Acauan e Cabeção: Rota na escola

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Johnny
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Johnny »

Acauan escreveu:No caso da Coréia o problema é a competição e não o sistema educacional. Os pais pressionam os filhos para que tenham notas máximas para que possam ter acesso às melhores universidades e aos melhores empregos.
É isto e não a pedagogia e didática do sistema coreano que exerce pressão psicológica sobre os alunos.

Creio eu que, quando num país, a competitividade avança em demasia, isso é inevitável. Até mesmo aqui. Vai depender de "quanto" os pais "pretendem" tornar o filho competitivo

Botânico escreveu:Mas como já se deixou claro, a coisa piorou de vez quando vieram aqueles pedagogos esquerdistas, com ideais filosóficos baseados em Marx ou em alguém pior e junto com a política de Dereitos Omanos... Desde então virou aquele mote: não se deve punir o criminoso; é preciso antes combater as causas da criminalidade... E isso foi extensivo à escola: não se pode punir alunos bandidos, bagunceiros e indisciplinados: é preciso combater as causas sociais que os levam a agir assim.
Como não se combatem essas "causas sociais" (sabe-se lá o que isso signifique), ficamos todos no prejuízo. Os que querem estudar têm de aguentar o estresse pela pressão de quem só quer bagunçar.

Uma pena.


Sabe Botânico. Eu até pensava assim e fico até meio confuso quando me dizem sobre isso. Quando dava aulas no DOm Bosco, sempre enfatizavam como o tal Bosco conseguia tornar alunos rebeldes e indisciplinados participando da vida deles e coisa e tal. Bem, nesta época eu nem era espirita, e era mais imaturo que agora.
Mas infelismente tenho que concordar que, o que falta à educação é preparo psicológico. Deixe me fazer entender:
Mes passado vi ujma reportagem de uma escola do suburbio do Rio (ou SP, não estou certo) em que conseguiram reverter o quadro de pior escola e níveis de indisciplina. Passaram a fazer com que os alunos participassem mais de eventos da mesma, e que os pais também.
Pelo que vi, foi uma mudança e tanto, tanto no comportamento social como educacional. Seria como no filme Mudança de Habito.

Resumo, eu não tenho condições de fazer uma avaliação deste naipe, pois muita teoria usada em campo vai por agua abaixo.
Mas acho que o problema social no Brasil é mais por carência e falta de atenção do que por falta de cultura e educação, por mais resistente que minha mente possa crer...
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Mucuna
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Sugerir que alguém deseja que o professor exerça sua autoridade "como antigamente" é apenas outro modo de chamar de anacrônico quem defende a autoridade do professor.

Para quem se interessar, um modelo digno de nota são as escolas técnicas do SENAI, mantidas e administradas pela indústria, e que sempre primaram por um código rígido de disciplina interna, seguido a risca pelos alunos, em sua maioria filhos de operários pobres, inclusive favelados.
Não custa lembrar que um ex-aluno do SENAI hoje é presidente da república.

A pergunta que não vejo muitos burocratas da educação fazendo é por que o SENAI consegue e outras escolas não?


Não sei se vc leu, mas eu não defendi que o professor não deva ter autoridade.


E eu não sei se você leu mas em nenhum momento sugeri isto.

Mucuna escreveu: Leitura seletiva?


Se houve, não foi minha.


Ah, mas defendeu. Falou que o bom era como era antes, mesmo sendo um cenário completamente diferente. Jocosamente diz que a culpa é da visão marxista na educação, seja lá o que isso for. Algo que não é observado para quem tem pelo menos um pouco de contato com a teoria e prática do ensino. Como falei anteriormente um pouco sobre isso, respondendo outros comentários, e nada disso foi levantado de novo, creio que foi dada uma clareada nestas questões.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Mencionei isso pq a pedagogia "de antigamente", citada por muitos, envolvia estas atitudes. Quantos não ouviram "no meu tempo tinha palmatoria e ajoelhavamos no milho". Tenta fazer isso hoje, sendo professor ou não.


Bem, não é com estas pessoas que você está discutindo agora.


Tenho minhas dúvidas, mas vamos assumir que sim, num gesto de boa vontade...

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Volta-se ao problema do sistema. Se o aluno chegou completamente despreparado é porque o sistema permite, ou melhor, incentiva isto.


Culpar só visões diferentes da pedagogia e suas faculdades por isso, que é visivelmente pouco conhecida pelo que podemos ver do que foi escrito aqui, é muito cômodo.


Não é cômodo.
É apenas constatação do óbvio.
Em São Paulo e outros lugares há a progressão continuada, na qual o aluno não pode ser reprovado nas primeiras séries mesmo que não tenha aprendido porra nenhuma. Que tal aluno chegue analfabeto às séries seguintes é só consequência.


A única constatação que vi é que temos um problema, o que de fato é óbvio. O resto foi só discurso vazio, caricaturas e espantalhos.

Interessante vc mencionar o sistema de ciclos, chamado por alguns de "progressão continuada" ou ainda preguiçosamente de "aprovação automática". É apenas um outro sistema diferente da seriação, que deu muito certo em vários lugares, tendo como ícone a Escola da Ponte citada anteriormente.

O ciclo é formado por 2 ou 3 anos. No ciclo que o aluno se encontra, ele deve aprender determinado conteúdo mínimo de cada matéria do currículo e se aprofundar nas que ele demonstrar mais aptidão. Só que para isso, é preciso toda uma infra-estrutura e planejamento. Vc não pode trabalhar com turmas muito grandes pois vc tem que conhecer cada aluno, fazer relatórios sobre eles, ter tempo para isso. Isso foi feito em São Paulo ou no Rio? Claro que não.

O governo pegou só o aspecto (distorcido) da "aprovação automática". Se vc não divide o curso em séries anuais, não tem como vc repetir o ano, é óbvio. No máximo, se repete o ciclo. Enfim, o governo vendeu a idéia que o sistema de ciclos era basicamente aprovação automática, os professores reclamaram para caramba pois se eles não podem aplicar provas que repetem o aluno no ano, então essa não pode ser usada como coação. É uma crítica séria aos professores: Eles nem um pouco preparados para para adotarem o sistema de ciclos falaram "ah é? não tem como eu controlar o aluno com a prova? Não tem como eu reprovar o aluno no final do ano? [nem entendiam como era esse outro sistema] Então eu vou fazer o que eles querem e aprovar o aluno sem nem avalia-lo e que se dane!". A mídia também teve sua parte na culpa, pois ela não fez nem questão de arranhar o verniz da questão. Mais superficial impossível. Ouviram dizer "é a aprovação automática!"! Pronto! Foi feito o circo. Nem se preocuparam em verificar o que é o sistema de ciclos, qual a proposta e denunciar que o governo fez a coisa nas coxas e os professores fizeram praticamente um motim por não estarem nem preparados nem motivados.

E realmente, com a infra-estrutura da escola, carga de horário de várias turmas, etc e tal, como vc aplica um sistema desse?

Agora, apontado mais claramente os erros, a culpa é do que mesmo?



Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:Bem, como não sou famoso pela sutileza, vamos direto ao ponto.
Esta história de que a responsabilidade do professor é a formação do cidadão é a desculpa atrás da qual os professores vagabundos se escondem. Não que professores honestos que querem formar cidadãos sejam vagabundos, pelo contrário, mas os vagabundos sabem muito bem que "formar cidadão" é um objetivo vago demais para gerar aquilo que mais temem, cobranças individuais.

Professor de matemática ajuda a formar um cidadão ensinando matemática a ele. Se não ensinou matemática, falhou na parte que lhe cabia na formação do cidadão. Simples assim.


Desculpa? Se vc não aprendeu nada sobre cidadânia e convivencia em grupo e regras da sociedade na escola, lamento. Eu aprendi lá também.


O que você ou eu aprendemos sobre cidadania e convivência em grupo e regras da sociedade na escola é irrelevante, tanto quanto as reações emocionais, tão previsíveis quando fatos desagradáveis que tantos preferem não tocar são trazidos à baila sem maiores senões ou poréns.

Toda escola em todo lugar do mundo sempre se ocupou de educação social, havendo inclusive disciplinas e professores específicos para isto, como nos casos de higiene e saúde ou educação moral e cívica.

O que não dá prá engolir é professor de lingua portuguesa que diz estar formando cidadãos enquanto a maioria de seus alunos é analfabeto funcional e ele não faz nada a respeito. Tá cheio.


Não distorça. Se vc é professor de seja lá o que for, e vê que determinado aluno é muito agitado ou é muito aéreo, ou é todo assustado, ou sei lá o que mais, vc vai ao menos tentar levar isso em conta e ajudar na medida do possível, visando a educação do aluno, ou vc caga solenemente que alunos tem problemas e sai feito um robozinho tascando a sua matéria e que se dane se os professores anteriores não fizeram um bom trabalho?

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: No seu exemplo, no que adianta vc, professor de matemática, tacar equações de 2º grau no quadro se os alunos não sabem nem reconhecer uma de 1º grau? Vai falhar na tarefa de ensinar matemática e da "vaga tarefa de formar cidadãos".


Uai?
E equação de primeiro grau não é matemática?


Se o aluno chega até vc sem esse conhecimento, vc ignora o fato e continua avançando no quadro negro ou tenta encontrar meios para ele aprender o que ficou para trás?

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Não sei pq isso é tão dificil de entender.


Não é. Você que acha que eu sou burro.


Burro vc não parece ser pelo que escreve, só é sem foco no assunto.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Legal que sempre que citam Coréia do Sul como exemplo de educação, esquecem que lá, nos últimos 25 anos, o índice de suicidio de lá foi de uns dos mais baixos do mundo para um dos mais altos do mundo. A pressão é muito grande nos alunos e se estes começam a se matar, ...


Estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas. Lembro-me dos anos em que se ouvia que a Suécia era um paraíso, mas os suicídios... e ninguém sabia porra nenhuma da Suécia.


Ah é, suícidios que dispararam em pouco mais de suas décadas não querem realmente indicar nada. Deve ser algo na água...

Acauan escreveu:No caso da Coréia o problema é a competição e não o sistema educacional. Os pais pressionam os filhos para que tenham notas máximas para que possam ter acesso às melhores universidades e aos melhores empregos.
É isto e não a pedagogia e didática do sistema coreano que exerce pressão psicológica sobre os alunos.


Um pouco de cada. A grande chance da maioria dos alunos (e de suas famílias) é o aluno passar para uma das universidades patrocinadas pelas fábricas Coreanas como a Samsung. O cara se mata de estudar para ser um gênio nas exatas e conseguir essa chance. Obviamente não há vaga para todos e não é todo mundo que consiguirá ser um destaque nesta área de conhecimento, por mais investimento que se ponha no indivíduo.

É lógico que é ótima que haja este interesses de empresas na formação de alunos e profissionais, mas esta não pode ser a única alternativa para a massa e nem a estrutura toda deve ser construída unicamente em torno disso.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: ,,,é bom vc fazer uma análise critica da sua política e sistema.


Presumo que depois de fazer análise crítica você vá me recomendar desenvolver minha consciência social ou outro chavão batido do gênero.


hehehehe... Aí! A palavra "social"! Coisa de comunista! Palavra vermelha!
Vc não entendeu que dependendo de onde vc for dar aula, vc tem que considerar o aspecto social, sim? Há as mais variadas escolas, os mais variados alunos, as mais variadas comunidades e mais variadas famílias.

Note que até agora levantamos e discutimos problemas e não soluções. O problema inicia na educação infantil? De 0 a 6 anos? De 7 a 14 anos? O que ocorre exatamente? É algo que acontece na escola apenas? É reflexo também do que acontece do lado de fora, na rua e dentro das casas? O que é?

Essa de ficar falando que o problema é que as faculdades de educação são marxistas, não existe, até pq não é assim.
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Mucuna
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Apo escreveu:Mucuna, não se pode aceitar retroceder na matéria para uma turma de 30 ou 40, quando 1, 2 ou 3 alunos apresentam atraso grave. É piorar a situação para 30 ou 40 e ainda deixar, possivelmente, um saldo devedor para a conta do professor do ano seguinte.
Tais casos devem ser discutidos com a direção e os responsáveis ( se houver...). Aula extra, exercícios fora de aula, reforço ou até deveria ser pensado em atrasar o aluno ( voltar para o ano anterior, sim! alguém cometeu o erro grave de passá-lo de ano sem saber a matéria). Talvez uma dependência de imersão nas férias ou aos sábados, enfim...

Precisamos ter o coração menos mole e ser menos laissez faire ou seremos cúmplices na desestruturação do que ainda resta.
O que não tem solução, solucionado está. Será?


Com certeza não. E quando é a grande maioria da turma com esse "probleminha"?
O que vc faz? Tem que retroceder, pois avançar na matéria ignorando este fato é embolar mais ainda o meio de campo.

Aula extra, exercícios fora de aula, reforço e etc, são recursos que a escola DEVE oferecer, pelo menos de acordo com a lei. Ela tem que oferecer meios para que os alunos que estiverem com defasagem de ensino tenham uma chance de se recuperem. Afinal, o objetivo maior é ensinar e não ficar punindo os "burros".

Atrasar o aluno de ano ou até adianta-lo é algo tbm previsto em lei, na LDB, e a escola deve proceder com esta análise.

Mas veja situações mais extremas, que temos aos baldes: O aluno desde o início da vida escolar não tem lá muito apoio para permanecer na escola, tirando o fato de que é um lugar para "tomar conta do filho chato" e "dar comida" para ele. A família é uma zona. Tem casos que o garoto não é nem criado mais por um parente. A mãe engravidou do pai dele, que sumiu no mundo. A mãe teve outros filhos com caras diferentes, casou com um deles e te abandonou na casa do que seria uma espécie de padrasto seu.
O moleque fica na rua o tempo todo pq em casa a coisa é extremamente hostil. Aí ele chega na escola, que não se faz entender, e encontra ambiente extremamente hostil também. Ele vai abandonar a escola.

Se ele abandonar novo assim a escola, na realidade que ele se encontra, o futuro dele praticamente está selado. Vc pode ter certeza que ele vai ser um pivete fumador de crack, aviãozinho ou soldado do tráfico, etc.

Se vc não tentar dar meios dele aprender alguma coisa na escola e desejar ficar lá, já que vc já pegou a cenário desse jeito, vc vai arrebentar com mais um indivíduo. Não que ele tenha muitas chances, mas é melhor do que nenhuma. Ah, isso não quer dizer que vc vai ser uma maria mole permissiva com o aluno, pois isso o atrapalhará tanto o aluno quanto o professor. Porém,respeito e autoridade não é conseguida na base da intimidação e ameaça apenas.

