Análise do poema: Natal - Vinícius de Moraes ??

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Zato-one
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Análise do poema: Natal - Vinícius de Moraes ??

Mensagem por Zato-one »

Me deparei com esse poema, e me lembrei de minha infância, em um colégio batista (que fiquei por 5 anos, ao sair de lá vi como fui tratado como um idiota), do livro de português adotado na 4ª serie - se bem me lembro - continha esse poema, até ilustrado:





Natal
de Vinícius de Moraes

De repente o sol raiou
E o galo cocoricou:
- Cristo nasceu!

O boi, no campo perdido
Soltou um longo mugido:
- Aonde? Aonde?

Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:
- Em Belém! Em Belém!

Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:
- Foi sim que eu estava lá!

E o papagaio que é gira
Pôs-se a falar: – É mentira!

Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
- Cruz credo! Cruz credo!

Brava
A arara a gritar começa:
- Mentira! Arara. Ora essa!

- Cristo nasceu! canta o galo.
- Aonde? pergunta o boi.
- Num estábulo! – o cavalo
Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:
- Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.



Não sei se o nome do poeta ilustre é com MORAIS OU MORAES, mas me lembro que a professora fez a leitura do poema com os alunos e fizemos exercícios em cima dele, tipo interpretação de texto. Pensei em revirar o depósito de casa atrás do livro, mas me lembrei que mamãe doou-vendeu-jogou fora os livros antigos de escola. Quero me lembrar exatamente sobre o que a professora falou do papagaio pra gente, mas ela incitou algo sobre "não acreditarem no que dizem pela rua" e "Jesus é filho de Deus e isso é verdade, o papagaio é um tolo". Procurei algo relacionado ao Vinicius de Moraes e achei isso:

Religião
Vinícius de Moraes

"Bom, o encontro (com Deus) foi normal: família católica, colégio de padres, aquele negócio de confessar aos domingos, de comungar. Mas acho que a vocação para o pecado era maior. As confissões eram sempre as mesmas: "Bati três esta semana, bati quatro". Os castigos também eram os mesmos, de modo que aquilo acabou me cansando, me aporrinhando. Mas eu me meti a católico porque toda aquela fase de direita era muito ligada ao problema de Deus, principalmente por causa da influência do Otávio de Faria. Ele era aquele cristão dramático, lia muito Pascal, Claudel, os filósofos sofredores, me deu os primeiros livros para ler. até hoje eu tenho uma grande admiração e estima por ele, embora as divergências ocorridas fossem graves demais para permitir que mantivéssemos um relacionamento estável. Mas gosto muito dele, quero um grande bem a ele. Depois a vida foi em frente, me liguei muito a Bandeira, Drummond, Pedro Nava e outros, que tinham uma consciência cristã, mas não levavam aquilo como um cartaz na testa. Alguns eram francamente agnósticos. De toda essa mistura nasceu um desencanto, um desinteresse que acabou sendo total, não é?, com o problema religioso. Eu não acreditava mais".

Fonte: Revista Ele Ela, março de 1979 - Narceu de Almeida Filho



Sendo que a primeira fase da poesia de Vinicius é marcada pela preocupação religiosa e angústia, e depois deixa isso pra lá, esse poema foi realmente escrito por ele? Não encontro nada, fora citações como esse blog abaixo, que a criação é dele, e se for, o que ele quis dizer com o poema?


http://www.infoescola.com/literatura/vi ... de-moraes/
http://www.tirodeletra.com.br/religiao/ ... Moraes.htm
http://blog.sitedepoesias.com.br/poemas/natal/
"As religiões proliferam com o sofrimento de nosso povo."

Trancado