O Brasil não tem tornados. Faz de conta que não.
Enviado: 04 Out 2009, 23:29
Não? Tem, sim. Mas sempre se ouviu dizer que aqui não tínhamos estes fenômenos que existem em países de Primeiro Mundo, como se isto fosse algum tipo de trunfo da natureza ou proteção divina.
O que acontece, na verdade, é que somos um país continental que apresenta alguns dos maiores índices de fenômenos meteorológicos e eletromagnéticos do planeta, mas não temos tecnologia ou equipamentos para detecção, mapeamento, previsão e estudos pós eventos, que permitam obter dados que auxiliam populações a se precaver.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cien ... 3216.shtml
O que acontece, na verdade, é que somos um país continental que apresenta alguns dos maiores índices de fenômenos meteorológicos e eletromagnéticos do planeta, mas não temos tecnologia ou equipamentos para detecção, mapeamento, previsão e estudos pós eventos, que permitam obter dados que auxiliam populações a se precaver.
04/10/2009 - 10h14
Região Sul é vice-campeã do mundo em tornados
GRACILIANO ROCHA
da Agência Folha, em Porto Alegre
O perímetro compreendido pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, oeste do Paraná e pelo norte da Argentina e Paraguai é a segunda maior área em incidência de tornados do mundo. Apenas a planície central dos Estados Unidos oferece condições mais propícias para o fenômeno.
A conclusão é de um estudo liderado por Harold Brooks, do NSSL (Laboratório Nacional de Tempestades Severas, na sigla em inglês), nos EUA.
Segundo a pesquisa de Brooks, as condições climáticas geradas pelo choque de massas de ar frio da Patagônia com ventos tropicais formados na Amazônia propiciam a ocorrência de tornados, em média, 15 dias por ano no norte argentino e no Sul do Brasil.
Em setembro, tornados causaram pelo menos 14 mortes no Brasil e na Argentina. Na Província argentina de Misiones, o estrago foi generalizado, e dez pessoas morreram no dia 7 de setembro. Na cidade de Guaraciaba, extremo oeste de SC, quatro pessoas morreram.
Os tornados têm início após a formação de uma tempestade, causada pelo encontro em alta velocidade de ar quente e úmido com outra massa de ar frio e seco. No momento do impacto, as duas massas começam a girar. No centro da tempestade, surge um funil que toca o solo.
Ernani Nascimento, professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS), afirma que a geografia e a topografia da região influenciam a ocorrência do fenômeno. O corredor de tornados da América do Sul situa-se na topografia plana do pampa, a leste dos Andes. Na planície norte-americana, o fenômeno costuma surgir ao lado das montanhas Rochosas.
"Nas escolas se ensina que o Brasil é um país livre de desastres naturais, mas os tornados mostram que isso é errado", afirma Nascimento.
O Serviço Meteorológico Nacional da Argentina concluiu que Misiones foi atingida em 10 de setembro por um ciclone tipo F4, numa classificação que vai de F0 a F5.
A escala Fujita, criada em 1971 para medir a intensidade dos tornados, define o F4 como "devastador", categoria em que a velocidade dos ventos é estimada entre 333 e 421 km/h. Os estragos se espalharam numa faixa de mil metros de largura e 15 km de extensão, perto da fronteira com SC.
No mesmo dia, do lado brasileiro, Guaraciaba também foi sacudida por um fenômeno similar. Casas foram arremessadas a até 50 metros de distância e grande parte da infraestrutura urbana da cidade, de 10 mil habitantes, virou destroços.
Eugênio Hackbart, diretor-geral do serviço meteorológico privado MetSul, afirma, com base na análise de imagens dos estragos, que pelo menos sete tornados ocorreram no RS e em SC no mês passado.
Sem registros dos tornados nos momentos em que ocorrem, a faixa de destruição, árvores ou estruturas arrancadas por ventos fortes são as 'pistas' deixadas pelo evento.
Não há estudos que relacionem o aquecimento global a tornados no Sul. Essa evidência existe apenas para furacões, um fenômeno diferente (veja abaixo). Alguns cientistas creem que o número de tornados não cresceu na região, mas o fenômeno tem sido mais percebido porque a ocupação humana na região aumentou.
"Talvez não haja aumento da incidência dos tornados, e sim mais gente no caminho deles", diz Olívio Bahia Neto, meteorologista do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), de São Paulo.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cien ... 3213.shtml
04/10/2009 - 10h21
Escassez de radares atrapalha monitoramento de tornados
GRACILIANO RAMOS
da Agência Folha, em Porto Alegre
Embora tenha uma das maiores incidências do mundo de ocorrência de tornados, o Brasil ainda lida com o fenômeno na base do improviso.
Segundo cientistas, a Região Sul tem apenas metade do número de radares de que precisa, e é difícil recrutar equipes que percorrem áreas afetadas para documentar estragos e produzir indicadores confiáveis a respeito das ocorrências.
Em todo o Sul só há cinco radares, o que torna boa parte da região "ponto cego" para estudiosos da ocorrência dos fenômenos. Apenas um usa tecnologia dopler, que permite medir a velocidade do vento e se há rotação dentro das nuvens, elevando a precisão da localização dos pontos onde a chuva e a ventania serão fortes.
Pelas contas do meteorologista Ernani Nascimento, da Universidade Federal de Santa Maria, seriam necessários pelo menos dez radares dopler para cobrir o Sul do país.
Tão incipiente quanto o sistema de previsão é o registro da ocorrência dos tornados. Enquanto nos Estados Unidos o estudo dos estragos feitos por esse tipo de fenômeno é feito por equipes de cientistas que vão ao local no dia seguinte ao fenômeno, no Brasil isso depende de voluntários.
Nem sempre as pessoas que se colocam à disposição têm qualificação para executar o serviço, afirma os cientistas.
É a falta de um sistema de equipes de campo que faça laudos técnicos depois dos incidentes que inviabiliza a produção de estimativas seguras sobre tornados no país.
"No Brasil não existem equipes responsáveis por identificar qual foi o fenômeno climático e qual a velocidade do vento no local da ocorrência. Ainda está tudo sendo feito de maneira improvisada", afirma Nascimento.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cien ... 3216.shtml