Isso não é um ou outro caso não. Tem vários assim. Há escolas, no Rio mesmo, que tem crianças dormindo, usando como casa.

Faz o q se pode, o que julga ser possível e mais acertado na hora, já que é quase tudo torto.

Tem professor que não concorda com isso, não tenha dúvida. Já vi discussões de diretor com um professor de história que iria repetir o garoto por um ponto. Tecnicamente, ele está certo em repetir. Só que o moleque já tinha repetido essa mesma série, em história também, dentre outras, e tinha se esforçado mais no ano em questão, tendo ficado só por um ponto em história.

O diretor argumentava que a família dele não estava nem aí e que o garoto tinha todo o jeito que ia abandonar a escola caso repetisse o mesmo ano de novo. E se abandonar a escola, já sabe...
O professor falou que o aluno não queria nada com nada, que era provado pela nova repetência na matéria dele, e que se fosse para ele abandonar, que abandonasse, que aquilo não era para ele mesmo.

Sei que ele repetiu o aluno, não adiantando argumentos do diretor. O garoto abandonou a escola e sei lá como se virou e o que resolveu fazer para preencher o "tempo livre".

Pelo que vi, muitos aqui concordam com a atitude do professor, mas eu entendo que vc está fazendo um mal maior ainda.

Agora, se vc estiver falando que numa turma de 40 num bom colégio, onde só 2 ou 3 alunos mais zoneiros, que ignoraram ou debocharam da chance q vc deu para uma recuperação deles, aí vc repete mesmo, fazer o q? Provavelmente os pais deles se importam com isso e irão apertar o moleque no próximo ano. Funciona muito bem, também, se trabalhado em conjunto.
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Acauan
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu: Ah, mas defendeu. Falou que o bom era como era antes, mesmo sendo um cenário completamente diferente. Jocosamente diz que a culpa é da visão marxista na educação, seja lá o que isso for. Algo que não é observado para quem tem pelo menos um pouco de contato com a teoria e prática do ensino. Como falei anteriormente um pouco sobre isso, respondendo outros comentários, e nada disso foi levantado de novo, creio que foi dada uma clareada nestas questões.


Sinceramente, tá aí um parágrafo em que não se lê coisa com coisa.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Mencionei isso pq a pedagogia "de antigamente", citada por muitos, envolvia estas atitudes. Quantos não ouviram "no meu tempo tinha palmatoria e ajoelhavamos no milho". Tenta fazer isso hoje, sendo professor ou não.


Bem, não é com estas pessoas que você está discutindo agora.


Tenho minhas dúvidas, mas vamos assumir que sim, num gesto de boa vontade...


Quem pode prova o que diz. Quem não pode assume ares de superioridade e foge do assunto.
Defendi a autoridade institucional do professor, comparei-a com a reverência simbólica dada ao juiz de direito e você veio com bobagens como ajoelhar no milho e palmatória. Minhas palavras estão claramente registradas, logo, fim.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Não é cômodo.
É apenas constatação do óbvio.
Em São Paulo e outros lugares há a progressão continuada, na qual o aluno não pode ser reprovado nas primeiras séries mesmo que não tenha aprendido porra nenhuma. Que tal aluno chegue analfabeto às séries seguintes é só consequência.


A única constatação que vi é que temos um problema, o que de fato é óbvio. O resto foi só discurso vazio, caricaturas e espantalhos.


Pelo contrário. Do meu lado estão as estatísticas e números que provam o fracasso inegável do sistema.
É você quem tem respondido com indignação exacerbada em defesa de um modelo falido – sem a menor possibilidade de negar tal falência.


Mucuna escreveu: Interessante vc mencionar o sistema de ciclos, chamado por alguns de "progressão continuada" ou ainda preguiçosamente de "aprovação automática". É apenas um outro sistema diferente da seriação, que deu muito certo em vários lugares, tendo como ícone a Escola da Ponte citada anteriormente.

O ciclo é formado por 2 ou 3 anos. No ciclo que o aluno se encontra, ele deve aprender determinado conteúdo mínimo de cada matéria do currículo e se aprofundar nas que ele demonstrar mais aptidão. Só que para isso, é preciso toda uma infra-estrutura e planejamento. Vc não pode trabalhar com turmas muito grandes pois vc tem que conhecer cada aluno, fazer relatórios sobre eles, ter tempo para isso. Isso foi feito em São Paulo ou no Rio? Claro que não.

O governo pegou só o aspecto (distorcido) da "aprovação automática". Se vc não divide o curso em séries anuais, não tem como vc repetir o ano, é óbvio. No máximo, se repete o ciclo. Enfim, o governo vendeu a idéia que o sistema de ciclos era basicamente aprovação automática, os professores reclamaram para caramba pois se eles não podem aplicar provas que repetem o aluno no ano, então essa não pode ser usada como coação. É uma crítica séria aos professores: Eles nem um pouco preparados para para adotarem o sistema de ciclos falaram "ah é? não tem como eu controlar o aluno com a prova? Não tem como eu reprovar o aluno no final do ano? [nem entendiam como era esse outro sistema] Então eu vou fazer o que eles querem e aprovar o aluno sem nem avalia-lo e que se dane!". A mídia também teve sua parte na culpa, pois ela não fez nem questão de arranhar o verniz da questão. Mais superficial impossível. Ouviram dizer "é a aprovação automática!"! Pronto! Foi feito o circo. Nem se preocuparam em verificar o que é o sistema de ciclos, qual a proposta e denunciar que o governo fez a coisa nas coxas e os professores fizeram praticamente um motim por não estarem nem preparados nem motivados.

E realmente, com a infra-estrutura da escola, carga de horário de várias turmas, etc e tal, como vc aplica um sistema desse?

Agora, apontado mais claramente os erros, a culpa é do que mesmo?


Resultados falam por si só.
Trinta anos de fracassos sucessivos e tudo que temos é o velho blá-blá-blá do "mas se a coisa tivesse sido implantada como se deve", sendo que se pode substituir "a coisa" por qualquer exemplo de modelo fracassado que lhe venha a mente.
Sempre se pode arranjar infinitas desculpas para explicar porque a coisa não funcionou. O que não dá é para negar que a coisa não funcionou, fato, e que outros modelos em outros países funcionaram, fato.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: O que você ou eu aprendemos sobre cidadania e convivência em grupo e regras da sociedade na escola é irrelevante, tanto quanto as reações emocionais, tão previsíveis quando fatos desagradáveis que tantos preferem não tocar são trazidos à baila sem maiores senões ou poréns.

Toda escola em todo lugar do mundo sempre se ocupou de educação social, havendo inclusive disciplinas e professores específicos para isto, como nos casos de higiene e saúde ou educação moral e cívica.

O que não dá prá engolir é professor de lingua portuguesa que diz estar formando cidadãos enquanto a maioria de seus alunos é analfabeto funcional e ele não faz nada a respeito. Tá cheio.


Não distorça. Se vc é professor de seja lá o que for, e vê que determinado aluno é muito agitado ou é muito aéreo, ou é todo assustado, ou sei lá o que mais, vc vai ao menos tentar levar isso em conta e ajudar na medida do possível, visando a educação do aluno, ou vc caga solenemente que alunos tem problemas e sai feito um robozinho tascando a sua matéria e que se dane se os professores anteriores não fizeram um bom trabalho?


Não estou distorcendo nada. Você que está fugindo ao ponto central que é o professor vagabundo que se esconde atrás da desculpa de "formar cidadão" para não prestar conta de seus resultados pífios e desviando o assunto para repetições do óbvio que eu próprio já havia citado.
Quanto ao cagar e andar para alunos com problemas, isto é por tua conta. Nada do que eu disse sequer se aproxima desta sugestão.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: No seu exemplo, no que adianta vc, professor de matemática, tacar equações de 2º grau no quadro se os alunos não sabem nem reconhecer uma de 1º grau? Vai falhar na tarefa de ensinar matemática e da "vaga tarefa de formar cidadãos".


Uai?
E equação de primeiro grau não é matemática?


Se o aluno chega até vc sem esse conhecimento, vc ignora o fato e continua avançando no quadro negro ou tenta encontrar meios para ele aprender o que ficou para trás?


Se eu disse claramente que a função prioritária do professor de matemática é ensinar matemática, sua dúvida está respondida e é estranhíssimo que tal dúvida tenha surgido, dado a clareza com que tal foi dito.


Mucuna escreveu: Burro vc não parece ser pelo que escreve, só é sem foco no assunto.


Você deve se achar muito inteligente e focado, só que até agora não apresentou nenhum dado objetivo.
No link que citei há uma série de comentários meus sobre a evolução do sistema de ensino brasileiro desde os anos sessenta, uma análise detalhada da reforma do ensino em New York e um comparativo entre as realidades educacionais nova iorquina e de São Paulo, dentre outras.
Você não leu nada daquilo, mas dá palpites mal informados mesmo assim, já que meu foco está mais do que óbvio no que já escrevi e citei.

Se não basta, veja também meus comentários em Meritocracia nas escolas públicas de São Paulo

Se quiser, claro. Se não pode continuar dando palpites desinformados.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas. Lembro-me dos anos em que se ouvia que a Suécia era um paraíso, mas os suicídios... e ninguém sabia porra nenhuma da Suécia.


Ah é, suícidios que dispararam em pouco mais de suas décadas não querem realmente indicar nada. Deve ser algo na água...


Chato ter que explicar a um educador que existe diferença clara entre dizer "estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas"e dizer "suícidios que dispararam em pouco mais de suas décadas não querem realmente indicar nada", mas infelizmente preciso fazê-lo pelo jeito.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:No caso da Coréia o problema é a competição e não o sistema educacional. Os pais pressionam os filhos para que tenham notas máximas para que possam ter acesso às melhores universidades e aos melhores empregos.
É isto e não a pedagogia e didática do sistema coreano que exerce pressão psicológica sobre os alunos.[/color]


Um pouco de cada. A grande chance da maioria dos alunos (e de suas famílias) é o aluno passar para uma das universidades patrocinadas pelas fábricas Coreanas como a Samsung. O cara se mata de estudar para ser um gênio nas exatas e conseguir essa chance. Obviamente não há vaga para todos e não é todo mundo que consiguirá ser um destaque nesta área de conhecimento, por mais investimento que se ponha no indivíduo.
É lógico que é ótima que haja este interesses de empresas na formação de alunos e profissionais, mas esta não pode ser a única alternativa para a massa e nem a estrutura toda deve ser construída unicamente em torno disso.


Um pouco de cada coisa nenhuma. Não sei o que você estudou do sistema de ensino coreano, mas como ocorre na China e no Japão ele tem fortes vínculos com o Confucionismo e se pauta pela valorização da harmonia, minimização do conflito e o respeito a uma hierarquia fundamentada no mérito e sabedoria acumulados.
Não é o tipo de coisa que leve gente ao suicídio.

Já a competição independe do método de ensino, que é o ponto em discussão.
Os coreanos poderiam ter um sistema educacional idêntico ao brasileiro e mesmo assim pressionariam seus filhos a obter as melhores notas para garantir seu futuro e as pressões seriam as mesmas, com a diferença que a qualidade acadêmica seria um desastre.

Isto pode inclusive ser constatado no Brasil, nos vestibulares onde orientais sempre se destacam, mas sofrem menos estresse porque a maioria de seus concorrentes não são outros orientais supermotivados como ocorre lá.


Mucuna escreveu: hehehehe... Aí! A palavra "social"! Coisa de comunista! Palavra vermelha!
Vc não entendeu que dependendo de onde vc for dar aula, vc tem que considerar o aspecto social, sim? Há as mais variadas escolas, os mais variados alunos, as mais variadas comunidades e mais variadas famílias.


Puxa, quanta novidade. Quantos anos você levou para descobrir isto?

Mucuna escreveu: Note que até agora levantamos e discutimos problemas e não soluções.


Nos links que citei há um monte de propostas de soluções testadas e bem sucedidas em outros países.

Mucuna escreveu:O problema inicia na educação infantil? De 0 a 6 anos? De 7 a 14 anos? O que ocorre exatamente? É algo que acontece na escola apenas? É reflexo também do que acontece do lado de fora, na rua e dentro das casas? O que é?

Essa de ficar falando que o problema é que as faculdades de educação são marxistas, não existe, até pq não é assim.


Claro que não. E todos os professores brasileiros são dedicados, os burocratas educacionais são eficientes e os pedagogos são gênios da raça.

O centro do problema da educação é SIM um coletivismo vicioso que atua em duas frentes, nos professores e burocratas, estabelecendo um corporativismo que os protege da avaliação individual e entre os alunos, tratando-os como categorias e não como indivíduos com diferentes aptidões e que apresentarão, necessariamente, diferentes resultados.

O resto é emocionalismo. É a rotina ouvir muito choro quando se expõe a realidade destes problemas.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


O que a camarilha de pedagogos e educadores nao conseguem explicar e porque eles vem sendo frequentemente superados por novas escolas administradas por ex-policiais e militares da reserva que a principio nao tinham nenhuma experiencia em educacao de menores.

Apenas aplicando principios basicos de disciplina e hierarquia os resultados positivos comecam a pipocar. Porque e exatamente isso que nao existe em escolas geridas por refinados intelectuais de educacao em sintonia com as mais modernas teorias pedagogicas.

Educadores profissionais sao um dos grupos de trabalhadores cuja qualidade do servico tem caido visivelmente e como resposta a essas queixas eles se especializaram em colocar a culpa na sua remuneracao insuficiente ou em externalidades convenientemente longe de sua alcada, em geral fatores vagos causados por todos e por ninguem. Comportamento tipico de escroques e charlataes.

Decadas de intensificados patrulhamento e doutrinacao nas universidades conseguiram transformar o exercicio da pedagogia no Brasil num espetaculo patetico de vigarice ideologica.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Aranha »


- Os professores de escolas públicas com quem converso sempre se eximem de culpa, sempre acusam os alunos, os pais dos alunos ou o governo, nunca assumem parcela nenhuma, são acomodados, alienados e desmotivados, pensam apenas em dar sua aulinha burocrática sem se preocupar com porra nenhuma e receber o seu no final do mês.

Abraços,
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Aranha escreveu:- Os professores de escolas públicas com quem converso sempre se eximem de culpa, sempre acusam os alunos, os pais dos alunos ou o governo, nunca assumem parcela nenhuma, são acomodados, alienados e desmotivados, pensam apenas em dar sua aulinha burocrática sem se preocupar com porra nenhuma e receber o seu no final do mês.


