco um churrasco nas brasas do inferno; diverte-se a fazer milagres baralhando as leis da natureza; aparece e desaparece como as crianças num jogo de ‘esconde-esconde’; Deus Pai mandou o Filho Jesus Cristo à terra para sofrer e assim pagar pelos pecados da humanidade, uma vez que esta humanidade estava em dívida e não havia outra maneira de apagar a cólera do Eterno Pai; delicia-se com o sofrimento dos seres humanos, com a confusão que vai por esse mundo fora e lava as mãos de tudo isso quando lhe seria tão fácil pôr ordem nisto tudo; etc., etc. Sim, este é um deus paroquial, e Dawkins faz bem em não lhe dar crédito. E o mesmo fazem os suecos e todos os demais humanistas.
Perguntam-me muitas vezes em que Deus é que acredito se não acredito no que acabei de descrever. Considero que a perspectiva do jesuíta francês Teilhard de Chardin é a que mais nos aproxima de uma imagem de Deus não paroquial de Deus. Parece-me que os não crentes fariam bem em seguir a posição de Dawkins, de abertura a “futuras possibilidades, acerca da quais nem sequer posso sonhar, nem tu, nem ninguém”. Provavelmente os não crentes interpretarão esta afirmação nos entido de que não sabemos que descobertas fulgurantes nos reserva a ciência. Mas não me parece qu eseja este o sentido total da afirmação de Dawkins.
Com efeito, e muito curiosamente, o que diz logo a seguir é muito mais ‘ortodoxo’, pleo menos para os cristãos, do que ele próprio pensa. Os cristãos sabem perfeitamente que, embora acreditem que Deus se manifestou na pessoa de Cristo e acreditem no que ele disse, Deus é realmente muito maior e muito mais incompreensível do que os teólogos e as religiões propõem, exactamente como diz Dawkins:
“If there is a God, it’s going to be a whole lot bigger and a whole lot more incomprehensible than anything that any theologian of any religion has ever proposed.”
Qualquer teólogo cristão, qualquer cristão informado, subscreve esta proposição. Eu subscrevo-a sem reservas.
Um abraço,
Alfredo
6. Rui Rodrigues a 13 Junho, 2009 às 11:36 am:
Caro Alfredo Dinis,
“Então quando o doutor também é “sábio” nas coisas da fé, ui! ninguém o segura!”
Depois de fazer o post da frase acima, apercebi-me de que quem lesse isto, poderia concluir que me estaria a referir a si.
Não era esse o meu propósito. Aliás, seria injusta da minha parte essa comparação. Estava a escrever e a pensar simultaneamente em pessoas como Marcelo Rebelo de Sousa, e outros piores.
7. Rui Rodrigues a 13 Junho, 2009 às 11:39 am:
Caro Alfredo Dinis,
“If there is a God, it’s going to be a whole lot bigger and a whole lot more incomprehensible than anything that any theologian of any religion has ever proposed.”
Tradução: “Se existe um deus, será muitíssimo maior e muitíssimo mais incompreensível do que qualquer coisa que qualquer teólogo de qualquer religião tenha proposto”
Alfredo Dinis disse: “Qualquer teólogo cristão, qualquer cristão informado, subscreve esta proposição. Eu subscrevo-a sem reservas.”
Subscreve portanto também a parte “If there is a God,…”
Cumprimentos,
Rui Rodrigues
8. L. Abrantes a 13 Junho, 2009 às 10:48 pm:
Caro Alfredo Dinis
A razão pela qual os não crentes insistem nesse deus que descreveu não tem a ver com a nossa ideia da religião, mas sim da perpetuação dessas ideias por parte das Igrejas, sejam elas quais forem.
Atrevo-me a perguntar-lhe, (visto que subscreve a frase “If there is a God, it’s going to be a whole lot bigger and a whole lot more incomprehensible than anything that any theologian of any religion has ever proposed.”) se isso não implicaria colocar a sua fé como católico em cheque. Se realmente existe Deus e se está fora do nosso âmbito de conhecimento, significa tão simplesmente que o Catolicismo estará tão longe de alcançar o seu verdadeiro conhecimento como qualquer outra religião.
9. josepog a 14 Junho, 2009 às 12:11 am:
A PROVA DA INEXISTÊNCIA OBJETIVA DE DEUSES (*)
Os que defendem a existência objetiva de deuses usam a armadilha da prova negativa, isto é a prova da inexistência de algo.
Todo advogado sabe que, às vezes, é quase impossível provar uma coisa não existe, pois é preciso vasculhar toda a área realidade a ela relacionada e demonstrar que a dita coisa não está lá.
Como, no caso de deuses, a área da realidade relacionada é a amplidão da penumbra do desconhecido universal, eles, velhacamente, dizem que lhes basta o mistério e que é você que deve provar o contrário.
Mas existe uma prova positiva, histórica, de que todos os deuses são produtos culturais cujo prazo de validade coincide com efemeridade das culturas que os produziram: o fim dos deuses juntamente com fim dessas culturas.
Ou seja, todos os deuses não existem na realidade objetiva (fora da cabeça das pessoas). Existem apenas subjetivamente e, no máximo, como verdade intersubjetiva (que existe em muitas cabeças ao mesmo tempo), mas que mesmo assim não deixa de ser ilusão.
Onde estão Kukulcán, Quetzalcóatl, Inti, Osíris, Odin, Mitra, Tupã, Kitsiki Manitu, Ahura Mazda, Dagda, Zeus e Júpiter?
