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Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 11:07
por Mucuna
Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidrogas

Aproveitando a ocasião do Dia Internacional das Drogas - que é justamente nesta sexta, 26 de junho - e o lançamento da nova política da ONU sobre o assunto, ocorrida também esta semana, uma rede formada por mais de 40 ONGs, instituições científicas, fundações e associações que atuam nas áreas de políticas públicas, saúde e segurança lançam hoje uma campanha para pressionar governos mundo afora a alterarem suas políticas de combate às drogas. O grupo defende que as estratégias sobre o assunto passem a priorizar também o tratamento de dependentes químicos e as políticas de redução de danos, ao invés de continuarem concentrando-se apenas na repressão ao tráfico e ao consumo. O fim das prisões por porte de drogas, a distinção entre "usuário" e "dependente" e o debate sobre a devastadora relação entre o uso de drogas injetáveis e a epidemia de AIDS e outras doenças infecto-contagiosas no Leste Europeu e no Sudeste Asiático também estão na pauta do grupo, que redigiu e divulga a partir de hoje, no mundo inteiro, um manifesto sobre o assunto.

Entre os brasileiros que assinam o documento estão Fernando Henrique Cardoso, co-presidente da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia; Cristina Pimenta, diretora executiva da Comissão Brasileira Interdisciplinar da AIDS, e Rubem César Fernandes, diretor do Viva Rio. Entre os estrangeiros, estão o diretor executivo do Fundo Global contra a AIDS, Tuberculose e Malária, Michel Kazatchkine; Robert Newman, diretor do centro Internacional para Tratamento Avançado de Dependência Química; e Ethan nedelman, diretor executivo da Drug Policy Alliance, dos EUA, entre muitos outros.

Leia abaixo a íntegra do manifesto e a lista completa de seus signatários:

Convocação para Ação: Apóie a Reforma da Política Global sobre Drogas

Dia Internacional das Drogas, 26 de Junho de 2009

I. A guerra contra as drogas tornou-se uma guerra contra o Povo

Enquanto as Nações Unidas chamam atenção do mundo inteiro para problemas relacionados ao consumo de drogas ilícitas, pedimos uma nova abordagem.
Em muitos países a "guerra contra as drogas" se tornou uma “guerra contra o povo”. Milhões de usuários não-violentos são alvos de abusos e terminam na prisão, sem acesso a cuidados com a saúde ou tratamentos eficazes. Pequenos comerciantes e produtores recebem penas desproporcionais para os seus crimes e definham aprisionados no mundo inteiro. Milhões mais sofrem com a destruição de suas culturas e com o assédio policial, enquanto lutam para sobreviver, com poucas alternativas frente ao desastre econômico. Enquanto isso, a epidemia de HIV ganha velocidade.

II. Cinco Ações Para Hoje

Depois de décadas de políticas que não conseguiram tornar nossas sociedades mais seguras ou saudáveis, e com esmagador volume de elementos provando que a criminalização da droga é, além de contraproducente, altamente destrutiva, exortamos os governos a:

1. Concentrar-se na redução dos danos relacionados com o tráfico e consumo de drogas, através de ações tais, como tornar amplamente disponíveis programas de troca de agulhas e seringas.

2. Descriminalizar a posse de droga para uso pessoal.

3. Assegurar-se de que tratamentos para a dor e dependência em drogas baseados em evidências científicas, como aqueles a base de metadona e buprenorfina, estejam amplamente disponíveis.

4. Tratar o apoio a substituição da produção de coca ou papoula por parte de agricultores como uma questão de desenvolvimento.

5. Cumprir integralmente as obrigações dos Direitos Humanos em qualquer medida de controle de droga, garantindo a proporcionalidade das sanções, abolindo a pena de morte, e evitando soluções não baseadas em provas científicas.

III. Alijar Usuários Gera Desastres na Saúde Pública

Após quase três décadas de epidemia global de HIV, reiteramos que conduzir os usuários de drogas à clandestinidade só torna a transmissão do HIV e da hepatite mais provável. O número de infecções por HIV devido ao consumo de drogas injetáveis está aumentando progressivamente. Em partes da Europa Oriental e no Sudeste Asiático, este valor atinge os 80%.

Conforme declaração da Federação Internacional da Cruz Vermelha e às Sociedades do Crescente Vermelho, "Forçar usuários de drogas a se esconder e negar-lhes acesso a tratamentos que salvam vidas e a de prevenção está criando um desastre de saúde pública. Isto acontece apesar de as provas científicas e pesquisas médica sobre boas práticas e análises de custo-benefício serem esmagadoramente a favor de programas de redução dos danos .... A mensagem é clara. É tempo de nos guiarmos pela luz da ciência, e não pela escuridão da ignorância e do medo."

Na verdade, ao invés de uma abordagem centrada no prisma da segurança publica, que custa aproximadamente $ 100 bilhões por ano em todo o mundo, precisamos, em primeiro lugar e acima de tudo, olhar para esta questão através da lente da saúde pública. No cego esforço de livrar o mundo das drogas, 80% dos doentes com câncer no mundo inteiro é negado o acesso à medicamentos a base de opiácios para alívio da dor.

IV. Adotar uma Abordagem Mais Humana

Uma abordagem humanista, compassiva ao uso de drogas com base na redução de danos e de respeito aos princípios dos Direitos Humanos é a forma mais eficaz para limitar o impacto negativo do uso, comércio e produção de drogas. Investigações científicas e médica sobre boas práticas e análises de custo-benefício favorecem esmagadoramente programas de redução de danos, incluindo troca de agulhas, terapias de substituição de drogas e distribuição de preservativos.

Aplaudimos países que já tomaram medidas nesta direção. Recentemente, tanto a Alemanha quanto a Suíça votaram para tornar a heroína disponível como medicamento para dependentes crônicos de opiácios; e a nova administração dos Estados Unidos saiu em apoio de programas de troca de agulhas. No Equador foram perdoados milhares de "mulas" de droga, presos com sentenças desproporcionais, e 80 juízes argentinos fizeram um apelo público para a reforma das leis de droga de seu país.

De modo a pôr termo à espiral de violência e ao aumento de doenças relacionadas às drogas em todo o globo, mais países devem seguir este exemplo.

Signatários:

Fernando Henrique Cardoso, Co-chair, Latin American Commission on Drugs and Democracy

Michel Kazatchkine, Executive Director, Global Fund to Fight AIDS, Tuberculosis and Malaria

Massimo Barra, Vice-President, Standing Commission of Red Cross/Red Crescent Movement

Kieran Daly, Executive Director, International Council of AIDS Service Organizations

Balasz Denes, Executive Director, Hungarian Civil Liberties Union

Gregg Gonzalves, International Treatment Preparedness Coalition

Martin Jelsma, Drugs and Democracy program, Transnational Institute

Craig McClure, Executive Director, International AIDS Society

Dr. Robert Newman, International Center for Advancement of Addiction Treatment

Professor Gerry Stimson, Executive Director, International Harm Reduction Association

Raminta Stuikyte, Director, Eurasian Harm Reduction Network

Carmen Tarrades, International Community of Women Living with HIV/AIDS

Mike Trace, Chairman, International Drug Policy Consortium

Kasia Malinowska-Sempruch and Daniel Wolfe, Open Society Institute

Zackie Ahmat, Deputy General-Secretary, Treatment Action Campaign, South Africa

Dr.Apinun Aramrattana, MD, PhD, Department of Family Medicine, Faculty of Medicine,

Chiang Mai University, Thailand

Patrizia Carrieri PhD, Researcher, French National Insitute for Health and Medical Research (INSERM), France

Rubem César Fernandes, Director, Viva Rio, Brazil

Jacek Charmast, Chairman, Polish Drug Policy Network, Poland

Professor John Nicholas Crofts, Nossal Institute for Global Health, University of Melbourne, Australia

Aleksander Ciechanowicz, Director General, Humanitarian Action, St Petersburg Fund for Medical and Social Programs, Russia

Dr. Marcus Day DSc, Director, Caribbean Drug & Alcohol Research Institute, Saint Lucia

Clement Edwards, Director, Substance Abuse Advisory Council Secretariat of Saint Lucia

Richard Elliott, Executive Director, Canadian HIV/AIDS Legal Network, Canada

Professor Pat O'Hare, Director, HIT, United Kingdom

Hakima Himmich, Director, Association de Lutte Contre le SIDA, Morocco

Professor Dr. Adeeba Kamarulzaman, President, Malaysian AIDS Council, Malaysia

Sandra Kanck, Australian Parliamentary Group on Drug Law Reform, Australia

Grażyna Konieczny, Chairperson, Social AIDS Committee, Poland

Professor Joep M.A. Lange, Center for Poverty-related Communicable Diseases, Academic Medical Center, University of Amsterdam, the Netherlands

Prem K Limbu, President, National Users’ Network, Nepal

Joesph Meharris, Manager, d'Oasis Drop in Centre, Port of Spain, Trinidad and Tobago

Professor Daniel Mejia, Economics Department, University of the Andes, Colombia

Phumi Mtetwa, Executive Director, Lesbian and Gay Equality Project, South Africa

Ethan Nadelmann, Executive Director, Drug Policy Alliance, United States

Professor Aimé Charles Nicolas, University Hospital of Fort de France, Martinique

Professor Wiktor Osiatyński, Poland

Dr. Cristina Pimenta, Executive Director, Brazilian Interdisciplinary AIDS Association, Brazil

Professor Carla Rossi, Director, Centre for Biostatistics and Bioinformatics of the University of Rome Tor Vergata, Italy

Sebastian Saville, Executive Director, Release, United Kingdom

Joel Simpson, Founding Co-Chairperson, Society Against Sexual Orientation Discrimination, Guyana

Paisan Suwannawong, Director, Thai AIDS Treatment Action Group, Thailand

Professor Pierre de Vos, Department of Public Law and Jurisprudence, Law Faculty, University of Western Cape, South Africa

Professor Daniel Tarantola, School of Public Health and Community Medicine,

University of New South Wales, Australia/France

Dr. Alex Wodak, President, Australian Drug Law Reform Foundation, Australia

Wan Yanhai, Director, Beijing Aizhixing Institute, China


Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/sobredrog ... 199033.asp

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 11:59
por Acauan
Mucuna escreveu:Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidrogas

Aproveitando a ocasião do Dia Internacional das Drogas - que é justamente nesta sexta, 26 de junho - e o lançamento da nova política da ONU sobre o assunto, ocorrida também esta semana, uma rede formada por mais de 40 ONGs, ...defende que as estratégias sobre o assunto passem a priorizar também o tratamento de dependentes químicos e as políticas de redução de danos, ao invés de continuarem concentrando-se apenas na repressão ao tráfico e ao consumo. O fim das prisões por porte de drogas, a distinção entre "usuário" e "dependente" e o debate sobre a devastadora relação entre o uso de drogas injetáveis e a epidemia de AIDS e outras doenças infecto-contagiosas no Leste Europeu e no Sudeste Asiático também estão na pauta do grupo, que redigiu e divulga a partir de hoje, no mundo inteiro, um manifesto sobre o assunto.