No Brasil é tabu se referir ao professor como parte do problema educacional.
Jornalistas que abordam o assunto tecem uma longa rede de causas e efeitos sócio-históricos para explicar porque os alunos não sabem nada, quando o fato óbvio é que os alunos não sabem nada porque, no mais das vezes, o professor não ensinou nada.

Antes que a curriola suba nas tamancas, me acuse de heresia e tente me levar à fogueira, alguém explique como é possível que depois de sete anos de aulas semanais de inglês os alunos da rede pública não saibam conjugar o verbo To Be em seus tempos verbais. Em muito menos tempo se ensinam gorilas a falar por meio da linguagem de sinais. Por piores que sejam os alunos brasileiros, devem estar pelo menos um grau acima dos primatas, espera-se.
Haja motivo sócio-econômico para encobrir tamanha incompetência.

É absolutamente impossível após cinquenta minutos de aula bem dada que nenhum aluno aprenda coisa alguma. Multiplique-se isto por anos e tirem-se as conclusões.

Este silêncio cúmplice tanto vem de uma condescendência com o fato inegável de que o professor foi sistematicamente desvalorizado como profissional, quanto de uma cautela com relação ao corporativismo dos professores e burocratas educacionais, dos mais ferozes e que ataca violentamente qualquer um que ouse lhes cobrar responsabilidades – chegaram a atacar fisicamente e ferir o governador do Estado de São Paulo em um de seus piquetes.

O discurso das causas complexas para o péssimo resultado das políticas e filosofias educacionais é muito conveniente, pois como bem lembrou o Cabeção, a culpa passa a ser de todos e de ninguém.
A aplicação de processos de gestão utilizados na iniciativa privada, como o chamado MASP – metodologia de análise e solução de problemas, geralmente indicam realidade muito diferente, com um punhado de causas evidentes, isoladas e passíveis de tratativa sob um plano de ação com prioridades estabelecidas.

Nova York aplicou estas técnicas no combate ao crime, estabelecendo como prioridade máxima no início do programa – muito antes da implantação da tão falada Tolerância Zero – um amplo e profundo saneamento da força policial, com identificação, inquérito e afastamento dos policiais corruptos ou relapsos. Depois e só depois vieram as demais medidas. Resultado – sucesso absoluto. A Big Apple deixou de ser uma das mais violentas metrópoles americanas para se tornar modelo mundial de segurança pública.
Não custa lembrar, tudo começou com a quebra do corporativismo policial.

Agora New York aplica política semelhante à reforma do ensino municipal e também começou afastando professores, burocratas e diretores incompetentes e recompensando os que apresentam melhores resultados. Em curtíssimo prazo, todos os indicadores educacionais melhoraram.

Contra estes fatos objetivos, os corporativistas do ensino brasileiro respondem com chorumelas e ideologias, com factóides mirabolantes tirados de micro-experiências inexpressivas, jargão pedante, citações de idiotas que eles consideram gênios, reclamações sobre o quanto são injustiçados ou acusações contra a competência de quem lhes aponta o fracasso, como se fosse preciso algum especialista para notar tal enormidade.

Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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Mucuna
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Ah, mas defendeu. Falou que o bom era como era antes, mesmo sendo um cenário completamente diferente. Jocosamente diz que a culpa é da visão marxista na educação, seja lá o que isso for. Algo que não é observado para quem tem pelo menos um pouco de contato com a teoria e prática do ensino. Como falei anteriormente um pouco sobre isso, respondendo outros comentários, e nada disso foi levantado de novo, creio que foi dada uma clareada nestas questões.


Sinceramente, tá aí um parágrafo em que não se lê coisa com coisa.


Eu disse outras muitas coisas que foram ignoradas, então acho que estamos de acordo. É isso.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Mencionei isso pq a pedagogia "de antigamente", citada por muitos, envolvia estas atitudes. Quantos não ouviram "no meu tempo tinha palmatoria e ajoelhavamos no milho". Tenta fazer isso hoje, sendo professor ou não.


Bem, não é com estas pessoas que você está discutindo agora.


Tenho minhas dúvidas, mas vamos assumir que sim, num gesto de boa vontade...


Quem pode prova o que diz. Quem não pode assume ares de superioridade e foge do assunto.
Defendi a autoridade institucional do professor, comparei-a com a reverência simbólica dada ao juiz de direito e você veio com bobagens como ajoelhar no milho e palmatória. Minhas palavras estão claramente registradas, logo, fim.


Estávamos falando só de vc? Desculpa, achei que era um forum com outras pessoas debatendo também. E quando vc ou qualquer um defende "como antigamente", as práticas que eu citei estão englobadas. Não que este modelo não tivesse a parcela de sucesso no cenário que foi aplicado...

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Não é cômodo.
É apenas constatação do óbvio.
Em São Paulo e outros lugares há a progressão continuada, na qual o aluno não pode ser reprovado nas primeiras séries mesmo que não tenha aprendido porra nenhuma. Que tal aluno chegue analfabeto às séries seguintes é só consequência.


A única constatação que vi é que temos um problema, o que de fato é óbvio. O resto foi só discurso vazio, caricaturas e espantalhos.


Pelo contrário. Do meu lado estão as estatísticas e números que provam o fracasso inegável do sistema.
É você quem tem respondido com indignação exacerbada em defesa de um modelo falido – sem a menor possibilidade de negar tal falência.


Falei inúmeras vezes que há vários problemas a serem resolvidos. Discordo da sua visão de que a causa disso é que a faculdade de educação forma um professor que tem que passar ideologia marxista ao invés de ensinar. Isto não acontece.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Interessante vc mencionar o sistema de ciclos, chamado por alguns de "progressão continuada" ou ainda preguiçosamente de "aprovação automática". É apenas um outro sistema diferente da seriação, que deu muito certo em vários lugares, tendo como ícone a Escola da Ponte citada anteriormente.

O ciclo é formado por 2 ou 3 anos. No ciclo que o aluno se encontra, ele deve aprender determinado conteúdo mínimo de cada matéria do currículo e se aprofundar nas que ele demonstrar mais aptidão. Só que para isso, é preciso toda uma infra-estrutura e planejamento. Vc não pode trabalhar com turmas muito grandes pois vc tem que conhecer cada aluno, fazer relatórios sobre eles, ter tempo para isso. Isso foi feito em São Paulo ou no Rio? Claro que não.

O governo pegou só o aspecto (distorcido) da "aprovação automática". Se vc não divide o curso em séries anuais, não tem como vc repetir o ano, é óbvio. No máximo, se repete o ciclo. Enfim, o governo vendeu a idéia que o sistema de ciclos era basicamente aprovação automática, os professores reclamaram para caramba pois se eles não podem aplicar provas que repetem o aluno no ano, então essa não pode ser usada como coação. É uma crítica séria aos professores: Eles nem um pouco preparados para para adotarem o sistema de ciclos falaram "ah é? não tem como eu controlar o aluno com a prova? Não tem como eu reprovar o aluno no final do ano? [nem entendiam como era esse outro sistema] Então eu vou fazer o que eles querem e aprovar o aluno sem nem avalia-lo e que se dane!". A mídia também teve sua parte na culpa, pois ela não fez nem questão de arranhar o verniz da questão. Mais superficial impossível. Ouviram dizer "é a aprovação automática!"! Pronto! Foi feito o circo. Nem se preocuparam em verificar o que é o sistema de ciclos, qual a proposta e denunciar que o governo fez a coisa nas coxas e os professores fizeram praticamente um motim por não estarem nem preparados nem motivados.

E realmente, com a infra-estrutura da escola, carga de horário de várias turmas, etc e tal, como vc aplica um sistema desse?

Agora, apontado mais claramente os erros, a culpa é do que mesmo?


Resultados falam por si só.
Trinta anos de fracassos sucessivos e tudo que temos é o velho blá-blá-blá do "mas se a coisa tivesse sido implantada como se deve", sendo que se pode substituir "a coisa" por qualquer exemplo de modelo fracassado que lhe venha a mente.
Sempre se pode arranjar infinitas desculpas para explicar porque a coisa não funcionou. O que não dá é para negar que a coisa não funcionou, fato, e que outros modelos em outros países funcionaram, fato.


Foi um modelo que deu muito certo em outros países. Fato. Foi um modelo que não foi aplicado no Brasil, só fingiu-se que se aplicou. Fato. Fracassou pq não foi feito seriamente. Fato. Eu expliquei por alto como é o modelo que deu certo e o frankstein que resolveram aplicar no Brasil. Não sei pq isso é visto como desculpa. Nem falta de ataque aos professores eu deixei de fazer, se é disso q vc tem sede, então não entendi qual o problema.

Acauan escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: O que você ou eu aprendemos sobre cidadania e convivência em grupo e regras da sociedade na escola é irrelevante, tanto quanto as reações emocionais, tão previsíveis quando fatos desagradáveis que tantos preferem não tocar são trazidos à baila sem maiores senões ou poréns.

Toda escola em todo lugar do mundo sempre se ocupou de educação social, havendo inclusive disciplinas e professores específicos para isto, como nos casos de higiene e saúde ou educação moral e cívica.

O que não dá prá engolir é professor de lingua portuguesa que diz estar formando cidadãos enquanto a maioria de seus alunos é analfabeto funcional e ele não faz nada a respeito. Tá cheio.


Não distorça. Se vc é professor de seja lá o que for, e vê que determinado aluno é muito agitado ou é muito aéreo, ou é todo assustado, ou sei lá o que mais, vc vai ao menos tentar levar isso em conta e ajudar na medida do possível, visando a educação do aluno, ou vc caga solenemente que alunos tem problemas e sai feito um robozinho tascando a sua matéria e que se dane se os professores anteriores não fizeram um bom trabalho?


Não estou distorcendo nada. Você que está fugindo ao ponto central que é o professor vagabundo que se esconde atrás da desculpa de "formar cidadão" para não prestar conta de seus resultados pífios e desviando o assunto para repetições do óbvio que eu próprio já havia citado.
Quanto ao cagar e andar para alunos com problemas, isto é por tua conta. Nada do que eu disse sequer se aproxima desta sugestão.


Agora eu vou ter minha ego-trip também: Quero saber onde foi que eu disse que o professor não tem que ensinar a sua matéria do currículo para os alunos!
De novo, o "formar cidadãos" envolve essa preocupação. Não é uma desculpa, vc tem que ver que o professor não pode ser uma ostra fechada na sua matéria. Se o aluno chegou até você com uma defasagem que não permita ele aprender o seu calendário, vc não pode ignorar isso. Mais uma vez, não sei qual é o problema.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: No seu exemplo, no que adianta vc, professor de matemática, tacar equações de 2º grau no quadro se os alunos não sabem nem reconhecer uma de 1º grau? Vai falhar na tarefa de ensinar matemática e da "vaga tarefa de formar cidadãos".


Uai?
E equação de primeiro grau não é matemática?


Se o aluno chega até vc sem esse conhecimento, vc ignora o fato e continua avançando no quadro negro ou tenta encontrar meios para ele aprender o que ficou para trás?


Se eu disse claramente que a função prioritária do professor de matemática é ensinar matemática, sua dúvida está respondida e é estranhíssimo que tal dúvida tenha surgido, dado a clareza com que tal foi dito.


Escorregadio... Acho que minha visão está bem clara também. Vc trabalha com o aluno como ele chega, e é possível vc recuperar a defasagem dele sim. Pq ele chegou até aqui assim podem ter vários motivos, desde professor ruim mesmo até inexistência de professor da matéria na série que ele passou.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Burro vc não parece ser pelo que escreve, só é sem foco no assunto.


Você deve se achar muito inteligente e focado, só que até agora não apresentou nenhum dado objetivo.
No link que citei há uma série de comentários meus sobre a evolução do sistema de ensino brasileiro desde os anos sessenta, uma análise detalhada da reforma do ensino em New York e um comparativo entre as realidades educacionais nova iorquina e de São Paulo, dentre outras.
Você não leu nada daquilo, mas dá palpites mal informados mesmo assim, já que meu foco está mais do que óbvio no que já escrevi e citei.

Se não basta, veja também meus comentários em Meritocracia nas escolas públicas de São Paulo

Se quiser, claro. Se não pode continuar dando palpites desinformados.


Vc deu uma pincelada histórica interessante e opinou sobre a origem da falência educacional, mas falha ao apontar que as faculdades de educação tem dito que a ideologia marxista é o mais importante e que devemos preparar os alunos para "seu papel histórico".

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas. Lembro-me dos anos em que se ouvia que a Suécia era um paraíso, mas os suicídios... e ninguém sabia porra nenhuma da Suécia.


Ah é, suícidios que dispararam em pouco mais de suas décadas não querem realmente indicar nada. Deve ser algo na água...


Acauan escreveu:Chato ter que explicar a um educador que existe diferença clara entre dizer "estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas"e dizer "suícidios que dispararam em pouco mais de suas décadas não querem realmente indicar nada", mas infelizmente preciso fazê-lo pelo jeito.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:No caso da Coréia o problema é a competição e não o sistema educacional. Os pais pressionam os filhos para que tenham notas máximas para que possam ter acesso às melhores universidades e aos melhores empregos.
É isto e não a pedagogia e didática do sistema coreano que exerce pressão psicológica sobre os alunos.[/color]


Um pouco de cada. A grande chance da maioria dos alunos (e de suas famílias) é o aluno passar para uma das universidades patrocinadas pelas fábricas Coreanas como a Samsung. O cara se mata de estudar para ser um gênio nas exatas e conseguir essa chance. Obviamente não há vaga para todos e não é todo mundo que consiguirá ser um destaque nesta área de conhecimento, por mais investimento que se ponha no indivíduo.
É lógico que é ótima que haja este interesses de empresas na formação de alunos e profissionais, mas esta não pode ser a única alternativa para a massa e nem a estrutura toda deve ser construída unicamente em torno disso.


Um pouco de cada coisa nenhuma. Não sei o que você estudou do sistema de ensino coreano, mas como ocorre na China e no Japão ele tem fortes vínculos com o Confucionismo e se pauta pela valorização da harmonia, minimização do conflito e o respeito a uma hierarquia fundamentada no mérito e sabedoria acumulados.
Não é o tipo de coisa que leve gente ao suicídio.

Já a competição independe do método de ensino, que é o ponto em discussão.
Os coreanos poderiam ter um sistema educacional idêntico ao brasileiro e mesmo assim pressionariam seus filhos a obter as melhores notas para garantir seu futuro e as pressões seriam as mesmas, com a diferença que a qualidade acadêmica seria um desastre.

Isto pode inclusive ser constatado no Brasil, nos vestibulares onde orientais sempre se destacam, mas sofrem menos estresse porque a maioria de seus concorrentes não são outros orientais supermotivados como ocorre lá.


