Hospitais católicos não fazem laqueaduras
Enviado: 04 Out 2009, 12:41
04/10/2009
Hospitais católicos não fazem laqueaduras
Adriana Ferraz
do Agora
Associações católicas contratadas pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo do Estado para gerenciar hospitais públicos têm dificultado e até mesmo impedido usuários da rede de escolher métodos contraceptivos para evitar a gravidez.
Em unidades administradas pelas OSSs (organizações sociais de saúde) Casa Santa Marcelina e Associação Congregação Santa Catarina, nos extremos leste e sul da capital, mulheres e homens não conseguem se submeter a cirurgias de laqueadura e vasectomia.
Segundo o próprio Ministério da Saúde, os quatro hospitais administrados pelas irmãs na capital --Pedreira, Grajaú, Itaim Paulista e Cidade Tiradentes-- não constam na lista de unidades que promovem a esterilização artificial. O Hospital Estadual Santa Marcelina de Itaquaquecetuba (Grande SP) também não aparece nos registros do governo. Das unidades geridas por OSSs católicas, apenas o Itapevi, das irmãs catarinas, recebe repasse financeiro do ministério para realizar os procedimentos.
Para quem quer evitar a gravidez, a medida é duramente criticada. "Já tive nove filhos e até agora não consegui fazer uma laqueadura nos hospitais da zona sul. Sempre escuto que posso me arrepender da cirurgia", diz a dona de casa Bethânia de Souza Bonfim, 34 anos.
Constituição
A política, imposta a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), contraria a Constituição, que assegura o "planejamento familiar como um direito a ser exercido através da livre decisão do casal", seja na rede hospitalar pública ou conveniada. O procedimento fere os princípios que norteiam os contratos de gestão. As entidades não falam sobre o assunto. Prefeitura e Estado negam irregularidades.
Os critérios, no entanto, são amplamente conhecidos por médicos, agentes e conselheiros de saúde. "É uma questão filosófica mesmo. As irmãs marcelinas, por exemplo, não fazem laqueadura nos hospitais delas. As pacientes são encaminhadas para outro lugar", diz o ginecologista Luis Antonio Pires, que já trabalhou com as irmãs marcelinas no grupo de saúde familiar.
A atitude deixa outros postos de saúde sobrecarregados, como a Casa Ser, referência em saúde da mulher na região de Cidade Tiradentes. "Temos feito plantões extra para suprir a demanda de mulheres que buscam o DIU para substituir a laqueadura", disse uma funcionária, que não se identificou.
Caso de risco
"O conselho gestor do Hospital Geral do Grajaú [de responsabilidade da Santa Catarina] sempre reclamou da opção das freiras. A cirurgia só é feita se a paciente corre risco", conta o auxiliar administrativo Ricardo Ferreira Leite, que trabalhou na triagem de pacientes do hospital.
Dados do Ministério da Saúde são um indicador dessa opção. Em 2008, foram feitas 19 laqueaduras na unidade da zona sul.
Juntas, as entidades católicas também comandam outras 90 unidades de saúde na capital, entre UBSs (Unidades Básicas de Saúde), AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), além de creches conveniadas à prefeitura.
----------------------------------------------------------------------------------------------
04/10/2009
Pacientes tentam a cirurgia há três anos na zona sul
Adriana Ferraz
do Agora
Antes mesmo do último filho nascer, a dona de casa Bethânia de Souza Bonfim, 34 anos, já lutava pela chance de fazer laqueadura pelo sistema público de saúde. Mãe de nove filhos (o caçula morreu com um mês de vida, em outubro de 2006), a moradora da zona sul da capital sonha sem ser internada no Hospital Geral do Grajaú, administrado atualmente pelas irmãs catarinas.
"Já tentei várias vezes, mas nunca consigo marcar uma data. Os funcionários de lá dizem que eu posso me arrepender. Mas eu já tive nove filhos. Não posso nem quero ter mais. Preciso da cirurgia porque passo mal com pílula", afirma.
Na casa em que vive, com o marido e sete filhos --uma das crianças mora com a cunhada--, o espaço é apertado. "Só tem um quarto e um banheiro. Não cabe mais nenhum filho", diz.
