A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

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Fernando Silva
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A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

As esquerdas, em 1964, achavam que o Brasil era conforme o que diziam os livros de ideologia que elas decoravam: um proletariado e uma classe operária unidos e conscientizados, só esperando uma chance para lutar contra o "imperialismo ianque", com a ajuda da classe média simpatizante.

Quebraram a cara: quando a hora chegou, o proletariado e os operários não estavam nem aí, a classe média se revelou de direita e os "ianques" nem deram as caras. Quem tomou o poder foram os insustpeitos militares.

"O Globo" 28/07/09

De Tancredo a Sarney, aprendemos muito
A verdade do país aparece sob a lama

Arnaldo Jabor

O Brasil mudou dentro de nós — muito.
Não falo só da História recente. Falo de nossa vida interior desde 1964 até hoje. Falo de bobagens, detritos, coloquialismos, escândalos que criaram uma mutação silenciosa em nossas cabeças.
Antes de 64, o ritmo das coisas tinha a linearidade de um filme acadêmico. Para nós, jovens de esquerda, o país era ameaçado por uma sinistra “direita” — causa de todos os dramas.

Não sabíamos que éramos parte do problema.
Falávamos em “luta de classes”, mas não conhecíamos a violência da “reação”.
Dizíamos: “Nosso exército é democrático porque é de classe média, e a burguesia nacional é progressista. Não trairão Jango”. Nosso raciocínio era uma equação primitiva.

Nada descreve o choque da aparição de Castello Branco na capa da “Manchete”. Nunca ouvíramos falar daquele homenzinho fardado, feio como um ET. Rompeu-se em 64 o sonho de que as “ideias” mudariam o mundo. Dissolveu-se o “futuro harmônico” de um socialismo imaginário.
Um general baixinho mandava em todos, acima das “sagradas massas”.

Aprendizado: a ignorância popular, a dureza das coisas, o acaso eram mais fortes que nossos ingênuos desejos. Fizemos, claro, um diagnostico “histórico”: “64 foi um golpe dado pelo conservadorismo das elites diante das massas surgidas na industrialização, com o apoio do imperialismo”. Tudo bem — mas foi muito mais que isso. Foi um golpe dado pela classe média apavorada, com medo de sua própria “esquerda”. Não havia “operários” no Brasil, antes de surgir a alegoria de Lula, para orgasmo dos intelectuais da Academia. Em 64, descobrimos que não havia “massas proletárias”.

Achávamos que íamos lutar contra fascistas e yankees e fomos vencidos por nossas tias. A adesão à 64 foi impressionante.
Nossos pais, primos, avós, todo mundo (descobrimos) era “de direita”.
A derrota do janguismo foi coberta de ridículo. Houve um lado “bom” nisso: o pensamento político que flutuava em certezas teve que se rever. Perdêramos a inocência — surgiu a esquerda autocrítica que viria a fundar o PSDB, duas décadas depois. A ela se opôs, desde então, a esquerda ortodoxa (apoiada pela igreja idealista e acadêmicos metafísicos), que não renegou a antiga fé e desembarcou seus dogmas no PT.

Em 66, começaram as passeatas pela liberdade.
Antes do Ato no.5 havia algum espaço de protestos, com uma vaga permissão de Castello e até do Costa e Silva, num populismo verde-oliva. Achávamos que a volta da liberdade resolveria tudo. A luta pela democracia nos cegou para o quebra-cabeças de um país maluco, que conheceríamos depois.
As manifestações de rua acabaram com a decretação do Ato Institucional no5, como um final de piada, com dona Iolanda Costa e Silva, nossa perua-Lady Macbeth berrando para o marido já lelé: “Fecha o Congresso, Arthur, fecha!”.

Em 68, um raio partiu a vida. A consciência nacional conheceu a morte. Não falo só da tortura ou da violência, mas da morte na alma.
Acabou a ideia de “povo unido”, e começou a época dos francos atiradores, dos guerrilheiros suicidas, soltos em paisagens vazias.

Quem não viveu de 69 a 73 não sabe o que é loucura, piração de cabeças. Saímos da ilusão para o desespero. De um lado, a morte heroica na guerrilha, do outro o “desbunde” na cultura arrasando as melhores mentes no LSD e no misticismo — e tudo cercado pela show da grana multinacional, criando o “milagre” brasileiro, jorrando yuppies endinheirados e dando ao povão a imagem de grande progresso, feito de Transamazônica, Itaipu e porrada.
Nem reforma agrária nem educação — somente a Copa de 70 e estatismo retumbante, financiado pela onda bancária internacional.

