Se essas pessoas localizassem umas às outras e tivessem filhos entre si, uma nova espécie, incompatível com a nossa, surgiria.
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Nosso lugar na biodiversidade
Estaria o processo de evolução levando ao surgimento de uma nova espécie humana?
Claudia Augusta de Moraes RussoCarolina Moreira Voloch
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
O livro A origem das espécies, que completa 150 anos em 2009, é o mais famoso, porém não o único escrito pelo inglês Charles Darwin. Entre outros, o naturalista publicou, em 1871, A descendência do homem, no qual mostrou que o ser humano também está inserido no processo de evolução. Isso significa que pode, no futuro, surgir outra espécie humana?
O processo de surgimento de uma nova espécie é conhecido como especiação e depende da existência de mutações genéticas nos indivíduos de uma população. A mutação pode ocorrer em apenas um indivíduo e ter como consequência a alteração de suas características bioquímicas, físicas ou comportamentais.
Essa mutação será transmitida, por meio da reprodução sexuada, aos descendentes desse indivíduo e, dependendo da vantagem que proporcionar, pode aumentar ou diminuir a probabilidade de sobrevivência e reprodução do mutante, alterando o número de portadores da modficação genética na população a cada geração. Caso esse número siga aumentando, no futuro todos os indivíduos poderão ser portadores da mutação.
Se a população for dividida por uma barreira geográfica que interrompa a transmissão de genes, porém, os grupos isolados começarão a se diferenciar, evoluindo de forma independente. Aos poucos, cada grupo acumulará tantas mutações diferentes das do outro grupo que os indivíduos de um perderão a capacidade de cruzar com os do outro, tornando-se espécies distintas. Pesquisas indicam que eventos de especiação como este exigem muitos milhares de anos de isolamento geográfico para acontecer.
Mas a especiação também pode ocorrer de modo mais rápido. Exemplo foi registrado com a espécie Nereis acuminata. Um grupo desses poliquetos, parentes das minhocas, foi coletado em 1964 em uma praia da Califórnia (Estados Unidos) e mantido em laboratório por muito tempo. Após cerca de 30 anos, foram realizadas tentativas de cruzamento de indivíduos do ambiente natural com aqueles mantidos no laboratório, mas eles não geraram filhotes viáveis, indicando que já estavam isolados reprodutivamente.
Diferentes formas de especiação
Barreiras geográficas, como a provocada artificialmente pelos cientistas que trabalharam com a espécie de poliqueto, são cada vez menos frequentes entre as populações humanas, o que diminui a probabilidade de sofrermos esse tipo de especiação.
Porém, existe outro tipo de especiação que não depende de isolamento geográfico. Essa forma, chamada de especiação simpátrica, é mais rara, mas há exemplos bem estudados, como o da mosca norte-americana Ragholetis pomonella.
Hoje, algumas moscas dessa espécie depositam seus ovos nos frutos da árvore hawthorne, outras em macieiras e outras em cerejeiras. As macieiras, porém, só chegaram à América do Norte no século 19, trazidas da Europa. Então, como a preferência para macieiras foi desenvolvida? A explicação mais plausível é que a preferência já existia, mas só foi expressa depois que o ambiente mudou com a chegada das novas árvores. Pesquisas moleculares constataram que já existe diferenciação genética entre os três tipos de moscas da espécie, sugerindo um processo incompleto de especiação, sem a necessidade de isolamento geográfico.
Nova espécie humana?
O isolamento reprodutivo em humanos existe e deve ser considerado. De acordo com algumas estimativas, entre 10% a 20% dos casais são incompatíveis reprodutivamente. Isso não significa que qualquer dos parceiros seja estéril, e sim que um deles não consegue se reproduzir especificamente com o outro, mas poderia gerar filhos com outras pessoas.
Podemos supor que em algum momento no futuro será possível saber o genoma de cada bebê nascido e, assim, os parceiros compatíveis apenas entre eles poderiam localizar uns aos outros em uma base de dados e gerar, se desejassem, uma nova linhagem humana. A princípio, essa variante seria geneticamente muito semelhante à espécie humana atual, mas com muito tempo de separação as duas linhagens começariam a divergir.
A convivência de duas espécies humanas não seria inédita. Os neandertais desapareceram há apenas 30 mil anos e os homens-de-flores também desapareceram há meros 12 mil anos, quando o homem moderno já existia.
Como seria a nossa vida com outra espécie de humanos habitando o planeta? Talvez um dia saibamos.
Domingo, 02 de Agosto de 2009