A mesma angústia é compartilhada pela diarista Luciana Gomes dos Santos, 33 anos. "Não quero mais ficar grávida. Há três anos estou lutando para conseguir uma laqueadura. Já preenchi várias fichas, mas ninguém dá resposta", conta. Durante a espera, nasceu Everton Gomes Santos, de um ano.
"As freiras querem o quê? Que eu encha a casa de filhos? Sou católica, mas não acho certo", afirma. Pela proximidade, Luciana também quer ser internada no hospital do Grajaú, mas tem poucas esperanças. "Já me disseram não. Se a laqueadura for aprovada, vou ter de fazer na maternidade Interlagos, que é longe."
----------------------------------------------------------------------------------------
Estado afirma que decisão é de governo
Adriana Ferraz
do Agora
O governo estadual afirma que as unidades administradas por OSSs [Organizações Sociais de Saúde] não escolhem os procedimentos inseridos nos contratos de gestão. "A definição fica a cargo da secretaria, com base na demanda regional e na necessidade de ampliação do serviço", diz nota da Secretaria de Estado da Saúde.
De acordo com a pasta, os hospitais estaduais de Pedreira e do Itaim Paulista não realizam cirurgia de vasectomia e laqueadura porque a secretaria decidiu dar prioridade a outros atendimentos mais complexos, como parto de alto risco.
O governo, no entanto, não explicou à reportagem porque as unidades do Grajaú e Itaquaquecetuba (Grande SP) também não fazem as cirurgias.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Prefeitura diz que paciente é orientado
Adriana Ferraz
do Agora
A prefeitura informou que as instituições católicas contratadas oferecem todas as ações sobre planejamento familiar e, inclusive, encaminham homens e mulheres para cirurgias. "De janeiro a agosto deste ano foram realizadas 502 laqueaduras em pacientes atendidas pelas unidades administradas pela Santa Catarina", diz a nota.
Os locais escolhidos para as cirurgias não foram mencionados pela Secretaria Municipal da Saúde nem os motivos pelos quais o Hospital Municipal Cidade Tiradentes não faz cirurgias de esterilização. As entidades não quiseram comentar o assunto.
http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ul ... 3154.shtml
Hospitais católicos não fazem laqueaduras
Adriana Ferraz
do Agora
Associações católicas contratadas pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo do Estado para gerenciar hospitais públicos têm dificultado e até mesmo impedido usuários da rede de escolher métodos contraceptivos para evitar a gravidez.
Em unidades administradas pelas OSSs (organizações sociais de saúde) Casa Santa Marcelina e Associação Congregação Santa Catarina, nos extremos leste e sul da capital, mulheres e homens não conseguem se submeter a cirurgias de laqueadura e vasectomia.
Segundo o próprio Ministério da Saúde, os quatro hospitais administrados pelas irmãs na capital --Pedreira, Grajaú, Itaim Paulista e Cidade Tiradentes-- não constam na lista de unidades que promovem a esterilização artificial. O Hospital Estadual Santa Marcelina de Itaquaquecetuba (Grande SP) também não aparece nos registros do governo. Das unidades geridas por OSSs católicas, apenas o Itapevi, das irmãs catarinas, recebe repasse financeiro do ministério para realizar os procedimentos.
Para quem quer evitar a gravidez, a medida é duramente criticada. "Já tive nove filhos e até agora não consegui fazer uma laqueadura nos hospitais da zona sul. Sempre escuto que posso me arrepender da cirurgia", diz a dona de casa Bethânia de Souza Bonfim, 34 anos.
Constituição
A política, imposta a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), contraria a Constituição, que assegura o "planejamento familiar como um direito a ser exercido através da livre decisão do casal", seja na rede hospitalar pública ou conveniada. O procedimento fere os princípios que norteiam os contratos de gestão. As entidades não falam sobre o assunto. Prefeitura e Estado negam irregularidades.
Os critérios, no entanto, são amplamente conhecidos por médicos, agentes e conselheiros de saúde. "É uma questão filosófica mesmo. As irmãs marcelinas, por exemplo, não fazem laqueadura nos hospitais delas. As pacientes são encaminhadas para outro lugar", diz o ginecologista Luis Antonio Pires, que já trabalhou com as irmãs marcelinas no grupo de saúde familiar.