Em 72 começa a crise do petróleo mundial, provocando a tal “abertura” política de Geisel (não por acaso). A Opep ajudou na demanda de liberdade pois, sem petrodólares, a ditadura foi ruindo. À medida que a capacidade de endividamento diminuía, crescia o desejo de democracia. Quem ditava as regras? Os militares? Não: a marcha das coisas. Fomos aprisionados em 64 para contrair a imensa dívida externa que os bancos internacionais nos enfiaram pela goela e “libertados” em 85 para pagá-la. Assim, veio a democracia.

Todos se “uniram” no “amor à Pátria”, de Ulisses a Quércia, de Tancredo a João Alves, aquele anão do orçamento (lembram?). Houve a ingênua ilusão de que éramos “irmãos” contra o Mal autoritário dos militares. Tancredo morre na porta do Planalto, Sarney assume, e, depois, Collor.
Collor fez uma revolução contra si mesmo, expondo com seu narcisismo suicida o absurdo do sistema político sob as saias da “democracia”.
Sua loucura escancarada nos abriu os olhos.

Depois, por acaso, por uma paixão de Itamar, entrou FHC, que nos deu oito anos de vida real e racionalidade, odiado pela inveja de seus colegas da Academia e sabotado pela velha esquerda lotada no PT.

Depois dos oito anos tucanos, chegou Lula paz e amor, dominado pelos bolchevistas de Dirceu, até chegar o “libertador” Jefferson, o iluminista do “mensalão”, destruindo a “revolução da corrupção”.
Hoje, estamos aprendendo muito, e vejo, com um “desesperado otimismo”, a “sarneização” de Lula. O tsunami de políticos nordestinos em quadrilha tem nos ensinado muito sob a oligarquia patrimonialista que nos domina.

Sarney é um doutorado. Quem quiser entender esse homem vá ao Maranhão ver a miséria de um estado. E quem quiser entender o Brasil estude minuciosamente a vida de Sarney, de 66 até hoje. Explica o país.
A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujas alianças políticas, corrupção endêmica e incompetência administrativa.

Já sabemos que somos parte desta estupidez secular.
Prefiro nossa vergonha de hoje aos rostos iluminados dos jovens inocentes de minha geração.
Assumir a doença é o início da sabedoria.

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carlo
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por carlo »

Quem escreveu o texto Fernando Silva?
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NOSSA SENHORA APARECIDA!!!!

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Fernando Silva
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

carlo escreveu:Quem escreveu o texto Fernando Silva?

Foi mal. Postar às pressas dá nisto. Já incluí o autor.

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Fernando Silva
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

A história se repete com o MST.

"O Globo" 09-06-1960
O clima de tensão criado em Pernambuco chegou ao auge com as sucessivas invasões de terras por elementos das Ligas Camponesas. A comunização das propriedades vinha sendo efetuada a intervalos longos entre a posse de um engenho e a invasão de outro, completando-se o trabalho com a desapropriação pelo govêrno. Os sectários do deputado Francisco Julião tomarão alento com a neutralidade das autoridades policiais e agora já cogitam de formar um cinturão “vermelho” em tôrno da metrópole pernambucana.


E isto foi 4 anos antes da revolução.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Apo »

Sabem, este cenário é tão previsível e transparente, que só cabem duas opções:

- os que apóiam porque se fazem de bem-intencionados, mas estão querendo ver o circo pegar fogo.
- os demais - que são contra por motivos óbvios - e ficam se debatendo como numa camisa de força, porque o poder podre conta os primeiros para fazer o serviço sujo por eles.

Nojo de vermelhos! Depois se queixam de ditaduras de direita! Esta gente não entende outra linguagem: só resta o pau, que é do que eles gostam!
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Fernando Silva
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

Apo escreveu:Nojo de vermelhos! Depois se queixam de ditaduras de direita! Esta gente não entende outra linguagem: só resta o pau, que é do que eles gostam!

Como diz o Arnaldo Jabor, quando os esquerdinhas entram na porrada, sentem-se santificados e justificados.

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Acauan
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Acauan »

O típico esquerdista brasileiro é aquele cara sempre disponível para ensinar teoria econômica avançada, mas que não sabe a diferença entre fatura e duplicata.