Não, não estudei no sistema de ensino coreano, mas acho que enriqueceria muito o debate se vc colocasse suas experiências no ramo da educação e pedagogia no Brasil e no mundo.

Se após a implementação de um modelo de educação o índice de suicídios entre jovens dispara, é lógico vc pensar que os dois estão relacionados. Até aí vc acha bobagem? O problema lá é que foi criado uma porta onde poucos passam e há a enorme pressão, mencionada por nós dois, o que resultou nesses números. A análise crítica que eu falei, quem tem que fazer, são eles.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: hehehehe... Aí! A palavra "social"! Coisa de comunista! Palavra vermelha!
Vc não entendeu que dependendo de onde vc for dar aula, vc tem que considerar o aspecto social, sim? Há as mais variadas escolas, os mais variados alunos, as mais variadas comunidades e mais variadas famílias.


Puxa, quanta novidade. Quantos anos você levou para descobrir isto?


Ah, entendeu? Considerar o social que é dito na formação de professores, é isso, meu nobre. Não é colocar sua matéria de lado, é parar e analisar seu público.

Os exemplos que citei do que é dito de "preocupação social" foram bem claros, e nunca disse que os alunos devem vestir camisas do Che Guevara e caminhar com foices contra a "burguesia".
O que é dito é q vc tem q lidar com problemas diversos que o aluno trás. Se vc vê um aluno chegando visivelmente bêbado, vc não tem que pensar "ah, isso não tem nada a ver com matemática, que é minha matéria". Vc tem que tomar uma atitude diante daquilo. Acione diretoria, responsáveis (se estiverem interessados), SOE (se tiver), dá teu jeito diante da estrutura q vc tem. Se vc acha que isso é ideologia marxista, só lamento para vc.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Note que até agora levantamos e discutimos problemas e não soluções.


Nos links que citei há um monte de propostas de soluções testadas e bem sucedidas em outros países.


Em qual? No da "meritocracia..."? Vou dar uma olhada. Se for na "educação brasileira", avisa ae de novo que eu não vi nada demais.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:O problema inicia na educação infantil? De 0 a 6 anos? De 7 a 14 anos? O que ocorre exatamente? É algo que acontece na escola apenas? É reflexo também do que acontece do lado de fora, na rua e dentro das casas? O que é?

Essa de ficar falando que o problema é que as faculdades de educação são marxistas, não existe, até pq não é assim.


Claro que não. E todos os professores brasileiros são dedicados, os burocratas educacionais são eficientes e os pedagogos são gênios da raça.

O centro do problema da educação é SIM um coletivismo vicioso que atua em duas frentes, nos professores e burocratas, estabelecendo um corporativismo que os protege da avaliação individual e entre os alunos, tratando-os como categorias e não como indivíduos com diferentes aptidões e que apresentarão, necessariamente, diferentes resultados.

O resto é emocionalismo. É a rotina ouvir muito choro quando se expõe a realidade destes problemas.
[/quote]

Não falou lé com cré. Não sei nem pq quotou o meu parágrafo.

Vc disse "indivíduos com diferentes aptidões e que apresentarão, necessariamente, diferentes resultados", isso é o que é defendido e passado na formação do professor, seja teórica ou prática, e não a massificação e coletivismo de classes. Tá precisando se informar, cara.

Nesta questão, o que é profundamente criticado e lamentado é a falta de capacidade de na prática vc conseguir focar em cada aluno como indivíduo, que, mais um vez, é falta de infra-estrutura, falta de tempo, incentivo e interesseprofissional também.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Saindo um pouco da quotada...

Começou como uma discussão do que é a pedagogia hoje e o que acontece na escola. Falei o que vem das faculdades de educação e o que se vê na prática, inclusive critiquei atitude da massa de professores, dizendo que grande parte dos que atendem as escolas municipais e estaduais realmente não estão interessados e que isso não é conseqüência da formação que está no papel, é falta de valorização, atraindo pessoas não interessadas e desmotivadas, com apontou o Botânico.

A desvalorização da educação e da profissão é nítida. Ser professor não é bem visto. Se vc dizer que fez faculdade de educação, vão te olhar com pena e perguntar "poxa... pq? Isso nem dá dinheiro.". Tá num nível tal que nem o fato do professor público não poder ser despedido faz muita diferença, pois, se pudesse ser, a escola ficaria sem professor, já que falta em várias matérias, e a turma passaria de ano automaticamente na matéria, como vemos muito por aí.

As boas escolas públicas como os CAPs, Pedro II, politécnicas diversas têm professores que possuem, no papel, a mesma origem de formação diversificada e seguem a mesma LDB das escolas que fracassam em seus objetivos. Então qual a causa? Cadê a contaminação ideológica que alega ter sido colocada como objetivo principal na profissão e que destruiu a educação nesses colégios? Coloque exemplos mais práticos e não alegações soltas. Tenho certeza que tem pontos reais a criticar. Colar relatos e textos caricaturais, que existem das ideologias mais diversas, não quer dizer que eles representem as diretrizes passadas.

Nestas boas escolas públicas, há seleção de professores que querem entrar na instituição, o professor é cobrado, tem um bom planejamento, infra-estrutura, reconhecimento e salário decente.

Não adianta criticar que há a visão de que a escola participa na formação da sociedade. Isto é evidente. Vai acontecer e sempre aconteceu. Não adianta chorar, bater pézinho ou tacar cáca no enfermeiro.

Ficar criando espantalhos baseados numa visão maniqueísta capitalismo x socialismo não é nada produtivo. Me dá a impressão que quer que seja pregada a sua ideologia ou invés da dos outros, e não que não seja pregada ideologia nenhuma. Ideologias e discussões políticas tem seu lugar na escola? Eu acho que tem, na idade certa, dentro do currículo certo. Entendo que faz uma falta tremenda um currículo que explique aos alunos o funcionamento do sistema no que tange o que faz um vereador, deputado estadual e federal, senadores, governadores, as leis como funcionam, como funcionam os tribunais, etc.

Ser o professor legal, que tem autoridade e respeito dos alunos sem precisar levantar o tom de voz, conseguindo manter a ordem deixando os alunos manifestarem seus interesses e conseguir passar todo o conteúdo dessa forma, cativando os educandos, mostrando o pq da escola ser importante, é o que todo profissional gostaria. Pelo menos eu acho. Mas não tenha dúvida que na formação de professor é discutida várias formas e modelos e que vc, se vc achar necessário, pode passar das técnicas de Piaget para as de Pinochet . Não tenha dúvidas.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Mucuna,

ninguem disse que professores devem ignorar os problemas pessoais ou sociais de seus alunos.

Ele pode tentar orientar os alunos que bebem, fumam, brigam, apanham ou engravidam. Mas fora da sala de aula, de preferencia em particular. Se esses alunos causarem problemos durante as aulas, eles devem ser retirados por estarem atrapalhando os demais.

O que ele nao pode e usar essa desculpa para nao dar os conteudos que ele tem obrigacao de dar, e ainda se sentir especial por se comover com os problemas das outras pessoas, onde "se comover" e apenas um sinonimo para nao trabalhar.

"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Aranha »

user f.k.a. Cabeção escreveu:Mucuna,

ninguem disse que professores devem ignorar os problemas pessoais ou sociais de seus alunos.

Ele pode tentar orientar os alunos que bebem, fumam, brigam, apanham ou engravidam. Mas fora da sala de aula, de preferencia em particular. Se esses alunos causarem problemos durante as aulas, eles devem ser retirados por estarem atrapalhando os demais.

O que ele nao pode e usar essa desculpa para nao dar os conteudos que ele tem obrigacao de dar, e ainda se sentir especial por se comover com os problemas das outras pessoas, onde "se comover" e apenas um sinonimo para nao trabalhar.



- É por aí...

- Professores dizem q a escola pública é ruim porque os alunos são relapsos, pais não participam, a direção é politizada e por aí vai, mas independente disto tudo eles tem q ensinar e não usar esses problemas para mascarar sua incompetência.

Abraços,
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Johnny »

As escolas particulares hoje também estão muito ruins. Quanto eu estudava em escola particular, metade do salário de meu pai ia para a escola. Hoje a mensalidade da mesma escola gira em torno de 600 reais, cerca de um quinto do que seria antigamente. Se ainda por cima, for considerar as escolas pós FHC, a coisa dica ainda pior.
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Acauan
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu: E quando vc ou qualquer um defende "como antigamente", as práticas que eu citei estão englobadas. Não que este modelo não tivesse a parcela de sucesso no cenário que foi aplicado...


Não defendi nenhum "como antigamente" genérico, dado que fui suficientemente específico. O que você englobou por tua conta é por tua conta.

Mucuna escreveu: Falei inúmeras vezes que há vários problemas a serem resolvidos.


Não há "varios problemas a serem resolvidos". Há a falência do sistema, com resultados desastrosos que colocam o ensino brasileiro como um dos piores do mundo, como comprovado nos comparativos internacionais.

Mucuna escreveu: Discordo da sua visão de que a causa disso é que a faculdade de educação forma um professor que tem que passar ideologia marxista ao invés de ensinar. Isto não acontece.


Não disse em lugar nenhum que "o professor TEM que passar ideologia marxista ao invés de ensinar". Sei lá se você não me lê, lê e não me entende ou lê apenas para referendar opiniões que já tinha antes da leitura.


Mucuna escreveu: Foi um modelo que deu muito certo em outros países. Fato.


Cites estes países. Aplicações de massa, não experimentos localizados.

Mucuna escreveu: Foi um modelo que não foi aplicado no Brasil, só fingiu-se que se aplicou. Fato. Fracassou pq não foi feito seriamente. Fato. Eu expliquei por alto como é o modelo que deu certo e o frankstein que resolveram aplicar no Brasil. Não sei pq isso é visto como desculpa. Nem falta de ataque aos professores eu deixei de fazer, se é disso q vc tem sede, então não entendi qual o problema.


Você fala como se os responsáveis pelo planejamento e implantação do modelo fosse gente de fora do sistema de ensino, quando na verdade tudo isto do que reclama foi planejado e executado justamente pelos burocratas educacionais de quem tenho falado.
Vá entender, você parece reconhecer que todo o processo foi um festival de amadorismo, mas parece se recusar a aceitar que foram profissionais da educação que fizeram a besteira.


Mucuna escreveu: Agora eu vou ter minha ego-trip também: Quero saber onde foi que eu disse que o professor não tem que ensinar a sua matéria do currículo para os alunos!


Não te inculquei esta frase.

Mucuna escreveu: De novo, o "formar cidadãos" envolve essa preocupação. Não é uma desculpa, vc tem que ver que o professor não pode ser uma ostra fechada na sua matéria. Se o aluno chegou até você com uma defasagem que não permita ele aprender o seu calendário, vc não pode ignorar isso. Mais uma vez, não sei qual é o problema.


O problema é que eu pareço estar escrevendo em Tupi Antigo.
Sei lá quantas vezes já repeti que a função do professor é ensinar e você sempre retorna esta pergunta, como se eu tivesse sugerido o contrário.

E fui muito claro que o tal "formar cidadão" foi usado no sentido do professor que não cumpre os conteúdos (atuais ou passados) e usa isto como desculpa, já que é um objetivo vago, que não propicia meios de cobrança individual.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Se eu disse claramente que a função prioritária do professor de matemática é ensinar matemática, sua dúvida está respondida e é estranhíssimo que tal dúvida tenha surgido, dado a clareza com que tal foi dito.


Escorregadio... Acho que minha visão está bem clara também. Vc trabalha com o aluno como ele chega, e é possível vc recuperar a defasagem dele sim. Pq ele chegou até aqui assim podem ter vários motivos, desde professor ruim mesmo até inexistência de professor da matéria na série que ele passou.


Escorregadio coisa nenhuma. Tenho repetido isto exaustivamente. Agora nada muda o fato do erro sistêmico de se promover para as séries seguintes alunos que não aprenderam os pré-requisitos indispensáveis .

Mucuna escreveu: Vc deu uma pincelada histórica interessante e opinou sobre a origem da falência educacional, mas falha ao apontar que as faculdades de educação tem dito que a ideologia marxista é o mais importante e que devemos preparar os alunos para "seu papel histórico".


Você fala como se fosse eu quem tivesse inventado estas teorias, quando na verdade elas são assunto de debate há décadas.
E basta ler gente como Paulo Freire ou Florestan Fernandes que a ideologia do "papel histórico" tá lá clara e explícita na tal pedagogia do oprimido, dentre outros exemplos possíveis. Não tô inventando nada, apenas citando.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Um pouco de cada coisa nenhuma. Não sei o que você estudou do sistema de ensino coreano, mas como ocorre na China e no Japão ele tem fortes vínculos com o Confucionismo e se pauta pela valorização da harmonia, minimização do conflito e o respeito a uma hierarquia fundamentada no mérito e sabedoria acumulados.
Não é o tipo de coisa que leve gente ao suicídio.

Já a competição independe do método de ensino, que é o ponto em discussão.
Os coreanos poderiam ter um sistema educacional idêntico ao brasileiro e mesmo assim pressionariam seus filhos a obter as melhores notas para garantir seu futuro e as pressões seriam as mesmas, com a diferença que a qualidade acadêmica seria um desastre.

Isto pode inclusive ser constatado no Brasil, nos vestibulares onde orientais sempre se destacam, mas sofrem menos estresse porque a maioria de seus concorrentes não são outros orientais supermotivados como ocorre lá.


Não, não estudei no sistema de ensino coreano,


Não foi perguntado se você estudou NO sistema educacional coreano e sim se estudou O sistema educacional coreano.

Mucuna escreveu: ...mas acho que enriqueceria muito o debate se vc colocasse suas experiências no ramo da educação e pedagogia no Brasil e no mundo.



Mucuna escreveu: Se após a implementação de um modelo de educação o índice de suicídios entre jovens dispara, é lógico vc pensar que os dois estão relacionados. Até aí vc acha bobagem?


Uma tremenda bobagem.
Desde quando o fato de um evento seguir cronologicamente outro indica relações de causa e efeito?
A Coréia do Sul passou por uma das transformações sócio-econômicas e culturais mais dinâmicas da segunda metade do século XX, passando de país pobre, ocupado e humilhado pelos japoneses a uma das nações mais avançadas tecnologicamente no curto espaço histórico de quarenta anos. Imagine todas as potenciais causas identificáveis neste turbilhão de mudanças e você se limita a apontar o sistema de ensino e sem mais infligir-lhe o papel de causa trágica.


