Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

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spink
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Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por spink »

O Biscoito Fino e a Massa combate as falsas simetrias desde outubro de 2004. Outro dia, numa mesa de bar, tive que ouvir a velha história de que “machismo” e “feminismo” são duas coisas idênticas; de que as mulheres deveriam abandonar essa história de feminismo porque ... afinal de contas, somos todos seres humanos! Uma amiga querida, feminista, encarregou-se de explicar o óbvio: que o machismo é a justificativa ideológica de uma opressão milenar, que subjuga as mulheres, relega-as à condição de serventes, e que o feminismo representa a luta por uma sociedade em que todos tenhamos os mesmos direitos-- uma sociedade em que as mulheres possam, por exemplo, legislar sobre seu próprio útero. Daí, a conversa da nossa interlocutora descambou para a discussão do racismo, onde ela de novo repetia a ladainha de que uma camisa 100% negro e uma camisa 100% branco representavam coisas igualmente reprováveis, como se não tivesse havido aquele pequeno detalhe chamado escravidão.

Está em curso uma perigosa tendência a silenciar os ateus. O argumento – calhorda, cafajeste, ignorante – é que cada vez que um ateu sai do armário, se assume como tal e começa, a partir dali, a articular publicamente suas razões para ser ateu, ele está repetindo, mimetizando, reproduzindo a doutrinação evangélica com a qual somos bombardeados todos os dias. Cada vez que os ateus começamos a falar publicamente sobre essa mais óbvia e razoável das escolhas vem alguém nos acusar de ... estar querendo evangelizar os outros!

Dá pra imaginar uma simetria mais falsa?

Uma pesquisa recente, da Fundação Perseu Abramo, mostra que os ateus representamos o grupo social mais discriminado socialmente. Mais que negros. mulheres, travestis, gays, lésbicas. Mais, até mesmo, que transsexuais. Eu não estou dizendo que a discriminação cotidiana que sofre, por exemplo, um ateu branco, é comparável à que sofre um negro de qualquer crença. Não é. Não é, em primeiro lugar, porque ser negro e, até certo ponto, ser gay, são coisas impossíveis de se esconder. Ser ateu, não. Mas se você perguntar a um brasileiro em qual membro de grupo social ele não aceitaria votar de jeito nenhum, os ateus estamos, disparados, em primeiro lugar. Vivemos ainda nesse estranho regime que associa a moralidade à crença religiosa, como se existisse alguma relação entre religiosidade e comportamento moral, como se não soubéssemos nada sobre a lambança feita pelos padres com as crianças e adolescentes – para não falar dos séculos de lambança obscurantista e anticientífica promovida pelas religiões.

A crítica que ouço por aí a Richard Dawkins – que ele está liderando um movimento ateu que tem caráter evangelizante, doutrinador, e que portanto ele acaba se parecendo a um crente – é de uma burrice digna de um cristão. Nós passamos séculos em que os ateus não tínhamos sequer o direito de falar na esfera pública enquanto tais. Nós vivemos num mundo onde professores são despedidos por serem ateus; adolescentes recebem suspensão na escola por serem ateus; políticos que se declaram ateus têm pouquíssimas chances de serem eleitos. Essa mais razoável e óbvia das conclusões filosóficas – a de que o mundo não foi criado por nenhum ser onipotente – ainda é motivo de perseguição severa para qualquer um que a abrace.

Apesar do caráter laico da República Federativa do Brasil, garantido na nossa constituição, as religiões ainda gozam desses estranhos privilégios: não pagam impostos, por exemplo. A pior parte é que elas podem dar palpite em absolutamente tudo -- desde o currículo escolar até o útero alheio – mas, no momento em que são questionadas, o debate é silenciado com aquele mais cretino dos argumentos, ah, tem que respeitar minha religião.

Entendam o ponto de vista d' O Biscoito Fino e a Massa sobre isso: tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças, a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre aparece alguém para dizer "ah, tem que respeitar minha religião".

Ideias não foram feitas para serem "respeitadas". Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade (gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua superstição é, essa sim, uma opção.

As três famílias que chamo de minhas – a sanguínea, a de meu amor e a da mãe de meus filhos, todas elas majoritamente católicas – são testemunhas de que jamais invadi um ritual religioso deles para fazer sátira, questionar o que quer que seja ou tentar converter quem quer que seja. O ritual acontece no espaço privado – que é onde ele tem o direito constitucional de acontecer – sem que eu jamais o desrespeite. Mas isso não é porque eu “respeito a religião”. Isso é porque eu os respeito, como pessoas. Tenho a opção de acompanhar o ritual em silêncio ou afastar-me porque, afinal de contas, são três famílias maravilhosas.

Entendam: o debate na esfera pública são outros quinhentos. E, neste debate, nós chegamos para ficar. Ateus, saiam do armário. Sem medo. É muito melhor.

http://www.idelberavelar.com/archives/2 ... etrias.php
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Fernando Silva
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Re: Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por Fernando Silva »

Eles deviam se perguntar por que ateus não saem por aí condenando os deuses egípcios e greco-romanos.
Quando entenderem isto, talvez entendam por que ateus condenam a Bíblia.

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spink
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Re: Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por spink »

ja viram essa?

Matéria do Estadão de hoje: Fifa repreende comemoração religiosa da seleção brasileira: federação manda alerta à CBF após o Brasil ser acusado de utilizar o futebol como palco para a religião.