Por que será que o sujeito "rede de ONG's" tem sempre merda como predicado?

É impressionante a coleção de idiotices no parágrafo acima.
Como deixar de priorizar a repressão ao tráfico de drogas, enquanto bandoleiros munidos de armas militares controlam territórios urbanos densamente povoados, impondo seu terror criminoso à população?
Retroceder no combate às quadrilhas de traficantes representa a rendição incondicional do Estado de Direito.

E que papo é este de que consumidor de drogas é coitadinho?
Oras, vão aos raios que os partam.
A droga mais problemática atualmente, a cocaína, é considerada de entretenimento pelos médicos. A grande maioria dos usuários tem a droga como um aditivo químico de suas baladas, não são dependentes químicos porra nenhuma, são playboys cheiradores mesmo.
Quem compra drogas sabe muito bem que o dinheiro que paga por elas vira armas e munições que irão matar policiais e civis inocentes. São, portanto financiadores e cúmplices ativos, conscientes e deliberados destes crimes.

A relação entre traficante e usuário de drogas é exatamente a mesma que existe entre ladrão e receptador. Um não existe sem o outro e são parceiros no mesmo crime.

O único modo de reduzir o tráfico de drogas é pelo estrangulamento econômico, no qual o máximo de repressão provoca o aumento dos riscos e custos do negócio e força o aumento dos preços e o desestímulo ao consumo.
Se de quebra cheiradores flagrados em boca de fumo puxarem um tempo de cana, mais desestímulo ainda.

Não será pegando no colo e passando a mão na cabeça desta turma que eles vão mudar seus hábitos, como não é dando bifes ao seu cachorro que você o ensinará a comer ração.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 12:23
por Mucuna
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidrogas

Aproveitando a ocasião do Dia Internacional das Drogas - que é justamente nesta sexta, 26 de junho - e o lançamento da nova política da ONU sobre o assunto, ocorrida também esta semana, uma rede formada por mais de 40 ONGs, ...defende que as estratégias sobre o assunto passem a priorizar também o tratamento de dependentes químicos e as políticas de redução de danos, ao invés de continuarem concentrando-se apenas na repressão ao tráfico e ao consumo. O fim das prisões por porte de drogas, a distinção entre "usuário" e "dependente" e o debate sobre a devastadora relação entre o uso de drogas injetáveis e a epidemia de AIDS e outras doenças infecto-contagiosas no Leste Europeu e no Sudeste Asiático também estão na pauta do grupo, que redigiu e divulga a partir de hoje, no mundo inteiro, um manifesto sobre o assunto.


Por que será que o sujeito "rede de ONG's" tem sempre merda como predicado?

É impressionante a coleção de idiotices no parágrafo acima.
Como deixar de priorizar a repressão ao tráfico de drogas, enquanto bandoleiros munidos de armas militares controlam territórios urbanos densamente povoados, impondo seu terror criminoso à população?
Retroceder no combate às quadrilhas de traficantes representa a rendição incondicional do Estado de Direito.

E que papo é este de que consumidor de drogas é coitadinho?
Oras, vão aos raios que os partam.
A droga mais problemática atualmente, a cocaína, é considerada de entretenimento pelos médicos. A grande maioria dos usuários tem a droga como um aditivo químico de suas baladas, não são dependentes químicos porra nenhuma, são playboys cheiradores mesmo.
Quem compra drogas sabe muito bem que o dinheiro que paga por elas vira armas e munições que irão matar policiais e civis inocentes. São, portanto financiadores e cúmplices ativos, conscientes e deliberados destes crimes.

A relação entre traficante e usuário de drogas é exatamente a mesma que existe entre ladrão e receptador. Um não existe sem o outro e são parceiros no mesmo crime.

O único modo de reduzir o tráfico de drogas é pelo estrangulamento econômico, no qual o máximo de repressão provoca o aumento dos riscos e custos do negócio e força o aumento dos preços e o desestímulo ao consumo.
Se de quebra cheiradores flagrados em boca de fumo puxarem um tempo de cana, mais desestímulo ainda.

Não será pegando no colo e passando a mão na cabeça desta turma que eles vão mudar seus hábitos, como não é dando bifes ao seu cachorro que você o ensinará a comer ração.



Hm hm.. Há ONGs e ONGs, com certeza. Se fosse uma ONG a favor do endurecimento, repressão e estado policial, seria uma "séria" na sua visão?

De qualquer forma, não é só de ONGs que a "rede" é formada.

Note também que não é algo nacional, não é iniciativa brasileira. No Brasil engolimos que tráfico de drogas é igual a violência, caos, hordas de loucos armados até os dentes que matam rindo e fica por isso mesmo.

Em outros lugares mais decentes, não. E comparo com lugares onde existem traficantes, existe produção e existe usuário pagando inclusive mais caro. E o traficante não é nem besta de puxar uma arma e atirar num policial ou inocente por "revolta" ou sadismo como vemos aqui. O cara é discreto e se bobear nem armado está. Há violência pq são quadrilhas, mas é mais localizado entre eles e não é nada nem de perto parecido com o q temos aqui.

E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

E sim, a maioria é usuário não violento, como acontece com o álcool. Se o cara é um playboy cheirador, isso deveria ser problema dele. Se ele faz merda, cheirado ou não, tanto faz, paga-se por isso. A merda foi criar propagandas durante décadas com desinformação, preconceito e esteriótipos, jogar produtos desejados, alguns por milênios, na mão de bandidos e depois dizer que a culpa sempre foi do usuário e que isto está "destruindo nossa juventude". Essa conversinha tem décadas.

Só quero que alguém aponte o q a abordagem atual de repressão, marginalização e tiros resolveu. Se ela manteve o consumo, causou mortes, corrupção e desfigurou a polícia, o que ganhamos em contrapartida que faça isso valer a pena?

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 13:27
por Acauan
Mucuna escreveu:Hm hm.. Há ONGs e ONGs, com certeza. Se fosse uma ONG a favor do endurecimento, repressão e estado policial, seria uma "séria" na sua visão?


O problema é justamente o porquê de nenhuma ONG com o mínimo de visibilidade defender o combate duro e todas defenderem o oposto.
E Estado Policial é por sua conta. Se ler o que escrevi verá que defendo o Estado de Direito.


Mucuna escreveu:De qualquer forma, não é só de ONGs que a "rede" é formada.


O artigo cita "rede de ONG's". Uma rede de ONG's seria formada pelo que mais?

Mucuna escreveu:Note também que não é algo nacional, não é iniciativa brasileira. No Brasil engolimos que tráfico de drogas é igual a violência, caos, hordas de loucos armados até os dentes que matam rindo e fica por isso mesmo.


Ué... E nos outros países os traficantes são desarmados, pacíficos e solidários? Até onde sei, em todos os países em que o tráfico se tornou um problema crônico, como Colômbia nos tempos de Pepe Escobar e o México atual, com seus cartéis, a coisa sempre foi parecida com o Morro do Dedéu para pior.

Mucuna escreveu:Em outros lugares mais decentes, não. E comparo com lugares onde existem traficantes, existe produção e existe usuário pagando inclusive mais caro. E o traficante não é nem besta de puxar uma arma e atirar num policial ou inocente por "revolta" ou sadismo como vemos aqui. O cara é discreto e se bobear nem armado está. Há violência pq são quadrilhas, mas é mais localizado entre eles e não é nada nem de perto parecido com o q temos aqui.


Você está descrevendo o tráfico de drogas em alguns países europeus, que é apenas o ponto final de consumo de uma rede de produção e distribuição que começa bem longe dali. Por trás do traficante holandês, loirinho, bonitinho e simpatiquinho, que vende seu pózinho na boa, discretamente, existe uma cadeia de assassinos atuando para que a mercadoria chegue àquele vendedor final. O fato de a violência se dar em outro país não implica que ela não exista e seja causada exatamente pelo comprador que financia o esquema todo.

Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.


Toda esta conversa é balela, sem qualquer fundamento na realidade dos fatos. Quem diz que não resolveu nada é porque não conhece ou não quer conhecer como a Colômbia destruiu o poder dos principais cartéis, que praticamente comandavam o país – e não foi dando beijinhos nos traficantes, assim como ignora os antecedentes históricos do efeito catatrófico do consumo desenfreado de drogas – cujo exemplo mais marcante é a China no seculo XIX, cuja sociedade quase entrou em colapso por conta do consumo de ópio.
Droga é caso de polícia, sim senhor, porque seus efeitos extrapolam em muito os impactos restritos ao consumidor individual e no fim toda a sociedade tem que pagar o pato – e pagar muito caro – para que alguns possam continuar tendo o seu barato.


Mucuna escreveu:E sim, a maioria é usuário não violento, como acontece com o álcool. Se o cara é um playboy cheirador, isso deveria ser problema dele. Se ele faz merda, cheirado ou não, tanto faz, paga-se por isso. A merda foi criar propagandas durante décadas com desinformação, preconceito e esteriótipos, jogar produtos desejados, alguns por milênios, na mão de bandidos e depois dizer que a culpa sempre foi do usuário e que isto está "destruindo nossa juventude". Essa conversinha tem décadas.


Sei lá quando se fez propaganda de cocaína.
E não, não é problema do playboy cheirador, porque o Estado não pode permitir que produtos tóxicos, capazes de matar instantaneamente por overdose, sejam livremente comercializados como o são o álcool e o fumo, cujos danos à saúde estão associados ao consumo intensivo a longo prazo.

Além do que, e já expliquei isto antes, um cara bêbado é um risco social na medida em que pegue um automóvel e tente dirigir, mas na maioria dos casos os próprios efeitos do excesso de álcool limitam a capacidade de seu consumidor causar danos.

Já o consumidor de cocaína aparenta normalidade, mas em sendo esta droga um poderoso estimulante com efeitos variados na consciência, temos um risco invisível e um agressor potencial com sua capacidade de causar danos extremamente aumentada, ao contrário do que ocorre com a bebida.


Mucuna escreveu:Só quero que alguém aponte o q a abordagem atual de repressão, marginalização e tiros resolveu. Se ela manteve o consumo, causou mortes, corrupção e desfigurou a polícia, o que ganhamos em contrapartida que faça isso valer a pena?


Beleza de argumento.
Então porque ainda há assaltos, vamos descriminalizar o roubo e passar a dar nossos pertences voluntariamente aos ladrões para suprimir a violência do ato.
Ou então, já que de nada resolveu combater a corrupção, então vamos acabar com as denúncias e indicar em nossas declarações de renda quais políticos queremos que fiquem com nosso dinheiro.