Mucuna escreveu: O problema lá é que foi criado uma porta onde poucos passam e há a enorme pressão, mencionada por nós dois, o que resultou nesses números. A análise crítica que eu falei, quem tem que fazer, são eles.


Estas questões são complexas. São discutidas também no Japão onde especialistas apontam a dificuldade das novas gerações em conciliar valores tradicionais da cultura oriental com o materialismo e consumismo das sociedades tecnológicas modernas.

Mucuna escreveu: Ah, entendeu? Considerar o social que é dito na formação de professores, é isso, meu nobre. Não é colocar sua matéria de lado, é parar e analisar seu público.


Parar e analisar seu público é o feijão com arroz de qualquer professor minimamente competente, embora tantos não o façam.
Se o professor está dando aula, então está dando aula, não está fazendo social porra nenhuma, apenas fazendo seu trabalho, fim.
Se até agora não entendeu o significado ideológico de "social" no contexto discutido, paciência.


Mucuna escreveu: Os exemplos que citei do que é dito de "preocupação social" foram bem claros, e nunca disse que os alunos devem vestir camisas do Che Guevara e caminhar com foices contra a "burguesia".
O que é dito é q vc tem q lidar com problemas diversos que o aluno trás. Se vc vê um aluno chegando visivelmente bêbado, vc não tem que pensar "ah, isso não tem nada a ver com matemática, que é minha matéria". Vc tem que tomar uma atitude diante daquilo. Acione diretoria, responsáveis (se estiverem interessados), SOE (se tiver), dá teu jeito diante da estrutura q vc tem. Se vc acha que isso é ideologia marxista, só lamento para vc.


Realmente não sei de onde tira estas correlações do parágrafo acima com qualquer coisa que eu tenha escrito. Eu lá falei alguma vez que professor não deve tomar atitude diante de um aluno bêbado ou que isto seja coisa de comunista? Oras bolas, tá cansando isto.

Mucuna escreveu: Em qual? No da "meritocracia..."? Vou dar uma olhada. Se for na "educação brasileira", avisa ae de novo que eu não vi nada demais.


E de fato não tem nada de mais. Apenas o óbvio que especialistas levantaram e eu citei.

Mucuna escreveu: Não falou lé com cré. Não sei nem pq quotou o meu parágrafo.

Vc disse "indivíduos com diferentes aptidões e que apresentarão, necessariamente, diferentes resultados", isso é o que é defendido e passado na formação do professor, seja teórica ou prática, e não a massificação e coletivismo de classes. Tá precisando se informar, cara.


E você decidiu que eu preciso me informar com base na sua interpretação de uma única frase minha.
Pois é...


Mucuna escreveu: Nesta questão, o que é profundamente criticado e lamentado é a falta de capacidade de na prática vc conseguir focar em cada aluno como indivíduo, que, mais um vez, é falta de infra-estrutura, falta de tempo, incentivo e interesseprofissional também.


Estas dificuldades são inerentes ao ensino de massa, mas não justificam os resultados desastrosos.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

user f.k.a. Cabeção escreveu:Mucuna,

ninguem disse que professores devem ignorar os problemas pessoais ou sociais de seus alunos.


Eu imagino que não. A "preocupação social" que é passada na formação é nesses termos e não algo descaradamente ideológico como alguns citaram. Implicitamente ideológico, encontramos alguns professores na faculdade, mas raramente são caricaturas e encontramos de ideologias diferentes. É um direito dele defender o que ele acredita, mas não é um direito ser desonesto.
A "preocupação com o social" é preparar o novato que ele encontrará realidades bem plurais. Até aí acho que ninguém discorda nem vê isso com maus olhos.

user f.k.a. Cabeção escreveu:Ele pode tentar orientar os alunos que bebem, fumam, brigam, apanham ou engravidam. Mas fora da sala de aula, de preferencia em particular. Se esses alunos causarem problemos durante as aulas, eles devem ser retirados por estarem atrapalhando os demais.


Sim. Eu não disse que não. Há várias formas de vc lidar com isso. Se há questões (delicadas ou não) que os alunos trazem para a escola e manifestam na sua aula, vc pode lidar com isso e até procurar aproximar o tema da sua matéria. Não que vc consiga fazer isso sempre, mas se conseguir, ótimo. Isso não quer dizer q vc vai fazer o papel de amigo conselheiro durante seu horário de trabalho, mas quem nunca teve aula que aconteceu do professor desviar um pouquinho ou fazer uma pausa para tratar de algo que veio a tona. É natural e saudável, é só ter em mente, para não se perder, o verdadeiro objetivo de vc estar ali.

Se eles trazem problemas e são zoneiros, vc tem que dar o jeito de domar o sujeito. Note que muitas vezes uma turma é zoneira com um professor e quieta e mais dedicada com outro.
Se precisar expulsar de sala (não é o q vc vai fazer de cara), eu pelo menos vejo q vc pode sentar na mesa com os alunos em questão e perguntar qual é o problema. Para começar algo bem "sutil" como "O problema é comigo? Se for comigo, a gente resolve agora.". Geralmente não é. Não sei quem foi que disse que vc conversar com o aluno e deixa-lo falar é vc mima-lo. Fale sério com ele. Se conseguir chegar ao ponto q vc quer de uma maneira menos radical, melhor.

O objetivo é fazer o aluno aprender, vc tem q dar seu jeito. Se ele te mostrar que não é isso que ele quer, vc dá uma de carrasco, fazer oq. Pede a transferência dele para outra unidade, de repente. Só vendo a realidade específica do local para tentar ver qual a melhor forma de agir.

user f.k.a. Cabeção escreveu:O que ele nao pode e usar essa desculpa para nao dar os conteudos que ele tem obrigacao de dar, e ainda se sentir especial por se comover com os problemas das outras pessoas, onde "se comover" e apenas um sinonimo para nao trabalhar.


Em nenhum momento falei que isso é desculpa para não cumprir seu objetivo e isso muito nunca foi passado na formação de professores. Quanto ao "se comover", te digo que vc se comove sim, algumas situações te incomodam e te deixam mal, mas geralmente os professores que não tão afim de trabalhar direito não se comovem.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: E quando vc ou qualquer um defende "como antigamente", as práticas que eu citei estão englobadas. Não que este modelo não tivesse a parcela de sucesso no cenário que foi aplicado...


Não defendi nenhum "como antigamente" genérico, dado que fui suficientemente específico. O que você englobou por tua conta é por tua conta.

Mucuna escreveu: Falei inúmeras vezes que há vários problemas a serem resolvidos.


Não há "varios problemas a serem resolvidos". Há a falência do sistema, com resultados desastrosos que colocam o ensino brasileiro como um dos piores do mundo, como comprovado nos comparativos internacionais.


Sim, o que discutimos (de forma "hormonal", admitamos), são as causas disso. Basicamente criticou o modelo em si e eu entendo que o modelo não é o X da questão.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Discordo da sua visão de que a causa disso é que a faculdade de educação forma um professor que tem que passar ideologia marxista ao invés de ensinar. Isto não acontece.


Não disse em lugar nenhum que "o professor TEM que passar ideologia marxista ao invés de ensinar". Sei lá se você não me lê, lê e não me entende ou lê apenas para referendar opiniões que já tinha antes da leitura.


Leia de novo. Eu não disse que vc defendeu que o professor tenha que passar tal ideologia, eu disse que vc apontou que isto foi algo que ocorreu.
Vc não linkou um tópico onde afirmou que a faculdade de educação passou a formar professores que entendiam que tinham que preparar as massas para o confronto de classes?

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Não falou lé com cré. Não sei nem pq quotou o meu parágrafo.

Vc disse "indivíduos com diferentes aptidões e que apresentarão, necessariamente, diferentes resultados", isso é o que é defendido e passado na formação do professor, seja teórica ou prática, e não a massificação e coletivismo de classes. Tá precisando se informar, cara.


E você decidiu que eu preciso me informar com base na sua interpretação de uma única frase minha.
Pois é...


Não foi só por essa frase.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Foi um modelo que deu muito certo em outros países. Fato.


Cites estes países. Aplicações de massa, não experimentos localizados.


Noruega, Suécia, Japão e nossa citada Coréia, que configuram no topo do ranking, aplicam o modelo de ciclos. Inclusive, não sei se todos, mas alguns destes também não repetem alunos nos primeiros anos, no ensino fundamental.

Quanto a crítica que fiz ao sistema da Coreia do Sul, não é a qualidade em si, mas ao ambiente extremamente competitivo e estreito que é para entrar numa universidade de exatas que é enormemente incentivada pela industria.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Foi um modelo que não foi aplicado no Brasil, só fingiu-se que se aplicou. Fato. Fracassou pq não foi feito seriamente. Fato. Eu expliquei por alto como é o modelo que deu certo e o frankstein que resolveram aplicar no Brasil. Não sei pq isso é visto como desculpa. Nem falta de ataque aos professores eu deixei de fazer, se é disso q vc tem sede, então não entendi qual o problema.


Você fala como se os responsáveis pelo planejamento e implantação do modelo fosse gente de fora do sistema de ensino, quando na verdade tudo isto do que reclama foi planejado e executado justamente pelos burocratas educacionais de quem tenho falado.
Vá entender, você parece reconhecer que todo o processo foi um festival de amadorismo, mas parece se recusar a aceitar que foram profissionais da educação que fizeram a besteira.


Isto é devido a formação do sujeito em si ou algo inerente a gestão pública no Brasil?

Eu não diria que todos que ocupam um cargo público representativo são pobres tecnicamente.

Um exemplo prático quando ao sistema de ciclos: Quando ele foi aplicado em São Paulo, a então secretária de educação admitiu que simplesmente foi dada uma ordem "agora é por ciclos!" sem se reunir com diretores e professores. Ela disse que se o fizesse, o magistério iria recusar dizendo que não seria possível fazer isso da noite para o dia, sem preparo e até capacitação profissional. Coisas de Brasil.

Agora me diga a influência da faculdade de educação numa atitude dessa, com esse "planejamento" todo.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: De novo, o "formar cidadãos" envolve essa preocupação. Não é uma desculpa, vc tem que ver que o professor não pode ser uma ostra fechada na sua matéria. Se o aluno chegou até você com uma defasagem que não permita ele aprender o seu calendário, vc não pode ignorar isso. Mais uma vez, não sei qual é o problema.


O problema é que eu pareço estar escrevendo em Tupi Antigo.
Sei lá quantas vezes já repeti que a função do professor é ensinar e você sempre retorna esta pergunta, como se eu tivesse sugerido o contrário.

E fui muito claro que o tal "formar cidadão" foi usado no sentido do professor que não cumpre os conteúdos (atuais ou passados) e usa isto como desculpa, já que é um objetivo vago, que não propicia meios de cobrança individual.


O cara que não quer trabalhar direito também não está preocupado em "formar cidadãos", seja lá com que conotação for.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Se eu disse claramente que a função prioritária do professor de matemática é ensinar matemática, sua dúvida está respondida e é estranhíssimo que tal dúvida tenha surgido, dado a clareza com que tal foi dito.


Escorregadio... Acho que minha visão está bem clara também. Vc trabalha com o aluno como ele chega, e é possível vc recuperar a defasagem dele sim. Pq ele chegou até aqui assim podem ter vários motivos, desde professor ruim mesmo até inexistência de professor da matéria na série que ele passou.


Escorregadio coisa nenhuma. Tenho repetido isto exaustivamente. Agora nada muda o fato do erro sistêmico de se promover para as séries seguintes alunos que não aprenderam os pré-requisitos indispensáveis .


Pq criaram um frankstein do modelo de seriação com o de ciclos. Como coloquei acima, há países que não repetem o aluno anualmente e mesmo assim estão no topo do ranking. A escola tem, por exemplo, 4 anos para ensinar determinado conteúdo aos alunos, respeitando o ritmo e tipo de raciocínio de cada um.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Vc deu uma pincelada histórica interessante e opinou sobre a origem da falência educacional, mas falha ao apontar que as faculdades de educação tem dito que a ideologia marxista é o mais importante e que devemos preparar os alunos para "seu papel histórico".


Você fala como se fosse eu quem tivesse inventado estas teorias, quando na verdade elas são assunto de debate há décadas.
E basta ler gente como Paulo Freire ou Florestan Fernandes que a ideologia do "papel histórico" tá lá clara e explícita na tal pedagogia do oprimido, dentre outros exemplos possíveis. Não tô inventando nada, apenas citando.


Sim, Paulo Freire era marxista, mas isto não quer dizer que a faculdade de educação é construída em torno do marxismo. Seus críticos estão lá presentes também. De qualquer forma, Paulo Freire se concentrou na educação de jovens e adultos e na alfabetização de adultos.

Ele defendeu o que já se sabia há tempos mas não se menciona: a educação é uma forma de passar o conhecimento e valores que a sociedade considera fundamental para sua manutenção, inclusive para manutenção de estruturas de poder/hierárquicas. Isto é bem claro e não é algo novo, apenas velado. Tendo ele a ideologia que tinha, não é de se espantar várias colocações.

Ele influenciou a educação de vários países e foi pipocado daqui em 1964 mesmo. Ele tem valor. E reconhecer valor é diferente de culto a personalidade.

Se vc critica o modelo, que não foi ele que lançou, de que o professor tem que procurar entender o aluno e realizar um trabalho em conjunto com ele, saiba que este modelo é aplicado por países no topo do ranking. Neste modelo, o progressista, o professor tem que ser preparado para entender o aluno e dialogar com ele. Dialogar não é bater boca, é deixar também ele conversar sobre o conhecimento que vc está passando. É bom até para ver as dúvidas e se o entendimento dele está correto. Não é raro o aluno vir com uma dúvida interessante, que puxa mais a matéria.

Quanto a história pedagógica do Brasil dos anos 60 para cá, não saímos de 1960 e poucos, com apenas parcela da população educada, para o modelo mais progressista de uma orelhada só.

De meados dos anos 60 até meados dos anos 80, prevaleceu a prática pedagógica tecnicista. O professor era um técnico e o aluno o objeto de instrução. Eram feitos materiais sem analise critica nenhuma dos alunos, era tudo preparado e padronizado por um corpo técnico. Era um modelo de gestão empresarial da época aplicado à escola.

Ensino a distância ganhou notoriedade aí. Não é escola, mas aqueles anuncios que tinham nas revistas em quadrinhos da Disney em que era uma historinha de um quadrinho mostrando como o cara montou um rádio represantam bem este modelo. Era anuncio de uma instituição de cursos técnicos a distância, não sei se vc lembra ou chegou a ver isso.

Não é lá muito eficiente se comparado com outros modelos usados hoje, mas há quem ainda o utilize com algum sucesso.