Resposta: se foram com as culturas que os criaram.
Os deuses atuais certamente durarão menos.
Um abraço para todos.
Josepog (BR)
(*) Conclusão de meu filho, quanto tinha ainda 14 anos. Eu apenas concordei.
10. alfredo a 14 Junho, 2009 às 12:47 am:
Caro Rui,
Obrigado pela explicação nº 6 de que não se referiu a mim no comentário nº 4. Devo dizer que pensei que se tinha referido a mim. Sendo eu um padre jesuíta, professor e director de uma instituição universitária, pareceu-me normal que se referisse a mim, entre outros. Mas isso não me incomodou. Estou habituado a ler aqui no Portal Ateu todo o género de opiniões, e aceito que muitas delas não estejam em linha com o que penso.
Em relação à sua observação sobre o meu comentário à afirmação de Dawkins, que traduziu, e que eu disse aceitar:
“Se existe um deus, será muitíssimo maior e muitíssimo mais incompreensível do que qualquer coisa que qualquer teólogo de qualquer religião tenha proposto”
parece-lhe que eu baseio a minha crença religiosa num incerto ‘se’. Ora, a afirmação de Dawkins constitui a premissa antecedente de um silogismo condicional, que tem mais duas proposições, em meu entender. Para mim, o silogismo completo tem a seguinte forma:
“Se existe um deus, será muitíssimo maior e muitíssimo mais incompreensível do que qualquer coisa que qualquer teólogo de qualquer religião tenha proposto”
Ora, existe um deus.
Logo, ele será muitíssimo maior e muitíssimo mais incompreensível do que qualquer coisa que qualquer teólogo de qualquer religião tenha proposto”
É evidente que Dawkins se fica pela premissa antecedente. Eu, naturalmente, não fico por aí.
Cordiais saudações,
Alfredo Dinis
11. alfredo a 14 Junho, 2009 às 12:48 am:
Cara Leonor,
Aquilo que muitas pessoas – tanto crentes como não crentes – pensam que dizem as Igrejas nem sempre corresponde ao que as Igrejas realmente dizem. Sendo eu padre, como já disse ao Rui no comentário anterior, conheço os textos da Igreja Católica, não apenas os da Idade Média e de outros séculos passados, mas também os mais recentes. Dado que estou em contacto com muitas pessoas – crentes e não crentes – posso dizer com conhecimento de causa que há muitas ideias que são identificadas com posições da Igreja Católica e que nada têm a ver com ela. Bastará ler, por exemplo, os textos do Concílio Vaticano II da década de 60 do século passado, para ver que a linguagem da Igreja Católica e muitas das suas perspectivas mudaram, mas estes e outros textos mais recentes são conhecidos e lidos por uma minoria insignificante de pessoas.
No que se refere ao meu acordo com a afirmação de Dawkins, que cita, ele não tem nada de original. Esta foi sempre a posição dos teólogos cristãos, desde o início do cristianismo até aos dias de hoje, como também já afirmei. O Deus de que falam os teólogos revelou-se em Jesus Cristo, mas Cristo não deixou nenhum tratado filosófico ou teológico para nos dar uma explicação exaustiva de tudo o que se refere à natureza de Deus. Disse apenas o que era essencial e acessível ao intelecto humano. E o que disse é suficiente para termos uma compreensão do sentido do universo e da vida, não numa perspectiva filosófica ou científica, abstracta, mas numa linha existencial e pessoal, respondendo às questões a que nem a filosofia nem a ciência respondem. Temos, pois um conhecimento suficiente de Deus, mas não um conhecimento completo, longe disso. Esta posição em nada diminui o valor do conhecimento que o cristianismo tem de Deus. Coloca-o na sua devida proporção.
Cordiais saudações,
Alfredo Dinis
12. alfredo a 14 Junho, 2009 às 1:06 am:
Caro Josepog,
É verdade que há muitos crentes que exigem que os não crentes provem a não existência de Deus. Eu sou crente mas não peço tal prova, pelo simples facto de que não acredito que haja provas da existência ou da não existência de Deus.
A sua afirmação de que tudo é fruto histórico das culturas tem alguma verdade. As religiões, incluindo o cristianismo, não caíram do céu, surgiram em culturas concretas. Daqui não se pode concluir definitivamente que todas as religiões são apenas criações culturais que desaparecem com as culturas em que surgiram. Isso é verdade para os deuses que refere mas, como sabe, o método indutivo não nos permite fazer generalizações com 100% de certezas. Pense, por exemplo, na ideia da existência de seres extraterrestres. Esta ideia existe em muitas culturas desde há muitos séculos. As ideias sobre tais seres têm naturalmente a ver com a cultura em que surgem. Muitas pessoas afirmam até que tiveram contactos com extraterrestres. Mas até hoje, tudo parece não passar de histórias inventadas. Poderei concluir daqui que não existem certamente extraterrestres inteligentes, e que nunca iremos ter evidências credíveis de que existem? Não creio que se possa tirar essa conclusão.
O facto de muitas religiões terem sido meras criações culturais e terem desaparecido com o desaparecimento dessas culturas não me permite afirmar que o mesmo vai certamente acontecer com as religiões actuais. No caso do cristianismo, ele surgiu numa época histórica concreta e numa cultura determinada, mas hoje não está ligada a uma cultura em concreto. É aceite por culturas muito diversas. Se irá desaparecer daqui a uns séculos ou a uns milénios, teremos que esperar para ver!
Cordiais saudações,
Alfredo Dinis