Se os métodos de combate a determinado crime são ineficientes, deve-se melhorar a eficiência do combate ao crime e não desistir de combatê-lo.
É sempre estranho ter que dizer o óbvio.

Oras, bolas...

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 13:42
por Fernando Silva
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 13:46
por Acauan
Fernando Silva escreveu:
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.


Se produto legalizado implicasse na inexistência de comércio ilegal daquele mesmo produto, a grande maioria dos usuários não estaria acessando este fórum usando uma cópia pirata do Windows.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:08
por Mucuna
Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
De qualquer forma, não é só de ONGs que a "rede" é formada.

O artigo cita "rede de ONG's". Uma rede de ONG's seria formada pelo que mais?


“uma rede formada por mais de 40 ONGs, instituições científicas, fundações e associações que atuam nas áreas de políticas públicas, saúde e segurança”

Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
Note também que não é algo nacional, não é iniciativa brasileira. No Brasil engolimos que tráfico de drogas é igual a violência, caos, hordas de loucos armados até os dentes que matam rindo e fica por isso mesmo.

Ué... E nos outros países os traficantes são desarmados, pacíficos e solidários? Até onde sei, em todos os países em que o tráfico se tornou um problema crônico, como Colômbia nos tempos de Pepe Escobar e o México atual, com seus cartéis, a coisa sempre foi parecida com o Morro do Dedéu para pior.


Sim, nos lugares que tem uma série de outros problemas que não são o tráfico, mas magicamente todos esses problemas “somem” já que existe o tráfico e esse justifica tudo. É um tremendo bode expiatório para tentar esconder os interesses e incopetência ao deixar a coisa chegar onde chegou.

Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
Em outros lugares mais decentes, não. E comparo com lugares onde existem traficantes, existe produção e existe usuário pagando inclusive mais caro. E o traficante não é nem besta de puxar uma arma e atirar num policial ou inocente por "revolta" ou sadismo como vemos aqui. O cara é discreto e se bobear nem armado está. Há violência pq são quadrilhas, mas é mais localizado entre eles e não é nada nem de perto parecido com o q temos aqui.

Você está descrevendo o tráfico de drogas em alguns países europeus, que é apenas o ponto final de consumo de uma rede de produção e distribuição que começa bem longe dali. Por trás do traficante holandês, loirinho, bonitinho e simpatiquinho, que vende seu pózinho na boa, discretamente, existe uma cadeia de assassinos atuando para que a mercadoria chegue àquele vendedor final. O fato de a violência se dar em outro país não implica que ela não exista e seja causada exatamente pelo comprador que financia o esquema todo.


Não, há países europeus que produzem também substâncias ilícitas. Há plantações de cannabis até na Suíça. As drogas sintéticas saem de lá. E como eu disse, há violência mais entre as máfias, mas se vc passar perto de uma plantação de maconha na Suíça, para continuar o exemplo, vc não verá um bando com fuzis na mão atirando em vc e tacando granada.

Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Toda esta conversa é balela, sem qualquer fundamento na realidade dos fatos. Quem diz que não resolveu nada é porque não conhece ou não quer conhecer como a Colômbia destruiu o poder dos principais cartéis, que praticamente comandavam o país – e não foi dando beijinhos nos traficantes, assim como ignora os antecedentes históricos do efeito catatrófico do consumo desenfreado de drogas – cujo exemplo mais marcante é a China, cuja sociedade quase entrou em colapso por conta do consumo de ópio.
Droga é caso de polícia, sim senhor, porque seus efeitos extrapolam em muito os impactos restritos ao consumidor individual e no fim toda a sociedade tem que pagar o pato – e pagar muito caro – para que alguns possam continuar tendo o seu barato.


Balela? Não quer é aceitar a realidade de que cartéis do pó na Colômbia se formaram pq resolveram proibir um produto procurado e entrega-lo na mão do mercado negro.

O resto dito são só fruto de propagandas sem o menor aval histórico e científico que as pessoas repetem feito papagaios. O consumo não diminuiu e, apesar de terem marginalizado milhões de pessoas, de terem entregado o produto que sabe-se lá como é produzido na mão de bandidos, a sociedade não se afundou nas drogas.

Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
E sim, a maioria é usuário não violento, como acontece com o álcool. Se o cara é um playboy cheirador, isso deveria ser problema dele. Se ele faz merda, cheirado ou não, tanto faz, paga-se por isso. A merda foi criar propagandas durante décadas com desinformação, preconceito e esteriótipos, jogar produtos desejados, alguns por milênios, na mão de bandidos e depois dizer que a culpa sempre foi do usuário e que isto está "destruindo nossa juventude". Essa conversinha tem décadas.

Sei lá quando se fez propaganda de cocaína.
E não, não é problema do playboy cheirador, porque o Estado não pode permitir que produtos tóxicos, capazes de matar instantaneamente por overdose, sejam livremente comercializados como o são o álcool e o fumo, cujos danos à saúde estão associados ao consumo intensivo a longo prazo.

Além do que, e já expliquei isto antes, um cara bêbado é um risco social na medida em que pegue um automóvel e tente dirigir, mas na maioria dos casos os próprios efeitos do excesso de álcool limitam a capacidade de seu consumidor causar danos.

Já o consumidor de cocaína aparenta normalidade, mas em sendo esta droga um poderoso estimulante com efeitos variados na consciência, temos um risco invisível e um agressor potencial com sua capacidade de causar danos extremamente aumentada, ao contrário do que ocorre com a bebida.


O álcool, dentre outros efeitos, tira sua censura do indivíduo e ele tende a expor, a extravasar mais o que está dentro de si.

Com pó, o mesmo ocorre no sentido de que a pessoa só vai se sentir mais confiante a se expor. Essa opinião sua comparando cocaína com álcool foi balizada em que?

O vício em seja lá o que for é algo terrível, mas uma minoria se torna doente. Proibir falhou miseravelmente na prevenção, só criou problemas maiores. Isto é convenientemente ignorado por quem quer sustentar a política atual, que só favorece traficante.

Acauan]
[quote="Mucuna escreveu:
Só quero que alguém aponte o q a abordagem atual de repressão, marginalização e tiros resolveu. Se ela manteve o consumo, causou mortes, corrupção e desfigurou a polícia, o que ganhamos em contrapartida que faça isso valer a pena?

Beleza de argumento.
Então porque ainda há assaltos, vamos descriminalizar o roubo e passar a dar nossos pertences voluntariamente aos ladrões para suprimir a violência do ato.
Ou então, já que de nada resolveu combater a corrupção, então vamos acabar com as denúncias e indicar em nossas declarações de renda quais políticos queremos que fiquem com nosso dinheiro.

Se os métodos de combate a determinado crime são ineficientes, deve-se melhora a eficiência do combate ao crime e não desistir de combatê-lo.
É sempre estranho ter que dizer o óbvio.

Oras, bolas...


É uma tremenda desonestidade comprar o cara que quer fumar, beber ou cheirar com um assassino ou assaltante. É o princípio da lesividade, que até já mencionei aqui. É incorreto vc criminalizar alguém que só está fazendo mal a si próprio.

Numa explicação mais tati-bi-tati:

O cara que cheira, o faz pq quer. Acontece em sua vontade.
O cara que é assaltado, não quer ser assaltado. Acontece contra sua vontade.
O cara que é assassinado, não queria ser assassinado. Acontece contra sua vontade.

A pergunta ainda fica no ar. A situação atual foi CRIADA quando se decidiu lidar com as drogas desta forma e a população foi treinada através das gerações desde então a defender os interesses dos traficantes e corruptos com unhas e dentes sem nem se tocar.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:12
por Mucuna
Fernando Silva escreveu:
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.



Vamos comparar com a experiência real de quando se proibiu o álcool?

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:13
por Acauan
Deve parecer bastante lógico a todo mundo que se multe o motorista que dirige sem cinto de segurança ou o motociclista sem capacete, pelo motivo óbvio de que em caso de acidente o custo da imprudência será rateado por toda sociedade, que paga a conta das equipes de socorro e hospitais públicos disponibilizados, independente do fato de que os danos físicos do ato se restrinjam ao infrator.

Assim, é justo que o custo da imprudência seja preferencialmente rateado entre os imprudentes.

Por que cargas d'água então se deve isentar o usuário de drogas de responsabilidade pelo custo social do tráfico, que não existiria sem clientes?
Ofende a inteligência a tentativa de fazer crer que o usuário típico de drogas é um coitadinho sem controle sobre suas ações, que é levado ao consumo por forças superiores à sua própria vontade.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:26
por Mucuna
Acauan escreveu:Deve parecer bastante lógico a todo mundo que se multe o motorista que dirige sem cinto de segurança ou o motociclista sem capacete, pelo motivo óbvio de que em caso de acidente o custo da imprudência será rateado por toda sociedade, que paga a conta das equipes de socorro e hospitais públicos disponibilizados, independente do fato de que os danos físicos do ato se restrinjam ao infrator.

Assim, é justo que o custo da imprudência seja preferencialmente rateado entre os imprudentes.

Por que cargas d'água então se deve isentar o usuário de drogas de responsabilidade pelo custo social do tráfico, que não existiria sem clientes?
Ofende a inteligência a tentativa de fazer crer que o usuário típico de drogas é um coitadinho sem controle sobre suas ações, que é levado ao consumo por forças superiores à sua própria vontade.



A lei sobre o cinto de segurança foi muito discutida justamente por ferir, no entendimento de alguns, o princípio d lesividade.

Mas mais uma vez: O tráfico foi criado MUITO depois de existir usuários de drogas (desde q a humanidade surgiu, podemos dizer).
Foi feito por puro moralismo e desconhecimento de como se lidar com quem desenvolvia adicção (além de alguns casos também estarem presentes o preconceito étnico e interesses econômicos).

Um artigo interessante sobre a proibição do álcool, que fala um pouco do modus operanti da questão drogas recreativas na sociedade:
http://www.nber.org/papers/w3675.pdf

Muitos tremem quando ouvem alguém dizer "poxa, podemos repensar a forma como lidamos com a existência de drogas e as pessoas que as usam, não é?". Por medo, ignorância ou interesses próprios.

Na Holanda, onde só a cannabis é vendida e consumida legalmente (e a produção continua ilegal), há um dos menores índices na Europa no consumo da erva e até de outras drogas.

Sinais óbvios que o caminho tomado não só não resolveu nada como piorou bastante, não faltam.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:38
por Acauan
Mucuna escreveu:
Acauan][quote="Mucuna escreveu:De qualquer forma, não é só de ONGs que a "rede" é formada.

O artigo cita "rede de ONG's". Uma rede de ONG's seria formada pelo que mais?


“uma rede formada por mais de 40 ONGs, instituições científicas, fundações e associações que atuam nas áreas de políticas públicas, saúde e segurança”


Que também são organizações não governamentais, a menos que as instituições científicas, fundações e associações pertençam a algum governo, o que não foi citado.