Só para ilustrar que a transição passou por outros modelos e idéias, inclusive mais "empresariais".

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Um pouco de cada coisa nenhuma. Não sei o que você estudou do sistema de ensino coreano, mas como ocorre na China e no Japão ele tem fortes vínculos com o Confucionismo e se pauta pela valorização da harmonia, minimização do conflito e o respeito a uma hierarquia fundamentada no mérito e sabedoria acumulados.
Não é o tipo de coisa que leve gente ao suicídio.

Já a competição independe do método de ensino, que é o ponto em discussão.
Os coreanos poderiam ter um sistema educacional idêntico ao brasileiro e mesmo assim pressionariam seus filhos a obter as melhores notas para garantir seu futuro e as pressões seriam as mesmas, com a diferença que a qualidade acadêmica seria um desastre.

Isto pode inclusive ser constatado no Brasil, nos vestibulares onde orientais sempre se destacam, mas sofrem menos estresse porque a maioria de seus concorrentes não são outros orientais supermotivados como ocorre lá.


Não, não estudei no sistema de ensino coreano,


Não foi perguntado se você estudou NO sistema educacional coreano e sim se estudou O sistema educacional coreano.


É verdade. Falha minha. Achei que era uma zoação com a minha cara, que julguei babaquinha demais até mesmo para você (brincadeira :emoticon12:)


Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Se após a implementação de um modelo de educação o índice de suicídios entre jovens dispara, é lógico vc pensar que os dois estão relacionados. Até aí vc acha bobagem?


Uma tremenda bobagem.
Desde quando o fato de um evento seguir cronologicamente outro indica relações de causa e efeito?
A Coréia do Sul passou por uma das transformações sócio-econômicas e culturais mais dinâmicas da segunda metade do século XX, passando de país pobre, ocupado e humilhado pelos japoneses a uma das nações mais avançadas tecnologicamente no curto espaço histórico de quarenta anos. Imagine todas as potenciais causas identificáveis neste turbilhão de mudanças e você se limita a apontar o sistema de ensino e sem mais infligir-lhe o papel de causa trágica.


Não sei pq não quis considerar nem a hipótese. O fato é que já li pesquisas feitas com professores daquele país e eles afirmam que algo entre 40% ou 50% (não lembro o número exato) dos alunos deles revelaram que já pensaram em se matar devido a pressão nos estudos. Dos alunos não é aceitado uma nota 9,5. Essa nota é o suficiente para ele se debulhar em lagrimas e o número de suicídios de alunos aumentou com a pressão maior na educação, onde a falha não é tolerada.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: O problema lá é que foi criado uma porta onde poucos passam e há a enorme pressão, mencionada por nós dois, o que resultou nesses números. A análise crítica que eu falei, quem tem que fazer, são eles.


Estas questões são complexas. São discutidas também no Japão onde especialistas apontam a dificuldade das novas gerações em conciliar valores tradicionais da cultura oriental com o materialismo e consumismo das sociedades tecnológicas modernas.


Sim, sem dúvida questões culturais são fundamentais para entender o "fenômeno". Mas no caso da Coreia do Sul, fizeram essa correlação com o sistema de ensino e depressão/suicídio de alunos. Observação de campo. Não tô chutando.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Ah, entendeu? Considerar o social que é dito na formação de professores, é isso, meu nobre. Não é colocar sua matéria de lado, é parar e analisar seu público.


Parar e analisar seu público é o feijão com arroz de qualquer professor minimamente competente, embora tantos não o façam.
Se o professor está dando aula, então está dando aula, não está fazendo social porra nenhuma, apenas fazendo seu trabalho, fim.
Se até agora não entendeu o significado ideológico de "social" no contexto discutido, paciência.


"Fazendo social" é ótimo. Parte desta análise é ouvir o aluno e ver o que ele traz de fora. Ah, mas ouvir não pode, ouvir o aluno destruiu nossa educação. Foi o que destruiu a autoridade do professor. Não sei pq isso não aconteceu em outros lugares que fazem o mesmo.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Os exemplos que citei do que é dito de "preocupação social" foram bem claros, e nunca disse que os alunos devem vestir camisas do Che Guevara e caminhar com foices contra a "burguesia".
O que é dito é q vc tem q lidar com problemas diversos que o aluno trás. Se vc vê um aluno chegando visivelmente bêbado, vc não tem que pensar "ah, isso não tem nada a ver com matemática, que é minha matéria". Vc tem que tomar uma atitude diante daquilo. Acione diretoria, responsáveis (se estiverem interessados), SOE (se tiver), dá teu jeito diante da estrutura q vc tem. Se vc acha que isso é ideologia marxista, só lamento para vc.


Realmente não sei de onde tira estas correlações do parágrafo acima com qualquer coisa que eu tenha escrito. Eu lá falei alguma vez que professor não deve tomar atitude diante de um aluno bêbado ou que isto seja coisa de comunista? Oras bolas, tá cansando isto.


Quando eu disse que na formação do professor é passada que deve existir uma preocupação com a formação social (que não é incutir doutrina na cabeça dele), vc disse q isto é "desculpa de vagabundo".

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Nesta questão, o que é profundamente criticado e lamentado é a falta de capacidade de na prática vc conseguir focar em cada aluno como indivíduo, que, mais um vez, é falta de infra-estrutura, falta de tempo, incentivo e interesseprofissional também.


Estas dificuldades são inerentes ao ensino de massa, mas não justificam os resultados desastrosos.


Não, não justifica. O que "justifica" isso, ao meu ver, é mais um problema de gestão, algo observado no Brasil de forma geral. E administração/gestão pública também não é motivo para ser incompetente. No já citado Japão, praticamente todas as escolas são públicas e eles estão no topo do ranking da educação.


Bão, só não me explicou se o modelo e a formação dada aos professores nas faculdades de educação são tão ruins, pq há ótimas escolas públicas como (mais uma vez) os CAPs pelo Brasil, Pedro II e escolas politécnicas.

Estas tem professores com essa formação e seguem a mesma LDB das que fracassaram.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu: Leia de novo. Eu não disse que vc defendeu que o professor tenha que passar tal ideologia, eu disse que vc apontou que isto foi algo que ocorreu. Vc não linkou um tópico onde afirmou que a faculdade de educação passou a formar professores que entendiam que tinham que preparar as massas para o confronto de classes?


Minhas posições a respeito ficam mais claras neste link, principalmente na discussão com Clara Campos, onde me explico melhor sobre como o discurso ideológico se manifesta na sala de aula, o que não é necessariamente com proselitismo político explícito.

Ideologia Liberal.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Cites estes países. Aplicações de massa, não experimentos localizados.


Noruega, Suécia, Japão e nossa citada Coréia, que configuram no topo do ranking, aplicam o modelo de ciclos. Inclusive, não sei se todos, mas alguns destes também não repetem alunos nos primeiros anos, no ensino fundamental.


Esta é uma meia verdade muito repetida, principalmente por conta de um estudo feito em 2007 por Sergei Soares, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que desde então é usado como bandeira em defesa do sistema de ciclos.

O problema é que Soares se limitou a comparar os resultados do Trends in International Mathematics and Sciency Study e do Progress in International Reading Literacy Study, concluindo daí que países com melhores posições no rancking educacional adotam o sistema de ciclos.

O estudo não tece um comparativo mais detalhado entre os modelos dos países citados e o brasileiro. Se tecesse, ficaria óbvio que nada há de comum entre eles, particularmente com os modelos orientais, onde a diferença básica é que no Japão e Coréia a repetência escolar não é um problema educacional a ser eliminado, mas uma exceção administrativa a ser alocada, o que é muito diferente.

Há um que de engodo – na minha opinião, que fique claro – nisto de omitir o fato de que o sistema brasileiro foi projetado com o objetivo de diminuir a repetência e evasão escolar, enquanto o japonês e coreano são sistemas que operam na INEXISTÊNCIA prática da repetição escolar,pelas próprias características intrínsecas do sistema e da cultura local.

Em suma, o sistema brasileiro falhou por ter sido de cima a baixo uma tentativa de eliminar a repetência e evasão escolar por decreto, o que nem de longe se assemelha aos modelos citados.


Mucuna escreveu: Quanto a crítica que fiz ao sistema da Coreia do Sul, não é a qualidade em si, mas ao ambiente extremamente competitivo e estreito que é para entrar numa universidade de exatas que é enormemente incentivada pela industria.


Isto é uma realidade estrutural, vigente em praticamente todos os países do mundo nos quais as vagas para as universidades de elite são sempre em número menor que o de candidatos. O problema com os coreanos é como reagem culturalmente a tal realidade.

E não é de todo correto dizer que as faculdades de exata sejam o top por lá, uma vez que naquelas bandas ser professor granjeia muito mais status que ser engenheiro.


Mucuna escreveu: Isto é devido a formação do sujeito em si ou algo inerente a gestão pública no Brasil?


Ambos.

Mucuna escreveu: Eu não diria que todos que ocupam um cargo público representativo são pobres tecnicamente.


Nem eu. Todos, ninguém, tudo, nada, nunca, sempre são palavras perigosas.

Mucuna escreveu: Um exemplo prático quando ao sistema de ciclos: Quando ele foi aplicado em São Paulo, a então secretária de educação admitiu que simplesmente foi dada uma ordem "agora é por ciclos!" sem se reunir com diretores e professores. Ela disse que se o fizesse, o magistério iria recusar dizendo que não seria possível fazer isso da noite para o dia, sem preparo e até capacitação profissional. Coisas de Brasil.
Agora me diga a influência da faculdade de educação numa atitude dessa, com esse "planejamento" todo.


A influência se dá em que muitos pedagogos preferiram ver a vertente ideológica que defendiam ser implementada, mesmo que mal e porcamente, do que apoiar a alternativa por métodos conservadores.
Note que para as ideologias esquerdistas existe a crença no "progressismo", segundo a qual quando se põe em movimento as forças da mudança elas tendem a se assentar em um patamar melhor que o inicial, mesmo que o início seja desastroso. Bem, o desastre já vimos, já o assentamento...


Mucuna escreveu: O cara que não quer trabalhar direito também não está preocupado em "formar cidadãos", seja lá com que conotação for.


É óbvio que não está. O "formar cidadão", como repetido exaustivamente, é um objetivo vago atrás do qual se escondem os vagabundos para fugir da avaliação individual de resultados.

Mucuna escreveu: Pq criaram um frankstein do modelo de seriação com o de ciclos. Como coloquei acima, há países que não repetem o aluno anualmente e mesmo assim estão no topo do ranking. A escola tem, por exemplo, 4 anos para ensinar determinado conteúdo aos alunos, respeitando o ritmo e tipo de raciocínio de cada um.


Toda esta discussão sobre ciclos desvia o assunto do ponto central, que é a qualidade da aula que o aluno recebe. Pouco importa se ele repete todo ano ou de quatro em quatro se não aprende nada em uma regra ou na outra. O que ocorreu nos tais países do topo do rancking é que primeiro garantiram aulas de qualidade aos seus alunos e obtiveram quedas na repetência em função disto, sendo os ciclos uma questão periférica no modelo.


Mucuna escreveu: Sim, Paulo Freire era marxista, mas isto não quer dizer que a faculdade de educação é construída em torno do marxismo. Seus críticos estão lá presentes também. De qualquer forma, Paulo Freire se concentrou na educação de jovens e adultos e na alfabetização de adultos.
Ele defendeu o que já se sabia há tempos mas não se menciona: a educação é uma forma de passar o conhecimento e valores que a sociedade considera fundamental para sua manutenção, inclusive para manutenção de estruturas de poder/hierárquicas. Isto é bem claro e não é algo novo, apenas velado. Tendo ele a ideologia que tinha, não é de se espantar várias colocações.
Ele influenciou a educação de vários países e foi pipocado daqui em 1964 mesmo. Ele tem valor. E reconhecer valor é diferente de culto a personalidade.


Bem, como disse, chega de tratar a questão da contaminação ideológica das faculdades de pedagogia e filosofia como paranóia minha. Há registros de trinta anos de debates sobre o tema que falam por si.

E dizer que o sistema de educação visa manter estruturas hierárquicas de poder é pura patacoada marxista, uma vez que a escola sempre foi a escada para a mobilidade social dos elementos mais talentosos das classes baixas, desde os tempos da Idade Média.


Mucuna escreveu: Se vc critica o modelo, que não foi ele que lançou, de que o professor tem que procurar entender o aluno e realizar um trabalho em conjunto com ele, saiba que este modelo é aplicado por países no topo do ranking. Neste modelo, o progressista, o professor tem que ser preparado para entender o aluno e dialogar com ele. Dialogar não é bater boca, é deixar também ele conversar sobre o conhecimento que vc está passando. É bom até para ver as dúvidas e se o entendimento dele está correto. Não é raro o aluno vir com uma dúvida interessante, que puxa mais a matéria.


Do jeito que você fala parece que foram os modernistas que descobriram a pólvora de que professor pode debater e tirar dúvidas do aluno em um ambiente de discussão produtivo. Antes disto, pelo jeito, se algum estudante levantasse a mão para discutir algo levava um tiro na cara.

Mucuna escreveu: Quanto a história pedagógica do Brasil dos anos 60 para cá, não saímos de 1960 e poucos, com apenas parcela da população educada, para o modelo mais progressista de uma orelhada só.
De meados dos anos 60 até meados dos anos 80, prevaleceu a prática pedagógica tecnicista. O professor era um técnico e o aluno o objeto de instrução. Eram feitos materiais sem analise critica nenhuma dos alunos, era tudo preparado e padronizado por um corpo técnico. Era um modelo de gestão empresarial da época aplicado à escola.
Ensino a distância ganhou notoriedade aí. Não é escola, mas aqueles anuncios que tinham nas revistas em quadrinhos da Disney em que era uma historinha de um quadrinho mostrando como o cara montou um rádio represantam bem este modelo. Era anuncio de uma instituição de cursos técnicos a distância, não sei se vc lembra ou chegou a ver isso.
Não é lá muito eficiente se comparado com outros modelos usados hoje, mas há quem ainda o utilize com algum sucesso.
Só para ilustrar que a transição passou por outros modelos e idéias, inclusive mais "empresariais".


Não sei se leu na íntegra minha retrospectiva deste processo, mas inclui tudo isto e mais detalhes, naquilo que chamou de pincelada.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Uma tremenda bobagem.
Desde quando o fato de um evento seguir cronologicamente outro indica relações de causa e efeito? A Coréia do Sul passou por uma das transformações sócio-econômicas e culturais mais dinâmicas da segunda metade do século XX, passando de país pobre, ocupado e humilhado pelos japoneses a uma das nações mais avançadas tecnologicamente no curto espaço histórico de quarenta anos. Imagine todas as potenciais causas identificáveis neste turbilhão de mudanças e você se limita a apontar o sistema de ensino e sem mais infligir-lhe o papel de causa trágica.


