Acauan e Cabeção: Rota na escola

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Jack Torrance
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Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Jack Torrance »

Rota na escola
Esse é o apelido de um dos diretores mais antigos (e linha-dura) de São Paulo. Ele mostra como “disciplina” alunos, pais, professores e até a prefeitura
Ana Aranha
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SEM PAPO
Carlos e os alunos na escola Raul Fernandes. Ele só fala com os alunos se for para dar bronca. “O diretor é a instância máxima de punição”
O menino entra na secretaria da escola Raul Fernandes. Ele tem 12 anos, usa boné para trás e tem olhar de desprezo. O diálogo é rápido, o diretor começa:
– E?
– E o quê?
– “E o quê” nada, moleque. Você me chama de senhor.
– Senhor...
– O que aconteceu?
– Nada.
– O que aconteceu?
– Não fui eu.
– O que aconteceu?
– Tacaram a caneca na menina e disseram que fui eu. Eu falei pro tio (inspetor) que não fui eu, mas ele não acreditou.
– Por que isso aconteceu?
– Não sei.
– O tio tem raiva de você?
– Não.
– O tio mente?
– Não sei.
– E você, mente?
– Às vezes. Mas agora não tô mentindo.
– Você é confiável?
– Sou.
– Quem mente não é confiável.
– Mas eu não tô mentindo.
– Mas já mentiu.
– Já.
– Então não é confiável. Como sei que não está mentindo agora?


O menino fica em silêncio, abaixa a cabeça, roda o dedo em círculos na mesa.

– Viu como te enrolei, moleque? Você foi facinho de enrolar e deixar de quatro. Você sabe que, comigo, são três vezes e rua. Só vou dar corda para você cair. Toma cuidado.

O diretor Carlos Alberto de Oliveira explica o que chama de “técnica socrática de interrogatório”: “Faço perguntas como Sócrates, o filósofo. Depois, como num interrogatório policial, busco contradições. Os adolescentes se entregam, mas precisa ser mais esperto que eles”. Ele a desenvolveu em quatro décadas de experiência. Carlos, de 58 anos, é um dos mais antigos funcionários das escolas municipais de São Paulo. Começou como professor em 1967, sempre na periferia. Nos últimos 25 anos, serviu como diretor a oito prefeitos. Sua trajetória cruza com os descaminhos da educação na cidade mais rica do país. E seus métodos dizem muito sobre essa história.

A cidade de São Paulo não oferece o melhor ensino do Brasil. É a décima colocada entre as capitais, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), elaborado pelo Ministério da Educação. Os alunos aprendem mais em Rio Branco, no Acre, e Boa Vista, em Roraima. Segundo uma pesquisa da Fundação Victor Civita, uma das principais dificuldades dos diretores na cidade é lidar com a violência entre os alunos e as faltas excessivas dos professores. Para enfrentar o problema, Carlos adotou a linha dura. Ele se classifica como reacionário da educação. É contra métodos “progressistas”, que “passam a mão na cabeça” do aluno. E se orgulha dos apelidos que ganhou na escola: Rota e Tático – grupos da Polícia Militar especializados em ações ostensivas. Seu método inspirado na segurança pública mantém certa disciplina. Mas ele é criticado por seu jeito duro e desbocado.

Carlos Alberto de Oliveira está longe de ser um diretor querido pelos alunos. “Bravo” e “chato” são as definições mais comuns entre as crianças das 1as séries. “Minha mãe acha ele ignorante”, diz uma da 5ª. “Ele é um grosso, não respeita a gente”, reclama, de fora da escola, um menino da 7ª que chegou atrasado. Carlos não quer simpatia. Ao acompanhar a entrada e a saída, estufa o peito, empina o nariz e franze a sobrancelha. Geralmente faz isso de óculos escuros. Diz ter fotofobia, intolerância à luz. Só fala com os alunos se for para repreendê-los. De vez em quando estende a mão para que cuspam o chiclete. Ao passar por ele, uma menina da 1a série arrisca: “Bom dia”. Ele ignora.

Parece desconfortável quando está cercado de crianças. “Não posso me expor, ou perco o poder de barganha. O diretor é a instância máxima de punição”, diz. Prefere acompanhar o movimento pelas câmeras, espalhadas pelos corredores. Quando anda pela escola, dá passadas fortes com um sapato de salto baixo que faz barulho. Assim os alunos voltam a seus lugares antes que precise agir. O tratamento se estende aos pais. Ao ouvir uma mãe reclamar de uma aluna, que estaria ameaçando sua filha e amigas, Carlos a interrompe: “Essa história está mal contada, essas alunas aí já estão tudo no bico do corvo (em via de expulsão)”. No outro dia, a menina espalhava que o diretor duvidara até de sua mãe.

“Periferia é chão riscado a faca”
CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA,
diretor da escola Raul Fernandes

Na secretaria, onde divide sua mesa com quatro auxiliares (todas mulheres), Carlos continua sendo controlador. Mas de um jeito bem diferente. “Bom dia, minhas pitchulinhas!”, diz, ao chegar. Das 10 da manhã às 7 da noite, faz piadas com todas e dá apelidos. A secretária, responsável pela papelada dos 800 alunos da 1ª à 8ª, virou a “dona encrenca”. Elas dão risada e também pegam no pé dele, principalmente no que se refere à saúde. Carlos fuma o dia todo, às vezes dentro da escola. Está acima do peso e teve um infarto em 2004, mas continua improvisando a alimentação. Come merenda em pé no refeitório ou encomenda coxinhas, rissoles e comida chinesa. “Fiquei 36 horas em coma induzido. As enfermeiras achavam que estava dormindo, mas eu estava de olho. Via e ouvia tudo”, diz. Ele confessa que gosta s de controlar a vida alheia, especialmente a de seus funcionários. Nenhum conseguiu dar entrevista sem que ele passasse por perto para contar sua versão dos fatos.

“Quem manda ter chefe com formação militar?”, brinca. Ele serviu dois anos no Exército, entre as faculdades de engenharia e letras. Na escola, passa o dia reprimindo a indisciplina e despachando a burocracia que “dona encrenca” lhe repassa. Quando encontra uma brecha, gosta de fazer planos de longo prazo. Foi assim que, ao longo de 17 anos, economizou a verba da escola para comprar equipamento tecnológico que nenhum outro colégio municipal conseguiu com verba própria.

Além das câmeras, a Raul Fernandes tem uma TV em cada sala, nos corredores e no pátio. Elas são ligadas a uma central com 24 canais internos. É por meio desse sistema que Carlos fala com alunos, professores e funcionários. Em pronunciamentos ao vivo, ele anuncia a reunião com os pais ou repreende a bagunça do intervalo. A imagem é captada na antiga sala de direção, que foi transformada em estúdio com câmera, microfone, spots de luz e um computador com programa de edição. A rede também transmite vídeos educativos. Alguns produzidos na escola, outros trazidos de fora. Não há material elaborado pelos alunos.