Mucuna escreveu: Sim, nos lugares que tem uma série de outros problemas que não são o tráfico, mas magicamente todos esses problemas “somem” já que existe o tráfico e esse justifica tudo. É um tremendo bode expiatório para tentar esconder os interesses e incopetência ao deixar a coisa chegar onde chegou.


De novo a falta de compromisso com a realidade dos fatos.
Basta analisar a experiência do Rio de Janeiro, no qual o tráfico de drogas trouxe problemas de violência urbana que nunca existiram na cidade – como quadrilhas munidas com armas militares – e intensificou os outros problemas de segurança existentes, já que a polícia se tornou insuficiente ante o crescimento da violência urbana, o que abriu espaço para bandidos menores atuarem.
Drogas é e sempre foi causa e não consequência de problemas sociais, como os fatos mostram. E discurso nenhum pode provar o contrário.


Mucuna escreveu:
Acauan] [quote="Mucuna escreveu:Em outros lugares mais decentes, não. E comparo com lugares onde existem traficantes, existe produção e existe usuário pagando inclusive mais caro. E o traficante não é nem besta de puxar uma arma e atirar num policial ou inocente por "revolta" ou sadismo como vemos aqui. O cara é discreto e se bobear nem armado está. Há violência pq são quadrilhas, mas é mais localizado entre eles e não é nada nem de perto parecido com o q temos aqui.

Você está descrevendo o tráfico de drogas em alguns países europeus, que é apenas o ponto final de consumo de uma rede de produção e distribuição que começa bem longe dali. Por trás do traficante holandês, loirinho, bonitinho e simpatiquinho, que vende seu pózinho na boa, discretamente, existe uma cadeia de assassinos atuando para que a mercadoria chegue àquele vendedor final. O fato de a violência se dar em outro país não implica que ela não exista e seja causada exatamente pelo comprador que financia o esquema todo.


Não, há países europeus que produzem também substâncias ilícitas. Há plantações de cannabis até na Suíça. As drogas sintéticas saem de lá. E como eu disse, há violência mais entre as máfias, mas se vc passar perto de uma plantação de maconha na Suíça, para continuar o exemplo, vc não verá um bando com fuzis na mão atirando em vc e tacando granada.


E o que devemos concluir disto? Que as autoridades devem iniciar um programa para substituir os traficantes brasileiros pelos helvéticos?
Oras, bolas de novo.
Como dito, o grande problema do tráfico de drogas é a cocaína. Mesmo no Brasil o tráfico de maconha – que sempre houve – jamais representou uma ameaça à ordem institucional, como é o caso do pó, que movimentando milhões de dólares e sendo fartamente consumido pelas classes média e alta criou uma realidade em que o tráfico se tornou ameaça à segurança nacional, um problema muito maior do que cheiradores de fim de semana queiram assumir como parte de sua responsabilidade.


Mucuna escreveu:
Acauan] [quote="Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Toda esta conversa é balela, sem qualquer fundamento na realidade dos fatos. Quem diz que não resolveu nada é porque não conhece ou não quer conhecer como a Colômbia destruiu o poder dos principais cartéis, que praticamente comandavam o país – e não foi dando beijinhos nos traficantes, assim como ignora os antecedentes históricos do efeito catatrófico do consumo desenfreado de drogas – cujo exemplo mais marcante é a China, cuja sociedade quase entrou em colapso por conta do consumo de ópio.
Droga é caso de polícia, sim senhor, porque seus efeitos extrapolam em muito os impactos restritos ao consumidor individual e no fim toda a sociedade tem que pagar o pato – e pagar muito caro – para que alguns possam continuar tendo o seu barato.


Balela? Não quer é aceitar a realidade de que cartéis do pó na Colômbia se formaram pq resolveram proibir um produto procurado e entrega-lo na mão do mercado negro.


E por que os antigos cartéis colombianos não existem mais hoje? Porque desistiram de bom grado de ganhar fortunas?
Que que é isto...
E a experiência chinesa, quando praticamente não havia repressão, as casas de ópio eram estabelecimentos perfeitamente legais e o país se afundou na ruína sócio-econômica e mesmo moral, terminando conquistado e retalhado pelas potências ocidentais.
E a Suiça, que implantou um programa de legalização de drogas e voltou atrás, depois que Zurique o outras cidades se transformaram em depósitos de zumbis. Os fatos estão aí, pode-se tentar negá-los com discurso ideológico, mas conseguir negá-los é outra coisa.


Mucuna escreveu: O resto dito são só fruto de propagandas sem o menor aval histórico e científico que as pessoas repetem feito papagaios. O consumo não diminuiu e, apesar de terem marginalizado milhões de pessoas, de terem entregado o produto que sabe-se lá como é produzido na mão de bandidos, a sociedade não se afundou nas drogas.


O que é propaganda sem aval científico e histórico?
Que o ópio não enfraqueceu a índole do povo chinês ou que a Colômbia não acabou com os cartéis na base da decisão e força bruta.
Ou será que os médicos não definem cocaína como droga de entretenimento, apesar dos artigos especializados dizerem isto.
De novo, fatos x discurso.


Mucuna escreveu:
Acauan][quote="Mucuna escreveu:E sim, a maioria é usuário não violento, como acontece com o álcool. Se o cara é um playboy cheirador, isso deveria ser problema dele. Se ele faz merda, cheirado ou não, tanto faz, paga-se por isso. A merda foi criar propagandas durante décadas com desinformação, preconceito e esteriótipos, jogar produtos desejados, alguns por milênios, na mão de bandidos e depois dizer que a culpa sempre foi do usuário e que isto está "destruindo nossa juventude". Essa conversinha tem décadas.

Sei lá quando se fez propaganda de cocaína.
E não, não é problema do playboy cheirador, porque o Estado não pode permitir que produtos tóxicos, capazes de matar instantaneamente por overdose, sejam livremente comercializados como o são o álcool e o fumo, cujos danos à saúde estão associados ao consumo intensivo a longo prazo.

Além do que, e já expliquei isto antes, um cara bêbado é um risco social na medida em que pegue um automóvel e tente dirigir, mas na maioria dos casos os próprios efeitos do excesso de álcool limitam a capacidade de seu consumidor causar danos.

Já o consumidor de cocaína aparenta normalidade, mas em sendo esta droga um poderoso estimulante com efeitos variados na consciência, temos um risco invisível e um agressor potencial com sua capacidade de causar danos extremamente aumentada, ao contrário do que ocorre com a bebida.


O álcool, dentre outros efeitos, tira sua censura do indivíduo e ele tende a expor, a extravasar mais o que está dentro de si.


E também tira o equilíbrio e a força física, produz torpor e após algum tempo grave mal estar. Nestas condições, há limitação na capacidade do embriagado causar dano. Com a cocaína ocorre o oposto. O que não quer dizer que álcool seja bom, óbvio.

Mucuna escreveu: Com pó, o mesmo ocorre no sentido de que a pessoa só vai se sentir mais confiante a se expor. Essa opinião sua comparando cocaína com álcool foi balizada em que?


Que opinião minha coisa nenhuma. Que a cocaína é uma droga estimulante é coisa sabida por todo mundo que não é completamente ignorante no fato, e quem já leu qualquer comentário médico a respeito sabe disto.
Se quiser, o google tá aí.


Mucuna escreveu: O vício em seja lá o que for é algo terrível, mas uma minoria se torna doente. Proibir falhou miseravelmente na prevenção, só criou problemas maiores. Isto é convenientemente ignorado por quem quer sustentar a política atual, que só favorece traficante.


Outra balela. Mesmo que se legalizasse as drogas, não há a mais mínima garantia do fim do tráfico, já que muitos usuários ainda os procurariam por questões de preço (tráfico não paga imposto), anonimato (venda controlada exigiria identificação) e qualidade (drogas pesadas, mais puras etc).
É muita cara de pau querer estabelecer políticas de segurança pública com base em suposições que só consideram as hipóteses favoráveis ao interesse defendido.


Mucuna escreveu:
Acauan] [quote="Mucuna escreveu:Só quero que alguém aponte o q a abordagem atual de repressão, marginalização e tiros resolveu. Se ela manteve o consumo, causou mortes, corrupção e desfigurou a polícia, o que ganhamos em contrapartida que faça isso valer a pena?

Beleza de argumento.
Então porque ainda há assaltos, vamos descriminalizar o roubo e passar a dar nossos pertences voluntariamente aos ladrões para suprimir a violência do ato.
Ou então, já que de nada resolveu combater a corrupção, então vamos acabar com as denúncias e indicar em nossas declarações de renda quais políticos queremos que fiquem com nosso dinheiro.

Se os métodos de combate a determinado crime são ineficientes, deve-se melhora a eficiência do combate ao crime e não desistir de combatê-lo.
É sempre estranho ter que dizer o óbvio.

Oras, bolas...


É uma tremenda desonestidade comprar o cara que quer fumar, beber ou cheirar com um assassino ou assaltante. É o princípio da lesividade, que até já mencionei aqui. É incorreto vc criminalizar alguém que só está fazendo mal a si próprio.


A partir do momento que o assassino comprou a arma e as balas com o dinheiro pago pelo usuário de drogas e estes as compra sabendo que sustenta uma organização criminosa, que assuma as consequências diretas de seus atos.

De novo, existe a mesma relação entre traficante e usuário que entre ladrão e receptador. Isto é inegável.


Mucuna escreveu: Numa explicação mais tati-bi-tati:

O cara que cheira, o faz pq quer. Acontece em sua vontade.
O cara que é assaltado, não quer ser assaltado. Acontece contra sua vontade.
O cara que é assassinado, não queria ser assassinado. Acontece contra sua vontade.

A pergunta ainda fica no ar. A situação atual foi CRIADA quando se decidiu lidar com as drogas desta forma e a população foi treinada através das gerações desde então a defender os interesses dos traficantes e corruptos com unhas e dentes sem nem se tocar.


Mentira da grossa.
As drogas foram proibidas porque são substâncias tóxicas, capazes de matar imediatamente por overdose, como dito. Sua liberação para o comércio legal, como se fosse um produto qualquer é imoral.
Depois, se é a proibição que provoca o crime, suprimamos pois as leis, os tribunais e a polícia e viveremos todos em maravilhoso mundo de paz.
Absurdo?
Pois é!

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 14:47
por Acauan
Mucuna escreveu:Mas mais uma vez: O tráfico foi criado MUITO depois de existir usuários de drogas (desde q a humanidade surgiu, podemos dizer).
Foi feito por puro moralismo e desconhecimento de como se lidar com quem desenvolvia adicção (além de alguns casos também estarem presentes o preconceito étnico e interesses econômicos).



[quote="Mucuna"]Foge-me completamente a lógica que conclui que proibir substâncias tóxicas capazes de matar imediatamente quem as usa é puro moralismo e desconhecimento.
[/color]

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 15:47
por Mucuna
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan][quote="Mucuna escreveu:De qualquer forma, não é só de ONGs que a "rede" é formada.

