PLANO REAL: 15 ANOS

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O ENCOSTO
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PLANO REAL: 15 ANOS

Mensagem por O ENCOSTO »

Em 1º de julho de 1994, há exatos 15 anos, o Plano Real rompeu com uma sequência de pacotes econômicos fracassados e mudou não só a moeda como os rumos da economia brasileira. Economistas ouvidos pela reportagem do Último Segundo destacam a contenção da inflação desenfreada como o grande feito do plano, mas também ressaltam heranças ainda não superadas: juros altos, crescimento aquém do potencial e instabilidade quanto às turbulências externas.

O fracasso de seis planos econômicos em apenas oito anos – Plano Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão, Collor e Collor II – compunha um cenário descrente da atuação do governo. A inflação atingia 50% ao mês, índice extremamente distante do marcado em maio passado, 0,47% de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

No mês seguinte ao início do Plano Real, as mudanças começaram a aparecer: a inflação mensal despencou para 6,84%. Em agosto de 94 o índice chegou a 1,86%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O Plano Real marca uma nova fase da história econômica brasileira. Com maior estabilidade de preços”, diz Antônio Correia de Lacerda, professor de economia da PUC-SP e consultor econômico.

O diferencial do plano “que deu certo” frente às tentativas naufragadas foi a renegociação da dívida externa e o bom nível de reservas, segundo Lacerda. “Outro ponto importante foi o fato de não ter adotado congelamento de preços e sim uma reforma monetária, mudando a moeda para que ela resgatasse sua capacidade”, explica o economista.

Luis Roberto Troster, doutor em economia pela USP e sócio da Integral Trust, ressalta que o ajuste fiscal teve importante papel no sucesso do Real. “O aperto fiscal não aconteceu nos planos anteriores”, destaca. Lacerda avalia o Plano Real como bem sucedido e responsável por “vencer a ameaça da hiperinflação” que rondava o País.

“Armadilha cambial”

A valorização do real ante o dólar, condicionada pela pré-fixação da variação cambial, garantiu a queda dos preços, mas resultou em um problema para a economia brasileira. “Houve uma deterioração da balança comercial, porque incentivou-se as importações em detrimento das exportações”, explica Lacerda. “Sem ganhos de produtividade, uma valorização do câmbio pode acabar com a indústria nacional”, completa Troster.

A situação agravou-se em 1999, ano em que o Brasil enfrentou uma crise energética. “Tivemos uma mudança de política, a desvalorização do cambio, e a partir de então o Brasil entrou novamente em um quadro de crescimento”, analisa Lacerda.

No entanto, o economista acredita que o País continuou refém do câmbio: “O Brasil não se libertou da armadilha cambial, que vivemos até hoje. Essa armadilha é o ingresso de capitais que derrubam a taxa de câmbio e favorecem as importações. Com isso, perdemos empregos locais”.

Desafios

Uma das principais críticas ao Plano Real é a de que o País não registrou níveis de crescimento coerentes ao seu potencial. Troster analisa que reformas fiscal, tributária e trabalhista deveriam ter sido implementadas. “Estabilidade de preços e juros baixos é uma condição necessária para a economia crescer, mas não o suficiente. Nas outras frentes [as reformas], avançou-se muito pouco. Continuamos com uma legislação bastante obsoleta, se comparada a outros países”, afirma.

Para Lacerda, o principal desafio é tornar o real uma moeda “mais estável” e garantir um crescimento “independente” de turbulências internacionais. “O real é altamente instável, quando comparado a moedas como o euro e o dólar. Também temos como desafio uma taxa de juro menor e o crescimento sustentado”, afirma.

“O Plano Real na verdade não foi completado. Faltou desindexar a economia completamente, ou seja retirar os reajustes automáticos de preços baseados na inflação”, adverte Lacerda. Para o economista, assim como os salários, pedágios, aluguéis e tarifas deveriam ser desindexados. “Isso cria uma rigidez da inflação que é incompatível com a realidade atual e acaba perpetuando a inflação.”

Moeda forte?

Apesar de ter enfrentado pelo menos oito crises econômicas – México (95), Ásia (97-98), Rússia (99), apagão energético (1999), Argentina (2001), 11 de setembro (2001), eleição de Lula (2002) e a atual crise financeira global – os economistas não consideram que o real seja uma moeda “blindada”. “Não existe uma moeda à prova de crises. O real é mais forte do que eram as moedas anteriores, mas nem o euro pode ser considerado ‘blindado’”, afirma Troster.

Dada a instabilidade do dólar, Troster acredita na possibilidade do real ser usado em relações comerciais bilaterais (entre dois países). Lacerda já é mais reticente: “O real pode vir a ser uma moeda conversível, mas ainda estamos longe disso”.
O ENCOSTO


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Fernando Silva
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Re: PLANO REAL: 15 ANOS

Mensagem por Fernando Silva »

Velhos tempos em que eu ganhava 1 milhão em janeiro e 10 milhões em novembro.

Velhos tempos em que preços de carros e imóveis eram dados em dólares porque em [nome da moeda aqui] não fazia sentido.

Velhos tempos em que qualquer contrato comercial a longo prazo tinha páginas de fórmulas (inclusive raiz trigésima) e um monte de indexações a um monte de índices ainda a serem publicados, com um monte de condições tipo "se não isto, então aquilo ou então aquiloutro", numa tentativa de cobrir todas as hipóteses.

Velhos tempos em que os centavos só valiam por um ou dois meses após cada troca de moeda e depois não faziam mais sentido, com um cafezinho custando 50 mil alguma coisa.

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Apo
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Re: PLANO REAL: 15 ANOS

Mensagem por Apo »

Malditos formulários onde não cabiam mais os dígitos!!!! :emoticon9:

Pior é quando tinham 8 cópias com papel carbono! :emoticon9: :emoticon9: :emoticon9:
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Fernando Silva
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Re: PLANO REAL: 15 ANOS

Mensagem por Fernando Silva »

Velhos tempos em que o diesel aumentava 30% e, no dia seguinte (ou no mesmo dia), a banana na feira aumentava 30% também "porque o diesel pesa no frete blá-blá-blá".
Ou a energia elétrica aumentava 12% e o cafezinho no botequim imediatamente aumentava 12% "porque a cafeteira é elétrica blá-blá-blá".

A mim, não afetava muito, já que meu dinheiro ficava no banco e era corrigido automaticamente, mas o povão tinha que gastar o salário correndo antes que evaporasse.

Mas tudo isto teve uma vantagem: temos um dos sistemas bancários mais modernos do mundo. Afinal, um cheque tinha que ser compensado instantaneamente pelo banco para não perder o valor, mesmo que fosse de Porto Alegre para Manaus.

No Brasil, não tinha essa história de "já mandei o cheque pelo correio".

Trancado