O perfil do esquerdista militante rubro-auri-verde varia pouco.
Formado em humanidades, profissionalmente medíocre, com pretensões intelectuais referendadas mais por seu próprio ego que por alguma produção acadêmica reconhecida fora do âmbito fraterno dos correligionários.
É de classe média, da qual fala com desprezo como se não fizesse parte dela.
Tem uma visão messiânica e beatífica de si próprio, enquanto enxerga opositores políticos como hereges demoníacos.

E além de tudo, depois do politicamente correto os esquerdistas viraram um bando de chatos.
Nos tempos da esquerda festiva ainda era divertido partilhar uma mesa de bar com eles, hoje, nem isto.
Nós, Índios.

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Fernando Silva
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

Acauan escreveu:O típico esquerdista brasileiro é aquele cara sempre disponível para ensinar teoria econômica avançada, mas que não sabe a diferença entre fatura e duplicata.

No que não diferem muito de crentes semi-analfabetos que se julgam capacitados a contestar cientistas e físicos com décadas de preparo.
Acauan escreveu:É de classe média, da qual fala com desprezo como se não fizesse parte dela.

Em muitos casos, acha que já cumpriu sua missão ao desancar a "sociedade", culpada por quase tudo, e os "imperialistas ianques", culpados por todo o resto.
E lá se vai para o barzinho jogar conversa fora, em sua rotina pequeno burguesa.
Acauan escreveu:Tem uma visão messiânica e beatífica de si próprio, enquanto enxerga opositores políticos como hereges demoníacos.

Tem soluções que vão resolver todos os problemas do país por decreto, como num passe de mágica.
Acauan escreveu:E além de tudo, depois do politicamente correto os esquerdistas viraram um bando de chatos.
Nos tempos da esquerda festiva ainda era divertido partilhar uma mesa de bar com eles, hoje, nem isto.

Antigamente, havia um inimigo bem definido: a ditadura.
Hoje, eles não sabem muito bem para que lado atirar. Acabam atirando uns nos outros.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Apáte »

Pensei que antes do Jabor se tornar um granfino, ele tinha tomado uns sopapos na época do regime. Então ele sempre foi da esquerda botox...
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Acauan »

Apáte escreveu:Pensei que antes do Jabor se tornar um granfino, ele tinha tomado uns sopapos na época do regime. Então ele sempre foi da esquerda botox...


Os melhores textos do Jabor, na minha opinião, são os que relembram sua juventude de militante esquerdista nos anos sessenta.
Em certos momentos dá quase prá simpatizar com as aventuras daquele bando de cabeças ocas para quem até uma trepada no sofá com a companheira militante deveria ser interpretada dialeticamente como ação revolucionária contra a burguesia e sua moral classista repressora.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Apo »

A esquerda idealista, romântica - e depois reprimida e perseguida com o golpe de 64, era muito atraente pelo apelo a uma liberdade embalada pela onda hippie e depois pelos eventos de 68. Hoje são uns velhos repetitivos e chatos. Ou um monte de macacos que ainda batem palma para um modelo que eles nem sabem direito como aplicar num mundo civilizado.
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Darkside
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Darkside »

Acauan escreveu:O típico esquerdista brasileiro é aquele cara sempre disponível para ensinar teoria econômica avançada, mas que não sabe a diferença entre fatura e duplicata.

O perfil do esquerdista militante rubro-auri-verde varia pouco.
Formado em humanidades, profissionalmente medíocre, com pretensões intelectuais referendadas mais por seu próprio ego que por alguma produção acadêmica reconhecida fora do âmbito fraterno dos correligionários.
É de classe média, da qual fala com desprezo como se não fizesse parte dela.
Tem uma visão messiânica e beatífica de si próprio, enquanto enxerga opositores políticos como hereges demoníacos.

E além de tudo, depois do politicamente correto os esquerdistas viraram um bando de chatos.
Nos tempos da esquerda festiva ainda era divertido partilhar uma mesa de bar com eles, hoje, nem isto.


Você parece um especialista sobre a espécie, como é que se elimina esses trastes da função de professores universitários? :emoticon3:

Ps: Seus posts sempre são uma grata surpresa pra quem ainda vem aqui meio sem saber por que, depois de ter perdido o costume de aparecer.

Abraços Acauan!
"Temos uma coisa muito mais extraordinária: não só se consegue que uma mesa se mova magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde."