O artigo cita "rede de ONG's". Uma rede de ONG's seria formada pelo que mais?


“uma rede formada por mais de 40 ONGs, instituições científicas, fundações e associações que atuam nas áreas de políticas públicas, saúde e segurança”


Que também são organizações não governamentais, a menos que as instituições científicas, fundações e associações pertençam a algum governo, o que não foi citado.


No final tem uma lista com signatários e há representantes de instituições de ensino e pesquisa de governos, assim como instituições públicas.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Sim, nos lugares que tem uma série de outros problemas que não são o tráfico, mas magicamente todos esses problemas “somem” já que existe o tráfico e esse justifica tudo. É um tremendo bode expiatório para tentar esconder os interesses e incompetência ao deixar a coisa chegar onde chegou.


De novo a falta de compromisso com a realidade dos fatos.
Basta analisar a experiência do Rio de Janeiro, no qual o tráfico de drogas trouxe problemas de violência urbana que nunca existiram na cidade – como quadrilhas munidas com armas militares – e intensificou os outros problemas de segurança existentes, já que a polícia se tornou insuficiente ante o crescimento da violência urbana, o que abriu espaço para bandidos menores atuarem.
Drogas é e sempre foi causa e não consequência de problemas sociais, como os fatos mostram. E discurso nenhum pode provar o contrário.


Tsk, tsk... mais uma vez, quando que surgiu o tráfico no Rio de Janeiro? E se drogas são causa de problemas sociais, pq o mundo inteiro não é um "caos social só" já que há países como maior número de usuários, mas são lugares com muito mais qualidade de vida e igualitarismo?


Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Em outros lugares mais decentes, não. E comparo com lugares onde existem traficantes, existe produção e existe usuário pagando inclusive mais caro. E o traficante não é nem besta de puxar uma arma e atirar num policial ou inocente por "revolta" ou sadismo como vemos aqui. O cara é discreto e se bobear nem armado está. Há violência pq são quadrilhas, mas é mais localizado entre eles e não é nada nem de perto parecido com o q temos aqui.

Você está descrevendo o tráfico de drogas em alguns países europeus, que é apenas o ponto final de consumo de uma rede de produção e distribuição que começa bem longe dali. Por trás do traficante holandês, loirinho, bonitinho e simpatiquinho, que vende seu pózinho na boa, discretamente, existe uma cadeia de assassinos atuando para que a mercadoria chegue àquele vendedor final. O fato de a violência se dar em outro país não implica que ela não exista e seja causada exatamente pelo comprador que financia o esquema todo.


Não, há países europeus que produzem também substâncias ilícitas. Há plantações de cannabis até na Suíça. As drogas sintéticas saem de lá. E como eu disse, há violência mais entre as máfias, mas se vc passar perto de uma plantação de maconha na Suíça, para continuar o exemplo, vc não verá um bando com fuzis na mão atirando em vc e tacando granada.


E o que devemos concluir disto? Que as autoridades devem iniciar um programa para substituir os traficantes brasileiros pelos helvéticos?
Oras, bolas de novo.


Devemos concluir que a composição de nosso cenário envolve outras questões que estão presentes no Brasil mas não estão presentes entre os helvéticos. Quais serão elas...?

Acauan escreveu:Como dito, o grande problema do tráfico de drogas é a cocaína. Mesmo no Brasil o tráfico de maconha – que sempre houve – jamais representou uma ameaça à ordem institucional, como é o caso do pó, que movimentando milhões de dólares e sendo fartamente consumido pelas classes média e alta criou uma realidade em que o tráfico se tornou ameaça à segurança nacional, um problema muito maior do que cheiradores de fim de semana queiram assumir como parte de sua responsabilidade.


Aí eu não sei. Apesar da cocaína ser mais cara, a maconha é MUITO mais vendida. Tem números confiáveis mostrando o lucro que cada uma dá?
O consumo de cocaína não é exclusividade de uma classe social. Já fui voluntário em um centro para tratamento de adictos e psso dizer que praticamente todos que chegavam lá eram pessoas de pele parda ou negra, com ensino fundamental incompleto e problemas com cocaína e/ou álcool majoritariamente. Se fosse só por esse cenário, afirmaria que este é o perfil do consumidor, o que não é verdade. É o perigo de se fazer recortes estreitos, que muitos são fãs. Há muito tabu, desinformação e rotulos neste assunto.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Toda esta conversa é balela, sem qualquer fundamento na realidade dos fatos. Quem diz que não resolveu nada é porque não conhece ou não quer conhecer como a Colômbia destruiu o poder dos principais cartéis, que praticamente comandavam o país – e não foi dando beijinhos nos traficantes, assim como ignora os antecedentes históricos do efeito catatrófico do consumo desenfreado de drogas – cujo exemplo mais marcante é a China, cuja sociedade quase entrou em colapso por conta do consumo de ópio.
Droga é caso de polícia, sim senhor, porque seus efeitos extrapolam em muito os impactos restritos ao consumidor individual e no fim toda a sociedade tem que pagar o pato – e pagar muito caro – para que alguns possam continuar tendo o seu barato.


Balela? Não quer é aceitar a realidade de que cartéis do pó na Colômbia se formaram pq resolveram proibir um produto procurado e entrega-lo na mão do mercado negro.


E por que os antigos cartéis colombianos não existem mais hoje? Porque desistiram de bom grado de ganhar fortunas?
Que que é isto...


OK. Acabou a produção de cocaína na Colômbia? Eu não sabia!

Acauan escreveu:E a experiência chinesa, quando praticamente não havia repressão, as casas de ópio eram estabelecimentos perfeitamente legais e o país se afundou na ruína sócio-econômica e mesmo moral, terminando conquistado e retalhado pelas potências ocidentais.
E a Suiça, que implantou um programa de legalização de drogas e voltou atrás, depois que Zurique o outras cidades se transformaram em depósitos de zumbis. Os fatos estão aí, pode-se tentar negá-los com discurso ideológico, mas conseguir negá-los é outra coisa.


Sugere que a China foi subjugada pelos ingleses por causa do ópio? O ópio rolou na China até o final dos anos 40 do século XX, quando o país foi "tomado" pelos comunistas, o que não parece que tirou a motivação deles.

Quanto a praça em Zurique, realmente foi algo sem se pensar. Você escolhe uma PRAÇA para atender e atrair legalmente TODOS usuários e viciados do continente, além de manter a produção e movimentação da substância ainda ilegal. É lógico que os traficantes, que eram os únicos que vendiam a droga, foram para lá também. Não dá para citar essa experiência como padrão de nada.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: O resto dito são só fruto de propagandas sem o menor aval histórico e científico que as pessoas repetem feito papagaios. O consumo não diminuiu e, apesar de terem marginalizado milhões de pessoas, de terem entregado o produto que sabe-se lá como é produzido na mão de bandidos, a sociedade não se afundou nas drogas.


O que é propaganda sem aval científico e histórico?
Que o ópio não enfraqueceu a índole do povo chinês ou que a Colômbia não acabou com os cartéis na base da decisão e força bruta.
Ou será que os médicos não definem cocaína como droga de entretenimento, apesar dos artigos especializados dizerem isto.
De novo, fatos x discurso.


Colômbia continua produzindo pó e os chineses desmotivados tomaram o poder instituido.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:E sim, a maioria é usuário não violento, como acontece com o álcool. Se o cara é um playboy cheirador, isso deveria ser problema dele. Se ele faz merda, cheirado ou não, tanto faz, paga-se por isso. A merda foi criar propagandas durante décadas com desinformação, preconceito e esteriótipos, jogar produtos desejados, alguns por milênios, na mão de bandidos e depois dizer que a culpa sempre foi do usuário e que isto está "destruindo nossa juventude". Essa conversinha tem décadas.

Sei lá quando se fez propaganda de cocaína.
E não, não é problema do playboy cheirador, porque o Estado não pode permitir que produtos tóxicos, capazes de matar instantaneamente por overdose, sejam livremente comercializados como o são o álcool e o fumo, cujos danos à saúde estão associados ao consumo intensivo a longo prazo.

Além do que, e já expliquei isto antes, um cara bêbado é um risco social na medida em que pegue um automóvel e tente dirigir, mas na maioria dos casos os próprios efeitos do excesso de álcool limitam a capacidade de seu consumidor causar danos.

Já o consumidor de cocaína aparenta normalidade, mas em sendo esta droga um poderoso estimulante com efeitos variados na consciência, temos um risco invisível e um agressor potencial com sua capacidade de causar danos extremamente aumentada, ao contrário do que ocorre com a bebida.


O álcool, dentre outros efeitos, tira sua censura do indivíduo e ele tende a expor, a extravasar mais o que está dentro de si.


E também tira o equilíbrio e a força física, produz torpor e após algum tempo grave mal estar. Nestas condições, há limitação na capacidade do embriagado causar dano. Com a cocaína ocorre o oposto. O que não quer dizer que álcool seja bom, óbvio.


Mucuna escreveu: Com pó, o mesmo ocorre no sentido de que a pessoa só vai se sentir mais confiante a se expor. Essa opinião sua comparando cocaína com álcool foi balizada em que?


Que opinião minha coisa nenhuma. Que a cocaína é uma droga estimulante é coisa sabida por todo mundo que não é completamente ignorante no fato, e quem já leu qualquer comentário médico a respeito sabe disto.
Se quiser, o google tá aí.


Vc sabe muito bem que não é isso que quis dizer.
O cara que chega em casa e bate na mulher e nos filhos o faz por causa do álcool e/ou da cocaína ou por causa do que há dentro dele? Quantas vezes vc ou conhecidos foram agredidos por pessoas cheiradas para ter esse medo?
Isso tudo me soa muito com achismo e do que "dizem por aí".


Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: O vício em seja lá o que for é algo terrível, mas uma minoria se torna doente. Proibir falhou miseravelmente na prevenção, só criou problemas maiores. Isto é convenientemente ignorado por quem quer sustentar a política atual, que só favorece traficante.


Outra balela. Mesmo que se legalizasse as drogas, não há a mais mínima garantia do fim do tráfico, já que muitos usuários ainda os procurariam por questões de preço (tráfico não paga imposto), anonimato (venda controlada exigiria identificação) e qualidade (drogas pesadas, mais puras etc).
É muita cara de pau querer estabelecer políticas de segurança pública com base em suposições que só consideram as hipóteses favoráveis ao interesse defendido.


Isso que vc disse que é balela. Preço e qualidade são os pontos fracos dos traficantes. Vc não tenha dúvida. É muito custoso manter um negócio ilegal. É só vc tentar procurar nos EUA quem continuou ou continua comprando álcool ilegal de uma máfia altamente armada e violenta.
Cara de pau é colocar os problemas criados e mantidos pela atual política nas possíveis alternativas que vão sendo pensadas.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Só quero que alguém aponte o q a abordagem atual de repressão, marginalização e tiros resolveu. Se ela manteve o consumo, causou mortes, corrupção e desfigurou a polícia, o que ganhamos em contrapartida que faça isso valer a pena?