A sabedoria popular ensina que futebol, política e religião não se discutem. E eu acrescento: não devem se misturar também.

Não deveriam, mas se misturam: quantos candidatos a cargos públicos não foram eleitos por seu time ou por sua religião? quantas e quantas vezes o nome de Deus não é invocado em favor de um time de futebol (por que Ele deveria proteger o seu time e não o meu?)? E agora mais essa: os jogos de futebol sendo utilizados como propaganda religiosa.

“Ah, não tem nada demais isso”, dirão muitos; “É só um agradecimento a Deus por parte de um fiel”, dirão outros.

Não, não é. É proselitismo religioso.

Se o intuito é agradecer a Deus, os jogadores deveriam organizar um culto (ecumênico, católico, protestante ou o que preferirem) longe dos gramados, ou simplesmente, fazerem suas orações no vestiário. Showzinhos de demonstração de fé perante as câmeras estão mais para propaganda religiosa pura e simples do que para sincero agradecimento a Deus.

O torcedor não vai ao campo interessado em religião. Ele vai para assistir a futebol, quando possível, de boa qualidade e para torcer pela vitória de seu time.

Aproveitar uma vitória para divulgar uma religião para milhares de pessoas que compareceram ali e para milhões que ligaram sua TV para assistir ao futebol é marketing religioso barato. Ou melhor, gratuito (a Nike paga um bom dinheiro para colocar sua marca no uniforme da seleção brasileira; as religiões não precisaram pagar nada).

Se a moda pega, haverá espaço na seleção brasileira para jogadores muculmanos? budistas? ateus? Sim, porque se não há mal algum em ver o Kaká com uma camisa “I belong to Jesus”, um outro jogador pode querer usar uma camisa “Deus um delírio” e ninguém vai poder reclamar. Ou vai?

E se o jogador em vez de propagandear seu deus, resolver divulgar seu candidato? Na Copa do Mundo poderíamos ter jogadores na seleção “Vote Dilma!” e “Vote Serra!”. E o torcedor em casa “rezando” para o “Vote Serra!” ser substituído e para o “Vote Dilma!” fazer um gol.

A “guerra” em campo é em nome de um time e não de um candidato ou de um Deus. O esporte historicamente sempre uniu os povos, em torno do lúdico. Que a religião não entre em campo para separar jogadores e torcedores de um mesmo time.

Cada um no seu quadrado!

http://tuliovianna.wordpress.com/2009/0 ... -em-campo/
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Johnny
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Re: Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por Johnny »

A resposta é muito simples: A igreja que pode mais, chora menos.
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Apo
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Re: Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por Apo »

Medo de sair do armário? E desde quando estive dentro? PQP esta gente, porra!

Por que tanto medo? Não saio por aí com bandeiras escrito ATEU, nem encho o saco de quem não me enche. Mas aprendi a responder à altura quando a estupidez e a tirania tentam me enfiar garras insidiosamete. Por que eu não faria isto também para me defender ou delimitar meu espaço de livre pensamento e expressão ( ateus nem estão interessados em ficar vomitando versículos e dogmas, só querem ser livres para não acreditar no deus insano dos outros!) ?
Só não posso mudar o que vem de esferas superiores ( não é de deus porra nenhuma), como eu pagar imposto para alimentar o enriquecimento ilícito de templos e igrejas!

Além do mais, simetricamente falando, não respeito religião alguma, assim como não respeito ideologias podres em geral. Discutir e questionar? Evidente que sim! Dêem-me uma só razão convincente para respeitar ou não questionar e eu mesma me coloco a mordaça. Maldita ditadura milenar esta de respeitar religião e discursos proselitistas. Oras colocando como argumento o deus deles ( que desconheço ou que se mostra um cafajeste de primeira, projeção daqueles que o criaram e o apóiam acima da moral e da lei). Ora colocando o direito ao respeito em questão de virtude. Mas exigir respeito requer coerência. Isto religião alguma tem pelas outras e nem por aqueles que alicia, tentando aumentar seu contingente.
Mas o pior de tudo é quando estas idéias surgem ou são tidas como aceitáveis dentro do Estado. Esta mistura sempre foi perigosa.


Quanto à falsas simetrias, notadamente em relação à branco e negro. Dizer que 100% negro é válido e 100% branco é crime, não é justo, em falta de termo melhor. É uma alegação que se baseia em falácias e mentiras. Houve escravidão de negros por negros e de brancos por brancos, e agora? Negros usam esta da escravidão para obter privilégios e continuar a expor seus instintos bem observados nas letras de hip hop e funk. Fora o gestual. Danem-se enquanto continuarem insistindo neste formato. Parabéns e apreço pelos que não se posicionam assim.
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Fernando Silva
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Re: Ateus, saiam do armário! Ateísmo e falsas simetrias

Mensagem por Fernando Silva »

Apo escreveu:Houve escravidão de negros por negros e de brancos por brancos, e agora? Negros usam esta da escravidão para obter privilégios e continuar a expor seus instintos bem observados nas letras de hip hop e funk. Fora o gestual. Danem-se enquanto continuarem insistindo neste formato. Parabéns e apreço pelos que não se posicionam assim.

Sem falar em que houve escravidão de negros por negros, inclusive no Brasil.
Era normal ter escravos. Assim que se alforriavam, os ex-escravos tratavam de comprar seus próprios escravos.

Trancado