Não sei pq não quis considerar nem a hipótese.


Quem disse que eu não quis considerar a hipótese? O fato de eu ter rejeitado o extremo de aceitá-la a priori não me joga no outro extremo, de rejeitá-la assim.

Mucuna escreveu: O fato é que já li pesquisas feitas com professores daquele país e eles afirmam que algo entre 40% ou 50% (não lembro o número exato) dos alunos deles revelaram que já pensaram em se matar devido a pressão nos estudos. Dos alunos não é aceitado uma nota 9,5. Essa nota é o suficiente para ele se debulhar em lagrimas e o número de suicídios de alunos aumentou com a pressão maior na educação, onde a falha não é tolerada.


Estes dados tem que ser analisados com cautela.
A escola é praticamente o universo social de crianças e adolescentes, onde desembocam todos os seus problemas de relacionamento típicos de cada idade.
No Japão, por exemplo, constatou-se que uma das principais causas do estresse infantil não era o estudo em si, nem mesmo a pressão dos pais, mas as práticas cruéis dos próprios colegas que com frequência isolavam os mais fracos ou considerados esquisitos por algum motivo e os submetiam a maus tratos e humilhações, naquilo que hoje é chamado bullying.


Mucuna escreveu: Sim, sem dúvida questões culturais são fundamentais para entender o "fenômeno". Mas no caso da Coreia do Sul, fizeram essa correlação com o sistema de ensino e depressão/suicídio de alunos. Observação de campo. Não tô chutando.


Mas muito provavelmente não foi mais a fundo no assunto, não comparou com a experiência japonesa e com as conclusões e medidas que tomaram por lá em situações análogas.

Mucuna escreveu: "Fazendo social" é ótimo. Parte desta análise é ouvir o aluno e ver o que ele traz de fora. Ah, mas ouvir não pode, ouvir o aluno destruiu nossa educação. Foi o que destruiu a autoridade do professor. Não sei pq isso não aconteceu em outros lugares que fazem o mesmo.


Porca miséria... Agora me imputam ter dito que ouvir o aluno destruiu a educação.
Vou pregar aos peixes como aquele tal padre que acho que ganho mais.


Mucuna escreveu: Quando eu disse que na formação do professor é passada que deve existir uma preocupação com a formação social (que não é incutir doutrina na cabeça dele), vc disse q isto é "desculpa de vagabundo".


Por que ao invés de me imputar palavras, não copia o trecho e aí veremos o que realmente eu disse.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Estas dificuldades são inerentes ao ensino de massa, mas não justificam os resultados desastrosos.


Não, não justifica. O que "justifica" isso, ao meu ver, é mais um problema de gestão, algo observado no Brasil de forma geral. E administração/gestão pública também não é motivo para ser incompetente. No já citado Japão, praticamente todas as escolas são públicas e eles estão no topo do ranking da educação.


Fale em gestão em escola pública brasileira e no minuto seguinte o sindicato dos professores estará convocando um piquete. Há um corporativismo arraigado na categoria que sabota toda tentativa de sanear o processo educacional.

Mucuna escreveu:Bão, só não me explicou se o modelo e a formação dada aos professores nas faculdades de educação são tão ruins, pq há ótimas escolas públicas como (mais uma vez) os CAPs pelo Brasil, Pedro II e escolas politécnicas. Estas tem professores com essa formação e seguem a mesma LDB das que fracassaram.


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Apo
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Mucuna escreveu:
Apo escreveu:Mucuna, não se pode aceitar retroceder na matéria para uma turma de 30 ou 40, quando 1, 2 ou 3 alunos apresentam atraso grave. É piorar a situação para 30 ou 40 e ainda deixar, possivelmente, um saldo devedor para a conta do professor do ano seguinte.
Tais casos devem ser discutidos com a direção e os responsáveis ( se houver...). Aula extra, exercícios fora de aula, reforço ou até deveria ser pensado em atrasar o aluno ( voltar para o ano anterior, sim! alguém cometeu o erro grave de passá-lo de ano sem saber a matéria). Talvez uma dependência de imersão nas férias ou aos sábados, enfim...

Precisamos ter o coração menos mole e ser menos laissez faire ou seremos cúmplices na desestruturação do que ainda resta.
O que não tem solução, solucionado está. Será?


Com certeza não. E quando é a grande maioria da turma com esse "probleminha"?
O que vc faz? Tem que retroceder, pois avançar na matéria ignorando este fato é embolar mais ainda o meio de campo.

Aula extra, exercícios fora de aula, reforço e etc, são recursos que a escola DEVE oferecer, pelo menos de acordo com a lei. Ela tem que oferecer meios para que os alunos que estiverem com defasagem de ensino tenham uma chance de se recuperem. Afinal, o objetivo maior é ensinar e não ficar punindo os "burros".

Atrasar o aluno de ano ou até adianta-lo é algo tbm previsto em lei, na LDB, e a escola deve proceder com esta análise.

Mas veja situações mais extremas, que temos aos baldes: O aluno desde o início da vida escolar não tem lá muito apoio para permanecer na escola, tirando o fato de que é um lugar para "tomar conta do filho chato" e "dar comida" para ele. A família é uma zona. Tem casos que o garoto não é nem criado mais por um parente. A mãe engravidou do pai dele, que sumiu no mundo. A mãe teve outros filhos com caras diferentes, casou com um deles e te abandonou na casa do que seria uma espécie de padrasto seu.
O moleque fica na rua o tempo todo pq em casa a coisa é extremamente hostil. Aí ele chega na escola, que não se faz entender, e encontra ambiente extremamente hostil também. Ele vai abandonar a escola.

Se ele abandonar novo assim a escola, na realidade que ele se encontra, o futuro dele praticamente está selado. Vc pode ter certeza que ele vai ser um pivete fumador de crack, aviãozinho ou soldado do tráfico, etc.

Se vc não tentar dar meios dele aprender alguma coisa na escola e desejar ficar lá, já que vc já pegou a cenário desse jeito, vc vai arrebentar com mais um indivíduo. Não que ele tenha muitas chances, mas é melhor do que nenhuma. Ah, isso não quer dizer que vc vai ser uma maria mole permissiva com o aluno, pois isso o atrapalhará tanto o aluno quanto o professor. Porém,respeito e autoridade não é conseguida na base da intimidação e ameaça apenas.

Isso não é um ou outro caso não. Tem vários assim. Há escolas, no Rio mesmo, que tem crianças dormindo, usando como casa.

Faz o q se pode, o que julga ser possível e mais acertado na hora, já que é quase tudo torto.

Tem professor que não concorda com isso, não tenha dúvida. Já vi discussões de diretor com um professor de história que iria repetir o garoto por um ponto. Tecnicamente, ele está certo em repetir. Só que o moleque já tinha repetido essa mesma série, em história também, dentre outras, e tinha se esforçado mais no ano em questão, tendo ficado só por um ponto em história.

O diretor argumentava que a família dele não estava nem aí e que o garoto tinha todo o jeito que ia abandonar a escola caso repetisse o mesmo ano de novo. E se abandonar a escola, já sabe...
O professor falou que o aluno não queria nada com nada, que era provado pela nova repetência na matéria dele, e que se fosse para ele abandonar, que abandonasse, que aquilo não era para ele mesmo.

Sei que ele repetiu o aluno, não adiantando argumentos do diretor. O garoto abandonou a escola e sei lá como se virou e o que resolveu fazer para preencher o "tempo livre".

Pelo que vi, muitos aqui concordam com a atitude do professor, mas eu entendo que vc está fazendo um mal maior ainda.

Agora, se vc estiver falando que numa turma de 40 num bom colégio, onde só 2 ou 3 alunos mais zoneiros, que ignoraram ou debocharam da chance q vc deu para uma recuperação deles, aí vc repete mesmo, fazer o q? Provavelmente os pais deles se importam com isso e irão apertar o moleque no próximo ano. Funciona muito bem, também, se trabalhado em conjunto.


Mucuna.
Respondi a este teu post com outro que me consumiu 1 hora. Mas o forum deslogou e a página expirou. :emoticon9:
Lamento, porque a discussão era promissora.

:emoticon8:
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Samael
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Samael »

Mucuna escreveu:Bão, só não me explicou se o modelo e a formação dada aos professores nas faculdades de educação são tão ruins, pq há ótimas escolas públicas como (mais uma vez) os CAPs pelo Brasil, Pedro II e escolas politécnicas. Estas tem professores com essa formação e seguem a mesma LDB das que fracassaram.


Em geral, devido aos alunos. São colégios especializados para alunos extremamente focados, que conseguem resultados excelentes independente de alguns maus elementos. Lembro-me muito bem de um professor de Teoria da História que tive (que dava aulas no CAP da UERJ antes se tornar docente da UNIRIO), que durante uma aula de história geral resumiu a Segunda Guerra Mundial em "briga irrelevante de potências burguesas imperialistas" e passou o resto da aula elogiando o PSTU. Isso segundo um calouro meu que estudou com ele tanto no CAP quanto na UNIRIO posteriormente. Eu também fui vítima do infeliz, quando na faculdade.

Inclusive, agradeceria se o dito cujo se dedicasse a entender (ou tentar lecionar, em algum momento) minimamente Teoria da História. Ou, ao menos, se esforçasse para acordar cedo e comparecer a cinquenta porcento das aulas.

Por sorte, Teoria da História é uma das minhas áreas de interesse e acabei estudando e dominando a disciplina sozinho. Entretanto, se você me perguntar qualquer coisa sobre História Antiga, eu vou te dar uma resposta estúpida e imprecisa. Por quê? Porque havia outro funcionário público vagabundo e faltoso que fingia que dava aula, nós fingíamos que acreditávamos e todos eram aprovados com notas altas em fins de período, assim como o primeiro. Mas eu não tenho muito interesse em Antiga, e aí, deu no que deu.

Não estou dizendo que todos os professores servidores públicos sejam vagabundos (todos tivemos ótimos professores também) ou que a insalubridade das condições de trabalho não os massacrem, mas é óbvio que ausência de punição efetiva para maus funcionários, ausência de prestação objetiva de contas quanto ao conteúdo assimilado e o corporativismo são chagas extremamente lesivas ao ensino.

Voltando ao seu post ainda, é SEMPRE bom salientar que apesar de serem considerados centros de excelência a nível de resultados, as instituições públicas (mesmo CAPs e Pedro II) estão MUITO aquém dos resultados dos colégios particulares tidos como melhores no país. Basta ver o ranking do ENEM, ou a proporção de aprovados nas universidades públicas (mesmo com o sistema de cotas). Mais uma vez, isso não é um elogio à pedagogia (ou ausência dela) nos cursinhos "forma de bolo" que pululam no país e engrossam o número de aprovados, mas apenas uma demonstração clara que essas instituições públicas podem melhorar e muito.

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Jack Torrance »

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Apo escreveu:Mucuna.
Respondi a este teu post com outro que me consumiu 1 hora. Mas o forum deslogou e a página expirou. :emoticon9:
Lamento, porque a discussão era promissora.

:emoticon8:


Sei como se sente. Já aconteceu comigo. É por isso que eu sempre dou um control C antes de apertar "enviar" ou escrevo no notepad.

Deve ter falado uns palavrões na frente do monitor. :emoticon4:
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Samael escreveu:
Mucuna escreveu:Bão, só não me explicou se o modelo e a formação dada aos professores nas faculdades de educação são tão ruins, pq há ótimas escolas públicas como (mais uma vez) os CAPs pelo Brasil, Pedro II e escolas politécnicas. Estas tem professores com essa formação e seguem a mesma LDB das que fracassaram.


Em geral, devido aos alunos. São colégios especializados para alunos extremamente focados, que conseguem resultados excelentes independente de alguns maus elementos.


Sim. Há os que estudam lá a vida inteira e os que entraram depois, fizeram prova para entrar, o que verifica seu preparo. No geral, o corpo docente é muito bom e dedicado na tarefa de ensinar.

Samael escreveu:Lembro-me muito bem de um professor de Teoria da História que tive (que dava aulas no CAP da UERJ antes se tornar docente da UNIRIO), que durante uma aula de história geral resumiu a Segunda Guerra Mundial em "briga irrelevante de potências burguesas imperialistas" e passou o resto da aula elogiando o PSTU. Isso segundo um calouro meu que estudou com ele tanto no CAP quanto na UNIRIO posteriormente. Eu também fui vítima do infeliz, quando na faculdade.

Inclusive, agradeceria se o dito cujo se dedicasse a entender (ou tentar lecionar, em algum momento) minimamente Teoria da História. Ou, ao menos, se esforçasse para acordar cedo e comparecer a cinquenta porcento das aulas.


Este sujeito é no mínimo um irresponsável.

Samael escreveu:Por sorte, Teoria da História é uma das minhas áreas de interesse e acabei estudando e dominando a disciplina sozinho. Entretanto, se você me perguntar qualquer coisa sobre História Antiga, eu vou te dar uma resposta estúpida e imprecisa. Por quê? Porque havia outro funcionário público vagabundo e faltoso que fingia que dava aula, nós fingíamos que acreditávamos e todos eram aprovados com notas altas em fins de período, assim como o primeiro. Mas eu não tenho muito interesse em Antiga, e aí, deu no que deu.


O pior, pelo q vc fala, é que isso aconteceu em matérias do próprio curso de História (certo?), antes mesmo de chegar a faculdade de educação. Já cria um ranço. A questão é que tem público para isso. Tem para qualquer coisa. Só que é para fazer isso em outro lugar que não numa instituição de ensino. E se for numa instituição de ensino, que não seja em horário de aula, no mínimo.

No curso de História, um irmão falou que encontrou tanto direitalhas quando esquerdinhas, além de seguidores de ideologias diversas, falando que o menos se encontra é gente ponderada, estando as caricaturas geralmente interessadas num futuro político e estão corretos nas acusações que fazem uns aos outros, ignorando o próprio rabo.

Samael escreveu:Não estou dizendo que todos os professores servidores públicos sejam vagabundos (todos tivemos ótimos professores também) ou que a insalubridade das condições de trabalho não os massacrem, mas é óbvio que ausência de punição efetiva para maus funcionários, ausência de prestação objetiva de contas quanto ao conteúdo assimilado e o corporativismo são chagas extremamente lesivas ao ensino.