Beleza de argumento.
Então porque ainda há assaltos, vamos descriminalizar o roubo e passar a dar nossos pertences voluntariamente aos ladrões para suprimir a violência do ato.
Ou então, já que de nada resolveu combater a corrupção, então vamos acabar com as denúncias e indicar em nossas declarações de renda quais políticos queremos que fiquem com nosso dinheiro.

Se os métodos de combate a determinado crime são ineficientes, deve-se melhora a eficiência do combate ao crime e não desistir de combatê-lo.
É sempre estranho ter que dizer o óbvio.

Oras, bolas...


É uma tremenda desonestidade comparar o cara que quer fumar, beber ou cheirar com um assassino ou assaltante. É o princípio da lesividade, que até já mencionei aqui. É incorreto vc criminalizar alguém que só está fazendo mal a si próprio.


Acauan escreveu:A partir do momento que o assassino comprou a arma e as balas com o dinheiro pago pelo usuário de drogas e estes as compra sabendo que sustenta uma organização criminosa, que assuma as conseqüências diretas de seus atos.

De novo, existe a mesma relação entre traficante e usuário que entre ladrão e receptador. Isto é inegável.


Eu analiso o ato em si, que é o que se deve discutir. Se um sistema impôs a criação de traficantes, quem deve ser revisto é o sistema.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Numa explicação mais tati-bi-tati:

O cara que cheira, o faz pq quer. Acontece em sua vontade.
O cara que é assaltado, não quer ser assaltado. Acontece contra sua vontade.
O cara que é assassinado, não queria ser assassinado. Acontece contra sua vontade.

A pergunta ainda fica no ar. A situação atual foi CRIADA quando se decidiu lidar com as drogas desta forma e a população foi treinada através das gerações desde então a defender os interesses dos traficantes e corruptos com unhas e dentes sem nem se tocar.


Mentira da grossa.
As drogas foram proibidas porque são substâncias tóxicas, capazes de matar imediatamente por overdose, como dito. Sua liberação para o comércio legal, como se fosse um produto qualquer é imoral.
Depois, se é a proibição que provoca o crime, suprimamos pois as leis, os tribunais e a polícia e viveremos todos em maravilhoso mundo de paz.
Absurdo?
Pois é!
[/quote]

Não. A proibição tem fortes raízes no preconceito e falta de tato para se lidar com problema. Verá que a heroína foi proibida, e havia um problema de SAÚDE de fato, pq começaram a dizer que a heroína no cérebro do negro fazia ele se transformar em um estuprador de filhas dos brancos. Cannabis (que não dá overdose) foi proibida por interesses econômicos e pq era considerada "coisa de mexicano", que dava super-força no organismo mexicano. No Brasil era pq era considerada "coisa de preto" e usada em rituais afro.

E por aí vai. A deturpação, a falta de honestidade para lidar com as questões, a vontade de justificar o preconceito étnico e cultural e legalizar a prisão das "classes perigosas" sempre estiveram presentes nessas decisões. E hoje a maioria toma como verdade absoluta e inqüestionável amém!

Obs: Tô apanhando (e perdendo) na arrumação dos quotes. hehehe

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 15:53
por Mucuna
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Mas mais uma vez: O tráfico foi criado MUITO depois de existir usuários de drogas (desde q a humanidade surgiu, podemos dizer).
Foi feito por puro moralismo e desconhecimento de como se lidar com quem desenvolvia adicção (além de alguns casos também estarem presentes o preconceito étnico e interesses econômicos).



Mucuna escreveu:Foge-me completamente a lógica que conclui que proibir substâncias tóxicas capazes de matar imediatamente quem as usa é puro moralismo e desconhecimento.
[/color]


Muito dos casos de morte por cocaína ocorrem por ela ser misturada sabe-se lá com o que. Não que ela não seja danosa ao organismo.
E overdose por overdose, o álcool tbm pode causar, mas não deve achar que é uma boa idéia proibir o álcool, imagino.

E sim, é verdade que cada substância é diferente da outra e isto deve ser levado em conta. Cada substância deve ser analisada separadamente. Lidar com um pacotão heterogêneo chamado "drogas" não dá certo.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 17:23
por Acauan

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 17:54
por Apáte
O legal é que até medicamentos legais precisam de receita médica para serem comprados.

Eu fico pensando se esta galera elogiaria o médico gente fina que deu receita de tarja preta para todo hipocondríaco que apareceu no consultório.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Jun 2009, 20:38
por Herf
Fernando Silva escreveu:
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.

Ora, mas isso se deve a impostos e outras restrições que há sobre esses produtos. Não porque haja uma tendência natural e irreprimível de o comércio desses produtos estar associado à criminalidade.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Ago 2009, 17:15
por Mucuna
Depois do México...
(http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... s_np.shtml)

Argentina descriminaliza maconha para uso pessoal
Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil


A Suprema Corte de Justiça da Argentina declarou inconstitucional, nesta terça-feira, a penalização de adultos que estejam portando “pouca quantidade” de maconha “para uso pessoal e sem riscos para terceiros”.

Por unanimidade, os sete juízes do mais alto tribunal argentino entenderam que essa é uma questão de privacidade e escapa à possibilidade de punição.

Os argumentos usados na decisão – com mais de oitenta páginas – foram a “proteção da intimidade, autonomia pessoal e a necessidade de não criminalizar quem é um doente e já é vítima do consumo da droga”.

A decisão da Suprema Corte foi tomada a partir da análise do caso de cinco jovens que foram presos na cidade argentina de Rosário, no Estado de Santa Fé (nordeste do país), em 2006, com entre um e três cigarros de maconha.

A lei em vigor previa que, em casos assim, as pessoas cumprissem dois anos de prisão.

Os juízes da Suprema Corte, no entanto, absolveram os jovens e declararam inconstitucional a punição ao consumo de maconha em locais privados.

Tráfico

Os magistrados, no entanto, ressalvaram que não decidiram pela “descriminalização” geral do consumo de maconha e outras drogas.

Os juízes defenderam ainda a “busca” e “condenação” dos traficantes de drogas.

“Pedimos a todos os poderes públicos que garantam uma política de Estado contra o tráfico ilícito de drogas e que se adotem medidas de saúde preventivas, com informação e educação que desestimulem o consumo”.

Os juízes sugeriram que estas políticas devem ser orientadas aos menores de idade.

Um dos ministros da Suprema Corte, Carlos Fayt, veterano na casa, afirmou, nesta terça-feira, que tinha mudado seu parecer, já que em 1990 votou pela criminalização do consumo de maconha.

“O tempo e a realidade de hoje me fizeram pensar diferente”, disse Fayat.

Segundo o magistrado, o melhor é travar “uma guerra contra os narcotraficantes, os verdadeiros inimigos”.

Polêmica

A decisão da Suprema Corte dividiu opiniões. Setores da Igreja Católica criticaram a medida.

“A droga é sinômimo de morte e a Igreja está a favor da vida”, diz um comunicado divulgado após um encontro da Pastoral contra Drogas e Dependência no final de semana.

Já o jurista Felix Loñ afirmou que os que consomem narcóticos não são “os culpados”.

“É preciso resgatar os jovens que se drogam. Combater o narcotráfico, mas não os consumidores. Estes são vítimas.”


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... c_cq.shtml

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Ago 2009, 17:17
por Mucuna
Herf escreveu:
Fernando Silva escreveu:
Mucuna escreveu:E mais, o traficante, a máfia organizada que vende drogas foi CRIADA e ALIMENTADA pela política que resolveu entregar para a polícia uma questão que deveria ser de saúde. Não se resolveu NADA do que ela alegadamente propunha e criou-se problemas MUITO PIORES, como corrupção e mortes associadas ao mercado negro.

Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.

Ora, mas isso se deve a impostos e outras restrições que há sobre esses produtos. Não porque haja uma tendência natural e irreprimível de o comércio desses produtos estar associado à criminalidade.


Pois é... :emoticon45:

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 26 Ago 2009, 18:45
por Ayyavazhi
Herf escreveu:
Fernando Silva escreveu:Também há mercado negro de cigarros. E de bebida.
E ambos são liberados.

Ora, mas isso se deve a impostos e outras restrições que há sobre esses produtos. Não porque haja uma tendência natural e irreprimível de o comércio desses produtos estar associado à criminalidade.


E não haveria impostos e outras restrições, na esteira da legalização das drogas? O argumento contra a legalização se baseia, entre outras coisas, exatamente nessa evidência de que legalizar não irá suprimir o tráfico. A legalização nasceria atrelada ao recolhimento de impostos, à restrições diversas que, naturalmente, constariam na nova legislação, entre outras dores de cabeça para os traficantes, tão afeitos ao seu território marginal. Muitos usuários dariam preferência às drogas do tráfico, onde sua privacidade estaria resguardada. Os traficantes fariam ofertas de preços melhores, etc., etc., etc. Enfim, motivos não faltam, e a legalização não parece ser a saída.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 27 Ago 2009, 00:01
por Mucuna
Bobagem.

O custo da ilegalidade do tráfico é altissimo e logico q este custo é repassado. Além da qualidade ser extremamente duvidosa.

Em meios legais, pagaria-se menos por algo com qualidade garantida.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 27 Ago 2009, 10:26
por Ayyavazhi
Mucuna escreveu:Bobagem.

O custo da ilegalidade do tráfico é altissimo e logico q este custo é repassado. Além da qualidade ser extremamente duvidosa.

Em meios legais, pagaria-se menos por algo com qualidade garantida.


A questão do preço foi só um palpite. Ainda acho que é uma possibilidade, pois o comerciante, legal ou ilegal, procura se adaptar às mudanças do mercado, às novas tendências, e por aí vai, ou ele não sobrevive. Mas você pode ter razão neste particular. Ocorre que, o preço nunca será o único nem o mais importante fator a ser considerado. Outras questões que foram apontadas, inclusive com o exemplo inatacável do tráfico de bebidas e cigarros, seriam bastante para manter o tráfico de drogas tal e qual o conhecemos hoje. Pegando um exemplo menor, muito menor, temos na página principal dois tópicos, um tratando da criminalização de downloads ilegais e outro sobre pirataria de sinais de TV por satélite. Não é sensato afirmar que essa é uma tendência humana, envolvendo aí toda a humanidade, mas, com certeza, é uma característica bem brasileira.