O ensino na Raul Fernandes não é modelo de sucesso. Está um pouco acima da média nacional. Numa escala de 0 a 10, seu Ideb é 4,6. A média das públicas é 4. A escola fica na Vila Brasilândia, região de renda baixa com 250 mil habitantes na Zona Norte da capital. Segundo a Polícia Militar, a taxa de homicídio na região está acima da média da cidade. Os alunos de Carlos brigam entre si pelo menos uma vez por semana, mas nunca houve registro de arma na escola. No colégio vizinho, Geraldo Sesso Junior, já saiu até tiro dentro da sala. Em março, uma menina de 15 anos foi atingida por uma bala na perna. Na saída, os alunos de Carlos evitam passar na porta da escola vizinha, reclamam que os estudantes de lá se organizam em gangues. A reportagem tentou entrar na Geraldo Sesso, mas a diretora negou. Disse que não tinha “nada a declarar”.

As duas escolas ficam na frente de um Distrito Policial, que até 2006 abrigava uma carceragem. Quando havia tentativa de resgate, ficavam no fogo cruzado. Na Raul Fernandes, os alunos corriam para as salas do fundo. Há sete anos, após uma fuga, Carlos foi avisado de que havia um homem com roupas sujas no corredor. Depois de chamar a polícia, foi conversando com ele até o pátio, onde foi recapturado. Carlos já entregou até um aluno. O menino havia atirado num estudante de outra escola e tentou se esconder na Raul Fernandes. Carlos o viu no estacionamento e chamou a polícia. “Periferia é chão riscado a faca”, diz. “Não são todos, mas tenho alunos com pai homicida, sequestrador, traficante. Só a fina flor, o crème de la crème.”

A visão de Carlos, e o modo como enfrenta os problemas, está longe de ser consenso entre educadores. De seu ponto de vista, o aumento da violência nas escolas é consequência da redução de exigências sobre os alunos. Ele descreve a história da educação em São Paulo como uma série de reformas desconexas que tiraram suas ferramentas de cobrança. “Começou a nivelar por baixo com o verdão”, diz. Esse era o apelido das guias curriculares de São Paulo, que tinham capa verde. Na década de 70, definiram o conteúdo a ser ensinado. As guias faziam parte de uma reforma elogiada por alguns educadores, pois enxugava um suposto excesso de conteúdo. Até hoje Carlos não se conforma com o fim de algumas aulas, como o francês. De vez em quando arrisca uma expressão para familiarizar os alunos.

Na década de 80, o ensino virou obrigatório e as escolas passaram a receber mais alunos. Carlos começou a ser pressionado para formar turmas à noite. Ele resistiu até 1999, quando teve de abrir aulas noturnas para jovens e adultos. “Foi um horror, era só bêbado e drogado.” Nesse período, foi criticado pela prefeitura por fixar uma câmera no banheiro masculino. Ele bateu o pé e manteve a câmera lá até poder fechar as turmas à noite. Ele jura que não captava as “intimidades” e que era o único jeito de saber onde as drogas eram escondidas.

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DE LONGE
À esquerda, alunos na classe e funcionários no corredor (Centro) assistem ao diretor pela rede interna de canais. À direita, Carlos fala, ao vivo, da sala que transformou em estúdio de gravação

“A pior fase foi da Luiza Erundina. Não podia gritar com o aluno, não podia sobrecarregar. Tudo tinha de ser muuuito discutido”, diz. O secretário da Educação na gestão de Erundina (1989-1992) era Paulo Freire, educador brasileiro consagrado pelo método que prega a construção do conhecimento a partir da experiência dos alunos. “Aí abriu geral para os hippies de ‘poncho e conga’!” Carlos se define como tucano. O prefeito com quem mais gostou de trabalhar foi Mário Covas (1983-1985). Identificava-se com o estilo “na jugular dos professores”. Covas travou bate-bocas públicos com professores em greve.

Para lidar com as faltas excessivas de seus professores, Carlos os faz repor aula aos sábados. Mesmo assim, os alunos da 5ª à 8ª dizem que têm aula vaga a cada dois dias. O caso mais grave é o da professora de ciências. Contratada no fim do ano, ela só deu um mês de aula e passou a pedir licenças médicas. Carlos solicitou uma análise do caso ao departamento de Saúde do Servidor, órgão da prefeitura responsável pelas licenças. Quando soube que seu pedido estava parado lá havia 14 dias, ligou para a diretoria de ensino, órgão da Secretaria de Educação. “Filha, a coisa está feia lá, viu? Alguém está prevaricando”, disse, ao telefone. “E vocês? Vão deixar a professora nova ficar assim, leve e loira?”

Ele tem pavio curto. Chamado a uma 7ª série porque os alunos estavam gritando, sobe as escadas reclamando. “No meu tempo isso era vergonhoso, atestado de incompetência do professor.” Em pé na porta da sala, dá uma bronca cheia de ameaças de expulsão e silêncios constrangedores. Promete fechar a classe, que tinha menos de 30 alunos, e redistribuí-los para outras turmas. A medida seria uma punição também aos professores daquela série, que ganham de acordo com o número de turmas. Carlos arrisca uma expressão em francês: “Sala com 20 alunos é tratamento de elite. Vocês querem luxo para fazer farra? Pelo contrário! Au contraire...”. Uma aluna faz barulho e leva a mão à boca, como quem segura o riso. Carlos finge que não vê.

O equilíbrio de sua autoridade é delicado. Há muitos limites para sua ação. Embora ameace, ele não pode expulsar os alunos. No máximo transferi-los de escola, em casos graves. É difícil exigir boas notas porque basta presença para ser aprovado. Os alunos sabem que não correm risco de levar bomba (fora na 4ª e na 8ª). A regra foi fixada para combater a alta repetência. No caderno de registro do primeiro ano da Raul Fernandes, em 1957, só metade dos alunos foi aprovada.

Foi o mesmo ano em que Carlos começou seus estudos, sempre em escolas públicas. Ele se refere a esses anos como “os tempos áureos” da educação, quando havia prova de seleção e só entrava aluno com “pré-requisitos culturais”. Cita nome e sobrenome dos professores “catedráticos” com quem teve aula e depois viraram políticos ou diretores em universidades. Lembra da professora de história da 7ª. Descreve-a como uma senhora distinta e brava. “De sobrancelha cerrada, tailleur, óculos e sapato mocassim de laço na frente.” Ela conseguia sua atenção quando o surpreendia, fazendo a imitação da “caganeira de Dom Pedro”. Virou uma referência. “Educador é artista, tem de assumir o papel e segurar a plateia”, diz. Carlos não hesita em assumir o seu. Diz estar pronto para as críticas que esta reportagem possa gerar. “O diretor também é um personagem. E eu sou essa coisa estapafúrdia que você está vendo. Pode colocar tudo aí.”

http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... 34,00.html
“No BOPE tem guerreiros que matam guerrilheiros, a faca entre os dentes esfolam eles inteiros, matam, esfolam, sempre com o seu fuzil, no BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”

“Homem de preto qual é sua missão? Entrar pelas favelas e deixar corpo no chão! Homem de preto o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam o Satanás!”

Soldados do BOPE sobre BOPE

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Quixotesco.

O descalabro da educação pública brasileira nãos será resolvido com ações individuais de figuras cheias de personalidade, mas com a revisão completa do sistema, hoje tomado, conforme o dito cujo, pela turma de poncho e conga.

