Religião? A culpa é dos genes. Tô mal geneticamente!
Enviado: 29 Ago 2009, 14:15
Filho de peixe, peixinho. Se você é uma pessoa religiosa, temente a Deus, Maomé, Buda ou similar, seguidor das tábuas sagradas, sejam elas escritas por linhas certas ou oblíquas, saiba que a explicação para essa inclinação pode estar nos seus genes. Mas não sou eu a fazer tão perigosa afirmação. O tema para lá de tabu está esmiuçado na edição de março da revista New Scientist.
"Os genes podem ajudar a determinar a religiosidade de uma pessoa, eis o que sugere um novo estudo feito com gêmeos americanos", diz a prestigiosa publicação, que informa ainda: “Os efeitos de uma formação religiosa podem desaparecer com o tempo”. Segundo a Scientist, até uns 25 anos atrás, os cientistas presumiam que o comportamento religioso era simplesmente o produto da socialização. Contudo, estudos mais recentes, incluindo aqueles sobre gêmeos que cresceram separados, sugerem que os genes contribuem com cerca de 40% de variação na religiosidade de uma pessoa.
A pesquisa não responde de que forma essa influência dos genes pode variar com o passar do tempo. Alguns estudos focados em crianças e adolescentes que vivem com pais naturais ou adotivos mostram que eles tendem a seguir as influências dos seus familiares. Nessa idade, os genes exerceriam um pequeno papel sobre a religiosidade.
Pesquisas orientadas pela psicóloga Laura Koenig, da Universidade de Minnesota, sugerem que os fatores genéticos se tornam mais importantes na determinação da religiosidade, à medida que os adolescentes vão se transformando em adultos.
Os pesquisadores inquiriram 169 pares de gêmeos 100% geneticamente idênticos, e 104 pares de gêmeos somente 50% geneticamente idênticos. Perguntou-se aos gêmeos, todos na faixa dos 30 anos, sobre seus hábitos religiosos, comparando-os com os vividos na adolescência, em meio a seus familiares.
O resultado é que somente os gêmeos 100% idênticos acreditavam que mantinham os mesmos hábitos religiosos alimentados pela família na juventude. Os gêmeos 50% idênticos, ao contrário, mantinham apenas 1/3 do comportamento religioso absorvido em família.
A conclusão a que chegou Matt McGue, da Universidade de Minnesota, uma das psicólogas participantes da pesquisa, é que “os fatores genéticos estão se tornando mais importantes do que a convivência”.
A mesma observação é feita por Michael McCullough, psicólogo da Universidade de Miami em Coral Gables, Flórida. “Em grande medida, você não pode ser quem você é vivendo sob o teto dos seus pais. Porém, uma vez que você abandona o ninho, permite que suas preferências moldem seu comportamento”, disse.
Apontar a genética como causa primeira de decisões comportamentais é sempre perigoso. Tal imperativo poderia servir de justificativa ideológica para condenar, como de fato tem sido feito, muçulmanos e filhos de muçulmanos, na cruzada bushista contra o fundamentalismo religioso que vem do Oriente Médio.
Mas nem tudo parece perdido na pesquisa da Universidade de Minnesota. O pesquisador Matt McGue afirmou que a pesquisa sugere que crescer num ambiente religioso pode, a longo prazo, afetar bem menos o comportamento do que se imaginava anteriormente. No entanto, e aí volta a morar o perigo, essa socialização pode re-emergir mais tarde, quando os gêmeos tiverem suas próprias famílias.
Embora os pesquisadores façam a ressalva de que as conclusões são circunscritas a uma amostragem americana, não tendo portanto valor universal, torna-se evidente a carga de responsabilidade atribuida às influências genéticas. Daí a ampliar o alcance do estudo para a violência é um passo, bem ao sabor de um certo viés da ciência contemporânea, que vê nos genes o fator determinante de todas as mazelas da personalidade. Numa época dominada pela idéia de superioridade norte-americana sobre as demais culturas, nada poderia ser mais perigoso.
http://www.sergipe.com.br/balaiodenotic ... igon76.htm
"Os genes podem ajudar a determinar a religiosidade de uma pessoa, eis o que sugere um novo estudo feito com gêmeos americanos", diz a prestigiosa publicação, que informa ainda: “Os efeitos de uma formação religiosa podem desaparecer com o tempo”. Segundo a Scientist, até uns 25 anos atrás, os cientistas presumiam que o comportamento religioso era simplesmente o produto da socialização. Contudo, estudos mais recentes, incluindo aqueles sobre gêmeos que cresceram separados, sugerem que os genes contribuem com cerca de 40% de variação na religiosidade de uma pessoa.
A pesquisa não responde de que forma essa influência dos genes pode variar com o passar do tempo. Alguns estudos focados em crianças e adolescentes que vivem com pais naturais ou adotivos mostram que eles tendem a seguir as influências dos seus familiares. Nessa idade, os genes exerceriam um pequeno papel sobre a religiosidade.
Pesquisas orientadas pela psicóloga Laura Koenig, da Universidade de Minnesota, sugerem que os fatores genéticos se tornam mais importantes na determinação da religiosidade, à medida que os adolescentes vão se transformando em adultos.
Os pesquisadores inquiriram 169 pares de gêmeos 100% geneticamente idênticos, e 104 pares de gêmeos somente 50% geneticamente idênticos. Perguntou-se aos gêmeos, todos na faixa dos 30 anos, sobre seus hábitos religiosos, comparando-os com os vividos na adolescência, em meio a seus familiares.
O resultado é que somente os gêmeos 100% idênticos acreditavam que mantinham os mesmos hábitos religiosos alimentados pela família na juventude. Os gêmeos 50% idênticos, ao contrário, mantinham apenas 1/3 do comportamento religioso absorvido em família.
A conclusão a que chegou Matt McGue, da Universidade de Minnesota, uma das psicólogas participantes da pesquisa, é que “os fatores genéticos estão se tornando mais importantes do que a convivência”.
A mesma observação é feita por Michael McCullough, psicólogo da Universidade de Miami em Coral Gables, Flórida. “Em grande medida, você não pode ser quem você é vivendo sob o teto dos seus pais. Porém, uma vez que você abandona o ninho, permite que suas preferências moldem seu comportamento”, disse.
Apontar a genética como causa primeira de decisões comportamentais é sempre perigoso. Tal imperativo poderia servir de justificativa ideológica para condenar, como de fato tem sido feito, muçulmanos e filhos de muçulmanos, na cruzada bushista contra o fundamentalismo religioso que vem do Oriente Médio.
Mas nem tudo parece perdido na pesquisa da Universidade de Minnesota. O pesquisador Matt McGue afirmou que a pesquisa sugere que crescer num ambiente religioso pode, a longo prazo, afetar bem menos o comportamento do que se imaginava anteriormente. No entanto, e aí volta a morar o perigo, essa socialização pode re-emergir mais tarde, quando os gêmeos tiverem suas próprias famílias.
Embora os pesquisadores façam a ressalva de que as conclusões são circunscritas a uma amostragem americana, não tendo portanto valor universal, torna-se evidente a carga de responsabilidade atribuida às influências genéticas. Daí a ampliar o alcance do estudo para a violência é um passo, bem ao sabor de um certo viés da ciência contemporânea, que vê nos genes o fator determinante de todas as mazelas da personalidade. Numa época dominada pela idéia de superioridade norte-americana sobre as demais culturas, nada poderia ser mais perigoso.
http://www.sergipe.com.br/balaiodenotic ... igon76.htm