Alan Kardec, Obras Póstumas Pág. 237

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Fernando Silva
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

Roberto Campos:
Os esquerdistas, contumazes idólatras do fracasso, recusam-se a admitir que as riquezas são criadas pela diligência dos indivíduos e não pela clarividência do Estado

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Aranha
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Aranha »

- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.

- Em outras palavras, o pessoal da direita deveria ter lutado também, afinal o ideário direitista de valorização da liberdade não combina em nada com uma ditadura militar.

Abraços,
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Apo »

Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.

- Em outras palavras, o pessoal da direita deveria ter lutado também, afinal o ideário direitista de valorização da liberdade não combina em nada com uma ditadura militar.

Abraços,


É verdade. Mas acho que todo mundo teve que ficar quieto porque qualquer demonstração do contra enlouquecia os homi.
Por isto que sempre digo ( e os esquerdistas não querem entender) que o fato de alguém odiar a esquerda, não significa que seja de direita. Não de extrema direita, pelo menos. Não sei por que todo esquerdista ( que parece preferir regimes autoritários porque é raro uma esquerda ser liberal mesmo - liberdades individuais ) acha que todo não-esquerdista é de extrema direita. Só pode ser inocência ou espantalho do pior tipo: o de mau caráter.
Editado pela última vez por Apo em 15 Jun 2010, 19:35, em um total de 1 vez.
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.

A sociedade apoiou a revolução porque tinha medo dos comunistas.
E se sujeitou à ditadura porque a viu como o mal menor.
Não entendi onde entra o "economicamente" nesta história, a menos que se refira à vontade de manter o capitalismo (ou aquilo a que chamávamos capitalismo na época, já que o Brasil sempre teve uma economia altamente estatizada).

Por outro lado, eu passei boa parte da minha vida sob a ditadura e, apesar de saber da censura e repressão, tive uma vida normal e não me senti reprimido. A violência de hoje me reprime e censura muito mais.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Apo »

Fernando Silva escreveu:
Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.

A sociedade apoiou a revolução porque tinha medo dos comunistas.
E se sujeitou à ditadura porque a viu como o mal menor.
Não entendi onde entra o "economicamente" nesta história, a menos que se refira à vontade de manter o capitalismo (ou aquilo a que chamávamos capitalismo na época, já que o Brasil sempre teve uma economia altamente estatizada).

Por outro lado, eu passei boa parte da minha vida sob a ditadura e, apesar de saber da censura e repressão, tive uma vida normal e não me senti reprimido. A violência de hoje me reprime e censura muito mais.


Fernando, já discutimos isto trilhões de vezes aqui, e sempre de forma maniqueísta. Eu prefiro um meio termo.
Eu me sentia com muito medo, sim. Medo daquele climão e de um monte de informações sombrias e veladas que chegavam até mim, em criança especialmente, quando morei entre o Palácio do Governo, o Tribunal de Contas,a Assembléia Legislativa, o Quartel General do Terceiro Exército e estudei numa das escolas públicas que ficava no ponto mais estratégico da cidade - grudado no Palácio do Governo com vistas para o porto do Rio Guaíba. Além de ser a parte alta do Centro ( bairro ) e ser alvo de espiões do DOPS . O que mais eu via e ouvia era papo comunista e frisson militar. Eu não entendia direito, mas era tudo muito assustador. Claro que eu não sabia como era viver de outro jeito, mas ali existia uma tensão constante, sim. A Censura estava em tudo, mas muitos não percebiam, como não percebem agora também.

É como eu disse: as pessoas precisam viver bem, pelo menos dentro dos limites impostos. Mas tinham muito medo do Comunismo e medo daquilo que ali se apresentada como "solução". Ora, aquilo não era solução decente, era imoral .Manter a ordem debaixo de cacetete e perseguição resulta em tortura social, não só para os comunistas. Como esta putaria que está aí agora não é civilizado, nem moral e nem sinal de desenvolvimento político. O que temos é que agora a violência é executada de muitas formas e é compartilhada, e a impunidade é também libertinagem. O povo se sente mais livre, embora esteja numa prisão pérfida invisível. Se este é o tal país do futuro, e se "queremos muito mais" nesta linha, eu só posso lamentar pelo que virá.
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por marta »

O que eu conheço dos comunistas é que eles são vagabundos no úrtimo!! Não querem nada com o cartão de ponto e adoram uma aposentadoria de classe burguesa alta. Estão sempre pendurados em algum cargo público, ainda que irrelevante. É raro encontrá-los em empregos da iniciativa privada. São vagabundos e incompetentes. Daqueles que, tão logo pendurados nos cabides givernamentais, promovem e participam de greves por mais benesses. Essa turma me dá nojo!
Quando mostramos a eles que o comunismo não deu certo em parte alguma do planeta, eles dizem que ninguém sabe o que é comunismo. Ou seja, só eles sabem como aplicá-lo para dar certo. Eu quero anos luz de distância dessa gentalhada.
:emoticon105: :emoticon105: :emoticon105:
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Aranha »

Fernando Silva escreveu:
Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.