New York tem uma experiência muito interessante, aplicando ao seu ensino municipal métodos da gestão empresarial privada, seguindo uma fórmula simples que é medir e comparar resultados, recompensar os melhores e punir os piores. Funciona que é uma maravilha.

No Brasil, basta propor formas de medir os resultados dos professores e um bando de vagabundos já se levanta clamando contra o autoritarismo da medida, como se quem fizesse um trabalho que presta tivesse algo a temer.

Mas é difícil criticar o tal diretor.
Comandar uma escola pública de periferia em São Paulo é o tipo de trabalho que precisa ser feito e eu não quero fazer.
O cara faz o trabalho sujo que a cidade precisa e pelo jeito adora. Na média deve ser melhor que os vagabundos de poncho e conga.



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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Um dos maiores problemas da escola, e que é abordado nas faculdades de educação, é que a escola tem que fazer o trabalho que os pais/responsáveis deveriam fazer. Acontece que muitas vezes estes nem existem. o buraco é bem mais embaixo.

Uma coisa que pode parecer bobagem, mas já vi aluno responder atravessado o pai e este responder "que isso moleque? O seu professor não te ensinou a respeitar os outros não?"

Tipo, respeitar os outros é algo que se aprende em casa, mas o sujeito parece não perceber e nem querer tomar parte disso. Se o aluno não respeita os pais, vai respeitar o professor? Fica dificil. Exige-se que a escola faça o papel de família também.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Ver também tópico Educação Pública do Brasil
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Fernando Silva »

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Das idéias de jerico que se impuseram na educação pública brasileira, uma das mais graves foi a destituição da autoridade do professor.

Bobagens como "o professor não deve se colocar num plano superior ao do aluno" ou "quem faz a escola é o estudante" ou, pior ainda, "ninguém ensina, ninguém, o professor é apenas um facilitador no processo de aprendizado" e blá-blá-blás do tipo reduziram o professor a mero coadjuvante de uma atividade tão artesanal quanto a escultura.

Se é certo que a pedra bruta contém em si forma a ser revelada, também é fato que esta forma jamais virá à luz sem o cinzel na mão do escultor. Entregue um ateliê às pedras ou a um processo abstrato qualquer e tudo que teremos é um monte de pedras e um monte de vagabundos olhando para elas fingindo que estão trabalhando.

É mais ou menos isto que é a escola brasileira hoje.

O professor não é igual ao aluno porcaria nenhuma.
Dentro da sala de aula o professor é digno da mesma reverência que merece o juiz de direito no tribunal. Reverência que não é dirigida à pessoa que ocupa o cargo, mas ao fato de esta pessoa, naquele momento, representar a justiça.

O professor em sala de aula representa o conhecimento e o conhecimento deve receber a reverência merecida, pois junto com a justiça é um dos fundamentos de nossa sociedade e de nossas vidas.

Um círculo vicioso retirou a reverência ao conhecimento das salas de aula e afastou delas os melhores, que não mais quiseram ser professores públicos, com o vácuo sendo preenchido por ignorantes que não podiam representar o conhecimento porque nada sabiam.

Esta turma formou aqueles que hoje dão aula.

Exceções há, claro, mas o descalabro autoevidente da educação pública fala por si e é muita cara-de-pau aqueles que estão à frente dela – pedagogos, burocratas e professores – fingir que a culpa é dos "problemas sociais".


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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

E antes que alguém venha com a história do coitadinho do professor que ganha mal, isto não é desculpa para o péssimo desempenho da educação, exceto pelo fato de que isto afastou os competentes da profissão, o que implica que os que estão aí e alegam o salário como causa de seus fracassos não devem receber aumento, devem ser substituídos por profissionais competentes e honestos e estes é que devem ser melhor pagos.

Quem pode fazer um bom trabalho e não faz por achar que ganha pouco é um profissional desonesto e se não pode fazer melhor é um incompetente. Os professores que jogam a culpa no holerite devem escolher em qual das duas categorias se enquadram.

No Brasil praticamente todas as categorias profissionais podem se dizer mal pagas, mas só algumas alegam isto como justificativa para não trabalhar.
Médicos residentes ganham uma merreca, mas não deixam seus pacientes morrer por isto, bombeiros arriscam suas vidas no trabalho por um salário medíocre, casas não caem porque pedreiros ganham pouco e nem ficamos no escuro porque os eletricistas merecem um salário melhor.

Descontar nos alunos as próprias frustrações profissionais é o cúmulo da covardia.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

E para ser correto é preciso completar que os pais dos alunos da rede pública reclamam, mas em geral não fazem porra nenhuma para melhorar a situação.
É errado dizer que pais de periferia esperam que a escola eduque seus filhos. Eles não são estúpidos e sabem muito bem que servidores públicos desmotivados que mal e porcamente cumprem suas funções básicas não vão assumir o papel de pai de filhos dos outros.

A escola é para muitas destas famílias de periferia apenas uma referência de normalidade. Se o filho está na escola, então está seguindo uma vida normal, participando de uma rotina, em local conhecido, sob uma tutela oficial o que lhes garante – o que na periferia não é pouco – uma identidade para apresentar à polícia quando abordado. Em suma, mantém o filho na escola porque é melhor estar na escola do que vagabundando por aí. E só.

Ninguém quer saber o que o filho aprendeu, quais conteúdos foram ministrados, quem são os bons e os maus professores ou se as anotações no caderno estão organizadas e coerentes.

Não reclamem depois.

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

O aluno participar do seu aprendizado, influenciando o professor pode render ótimos frutos. Um exemplo disso é a Escola da Ponte, escola pública em Portugal, que apresentou e apresenta ótimos resultados ao levar em conta as particularidades de cada aluno, analisa-lo como indivíduo.

A visão de que o aluno não traz nada de positivo e que todo o conhecimento que ele tras de fora da escola é inútil e que ele é só um agente passivo na sua educação, foi e deve ser reanalisada. Alguns alunos se adaptam perfeitamente a essa linha de montagem tradicional que é a visão clássica escola, mas tem gente que, por motivos variados, não se adapta é é automaticamente marginalizado. Pq não pensar em meios para integrar mais alunos ainda? Pq isso irrita tanto algumas pessoas?

Isso, de forma alguma, é tirar autoridade do professor. Mas mais uma vez, há coisas que se deve aprender em casa e uma dessas coisas que é o respeito aos outros, aos mais velhos e professores. Há coisas que o aluno desde pequeno irá observar e absorver do meio em que vive fora da escola. Se não se levar isso em conta e os pais não quiserem prestar atenção nisso, é gerada as aberrações que vemos.

Ganhar mal não justifica fazer um péssimo trabalho, mas observe que, como citou de exemplos, médicos, bombeiros e pedreiros, alguns destes também fazem péssimos serviços e dizem ser por se sentirem desmotivados.

Médicos faltam ou anotam no braço nome de maternidade para a gravida se virar, bombeiros roubam casas e prédios caem. Defendem que o reconhecimento financeiro é fundamental para se ter bons serviços mas na hora que alegam que são desmotivados pelas péssimas condições, esse argumento não serve mais. Não defendo um ou outro lado, só deixo essa observação.