A atitude deixa outros postos de saúde sobrecarregados, como a Casa Ser, referência em saúde da mulher na região de Cidade Tiradentes. "Temos feito plantões extra para suprir a demanda de mulheres que buscam o DIU para substituir a laqueadura", disse uma funcionária, que não se identificou.
Caso de risco
"O conselho gestor do Hospital Geral do Grajaú [de responsabilidade da Santa Catarina] sempre reclamou da opção das freiras. A cirurgia só é feita se a paciente corre risco", conta o auxiliar administrativo Ricardo Ferreira Leite, que trabalhou na triagem de pacientes do hospital.
Dados do Ministério da Saúde são um indicador dessa opção. Em 2008, foram feitas 19 laqueaduras na unidade da zona sul.
Juntas, as entidades católicas também comandam outras 90 unidades de saúde na capital, entre UBSs (Unidades Básicas de Saúde), AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) e CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), além de creches conveniadas à prefeitura.
----------------------------------------------------------------------------------------------
04/10/2009
Pacientes tentam a cirurgia há três anos na zona sul
Adriana Ferraz
do Agora
Antes mesmo do último filho nascer, a dona de casa Bethânia de Souza Bonfim, 34 anos, já lutava pela chance de fazer laqueadura pelo sistema público de saúde. Mãe de nove filhos (o caçula morreu com um mês de vida, em outubro de 2006), a moradora da zona sul da capital sonha sem ser internada no Hospital Geral do Grajaú, administrado atualmente pelas irmãs catarinas.
"Já tentei várias vezes, mas nunca consigo marcar uma data. Os funcionários de lá dizem que eu posso me arrepender. Mas eu já tive nove filhos. Não posso nem quero ter mais. Preciso da cirurgia porque passo mal com pílula", afirma.
Na casa em que vive, com o marido e sete filhos --uma das crianças mora com a cunhada--, o espaço é apertado. "Só tem um quarto e um banheiro. Não cabe mais nenhum filho", diz.
A mesma angústia é compartilhada pela diarista Luciana Gomes dos Santos, 33 anos. "Não quero mais ficar grávida. Há três anos estou lutando para conseguir uma laqueadura. Já preenchi várias fichas, mas ninguém dá resposta", conta. Durante a espera, nasceu Everton Gomes Santos, de um ano.
"As freiras querem o quê? Que eu encha a casa de filhos? Sou católica, mas não acho certo", afirma. Pela proximidade, Luciana também quer ser internada no hospital do Grajaú, mas tem poucas esperanças. "Já me disseram não. Se a laqueadura for aprovada, vou ter de fazer na maternidade Interlagos, que é longe."
----------------------------------------------------------------------------------------
Estado afirma que decisão é de governo
Adriana Ferraz
do Agora
O governo estadual afirma que as unidades administradas por OSSs [Organizações Sociais de Saúde] não escolhem os procedimentos inseridos nos contratos de gestão. "A definição fica a cargo da secretaria, com base na demanda regional e na necessidade de ampliação do serviço", diz nota da Secretaria de Estado da Saúde.
De acordo com a pasta, os hospitais estaduais de Pedreira e do Itaim Paulista não realizam cirurgia de vasectomia e laqueadura porque a secretaria decidiu dar prioridade a outros atendimentos mais complexos, como parto de alto risco.
O governo, no entanto, não explicou à reportagem porque as unidades do Grajaú e Itaquaquecetuba (Grande SP) também não fazem as cirurgias.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Prefeitura diz que paciente é orientado
Adriana Ferraz
do Agora
A prefeitura informou que as instituições católicas contratadas oferecem todas as ações sobre planejamento familiar e, inclusive, encaminham homens e mulheres para cirurgias. "De janeiro a agosto deste ano foram realizadas 502 laqueaduras em pacientes atendidas pelas unidades administradas pela Santa Catarina", diz a nota.
Os locais escolhidos para as cirurgias não foram mencionados pela Secretaria Municipal da Saúde nem os motivos pelos quais o Hospital Municipal Cidade Tiradentes não faz cirurgias de esterilização. As entidades não quiseram comentar o assunto.
http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ul ... 3154.shtml