Essa coisa de “se dar bem”, tirar vantagem, levar algum por fora, está muito enraizada em nossa cultura. E veja que não estamos falando de marginais, são pessoas comuns, pais de família, estudantes, trabalhadores, enfim, brasileiros. As mesmas pessoas que criticam a corrupção, que se indignam diante da devastação moral em que se transformou o cenário político nacional, burlam “um pouquinho” a lei para obter uma vantagem igualmente pequena. Porque parece pouco, aceitamos. Não identificamos aí uma grande violação da lei ou da ética. Esquecemos, no entanto, que o político é apenas um representante do povo e, como tal, eles tem feito um ótimo trabalho. Pode parecer que estou me desviando do assunto, mas acho que tudo está muito interligado. O playboy que cheira cocaína, como aqui foi citado, carrega o mesmo perfil. Como todo bom brasileiro, ele não avalia as consequências do próprio ato, desvinculando totalmente seu barato de fim-de-semana com a morte de um cidadão que cruzou o caminho de um traficante. O tráfico não existiria sem o usuário e, por mínimo bom senso, o usuário não pode sair ileso desse julgamento.

É essa mania de autocondescendência (nem sei mais escrever, com ou sem hífen?), essa tolerância demasiada com os próprios atos, que fazem o usuário minimizar sua participação na malha criminosa e violenta que compõe o tráfico. Muitos aspectos sedutores, como o anonimato por exemplo, ainda fariam o usuário preferir as drogas ilegais, tanto quanto os compradores ilegais de cigarros e bebidas julgam que possuem motivos suficientes para se arriscar na ilegalidade. E o traficante, lógico, não iria colocar terno e gravata, abrir um posto de venda, com todas as obrigações legais em dia, recolher impostos, como o homem de bem que ele sempre foi. Traficante continua traficante, ele não sabe fazer outra coisa.

Eu tentei mostrar, não sei se consegui, um pouco do perfil da cultura brasileira. Uma cultura onde pequenos delitos são tolerados. Ora, se as drogas, hoje proibidas, encontram tantos compradores, no momento em que fossem liberadas poderiam até ter mais simpatizantes, uma vez que o caráter ilegal, criminoso, foi subtraído. Comprar ilegalmente passaria a ser só um pequeno delito e, isso, a maioria dos brasileiros tolera. O tráfico continuaria a existir e, com sorte, poderia até aumentar.

Mas tudo isso não passa de opinião. Aceito que posso estar fazendo uma análise errada. Certo ou errado, tentei separar razão e emoção. Abandonando agora minha tentativa de analisar com isenção, diria que penso exatamente igual ao Acauan: usuário não é coitadinho, não é vítima. Para mim, perdoe-me a franqueza e o ranço, eles não precisam de médico nem de cuidados outros, só do rigor da lei. E de leis mais rigorosas.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 27 Ago 2009, 17:06
por Mucuna
Ayyavazhi escreveu:A questão do preço foi só um palpite. Ainda acho que é uma possibilidade, pois o comerciante, legal ou ilegal, procura se adaptar às mudanças do mercado, às novas tendências, e por aí vai, ou ele não sobrevive. Mas você pode ter razão neste particular. Ocorre que, o preço nunca será o único nem o mais importante fator a ser considerado. Outras questões que foram apontadas, inclusive com o exemplo inatacável do tráfico de bebidas e cigarros, seriam bastante para manter o tráfico de drogas tal e qual o conhecemos hoje.


Será que seria? Eles não conseguiriam arrecadar horrores se tirassem o monopólio deles e ainda tivessem que bancar todos os "custos" da ilegalidade e repressão. Este montante de grana é imprescindível para manter a estrutura bélica, de corrupção, intimidação, etc.

Ayyavazhi escreveu:Pegando um exemplo menor, muito menor, temos na página principal dois tópicos, um tratando da criminalização de downloads ilegais e outro sobre pirataria de sinais de TV por satélite. Não é sensato afirmar que essa é uma tendência humana, envolvendo aí toda a humanidade, mas, com certeza, é uma característica bem brasileira.

Essa coisa de “se dar bem”, tirar vantagem, levar algum por fora, está muito enraizada em nossa cultura. E veja que não estamos falando de marginais, são pessoas comuns, pais de família, estudantes, trabalhadores, enfim, brasileiros. As mesmas pessoas que criticam a corrupção, que se indignam diante da devastação moral em que se transformou o cenário político nacional, burlam “um pouquinho” a lei para obter uma vantagem igualmente pequena. Porque parece pouco, aceitamos. Não identificamos aí uma grande violação da lei ou da ética. Esquecemos, no entanto, que o político é apenas um representante do povo e, como tal, eles tem feito um ótimo trabalho. Pode parecer que estou me desviando do assunto, mas acho que tudo está muito interligado.


É, não sei... downloads de músicas, jogos, programas e filmes são feitos em peso pelos 'gringos', sem falar que é disponibilizados por eles também. Os melhores fora sobre o assunto são com os 'gringos'. Querer "se dar bem" e não pagar não é algo endêmico do Brasil. É um esporte muito bem praticado por todos.

Ayyavazhi escreveu:O playboy que cheira cocaína, como aqui foi citado, carrega o mesmo perfil. Como todo bom brasileiro, ele não avalia as conseqüências do próprio ato, desvinculando totalmente seu barato de fim-de-semana com a morte de um cidadão que cruzou o caminho de um traficante. O tráfico não existiria sem o usuário e, por mínimo bom senso, o usuário não pode sair ileso desse julgamento.


Bem, já pensei assim, porém, como eu já disse aqui, eu não acho que "tráfico de drogas" simplesmente justifique o caos que vivemos, apesar de ser um bode expiatório muito freqüente no imaginário popular. Drogas ilegais são vendidas, consumidas e até produzidas no mundo todo e não é por isso que vemos todos os países achacados por hordas com armas de guerra matando cidadão que nada tem a ver com eles, policiais e arrastando crianças. O mundo não é um imenso "Rio de Janeiro". Convém olhar o que realmente diferencia as sociedades, pq "drogas" têm no mundo inteiro.

O uso de substâncias diversas é atrelado ao desenvolvimento das próprias sociedades, seja por tratamento, religiosidade ou diversão. O tráfico de drogas como vemos hoje foi criado quando os Estados resolveram dar o monopólio para o mercado negro e dizer que era um problema de polícia. Isso criou o tráfico, o alimenta e gera toda a violência e corrupção associadas a isso.

Ayyavazhi escreveu:É essa mania de autocondescendência (nem sei mais escrever, com ou sem hífen?), essa tolerância demasiada com os próprios atos, que fazem o usuário minimizar sua participação na malha criminosa e violenta que compõe o tráfico. Muitos aspectos sedutores, como o anonimato por exemplo, ainda fariam o usuário preferir as drogas ilegais, tanto quanto os compradores ilegais de cigarros e bebidas julgam que possuem motivos suficientes para se arriscar na ilegalidade. E o traficante, lógico, não iria colocar terno e gravata, abrir um posto de venda, com todas as obrigações legais em dia, recolher impostos, como o homem de bem que ele sempre foi. Traficante continua traficante, ele não sabe fazer outra coisa.


Não sei pq um usuário de seja lá o que iria querer anonimato. O desejo de anonimato vem da marginalização e estigmatização. Ninguém tem vergonha e deseja anonimato ao comprar uma cerveja ou um cigarro.

É sempre bom lembrar que "drogas" é um pacote bem heterogêneo e cada substância deve ser analisada separadamente, com critérios práticos e científicos. No caso da Argentina, por exemplo, falou-se só em cannabis.

Ayyavazhi escreveu:Eu tentei mostrar, não sei se consegui, um pouco do perfil da cultura brasileira. Uma cultura onde pequenos delitos são tolerados. Ora, se as drogas, hoje proibidas, encontram tantos compradores, no momento em que fossem liberadas poderiam até ter mais simpatizantes, uma vez que o caráter ilegal, criminoso, foi subtraído. Comprar ilegalmente passaria a ser só um pequeno delito e, isso, a maioria dos brasileiros tolera. O tráfico continuaria a existir e, com sorte, poderia até aumentar.


Bem, não é exclusividade nossa, mas aqui sofremos com a impunidade. A princípio, no ato em si, baixar uma música é prejudicial a terceiros e que vc fumar um, por exemplo, supondo que vc mesmo plante, não. A estrutura criada por trás é que ajudou a gerar uma série de idéias e pensamentos, além das propagandas governamentais sobre o tema ao longo das décadas.

Não sei se mais pessoas usariam. Os países que fizeram isso um tempo atrás, afrouxaram algumas leis, observaram foram melhoras e não perceberam aumento no consumo, como Portugal, por exemplo, que descriminalizou o uso de qualquer droga.

Ayyavazhi escreveu:Mas tudo isso não passa de opinião. Aceito que posso estar fazendo uma análise errada. Certo ou errado, tentei separar razão e emoção. Abandonando agora minha tentativa de analisar com isenção, diria que penso exatamente igual ao Acauan: usuário não é coitadinho, não é vítima. Para mim, perdoe-me a franqueza e o ranço, eles não precisam de médico nem de cuidados outros, só do rigor da lei. E de leis mais rigorosas.


Sim, aqui só coloco opiniões também e sempre gosto de ler outros pontos de vista que nos façam refletir, independente de acabarmos por aceita-los ou não.
Também não acho que usuário é coitadinho. Há diferença entre usuário e viciado, e, pelo que parece, esta proporção vai variar de acordo com a substância. Álcool vicia percentualmente menos os consumidores do que tabaco, por exemplo.

O usuário ou viciado sentiu o rigor da lei por décadas. Nos EUA chegou-se a prender por cerca de 10 anos pessoas que fossem pegas com um ou dois cigarros de cannabis, para vc ter uma idéia. O resultado? Marginalização de pessoas que nada fizeram de errado, a não ser consumir algo que o Estado papai dizia não poder. Lotaram os presídios, perseguiram cidadãos e o consumo permaneceu inalterado e o tráfico crescente. É uma guerra contra a população que não resolveu nada do que alegadamente dizia querer resolver. Pelo contrário, gerou danos piores. Não vejo razões lógicas e honestas para insistir nisso.

Agora, do viciado eu sinto pena. O cara é doente e precisa de tratamento. Ninguém acha que jogar um alcoólatra na cadeia irá resolver alguma coisa, pq acham q isso funcionaria com cocaína?
Jogam no viciado (e usuário) todo um peso moral sobre ele, que não é jogado em cima de outros doentes. Alguém passa pela ala de doenças cardíacas de um hospital e fala "a grande maioria das doenças cardíacas são evitáveis, mas estes gordos sedentários consumidores de gordura mesmo sabendo disso não estão nem aí. Deveríamos negar tratamento a todos, pois eles são fracos e preguiçosos que não querem evitar uma das maiores causa de morte no país e, por conseguinte, grande absorvedora de recursos públicos! Fizeram pq queriam, que se danem!". Ninguém faz isso com cardíacos, sedentários, diabéticos e nem com quem se ferrou ao bater de carro por estar sem cinto. Tentam justificar esse julgamento falando que "alimentam a violência", mas como coloquei acima, acho isso apenas um bode expiatório.

Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 27 Ago 2009, 20:08
por Ayyavazhi
Pensei bastante em tudo o que li, antes de responder, e acredito que as soluções não são tão simples quanto uma mera troca de posts sugere. Vi muita lógica em algumas idéias suas, e tenho dúvidas sobre outras. Ainda sou um radical, no que diz respeito às drogas, mas priorizo a lucidez de raciocínio e isso me obriga a andar adiante de paixões arraigadas. É meu passaporte para o aprendizado.

Mucuna escreveu:Será que seria? Eles não conseguiriam arrecadar horrores se tirassem o monopólio deles e ainda tivessem que bancar todos os "custos" da ilegalidade e repressão. Este montante de grana é imprescindível para manter a estrutura bélica, de corrupção, intimidação, etc.


Entendi. Essa estratégia consiste em enfraquecer a estrutura logística do tráfico, através da redução do seu poder econômico. É uma possibilidade. E, possibilidades, costumo dizer, são infinitas. Poderia dar certo, tanto quanto o traficante poderia contra-atacar, colocando em curso uma onda de terror e intimidação. Por exemplo, os pontos de vendas legalizados (seja lá como for isso) e/ou seus proprietários, sofreriam ameaças e ataques, forçando-os a desistir. Os mais recalcitrantes seriam tratados com força letal, constituindo-se em excelente propaganda para os bandidos. Depois de algumas mortes, ninguém mais iria querer competir com eles. Eu vejo isso como uma possibilidade.


Mucuna escreveu:É, não sei... downloads de músicas, jogos, programas e filmes são feitos em peso pelos 'gringos', sem falar que é disponibilizados por eles também. Os melhores fora sobre o assunto são com os 'gringos'. Querer "se dar bem" e não pagar não é algo endêmico do Brasil. É um esporte muito bem praticado por todos.


Com certeza. Quando faço minhas críticas aos compatriotas, não estou ignorando que os mesmos erros sejam cometidos mundo afora. Mas, numa amostragem simples, fico inclinado a pensar que o coeficiente de honestidade do nosso país não é dos melhores. O que poderia ser tratado como casos isolados em outras nações mais “civilizadas”, aqui seriam situações corriqueiras. Nessas horas surgem diversos estudos, reportagens, números e tudo o mais, mostrando que nos Estados Unidos, Europa, Japão, etc., existem as mesmas mazelas mas, na prática, observamos o contrário. Muitos amigos que já viajaram para o exterior (eu mesmo posso contar algumas histórias) não tem dúvidas na hora de apontar essa grande diferença. É um fato observável, mesmo que números e estudos (?) digam o contrário.

Mucuna escreveu:Bem, já pensei assim, porém, como eu já disse aqui, eu não acho que "tráfico de drogas" simplesmente justifique o caos que vivemos, apesar de ser um bode expiatório muito freqüente no imaginário popular. Drogas ilegais são vendidas, consumidas e até produzidas no mundo todo e não é por isso que vemos todos os países achacados por hordas com armas de guerra matando cidadão que nada tem a ver com eles, policiais e arrastando crianças. O mundo não é um imenso "Rio de Janeiro". Convém olhar o que realmente diferencia as sociedades, pq "drogas" têm no mundo inteiro.


Faz sentido. Você demonstrou que a violência no Rio de Janeiro não pode ser atribuída somente às drogas, uma vez que elas existem no mundo inteiro e não se verifica, em boa parte do planeta, a mesma violência que cultivamos aqui. Então temos um ingrediente mais forte nessa mistura. Nosso tempero é melhor do que os outros. Você tem uma teoria para isso? Há algum estudo sério, confiável, que aponte as causas de tamanha violência associada ao tráfico de drogas no Brasil?


Mucuna escreveu:O uso de substâncias diversas é atrelado ao desenvolvimento das próprias sociedades, seja por tratamento, religiosidade ou diversão. O tráfico de drogas como vemos hoje foi criado quando os Estados resolveram dar o monopólio para o mercado negro e dizer que era um problema de polícia. Isso criou o tráfico, o alimenta e gera toda a violência e corrupção associadas a isso.


Isso tá mais para um oligopólio. Se olharmos pelo ponto de vista do traficante, não há um monopólio real, pois existem diversas facções lutando pela supremacia do tráfico. Exatamente por isso eu apresentei aquela dúvida sobre o êxito dessa estratégia. Veja, o traficante já está acostumado a lutar pelos seus interesses, ou melhor, acostumado a guerrear. Não sei como se daria essa legalização mas, certamente, teríamos pessoas “normais” cuidando disso, e essas pessoas estariam se metendo em briga de gente grande. Tão logo a renda dos traficantes fosse afetada, eles voltariam seus fuzis para a raiz do problema e, por certo, não encontrariam a menor resistência.


Mucuna escreveu:Não sei pq um usuário de seja lá o que iria querer anonimato. O desejo de anonimato vem da marginalização e estigmatização. Ninguém tem vergonha e deseja anonimato ao comprar uma cerveja ou um cigarro.

É sempre bom lembrar que "drogas" é um pacote bem heterogêneo e cada substância deve ser analisada separadamente, com critérios práticos e científicos. No caso da Argentina, por exemplo, falou-se só em cannabis.


As drogas estão há muito tempo associadas ao lado mais sombrio do ser humano. Preconceito ou não, tabu ou não, o estigma já está criado. Alguns usuários iriam assumir, escancarar, mas ainda acredito que boa parte, principalmente entre as camadas mais altas da sociedade, procuraria preservar o discurso hipócrita do “eu não faço isso”. Não precisamos ir longe, o homossexualismo não é crime e muitos homossexuais escondem o fato, por vergonha, por medo, não importa. Mas escondem.


Mucuna escreveu:Bem, não é exclusividade nossa, mas aqui sofremos com a impunidade. A princípio, no ato em si, baixar uma música é prejudicial a terceiros e que vc fumar um, por exemplo, supondo que vc mesmo plante, não. A estrutura criada por trás é que ajudou a gerar uma série de idéias e pensamentos, além das propagandas governamentais sobre o tema ao longo das décadas.

Não sei se mais pessoas usariam. Os países que fizeram isso um tempo atrás, afrouxaram algumas leis, observaram foram melhoras e não perceberam aumento no consumo, como Portugal, por exemplo, que descriminalizou o uso de qualquer droga.


Certo, esses países não observaram aumento no consumo, mas, houve redução? Se não houve, essa estratégia não se mostra falha em sua proposta? Outra questão, ainda mais importante, é a análise do tipo de reação que teríamos aqui. Se, como você mesmo colocou, nesses países a violência nunca foi tão extrema como no Brasil, temos já de início elementos que nos diferenciam deles. Por que os resultados, em cenários tão distintos, seriam os mesmos? Se o Brasil é um país atípico, as soluções igualmente precisarão ser singulares. Tratar desiguais com igualdade nunca dará certo. Como eu disse, são apenas possibilidades. E devemos descartá-las? Quantas mais existirão?

Mucuna escreveu:Sim, aqui só coloco opiniões também e sempre gosto de ler outros pontos de vista que nos façam refletir, independente de acabarmos por aceita-los ou não.
Também não acho que usuário é coitadinho. Há diferença entre usuário e viciado, e, pelo que parece, esta proporção vai variar de acordo com a substância. Álcool vicia percentualmente menos os consumidores do que tabaco, por exemplo.


Suas opiniões são sensatas. Estou tentando entender melhor.

Mucuna escreveu:O usuário ou viciado sentiu o rigor da lei por décadas. Nos EUA chegou-se a prender por cerca de 10 anos pessoas que fossem pegas com um ou dois cigarros de cannabis, para vc ter uma idéia. O resultado? Marginalização de pessoas que nada fizeram de errado, a não ser consumir algo que o Estado papai dizia não poder. Lotaram os presídios, perseguiram cidadãos e o consumo permaneceu inalterado e o tráfico crescente. É uma guerra contra a população que não resolveu nada do que alegadamente dizia querer resolver. Pelo contrário, gerou danos piores. Não vejo razões lógicas e honestas para insistir nisso.


Colocado dessa forma, sou obrigado a reconhecer meu preconceito e intolerância. Cresci assim, praticamente odiando esse submundo. Tenho verdadeira ojeriza por tudo que esteja relacionado a drogas. Até o cigarro, tão comum e usual, me parece uma grande estupidez (perdoem-me os fumantes). O cara coloca fumaça no pulmão, a troco de quê? Mas não policio ninguém. Meus amigos fumam e nunca ouviram de mim qualquer tipo de reprovação.

Mas admito, jogar um simples usuário na cadeia por 10 anos, é demais, mesmo para intolerantes como eu.


Mucuna escreveu:Agora, do viciado eu sinto pena. O cara é doente e precisa de tratamento. Ninguém acha que jogar um alcoólatra na cadeia irá resolver alguma coisa, pq acham q isso funcionaria com cocaína?
Jogam no viciado (e usuário) todo um peso moral sobre ele, que não é jogado em cima de outros doentes. Alguém passa pela ala de doenças cardíacas de um hospital e fala "a grande maioria das doenças cardíacas são evitáveis, mas estes gordos sedentários consumidores de gordura mesmo sabendo disso não estão nem aí. Deveríamos negar tratamento a todos, pois eles são fracos e preguiçosos que não querem evitar uma das maiores causa de morte no país e, por conseguinte, grande absorvedora de recursos públicos! Fizeram pq queriam, que se danem!". Ninguém faz isso com cardíacos, sedentários, diabéticos e nem com quem se ferrou ao bater de carro por estar sem cinto. Tentam justificar esse julgamento falando que "alimentam a violência", mas como coloquei acima, acho isso apenas um bode expiatório.


Esse argumento foi perfeito. Nunca olhei por esse ângulo. Talvez porque o preconceito me impedisse de ser razoável. Nada a dizer, a não ser que essa é uma maneira admirável de compreender os outros. Fico grato por ter tido essa oportunidade.


Re: Rede de ONGs lança ação mundial por mudanças nas leis antidr

Enviado: 27 Ago 2009, 20:25
por Apo
Muito cuidado para não incorrer no erro por omissão de responsabilidade. Pessoas que bebem, se drogam ou têm vida totalmente desregrada, afetam seus pares, familiares, colegas/empresas, funcionários, vizinhos e os cofres públicos.
Isto quando não atropelam, batem, abandonam e até matam. Vitimizá-los também não é um bom caminho.
O entendimento pessoal passa pela responsabilidade com o social igualmente.
Muitos procuram ou aceitam ajuda. Outros se negam veementemente e até desfazem das leis e das normas de convivência.
Para estes, além da tentativa de tratamento, há que se impor os rigores da lei. Nada de passar a mãozinha, e esta recomendação é dada pelos que lidam com tal problema e já viram como funciona o mecanismo.