Problemas sociais sem dúvida refletem na escola, assim como problemas na sua vida privada influenciam no rendimento do seu trabalho. Não dá para separar. A questão é que temos vários problemas a resolver...
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Nem lá, nem cá.
Extremos dão empregos a extremistas de plantão.
Não suporto aluno que se acha. Mas ninguém tem que se achar coisa alguma. A questão é que educação é boa e produtiva para todos.

Além do mais, educação é papel da escola, da família e de governos.
Mas não há comprometimento porque não há interesse e nem consenso entre as partes.
Bater não é remédio que garante colocar o trem nos trilhos.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu:Ganhar mal não justifica fazer um péssimo trabalho, mas observe que, como citou de exemplos, médicos, bombeiros e pedreiros, alguns destes também fazem péssimos serviços e dizem ser por se sentirem desmotivados.

Médicos faltam ou anotam no braço nome de maternidade para a gravida se virar, bombeiros roubam casas e prédios caem. Defendem que o reconhecimento financeiro é fundamental para se ter bons serviços mas na hora que alegam que são desmotivados pelas péssimas condições, esse argumento não serve mais. Não defendo um ou outro lado, só deixo essa observação.

Problemas sociais sem dúvida refletem na escola, assim como problemas na sua vida privada influenciam no rendimento do seu trabalho. Não dá para separar. A questão é que temos vários problemas a resolver...


Até entre profissionais com salários milionários é possível apontar um ou outro desmotivado e que apresenta mal desempenho, o que não é a questão aqui.

A questão aqui são resultados sistematicamente ruins, aliás péssimos, aliás os piores dentre os comparativos tomados que é a educação brasileira.
Não me consta que aqui os incêndios demorem mais para ser apagados que no resto do mundo, que no Brasil caiam mais casas ou que nossos residentes sejam recordistas de óbitos, mas toda vez que alunos brasileiros competem em olimpíadas escolares internacionais ficam nos últimos lugares. Alegar problemas sociais é desculpa, pois a Índia vive uma realidade social muito mais dramática e não passa por este vexame.

Os resultados falam por si e as filosofias educacionais adotadas nos últimos trinta anos são um completo e absoluto fracasso e este é um fato óbvio e inegável.
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Acauan Guajajara
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Herf »

Acauan escreveu:No Brasil praticamente todas as categorias profissionais podem se dizer mal pagas, mas só algumas alegam isto como justificativa para não trabalhar.

Invariavelmente funcionários públicos e sindicalizados.

(Não que funcionários públicos sejam todos assim)

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Apo
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Quando minha filha fez intercâmbio em Londres, os professores dela sempre ficavam impressionados como os brasileiros que iam estudar lá, tinham uma cultura geral e histórica mundial muito mais ampla do que os alunos dos outros países. Será que estamos mais preocupados com o que acontece no mundo do que conosco?
Segundo tais professores, alunos de outros países não tomam conhecimento de quem sejam personagens históricos mundiais, assim como eventos internacionais ( não fazem uma interreleção de eventos que não os que digam respeito a seus países apenas ).
Ficaram muito impressionados que os alunos brasileiros saibam de quem se trata determinado dramaturgo inglês, comandantes de tropas de exércitos que lutaram em algumas revoluções, invasões de países por outros do outro lado do mundo, literatura internacional, grandes inventos e suas implicações etc

Evidentemente que estavam falando de uma parcela muito restrita da nossa população, uma elite que manda filhos para fora e que estudam aqui nos melhores colégios.

Isto é triste, pois é notório que o ensino público nos níveis fundamental e médio não segue os mesmos padrões. E a culpa fica sendo de quem pode pagar, nunca dos governos.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Herf escreveu:
Acauan escreveu:No Brasil praticamente todas as categorias profissionais podem se dizer mal pagas, mas só algumas alegam isto como justificativa para não trabalhar.

Invariavelmente funcionários públicos e sindicalizados.

(Não que funcionários públicos sejam todos assim)


É. Alguns são muito bem pagos e mesmo assim não precisam trabalhar.
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Botanico
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Botanico »

Apo escreveu:
Herf escreveu:
Acauan escreveu:No Brasil praticamente todas as categorias profissionais podem se dizer mal pagas, mas só algumas alegam isto como justificativa para não trabalhar.

Invariavelmente funcionários públicos e sindicalizados.

(Não que funcionários públicos sejam todos assim)


É. Alguns são muito bem pagos e mesmo assim não precisam trabalhar.

Como os nossos deputados, senadores, veradores, etc, que ganham ALTÍSSIMOS salários e mais um monte de benesses concedidas em causa própria e, pelas leis que eles próprios fizeram, não precisam trabalhar: o trabalho para os paralamentares é facultativo. As leis mais importantes que eles votam são para mudar nomes de pontes, ruas, estradas, aeroportos ou para criar dias em homenagem aos amigos, inimigos, etc e tal...

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Botanico
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Botanico »

Apo escreveu:Quando minha filha fez intercâmbio em Londres, os professores dela sempre ficavam impressionados como os brasileiros que iam estudar lá, tinham uma cultura geral e histórica mundial muito mais ampla do que os alunos dos outros países. Será que estamos mais preocupados com o que acontece no mundo do que conosco?
Segundo tais professores, alunos de outros países não tomam conhecimento de quem sejam personagens históricos mundiais, assim como eventos internacionais ( não fazem uma interreleção de eventos que não os que digam respeito a seus países apenas ).
Ficaram muito impressionados que os alunos brasileiros saibam de quem se trata determinado dramaturgo inglês, comandantes de tropas de exércitos que lutaram em algumas revoluções, invasões de países por outros do outro lado do mundo, literatura internacional, grandes inventos e suas implicações etc

Evidentemente que estavam falando de uma parcela muito restrita da nossa população, uma elite que manda filhos para fora e que estudam aqui nos melhores colégios.

Isto é triste, pois é notório que o ensino público nos níveis fundamental e médio não segue os mesmos padrões. E a culpa fica sendo de quem pode pagar, nunca dos governos.


É... até que de conteúdo, as matérias dadas em nossas escolas até podem ser mais abrangentes do que nas escolas de países de primeiro mundo... Afinal, se for mesmo verdade que uma colega minha que passou pelos Estados Unidos e ouviu como "notícia internacional" que o time de beisbol da cidade jogava contra um time europeu no estádio municipal então até se entende porque na escola desses países se olha apenas para o próprio umbigo.
Mas uma andorinha não faz verão.
Nossas escolas já iam mal das pernas desde que o tal Jarbas Passarinho foi Ministro da Educação. Os salários dos professores foram se deteriorando e o status deles também. Só para ter uma ideia, quando fizeram sua primeira greve no fim do governo militar, aqui em São Paulo, com o Maluf, eles ganhavam menos que os lixeiros (1500 cruzeiros novos contra 1800 dos lixeiros).
Professor deve ser um profissional preparado para ser professor, mas desde então, professor virou uma "décima escolha" enquanto não aparecia colocação melhor. Quem era o professor de Física? Um engenheiro desempregado que ia dar aula de Física até que arrumasse um emprego na sua área. O meu último professor de matemática era um estudante de Medicina...
Mas como já se deixou claro, a coisa piorou de vez quando vieram aqueles pedagogos esquerdistas, com ideais filosóficos baseados em Marx ou em alguém pior e junto com a política de Dereitos Omanos... Desde então virou aquele mote: não se deve punir o criminoso; é preciso antes combater as causas da criminalidade... E isso foi extensivo à escola: não se pode punir alunos bandidos, bagunceiros e indisciplinados: é preciso combater as causas sociais que os levam a agir assim.
Como não se combatem essas "causas sociais" (sabe-se lá o que isso signifique), ficamos todos no prejuízo. Os que querem estudar têm de aguentar o estresse pela pressão de quem só quer bagunçar.