A sociedade apoiou a revolução porque tinha medo dos comunistas.
E se sujeitou à ditadura porque a viu como o mal menor.
Não entendi onde entra o "economicamente" nesta história, a menos que se refira à vontade de manter o capitalismo (ou aquilo a que chamávamos capitalismo na época, já que o Brasil sempre teve uma economia altamente estatizada).

Por outro lado, eu passei boa parte da minha vida sob a ditadura e, apesar de saber da censura e repressão, tive uma vida normal e não me senti reprimido. A violência de hoje me reprime e censura muito mais.



- Grupelhos políticos que apoiaram a revolução tiveram ganhos econômicos graças à gratidão dos milicos.

- Além disso, as massas amedrontadas viam no regime militar o oposto econômico ao comunismo, mesmo isto não sendo exatamente verdade, o que importa é o que a propaganda oficial diz.

- Acredito que a esmagadora maioria do proletariado chinês não esteja consciente de nenhuma repressão ou censura em seu país.

- Eu estava na universidade pública durante o governo figueiredo e nosso reitor era um capitão de mar-e-guerra colocado lá pelo regime militar por razões óbvias.

Abraços,
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

Apo escreveu:Fernando, já discutimos isto trilhões de vezes aqui, e sempre de forma maniqueísta. Eu prefiro um meio termo.
Eu me sentia com muito medo, sim. Medo daquele climão e de um monte de informações sombrias e veladas que chegavam até mim, em criança especialmente, quando morei entre o Palácio do Governo, o Tribunal de Contas,a Assembléia Legislativa, o Quartel General do Terceiro Exército e estudei numa das escolas públicas que ficava no ponto mais estratégico da cidade - grudado no Palácio do Governo com vistas para o porto do Rio Guaíba. Além de ser a parte alta do Centro ( bairro ) e ser alvo de espiões do DOPS . O que mais eu via e ouvia era papo comunista e frisson militar. Eu não entendia direito, mas era tudo muito assustador.

Talvez o clima fosse diferente dependendo do lugar. Como já disse em outros tópicos, tive parentes presos e exilados, mas isto não chegou a afetar minha vida. Eu não pensava no assunto, apesar de estar ciente da situação. Tinha meus estudos, minha vida e mais tarde meu emprego para ocupar minha cabeça.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Fernando Silva »

marta escreveu:O que eu conheço dos comunistas é que eles são vagabundos no úrtimo!! Não querem nada com o cartão de ponto e adoram uma aposentadoria de classe burguesa alta. Estão sempre pendurados em algum cargo público, ainda que irrelevante. É raro encontrá-los em empregos da iniciativa privada. São vagabundos e incompetentes.

Na minha firma, havia um bobalhão com o apelido de Pecebão. Vivia pelos corredores com um livro chamado "Manual da guerrilha na indústria". Apoiava todas as greves que os sindicatos anunciavam (mas sempre ia trabalhar...).

Ele fazia faculdade e eu lhe disse que, ao se formar, faria parte da elite. Perguntei por que ele estava tentando se tornar superior aos outros. Ele ficou sem resposta.

Acabou demitido, não por tentar sabotar a produção com sua doutrinação idiota, mas por incompetência.

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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Acauan »

Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.


Na verdade os direitistas foram às ruas pedir a defesa da família e da liberdade em marchas que mobilizaram centenas de milhares de pessoas. A propaganda esquerdista tenta ridicularizar estes movimentos, que eram de massa, legitimamente populares e espontâneos, enquanto enaltece suas próprias manifestações, que compostas de militantes engajados e apoiadas pelo governo Goulart não angariaram nenhum apoio popular expressivo.

Aranha escreveu:- Em outras palavras, o pessoal da direita deveria ter lutado também, afinal o ideário direitista de valorização da liberdade não combina em nada com uma ditadura militar.