Na analogia do burrinho com uma cenoura sendo segurada na frente dele para incentiva-lo a andar, as vezes o incentivo se torna muito maior se a cenoura estiver vindo por trás. Acho que a questão é equilibrar os dois.

Mas em escolas municipais e estaduais, eu coloquei acima que chegamos a um ponto que isso nem faria muita diferença, pelo menos em algumas matérias, pois já falta professor. Vc pode se livrar do ruim para não ficar com nenhum. Não concorda?

Samael escreveu:Voltando ao seu post ainda, é SEMPRE bom salientar que apesar de serem considerados centros de excelência a nível de resultados, as instituições públicas (mesmo CAPs e Pedro II) estão MUITO aquém dos resultados dos colégios particulares tidos como melhores no país. Basta ver o ranking do ENEM, ou a proporção de aprovados nas universidades públicas (mesmo com o sistema de cotas). Mais uma vez, isso não é um elogio à pedagogia (ou ausência dela) nos cursinhos "forma de bolo" que pululam no país e engrossam o número de aprovados, mas apenas uma demonstração clara que essas instituições públicas podem melhorar e muito.


Podem melhorar, sem dúvida. Acho que apenas dois ou três CAPs mantiveram-se na lista dos 20 mais do ENEM. As consideradas boas escolas públicas, via de regra, são as escolas federais.
Não sei se seria correto analisar por esse angulo, mas qual a proporção de escolas federais x escolas particulares?

Quanto ao vestibular e cursinhos "forma de bolo", como colocou, de fato é muito criticado o que o vestibular se tornou. Muitas criticas são pertinentes.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por zumbi filosófico »

Herbert Spencer escreveu:[...] French school-masters, never questioning the belief that boys can be made to behave well only by rigid discipline and spies to aid in carrying it out, are astonished on visiting England to find how much better boys behave when they are less governed—nay, among English schools themselves, Dr. Arnold has shown that more trust is followed by improved conduct. Similarly with the anomalies of incorporated human nature. We habitually accept the assumption that only by legal restraints are men to be kept from aggressing on their neighbors; and yet there are facts which should lead us to qualify this assumption. So-called debts of honor, for the non-payment of which there is no legal penalty, are held more sacred than debts that can be legally enforced; and on the Stock-Exchange, where only pencil memoranda in the respective note-books of two brokers guarantee the sale and purchase of many thousands, contracts are far safer than those which, in the outside world, are formally registered in signed and sealed parchments. [...]
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apáte »

Eu acho que já está passando de hora do Cabeção devolver a conta do Samael.
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Mucuna
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Tempos Depois...



Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Leia de novo. Eu não disse que vc defendeu que o professor tenha que passar tal ideologia, eu disse que vc apontou que isto foi algo que ocorreu. Vc não linkou um tópico onde afirmou que a faculdade de educação passou a formar professores que entendiam que tinham que preparar as massas para o confronto de classes?


Minhas posições a respeito ficam mais claras neste link, principalmente na discussão com Clara Campos, onde me explico melhor sobre como o discurso ideológico se manifesta na sala de aula, o que não é necessariamente com proselitismo político explícito.

Ideologia Liberal.


Bem, pelo que li, vc apoia e defende justamente o que é passado em curso de formação de professores, ponto central da discussão. É o que eu vinha dizendo, as pessoas tem uma noção errada, caricaturizada do curso. A educação é estigmatizada mesmo. :emoticon16:

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Cites estes países. Aplicações de massa, não experimentos localizados.


Noruega, Suécia, Japão e nossa citada Coréia, que configuram no topo do ranking, aplicam o modelo de ciclos. Inclusive, não sei se todos, mas alguns destes também não repetem alunos nos primeiros anos, no ensino fundamental.


Esta é uma meia verdade muito repetida, principalmente por conta de um estudo feito em 2007 por Sergei Soares, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que desde então é usado como bandeira em defesa do sistema de ciclos.

O problema é que Soares se limitou a comparar os resultados do Trends in International Mathematics and Sciency Study e do Progress in International Reading Literacy Study, concluindo daí que países com melhores posições no rancking educacional adotam o sistema de ciclos.

O estudo não tece um comparativo mais detalhado entre os modelos dos países citados e o brasileiro. Se tecesse, ficaria óbvio que nada há de comum entre eles, particularmente com os modelos orientais, onde a diferença básica é que no Japão e Coréia a repetência escolar não é um problema educacional a ser eliminado, mas uma exceção administrativa a ser alocada, o que é muito diferente.

Há um que de engodo – na minha opinião, que fique claro – nisto de omitir o fato de que o sistema brasileiro foi projetado com o objetivo de diminuir a repetência e evasão escolar, enquanto o japonês e coreano são sistemas que operam na INEXISTÊNCIA prática da repetição escolar,pelas próprias características intrínsecas do sistema e da cultura local.

Em suma, o sistema brasileiro falhou por ter sido de cima a baixo uma tentativa de eliminar a repetência e evasão escolar por decreto, o que nem de longe se assemelha aos modelos citados.


Bem, aqui concordamos. É o que eu disse, o sistema de ciclos é interessante e tem vários pontos positivos, dentre os quais prestar atenção na individualidade do aluno, como vc defendeu no outro tópico, mas ele nunca foi implementado no Brasil.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Isto é devido a formação do sujeito em si ou algo inerente a gestão pública no Brasil?


Ambos.


Bem, como eu disse, se há criticas a fazer na formação profissional (e clara que há), não procedem as principais aqui feitas.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Um exemplo prático quando ao sistema de ciclos: Quando ele foi aplicado em São Paulo, a então secretária de educação admitiu que simplesmente foi dada uma ordem "agora é por ciclos!" sem se reunir com diretores e professores. Ela disse que se o fizesse, o magistério iria recusar dizendo que não seria possível fazer isso da noite para o dia, sem preparo e até capacitação profissional. Coisas de Brasil.
Agora me diga a influência da faculdade de educação numa atitude dessa, com esse "planejamento" todo.


Acauan escreveu:A influência se dá em que muitos pedagogos preferiram ver a vertente ideológica que defendiam ser implementada, mesmo que mal e porcamente, do que apoiar a alternativa por métodos conservadores.
Note que para as ideologias esquerdistas existe a crença no "progressismo", segundo a qual quando se põe em movimento as forças da mudança elas tendem a se assentar em um patamar melhor que o inicial, mesmo que o início seja desastroso. Bem, o desastre já vimos, já o assentamento...


Será que isso explica? Nunca vi ninguém defendendo tal coisa, nem intrinsecamente, pelo contrário, só ouvi críticas (prendendo-me ao lado acadêmico, sempre lembrando).

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: O cara que não quer trabalhar direito também não está preocupado em "formar cidadãos", seja lá com que conotação for.


É óbvio que não está. O "formar cidadão", como repetido exaustivamente, é um objetivo vago atrás do qual se escondem os vagabundos para fugir da avaliação individual de resultados.


O vagabundo vai arrumar qualquer ideologia, objetivo e desculpa como escudo para não realizar o que deve.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Pq criaram um frankstein do modelo de seriação com o de ciclos. Como coloquei acima, há países que não repetem o aluno anualmente e mesmo assim estão no topo do ranking. A escola tem, por exemplo, 4 anos para ensinar determinado conteúdo aos alunos, respeitando o ritmo e tipo de raciocínio de cada um.


Toda esta discussão sobre ciclos desvia o assunto do ponto central, que é a qualidade da aula que o aluno recebe. Pouco importa se ele repete todo ano ou de quatro em quatro se não aprende nada em uma regra ou na outra. O que ocorreu nos tais países do topo do rancking é que primeiro garantiram aulas de qualidade aos seus alunos e obtiveram quedas na repetência em função disto, sendo os ciclos uma questão periférica no modelo.


Justamente, o que não cabe na sua "revolta" com o sistema quando respondeu "Cites estes países. Aplicações de massa, não experimentos localizados" só pq eu disse que o sistema em si não é um fracasso mundial.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Sim, Paulo Freire era marxista, mas isto não quer dizer que a faculdade de educação é construída em torno do marxismo. Seus críticos estão lá presentes também. De qualquer forma, Paulo Freire se concentrou na educação de jovens e adultos e na alfabetização de adultos.
Ele defendeu o que já se sabia há tempos mas não se menciona: a educação é uma forma de passar o conhecimento e valores que a sociedade considera fundamental para sua manutenção, inclusive para manutenção de estruturas de poder/hierárquicas. Isto é bem claro e não é algo novo, apenas velado. Tendo ele a ideologia que tinha, não é de se espantar várias colocações.
Ele influenciou a educação de vários países e foi pipocado daqui em 1964 mesmo. Ele tem valor. E reconhecer valor é diferente de culto a personalidade.


Bem, como disse, chega de tratar a questão da contaminação ideológica das faculdades de pedagogia e filosofia como paranóia minha. Há registros de trinta anos de debates sobre o tema que falam por si.

E dizer que o sistema de educação visa manter estruturas hierárquicas de poder é pura patacoada marxista, uma vez que a escola sempre foi a escada para a mobilidade social dos elementos mais talentosos das classes baixas, desde os tempos da Idade Média.


Não sei pq o fanatismo. Querer censurar qualquer influência contrária a sua ideologia preferida é que não dá. Além do mais, como dito lá em cima, as faculdades de educação vem passando muitos dos alegados valores liberais, como a concentração e analise do aluno como indivíduo.

Educação sofre influencias de ideologias e estruturas da sociedade, como não? Acha que ela é uma bolha pairando acima da sociedade, livre das coisas mundanas? Coisas simples como dizermos que foi Santos Dumont o pai da aviação demonstram uma ideologia a ser passada para as gerações de jovens que se formam.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Se vc critica o modelo, que não foi ele que lançou, de que o professor tem que procurar entender o aluno e realizar um trabalho em conjunto com ele, saiba que este modelo é aplicado por países no topo do ranking. Neste modelo, o progressista, o professor tem que ser preparado para entender o aluno e dialogar com ele. Dialogar não é bater boca, é deixar também ele conversar sobre o conhecimento que vc está passando. É bom até para ver as dúvidas e se o entendimento dele está correto. Não é raro o aluno vir com uma dúvida interessante, que puxa mais a matéria.


Do jeito que você fala parece que foram os modernistas que descobriram a pólvora de que professor pode debater e tirar dúvidas do aluno em um ambiente de discussão produtivo. Antes disto, pelo jeito, se algum estudante levantasse a mão para discutir algo levava um tiro na cara.


Pareceu-me que vc se ofendia com essa idéia. De qualquer forma, não deleguei a "modernistas" isso.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Quanto a história pedagógica do Brasil dos anos 60 para cá, não saímos de 1960 e poucos, com apenas parcela da população educada, para o modelo mais progressista de uma orelhada só.
De meados dos anos 60 até meados dos anos 80, prevaleceu a prática pedagógica tecnicista. O professor era um técnico e o aluno o objeto de instrução. Eram feitos materiais sem analise critica nenhuma dos alunos, era tudo preparado e padronizado por um corpo técnico. Era um modelo de gestão empresarial da época aplicado à escola.
Ensino a distância ganhou notoriedade aí. Não é escola, mas aqueles anuncios que tinham nas revistas em quadrinhos da Disney em que era uma historinha de um quadrinho mostrando como o cara montou um rádio represantam bem este modelo. Era anuncio de uma instituição de cursos técnicos a distância, não sei se vc lembra ou chegou a ver isso.
Não é lá muito eficiente se comparado com outros modelos usados hoje, mas há quem ainda o utilize com algum sucesso.
Só para ilustrar que a transição passou por outros modelos e idéias, inclusive mais "empresariais".


Não sei se leu na íntegra minha retrospectiva deste processo, mas inclui tudo isto e mais detalhes, naquilo que chamou de pincelada.


Não vi. Aponta exatamente para mim. :emoticon13:

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Sim, sem dúvida questões culturais são fundamentais para entender o "fenômeno". Mas no caso da Coreia do Sul, fizeram essa correlação com o sistema de ensino e depressão/suicídio de alunos. Observação de campo. Não tô chutando.


Mas muito provavelmente não foi mais a fundo no assunto, não comparou com a experiência japonesa e com as conclusões e medidas que tomaram por lá em situações análogas.


O que revelaria então as análises mais profundas?

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: "Fazendo social" é ótimo. Parte desta análise é ouvir o aluno e ver o que ele traz de fora. Ah, mas ouvir não pode, ouvir o aluno destruiu nossa educação. Foi o que destruiu a autoridade do professor. Não sei pq isso não aconteceu em outros lugares que fazem o mesmo.


Porca miséria... Agora me imputam ter dito que ouvir o aluno destruiu a educação.
Vou pregar aos peixes como aquele tal padre que acho que ganho mais.


Desculpa, foi o Comunismo.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu: Quando eu disse que na formação do professor é passada que deve existir uma preocupação com a formação social (que não é incutir doutrina na cabeça dele), vc disse q isto é "desculpa de vagabundo".


Por que ao invés de me imputar palavras, não copia o trecho e aí veremos o que realmente eu disse.


Tá ao longo das páginas, não tem pq ficar na defensiva. É q ficou claro q vc vê "formação social" com um significado ideológico q vc reprova, mas não quer dizer que seja o mesmo significado passado no meio acadêmico.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Estas dificuldades são inerentes ao ensino de massa, mas não justificam os resultados desastrosos.


Não, não justifica. O que "justifica" isso, ao meu ver, é mais um problema de gestão, algo observado no Brasil de forma geral. E administração/gestão pública também não é motivo para ser incompetente. No já citado Japão, praticamente todas as escolas são públicas e eles estão no topo do ranking da educação.


Fale em gestão em escola pública brasileira e no minuto seguinte o sindicato dos professores estará convocando um piquete. Há um corporativismo arraigado na categoria que sabota toda tentativa de sanear o processo educacional.


Que seja, mas convém olharmos quem fala nesta "gestão" e o que defendem. Querer culpar apenas sindicatos (e não estou defendendo) é simplificar demais uma gororoba bem mais encaroçada.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Bão, só não me explicou se o modelo e a formação dada aos professores nas faculdades de educação são tão ruins, pq há ótimas escolas públicas como (mais uma vez) os CAPs pelo Brasil, Pedro II e escolas politécnicas. Estas tem professores com essa formação e seguem a mesma LDB das que fracassaram.


Exceções comprovam a regra, logo...


Logo acho q não adianta falar apenas "as escolas de educação são umas bostas vermelhas". Como disse anteriormente, muito do que vc defendeu no outro tópico, é o q é passado. Para falar a verdade, vi suas opiniões muito bem emparelhadas com o curso de formação.
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