Uma pena.

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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Botanico escreveu:
Apo escreveu:
Herf escreveu:
Acauan escreveu:No Brasil praticamente todas as categorias profissionais podem se dizer mal pagas, mas só algumas alegam isto como justificativa para não trabalhar.

Invariavelmente funcionários públicos e sindicalizados.

(Não que funcionários públicos sejam todos assim)


É. Alguns são muito bem pagos e mesmo assim não precisam trabalhar.

Como os nossos deputados, senadores, veradores, etc, que ganham ALTÍSSIMOS salários e mais um monte de benesses concedidas em causa própria e, pelas leis que eles próprios fizeram, não precisam trabalhar: o trabalho para os paralamentares é facultativo. As leis mais importantes que eles votam são para mudar nomes de pontes, ruas, estradas, aeroportos ou para criar dias em homenagem aos amigos, inimigos, etc e tal...


Exato. E como o exemplo geralmente vem de cima...vamu que vamu!
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Botanico escreveu:
Apo escreveu:Quando minha filha fez intercâmbio em Londres, os professores dela sempre ficavam impressionados como os brasileiros que iam estudar lá, tinham uma cultura geral e histórica mundial muito mais ampla do que os alunos dos outros países. Será que estamos mais preocupados com o que acontece no mundo do que conosco?
Segundo tais professores, alunos de outros países não tomam conhecimento de quem sejam personagens históricos mundiais, assim como eventos internacionais ( não fazem uma interreleção de eventos que não os que digam respeito a seus países apenas ).
Ficaram muito impressionados que os alunos brasileiros saibam de quem se trata determinado dramaturgo inglês, comandantes de tropas de exércitos que lutaram em algumas revoluções, invasões de países por outros do outro lado do mundo, literatura internacional, grandes inventos e suas implicações etc

Evidentemente que estavam falando de uma parcela muito restrita da nossa população, uma elite que manda filhos para fora e que estudam aqui nos melhores colégios.

Isto é triste, pois é notório que o ensino público nos níveis fundamental e médio não segue os mesmos padrões. E a culpa fica sendo de quem pode pagar, nunca dos governos.


É... até que de conteúdo, as matérias dadas em nossas escolas até podem ser mais abrangentes do que nas escolas de países de primeiro mundo... Afinal, se for mesmo verdade que uma colega minha que passou pelos Estados Unidos e ouviu como "notícia internacional" que o time de beisbol da cidade jogava contra um time europeu no estádio municipal então até se entende porque na escola desses países se olha apenas para o próprio umbigo.
Mas uma andorinha não faz verão.
Nossas escolas já iam mal das pernas desde que o tal Jarbas Passarinho foi Ministro da Educação. Os salários dos professores foram se deteriorando e o status deles também. Só para ter uma ideia, quando fizeram sua primeira greve no fim do governo militar, aqui em São Paulo, com o Maluf, eles ganhavam menos que os lixeiros (1500 cruzeiros novos contra 1800 dos lixeiros).
Professor deve ser um profissional preparado para ser professor, mas desde então, professor virou uma "décima escolha" enquanto não aparecia colocação melhor. Quem era o professor de Física? Um engenheiro desempregado que ia dar aula de Física até que arrumasse um emprego na sua área. O meu último professor de matemática era um estudante de Medicina...
Mas como já se deixou claro, a coisa piorou de vez quando vieram aqueles pedagogos esquerdistas, com ideais filosóficos baseados em Marx ou em alguém pior e junto com a política de Dereitos Omanos... Desde então virou aquele mote: não se deve punir o criminoso; é preciso antes combater as causas da criminalidade... E isso foi extensivo à escola: não se pode punir alunos bandidos, bagunceiros e indisciplinados: é preciso combater as causas sociais que os levam a agir assim.
Como não se combatem essas "causas sociais" (sabe-se lá o que isso signifique), ficamos todos no prejuízo. Os que querem estudar têm de aguentar o estresse pela pressão de quem só quer bagunçar.

Uma pena.


Direitas totalitárias e esquerdas pseuso-democráticas fazem questão de manter o nível de ensino abaixo do c* do cachorro. Quem não chora, não mama porque não é preciso mais do que já recebem. Os primeiros não permitem o choro. Os segundos dão cachaça no lugar de leite.

E nem me fale de MEC, MOBRAL e Jarbas Passarinho que tenho vontade de vomitar. :emoticon9:
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Um amigo meu, professor em faculdades particulares ( nas horas vagas ), costuma se rebelar cada vez que algum aluno o peita, exigindo que ele dê determinada atenção por que "aluno é cliente". Se a direção acadêmica fica sabendo e apóia o aluno, ele retira o time de campo.

O argumento de que aluno é cliente é válido sob a perspectiva mercadológica liberal, sim, penso eu. Tanto no ensino privado, quanto no público.

O discurso que dignifica a educação também é válido, mas não se sustenta quando o viés é de uma relação de respeito apenas hierárquico.

A dignidade é como a liberdade: termina a de um quando começa a do outro. O ideal é que as partes se vejam como papéis de coexistência sustentada pela simples razão de que, um sem o outro, não tem razão de ser.
Um escritor sem leitores que consumam sua obra é apenas um "desabafador" de idéias para si mesmo. A menos que ele não esteja interessado em demandas externas. Não me parece o caso de corpos dicentes e docentes. Há interesse de ambas as partes, ou o contrato não existiria.

A questão é de novo a necessidade de se caçar bruxas quando as coisas não vão bem. Alguém tem que ser vítima é alguém o algoz.

Neste contexto social vitimizador, quem é o vilão?

- A educação e a formação intelectual ( e suas nuances emocionais) são contidas por diretrizes que fogem à liberdade entre as partes interessadas ( já que o Estado se mete em tudo).

- Alunos vêm de famílias heterogêneas e com problemas ( inclusive hierárquicos).

- Alunos são aprendizes que recebem informações e valores muitas vezes conflitantes em casa e na escola.

- Alunos só podem estudar onde pais escolhem ou podem colocá-los. E os emancipados finaceiramente onde podem pagar ou julgam previamente como melhor para seu futuro.

- Alunos e pais são levados à escolher determinada instituição por razões diversas, estratégicas ou simplesmente para fazer jus à obrigação mínima paterna perante a lei ( e para o filho comer um prato de comida ou receber bolsa escola).

- Professores ganham mal, é fato. Alguns escolhem a profissão por falta de opção ou porque idealizam erroneamente o papel deles cmo educadores. Ao longo da carreira, se frustram e jogam suas insatisfações nos alunos, parte teoricamente dependente e mais fraca.