O "pessoal de direita" não funciona como a militância esquerdista, que é organizada para a luta subversiva, armada ou de propaganda. A direita faz jus ao rótulo de reacionária, ou seja, reage a uma situação limite dentro dos espaços disponíveis na ordem institucional vigente, fora dos quais atuam somente os grupos extremistas de direita – que se organizam à semelhança dos esquerdistas.
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Aranha »

Acauan escreveu:
Aranha escreveu:- Se por um lado os esquerdistas foram hipócritas de lutar contra a repressão e a censura para implantar um regime censor e repressor, os direitistas também o foram por aceitar um regime censor e repressor porque era conveniente economicamente.


Na verdade os direitistas foram às ruas pedir a defesa da família e da liberdade em marchas que mobilizaram centenas de milhares de pessoas. A propaganda esquerdista tenta ridicularizar estes movimentos, que eram de massa, legitimamente populares e espontâneos, enquanto enaltece suas próprias manifestações, que compostas de militantes engajados e apoiadas pelo governo Goulart não angariaram nenhum apoio popular expressivo.


- Estas marchas ocorreram antes do golpe, eu me referia a reagir á censura e repressão impostas pelo regime militar instituído pelo mesmo.

Acauan escreveu:
Aranha escreveu:- Em outras palavras, o pessoal da direita deveria ter lutado também, afinal o ideário direitista de valorização da liberdade não combina em nada com uma ditadura militar.


O "pessoal de direita" não funciona como a militância esquerdista, que é organizada para a luta subversiva, armada ou de propaganda. A direita faz jus ao rótulo de reacionária, ou seja, reage a uma situação limite dentro dos espaços disponíveis na ordem institucional vigente, fora dos quais atuam somente os grupos extremistas de direita – que se organizam à semelhança dos esquerdistas.



- A "ordem institucional vigente" era imposta por um regime empossado via golpe e que se legitimava por atos institucionais, curioso você você alegar "situação limite" para a reação e não aceitar "reações limites" para a situação.

- E, houveram sim, reação violentas de direita a situações de repressão e censura, seja via golpe, seja via revolta popular.

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

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Acauan
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por Acauan »

Prazer em vê-lo Dark.

Darkside escreveu:
Acauan escreveu:O típico esquerdista brasileiro é aquele cara sempre disponível para ensinar teoria econômica avançada, mas que não sabe a diferença entre fatura e duplicata.

O perfil do esquerdista militante rubro-auri-verde varia pouco.
Formado em humanidades, profissionalmente medíocre, com pretensões intelectuais referendadas mais por seu próprio ego que por alguma produção acadêmica reconhecida fora do âmbito fraterno dos correligionários.
É de classe média, da qual fala com desprezo como se não fizesse parte dela.
Tem uma visão messiânica e beatífica de si próprio, enquanto enxerga opositores políticos como hereges demoníacos.

E além de tudo, depois do politicamente correto os esquerdistas viraram um bando de chatos.
Nos tempos da esquerda festiva ainda era divertido partilhar uma mesa de bar com eles, hoje, nem isto.


Você parece um especialista sobre a espécie, como é que se elimina esses trastes da função de professores universitários? :emoticon3:


Infelizmente encontrar a cura geralmente é mais difícil que diagnosticar o mal...

Darkside escreveu:Ps: Seus posts sempre são uma grata surpresa pra quem ainda vem aqui meio sem saber por que, depois de ter perdido o costume de aparecer.

Abraços Acauan!


ANAUÊ, Dark!
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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joaomichelazzo
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Re: A ilusão das esquerdas em 1964 e o choque de realidade

Mensagem por joaomichelazzo »

marta escreveu:O que eu conheço dos comunistas é que eles são vagabundos no úrtimo!! Não querem nada com o cartão de ponto e adoram uma aposentadoria de classe burguesa alta. Estão sempre pendurados em algum cargo público, ainda que irrelevante. É raro encontrá-los em empregos da iniciativa privada. São vagabundos e incompetentes.


Aí você está generalizando.
É a mesma coisa que eu dizer que a direita é homofóbica e cristã e racista, tomando o Olavo de Carvalho como exemplo.
A esquerda tem gente séria, trabalhadora e competente, com uma visão política divergente da sua.
“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar” (Carl Sagan)

"Há males que vem pra fuder com tudo mesmo"

Trancado