'Este mundo? Eu dispenso!'

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marcoscfh
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'Este mundo? Eu dispenso!'

Mensagem por marcoscfh »

'Este mundo? Eu dispenso!'

Artigo da leitora Carolina Batista da Silva

Nós somos condicionados a todo o momento a pensar, a ter ideias e soluções
brilhantes, a oferecer projetos fenomenais, a produzir, a criar textos
célebres. Somos dominados por uma enxurrada de informações e cobranças que
buscam formar ou moldar os "novos talentos do futuro", por sinal uma
expressão cada vez mais utilizada no nosso cotidiano.
Essa pressão pela dianteira das novidades, pela liderança dos negócios, pela
vanguarda das invenções, pelo domínio da vida pessoal e pelo perfeito
equilíbrio da tríade amor-sucesso-felicidade é apenas mais um simulacro que
nos ilude. Por que nos deixamos seduzir por esses ideais impostos pela
sociedade em aliança com a mídia que obtêm um resultado de tal magnitude que
a quantidade de jovens decepcionados com a "vida real" se multiplica como
uma peste? Por que sofremos por não obter "os melhores resultados", ou
melhor dizendo, por que somos sempre cobrados a ter os melhores resultados?
Na vida profissional, na vida pessoal, no amor?

Nós somos incitados a uma competitividade doentia, imposta por um sistema
sem identificação aparente, sem rosto, que prefere se esconder para que seu
poder manipulatório seja mais eficiente. Meu Deus, quanta neurose! Até mesmo
eu, penso isso de mim de vez em quando. Essas ideias provenientes de uma
mente, aparentemente sã, soam muito loucas porque somos ensaiados a pensar
como pessoas, indivíduos, componentes de uma sociedade que prega a
diversidade, mas que cultiva a homogeneidade de comportamento, de
pensamento, de estética, de cultura. Uma sociedade que cultiva o medo, a
insegurança, que nos ensina mostrar a todo o custo nossos "talentos" (seja
ele uma cura milagrosa para o câncer ou um belo bumbum rebolativo. Na
verdade, de acordo com a atual conjuntura, sinto dizer, o bumbum faria bem
mais sucesso!).

É esse o mundo reservado a nós? É isso que por anos homens sonharam e
buscaram aprimorar para seus filhos? Um aparelho que comunica pessoas de
lugares diferentes, um veículo que se locomove por vias, outro pelo mar, e,
quem diria, que te faz voar! Um forno que faz comida sozinho, um telefone
que te avisa quando acordar, quando tomar seu remédio, quando alguém te
ligou e você não pôde atender, quando seu time perdeu, quanto você gastou na
última compra. Será que já criaram um aparelho que te ajuda a calcular
quanto tempo você perdeu da sua vida em busca destes ditames aterradores que
ignoram o futuro, mas que adoram o presente como um Deus poderosíssimo?

Ah, eu sei a resposta para esta pergunta complexa, mas... O que será que eu
ganho com isso? O "Prêmio Nobel da Verdade" por conseguir enxergar um
elefante rosa desses? É, acho que vou pensar no caso! Pelo visto, essa
"moeda de troca" imposta por um capitalismo fracassado é contagiante mesmo!
Reformulando a resposta: é claro que ninguém inventou uma máquina que te
ajuda a contabilizar o seu tempo perdido com essas imposições do sistema e,
sinto muito informar, nem irão inventar, porque isso é para ser esquecido.
E, desculpe-me por lembrar, mas acalme-se, provavelmente, ano que vem o
Steve Jobs lançará um novo iPhone que, além de te conectar com a internet,
te possibilitar ouvir músicas e assistir vídeos, te mostrar o caminho de
casa e, ãh, telefonar, claro. Irá compor músicas para você e dará conselhos
emocionais! Venhamos e convenhamos, com um aparelho desses, quem precisa de
amigo, né?

Bom, desculpe-me pela falta de delicadeza, mas opto pela sinceridade em
detrimento do manual de boas maneiras a que fui submetida desde criança, e
ouso dizer: não, muito obrigada! Se é esse o mundo que me foi reservado,
aproprio-me da maior cara de pau, tão criticada, quem diria, por mim mesma,
para rejeitá-lo! Não, eu não quero este mundo pra mim! Mas se serve para
você, faça bom proveito! De repente, quem sabe, o Barack Obama promove uma
mudança miraculosa a nível planetário, os palestinos e israelenses
celebrarão este feito unidos, o presidente do Irã será o entusiasta da
ideia, a fome na África será extirpada e 90% dos políticos se tornarão
honestos. Quando este dia chegar, por favor, me avise por e-mail ou celular,
sem restrição de horários! Até lá, lamento desapontar: este mundo? Eu
dispenso!

http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/200 ... 939523.asp

Trancado