- Professores não são respeitados como classe, num país que historicamente relega educação à segundo plano ( embora use um discurso populista clichê hiperbatido sobre a democratização do ensino, mesmo que chinelo).

- Por fim, ambientes escolares são feitos de relações entre seres humanos que precisam trocar um produto que é a educação. Quem ensina quem é apenas circunstancial. Normas de convivência e respeito podem ser predefinidas, mas devem prever que todos são seres humanos e não robôs.

Tem professor que não vale um só tostão nem como profissional, nem como provedor de sabedoria ( no sentido mais humano da palavra). Tem professor tirano, despreparado porém propotente, revoltado, grosseiro, desinteressado, ausente, displicente. Tem aluno que não merece um só esforço além do que previsto em contrato. Mas aluno é cliente e professor deveria ser aquele que intermedia a entrega do produto. Conflitos sempre haverá, menos em ambientes ditatoriais.
Não há problemas com um dose de camaradagem, quando um professor goza de autoridade digna de respeito.

Por que precisamos definir o mais culpado? O culpado, se existe, vem da baixa expectativa que mina todo o sistema, pois enaltece o estudo apenas como modo de sobreviver, e não como meio de alimentar a sociedade rumo a patamares realmente ambiciosos. Parece que excessos de ambição não são assim tão bem vistos.
Enfie-se aí discursos de esquerda e tá feia a arena pra briga entre consumidor e fornecedor. É tudo que eles querem.
Salve-se quem puder.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Botanico escreveu:
Mas como já se deixou claro, a coisa piorou de vez quando vieram aqueles pedagogos esquerdistas, com ideais filosóficos baseados em Marx ou em alguém pior e junto com a política de Dereitos Omanos... Desde então virou aquele mote: não se deve punir o criminoso; é preciso antes combater as causas da criminalidade... E isso foi extensivo à escola: não se pode punir alunos bandidos, bagunceiros e indisciplinados: é preciso combater as causas sociais que os levam a agir assim.
Como não se combatem essas "causas sociais" (sabe-se lá o que isso signifique), ficamos todos no prejuízo. Os que querem estudar têm de aguentar o estresse pela pressão de quem só quer bagunçar.



Cara, não sei onde isso ficou claro.
Há várias críticas a se fazer, mas eu percebo as vertentes atuais bem diversificadas. Acho que tem que apontar mais diretamente.

Não vi e não vejo coisas sendo discutidas de forma tão assim caricata no meio.

Já tive discussões (no bom sentido) com professores de faculdade de educação com um viés mais claramente marxista, mas eles também não são caricaturas, mostram lucidez quando bem argumentado ou simplesmente apontado. Há até uns mais empolgados, mas são bem poucos. O mesmo se aplica ao "outro lado", no que chamamos de direta, mas, não vou mentir, menos.

De qualquer forma, como o professor vai exercer sua autoridade como antigamente, se for o caso? Castigos físicos são ilegais. Execração, cai no mesmo risco. Isso é para todos os cidadãos, inclusive o professor. Pode ser um bronca, expulsar de sala e mandar pro diretor, pode ser na nota e até na reprovação e chamar os responsáveis, se esses se importarem ou não se revoltarem com o professor.

É dito que há outros meios que não seja ser um carrasco para impor respeito e ser um bom professor. É claro que sabemos que ser um carrasco pode resolver e isso é estudado e comentado exemplos, podem ter certeza.

Outra questão é dizer que a pedagocia atual resume-se a dizer que problemas são todos sociais. Outra caricatura. Resumidamente, fala-se o que é óbvio:

Dando um exemplo de escolas/alunos aqui do Rio de Janeiro, dar aula para alunos do São Bento, colégio tradicional católico só para meninos, não é a mesma coisa de dar aula para alunos de uma escola estadual que atende o Complexo da Maré. Ainda há vários gradientes e misturas.

O que você faz quando pega aluno completamente despreparado na 7ª série, por exemplo, com sérios problemas em conhecimentos básicos? Vc vai sair tacando a matéria, assumindo que aquilo não é problema seu já que não é sua matéria do programa e os alunos que se virem? Do que isso vai adiantar?

Se vc fizer isso com esses alunos que, sim, tem deficiencias sérias no ensino, dependendo da conjuntura, o cara vai sair da escola. Já não é lá muito jogo na cabeça dele estar no colégio, ai vai e só repete até pq já não entende nada do que está sendo discutido. Para ele abandonar a escola é um pulo.

E aí? Abandonou a escola. Qual o futuro dele? Vc vai simplesmente olhar para as vezes a metade de uma turma de 40 pré-adolescentes e/ou adolescentes e falar "Fodam-se!". Tem alguma coisa errada, né?

Vc não vai resolver todos os problemas do mundo nem vai querer ser o exército de um homem só.
Sua obrigação é educar no currículo formar sim, mas também é fazer parte na formação de um cidadão. Isto está inclusive escrito em lei. Que cidadão vc está formando tirando ele da escola e largando-se sabe-se lá onde?

Eu entendo que sua obrigação, nesse caso, é voltar a matéria mesmo, lá pro básico se for preciso, e tenta passar alguma coisa, tenta acrescentar. Tenta manter na escola, que fora é muito pior.
Claro que na prática é bem complicado, mas tem que ter isso em mente.

Um ponto sem dúvida interessante é ver onde a coisa degringolou, se chega degringolada, se degringola lá ou sei lá o que. Já há problemas encontrados já na educação infantil. Seria um ponto de análise o fato de que a tradição pedagógica do Brasil vem da ICAR, única educadora por grande parcela da história do país, se formou em outra situação, para atender outro público de uma época?

Nas décadas de 1950 e 60, menos da metade das crianças tinham acesso há educação no país. Quando se "resolveu" que educação era um direito de todos (e hoje apesar dos pesares quase toda criança tem acesso a escola), vcs acham que o investimento em estrutura, estudos e pesquisas, profissionalização, mão de obra, enfim, recursos diversos, cresceram nessa mesma proporção? Claro que não, né?

Quando se foi atender essa parcela que foi deixada para coisa correr solta, a coisa não atende mais como nos outros.

Ah, quanto a dizer que ser professor é algo que é 10ª opção para muitos e que chegam pessoas que não tem menor vocação nem desejo, está certo. Acontece mesmo e os motivos disso eu acho que são mais claros do que os das outras questões levantadas. É um problema também, sem dúvida.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu:De qualquer forma, como o professor vai exercer sua autoridade como antigamente, se for o caso? Castigos físicos são ilegais. Execração, cai no mesmo risco. Isso é para todos os cidadãos, inclusive o professor. Pode ser um bronca, expulsar de sala e mandar pro diretor, pode ser na nota e até na reprovação e chamar os responsáveis, se esses se importarem ou não se revoltarem com o professor.


Sugerir que alguém deseja que o professor exerça sua autoridade "como antigamente" é apenas outro modo de chamar de anacrônico quem defende a autoridade do professor.

Para quem se interessar, um modelo digno de nota são as escolas técnicas do SENAI, mantidas e administradas pela indústria, e que sempre primaram por um código rígido de disciplina interna, seguido a risca pelos alunos, em sua maioria filhos de operários pobres, inclusive favelados.
Não custa lembrar que um ex-aluno do SENAI hoje é presidente da república.

A pergunta que não vejo muitos burocratas da educação fazendo é por que o SENAI consegue e outras escolas não?


Mucuna escreveu:O que você faz quando pega aluno completamente despreparado na 7ª série, por exemplo, com sérios problemas em conhecimentos básicos? Vc vai sair tacando a matéria, assumindo que aquilo não é problema seu já que não é sua matéria do programa e os alunos que se virem? Do que isso vai adiantar?


Volta-se ao problema do sistema. Se o aluno chegou completamente despreparado é porque o sistema permite, ou melhor, incentiva isto.

Mucuna escreveu:Vc não vai resolver todos os problemas do mundo nem vai querer ser o exército de um homem só.
Sua obrigação é educar no currículo formar sim, mas também é fazer parte na formação de um cidadão. Isto está inclusive escrito em lei. Que cidadão vc está formando tirando ele da escola e largando-se sabe-se lá onde?


Bem, como não sou famoso pela sutileza, vamos direto ao ponto.
Esta história de que a responsabilidade do professor é a formação do cidadão é a desculpa atrás da qual os professores vagabundos se escondem. Não que professores honestos que querem formar cidadãos sejam vagabundos, pelo contrário, mas os vagabundos sabem muito bem que "formar cidadão" é um objetivo vago demais para gerar aquilo que mais temem, cobranças individuais.

Professor de matemática ajuda a formar um cidadão ensinando matemática a ele. Se não ensinou matemática, falhou na parte que lhe cabia na formação do cidadão. Simples assim.


Mucuna escreveu:Nas décadas de 1950 e 60, menos da metade das crianças tinham acesso há educação no país. Quando se "resolveu" que educação era um direito de todos (e hoje apesar dos pesares quase toda criança tem acesso a escola), vcs acham que o investimento em estrutura, estudos e pesquisas, profissionalização, mão de obra, enfim, recursos diversos, cresceram nessa mesma proporção? Claro que não, né?

Quando se foi atender essa parcela que foi deixada para coisa correr solta, a coisa não atende mais como nos outros.


Outros países passaram por experiência semelhante de ter que atender rapidamente às demandas educacionais da industrialização. O Brasil, particularmente o regime militar, escolheu uma ideologia de "deselitização" do ensino, cujo resultado foi sacrificar a qualidade em prol da quantidade.
Coréia do Sul, que nos anos sessenta era mais pobre que o Brasil e ainda vivia o trauma de duas guerras recentes escolheu modelo melhor.
Quando se diz isto um monte de gente grita as diferenças culturais, mas poucos lembram que é melhor adaptar experiências estrangeiras bem sucedidas do que repetir experimentos nacionais fracassados.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Mucuna »

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:De qualquer forma, como o professor vai exercer sua autoridade como antigamente, se for o caso? Castigos físicos são ilegais. Execração, cai no mesmo risco. Isso é para todos os cidadãos, inclusive o professor. Pode ser um bronca, expulsar de sala e mandar pro diretor, pode ser na nota e até na reprovação e chamar os responsáveis, se esses se importarem ou não se revoltarem com o professor.


Sugerir que alguém deseja que o professor exerça sua autoridade "como antigamente" é apenas outro modo de chamar de anacrônico quem defende a autoridade do professor.

Para quem se interessar, um modelo digno de nota são as escolas técnicas do SENAI, mantidas e administradas pela indústria, e que sempre primaram por um código rígido de disciplina interna, seguido a risca pelos alunos, em sua maioria filhos de operários pobres, inclusive favelados.
Não custa lembrar que um ex-aluno do SENAI hoje é presidente da república.

A pergunta que não vejo muitos burocratas da educação fazendo é por que o SENAI consegue e outras escolas não?


Não sei se vc leu, mas eu não defendi que o professor não deva ter autoridade. Leitura seletiva? Mencionei isso pq a pedagogia "de antigamente", citada por muitos, envolvia estas atitudes. Quantos não ouviram "no meu tempo tinha palmatoria e ajoelhavamos no milho". Tenta fazer isso hoje, sendo professor ou não.

Há modelos bons, sim, claro. CAPs e Pedro II da vida são exemplos disso, mas não os únicos.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:O que você faz quando pega aluno completamente despreparado na 7ª série, por exemplo, com sérios problemas em conhecimentos básicos? Vc vai sair tacando a matéria, assumindo que aquilo não é problema seu já que não é sua matéria do programa e os alunos que se virem? Do que isso vai adiantar?


Volta-se ao problema do sistema. Se o aluno chegou completamente despreparado é porque o sistema permite, ou melhor, incentiva isto.


Culpar só visões diferentes da pedagogia e suas faculdades por isso, que é visivelmente pouco conhecida pelo que podemos ver do que foi escrito aqui, é muito cômodo.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Vc não vai resolver todos os problemas do mundo nem vai querer ser o exército de um homem só.
Sua obrigação é educar no currículo formar sim, mas também é fazer parte na formação de um cidadão. Isto está inclusive escrito em lei. Que cidadão vc está formando tirando ele da escola e largando-se sabe-se lá onde?


Bem, como não sou famoso pela sutileza, vamos direto ao ponto.
Esta história de que a responsabilidade do professor é a formação do cidadão é a desculpa atrás da qual os professores vagabundos se escondem. Não que professores honestos que querem formar cidadãos sejam vagabundos, pelo contrário, mas os vagabundos sabem muito bem que "formar cidadão" é um objetivo vago demais para gerar aquilo que mais temem, cobranças individuais.

Professor de matemática ajuda a formar um cidadão ensinando matemática a ele. Se não ensinou matemática, falhou na parte que lhe cabia na formação do cidadão. Simples assim.


Desculpa? Se vc não aprendeu nada sobre cidadânia e convivencia em grupo e regras da sociedade na escola, lamento. Eu aprendi lá também.

No seu exemplo, no que adianta vc, professor de matemática, tacar equações de 2º grau no quadro se os alunos não sabem nem reconhecer uma de 1º grau? Vai falhar na tarefa de ensinar matemática e da "vaga tarefa de formar cidadãos". Não sei pq isso é tão dificil de entender.

Acauan escreveu:
Mucuna escreveu:Nas décadas de 1950 e 60, menos da metade das crianças tinham acesso há educação no país. Quando se "resolveu" que educação era um direito de todos (e hoje apesar dos pesares quase toda criança tem acesso a escola), vcs acham que o investimento em estrutura, estudos e pesquisas, profissionalização, mão de obra, enfim, recursos diversos, cresceram nessa mesma proporção? Claro que não, né?

Quando se foi atender essa parcela que foi deixada para coisa correr solta, a coisa não atende mais como nos outros.


Outros países passaram por experiência semelhante de ter que atender rapidamente às demandas educacionais da industrialização. O Brasil, particularmente o regime militar, escolheu uma ideologia de "deselitização" do ensino, cujo resultado foi sacrificar a qualidade em prol da quantidade.
Coréia do Sul, que nos anos sessenta era mais pobre que o Brasil e ainda vivia o trauma de duas guerras recentes escolheu modelo melhor.
Quando se diz isto um monte de gente grita as diferenças culturais, mas poucos lembram que é melhor adaptar experiências estrangeiras bem sucedidas do que repetir experimentos nacionais fracassados.


Pois é, vejo clara falta de foco de identificar as (várias) origens do cenário atual no Brasil.
Legal que sempre que citam Coréia do Sul como exemplo de educação, esquecem que lá, nos últimos 25 anos, o índice de suicidio de lá foi de uns dos mais baixos do mundo para um dos mais altos do mundo. A pressão é muito grande nos alunos e se estes começam a se matar, é bom vc fazer uma análise critica da sua política e sistema.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Acauan »

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Sugerir que alguém deseja que o professor exerça sua autoridade "como antigamente" é apenas outro modo de chamar de anacrônico quem defende a autoridade do professor.

Para quem se interessar, um modelo digno de nota são as escolas técnicas do SENAI, mantidas e administradas pela indústria, e que sempre primaram por um código rígido de disciplina interna, seguido a risca pelos alunos, em sua maioria filhos de operários pobres, inclusive favelados.
Não custa lembrar que um ex-aluno do SENAI hoje é presidente da república.

A pergunta que não vejo muitos burocratas da educação fazendo é por que o SENAI consegue e outras escolas não?


Não sei se vc leu, mas eu não defendi que o professor não deva ter autoridade.


E eu não sei se você leu mas em nenhum momento sugeri isto.

Mucuna escreveu: Leitura seletiva?


Se houve, não foi minha.

Mucuna escreveu: Mencionei isso pq a pedagogia "de antigamente", citada por muitos, envolvia estas atitudes. Quantos não ouviram "no meu tempo tinha palmatoria e ajoelhavamos no milho". Tenta fazer isso hoje, sendo professor ou não.


Bem, não é com estas pessoas que você está discutindo agora.

Mucuna escreveu:
Acauan escreveu: Volta-se ao problema do sistema. Se o aluno chegou completamente despreparado é porque o sistema permite, ou melhor, incentiva isto.


Culpar só visões diferentes da pedagogia e suas faculdades por isso, que é visivelmente pouco conhecida pelo que podemos ver do que foi escrito aqui, é muito cômodo.


Não é cômodo.
É apenas constatação do óbvio.
Em São Paulo e outros lugares há a progressão continuada, na qual o aluno não pode ser reprovado nas primeiras séries mesmo que não tenha aprendido porra nenhuma. Que tal aluno chegue analfabeto às séries seguintes é só consequência.


Mucuna escreveu:
Acauan escreveu:Bem, como não sou famoso pela sutileza, vamos direto ao ponto.
Esta história de que a responsabilidade do professor é a formação do cidadão é a desculpa atrás da qual os professores vagabundos se escondem. Não que professores honestos que querem formar cidadãos sejam vagabundos, pelo contrário, mas os vagabundos sabem muito bem que "formar cidadão" é um objetivo vago demais para gerar aquilo que mais temem, cobranças individuais.

Professor de matemática ajuda a formar um cidadão ensinando matemática a ele. Se não ensinou matemática, falhou na parte que lhe cabia na formação do cidadão. Simples assim.


Desculpa? Se vc não aprendeu nada sobre cidadânia e convivencia em grupo e regras da sociedade na escola, lamento. Eu aprendi lá também.


O que você ou eu aprendemos sobre cidadania e convivência em grupo e regras da sociedade na escola é irrelevante, tanto quanto as reações emocionais, tão previsíveis quando fatos desagradáveis que tantos preferem não tocar são trazidos à baila sem maiores senões ou poréns.

Toda escola em todo lugar do mundo sempre se ocupou de educação social, havendo inclusive disciplinas e professores específicos para isto, como nos casos de higiene e saúde ou educação moral e cívica.

O que não dá prá engolir é professor de lingua portuguesa que diz estar formando cidadãos enquanto a maioria de seus alunos é analfabeto funcional e ele não faz nada a respeito. Tá cheio.


Mucuna escreveu: No seu exemplo, no que adianta vc, professor de matemática, tacar equações de 2º grau no quadro se os alunos não sabem nem reconhecer uma de 1º grau? Vai falhar na tarefa de ensinar matemática e da "vaga tarefa de formar cidadãos".


Uai?
E equação de primeiro grau não é matemática?


Mucuna escreveu: Não sei pq isso é tão dificil de entender.


Não é. Você que acha que eu sou burro.

Mucuna escreveu: Legal que sempre que citam Coréia do Sul como exemplo de educação, esquecem que lá, nos últimos 25 anos, o índice de suicidio de lá foi de uns dos mais baixos do mundo para um dos mais altos do mundo. A pressão é muito grande nos alunos e se estes começam a se matar, ...


Estatísticas de suicídio são um recurso comum para as mais variadas alegações especulativas. Lembro-me dos anos em que se ouvia que a Suécia era um paraíso, mas os suicídios... e ninguém sabia porra nenhuma da Suécia.

No caso da Coréia o problema é a competição e não o sistema educacional. Os pais pressionam os filhos para que tenham notas máximas para que possam ter acesso às melhores universidades e aos melhores empregos.
É isto e não a pedagogia e didática do sistema coreano que exerce pressão psicológica sobre os alunos.


Mucuna escreveu: ,,,é bom vc fazer uma análise critica da sua política e sistema.


Presumo que depois de fazer análise crítica você vá me recomendar desenvolver minha consciência social ou outro chavão batido do gênero.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Mucuna, não se pode aceitar retroceder na matéria para uma turma de 30 ou 40, quando 1, 2 ou 3 alunos apresentam atraso grave. É piorar a situação para 30 ou 40 e ainda deixar, possivelmente, um saldo devedor para a conta do professor do ano seguinte.
Tais casos devem ser discutidos com a direção e os responsáveis ( se houver...). Aula extra, exercícios fora de aula, reforço ou até deveria ser pensado em atrasar o aluno ( voltar para o ano anterior, sim! alguém cometeu o erro grave de passá-lo de ano sem saber a matéria). Talvez uma dependência de imersão nas férias ou aos sábados, enfim...

Precisamos ter o coração menos mole e ser menos laissez faire ou seremos cúmplices na desestruturação do que ainda resta.
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Re: Acauan e Cabeção: Rota na escola

Mensagem por Apo »

Acauan escreveu:O que não dá prá engolir é professor de lingua portuguesa que diz estar formando cidadãos enquanto a maioria de seus alunos é analfabeto funcional e ele não faz nada a respeito. Tá cheio.


Escolas públicas ( especialmente as que têm apenas ensino fundamental) costumam ter esta postura tola e cômoda. Um lugar onde se depositam filhos "dos outros" e o professores têm a obrigação enfadonha de mantê-los com a bunda nas cadeiras até que soe a sirene para o recreio. E ainda tem o segundo tempo. Calor, bafo, bagunça, fome, xixi, brigas e problemas trazidos de casa, não conseguem ser terreno fértil para intelectualidades. Muito menos para quem precisa pensar na próxima greve por salários baixos. Some-se a isto a proibição de apontar erros ( porque deixa o aluno traumatizado :emoticon9: ) , rodar de ano ou expulsar da escola, e não há quadro e giz que tenham relevância.

É dramático.
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Trancado