Um filme sobre a papisa Joana

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Fernando Silva
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Um filme sobre a papisa Joana

Mensagem por Fernando Silva »

A história é velha, mas o filme ajuda a entender melhor o contexto da época e por que Joana teria decidido se tornar "padre", numa época em que mulheres eram proibidas de aprender a ler e ir à escola.

A mulher Papa
Filme sobre alemã que, vestida de homem, teria sido eleita Pontífice reacende discussão sobre papel feminino na Igreja

Graça Magalhães-Ruether Correspondente • BERLIM

Uma das histórias mais controvertidas da Igreja Católica volta a ser discutida com um filme recém-lançado na Europa e que chega em dezembro ao Brasil. “A papisa Joana” conta a vida de uma alemã da Idade Média que, vestida de homem, teria se tornado Papa. De sua existência não se tem provas concretas ou documentos formais — mas muitos santos, como São Jorge, estão na mesma situação.

Mito para alguns, verdade para outros , a papisa Joana voltou, trazendo consigo a discussão sobre o papel da mulher na Igreja.

Para a teóloga alemã Elisabeth Gössmann, que foi colega de universidade de Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, é impossível dizer com certeza se a papisa Joana existiu ou se a sua história é uma lenda.

— É difícil separar a ficção dos fatos históricos porque a figura de Joana foi manipulada diversas vezes no passado — diz ela.

O filme de Sönke Wortmann é baseado no livro escrito pela americana Donna Woolfolk Cross em 1996, um romance tendo por base documentos históricos da Idade Média.

Mas a história da mulher que viveu em uma aldeia alemã, numa época em que meninas eram proibidas de aprender a ler e escrever, continua a fascinar muita gente.

Gravidez teria revelado segredo

O filme começa como o livro, no inverno do ano de 814, quando nasce Joana, como a terceira depois de dois filhos homens. O pai era um padre de aldeia, um homem autoritário, espancador, enquanto que a mãe tinha o destino normal das mulheres da Idade Média, ter filhos e cuidar do fogão.

Quando Joana (interpretada por Johanna Wokalek) demonstrou não ficar satisfeita com um destino idêntico ao da mãe e começou a mostrar que era inteligente, tendo aprendido a ler e a escrever, foi espancada pelo pai. Depois, quando conseguiu ter acesso a uma escola, foi hostilizada por professores e alunos. Ela recebeu ajuda apenas do conde Gerold (vivido por David Wenham).

Depois de concluir que como mulher não teria nenhuma chance na sociedade, Joana decidiu vestir-se de homem, adotar o nome de Johannes Anglicus e ingressar no mosteiro de Fulda. Como homem, sua inteligência e conhecimentos eram respeitados e não motivo de hostilidade. Na versão de Cross, Joana aprendeu medicina com os monges. Outras fontes negam, porém, que a futura papisa tenha adquirido tais conhecimentos

Na versão mostrada no filme, quando Johannes foi para Roma, tornou-se o principal conselheiro do papa Sergius, gravemente enfermo, por causa dos seus conhecimentos médicos. Quando este morreu, ela foi surpreendida ao ser eleita Papa. Segundo a versão do filme, Joana viveu dois anos e meio como papa João VIII. O seu segredo só foi descoberto quando ela, grávida de Gerold, que encontrou mais tarde em Roma, caiu do cavalo com as dores de parto.

Em um livro de 800 páginas que escreveu em 1994, dois anos antes do lançamento do bestseller da americana Donna W. Cross, Gössmann analisa detalhadamente todos os documentos existentes sobre a suposta papisa, desde o texto de Jean de Mailly, de meados do século XIII.

Trata-se da “Chronica Universalis Mettensis”, onde o dominicano francês Jean Mailly escreve sobre a existência de uma papisa Joana no século IX, que teria começado a sofrer dores de parto durante uma procissão.

Ao tomar conhecimento de que o Papa era uma mulher, ela foi apedrejada por uma multidão furiosa. Duas décadas mais tarde, o também dominicano Martin von Troppau escreveu sobre uma Joana que teria sido Papa entre os anos de 855 e 858.

Outro indício da existência da papisa e da crise que teria causado na Igreja Católica seria o hábito introduzido no final do século IX de teste do sexo do Papa.

Só depois da comprovação do sexo masculino do Papa eleito, seu nome era oficializado.

A cerimônia de teste de sexo teria existido até o século XVI

Igreja apagou referências à papisa


No seu livro, Donna W. Cross tenta provar que a existência da papisa Joana foi admitida pela Igreja durante oito séculos. Só no século XVII, a Santa Sé teria apagado dos compêndios todas as referências próprias sobre a papisa. Na época do auge do protestantismo, uma mulher como Papa na sua história oficial era visto pela Igreja Católica como um possível alvo de ataque dos protestantes.

Donna Cross documenta em notas que acompanham o livro que a Igreja Católica tirou de circulação centenas de livros e manuscritos para apagar qualquer marca da papisa. Mas restaram algumas fontes. Em “Livro Papal”, que contém a cronologia de todos os papas, desde o século V, e que ainda estaria na biblioteca do Vaticano, há uma referência ao pontificado da papisa Joana.

Gabriele Mendelssohn, diretora do Museu Histórico de Ingelheim, diz que na cidade não há nenhuma pista que indique que um dia viveu ali a mulher que se vestiu de padre para conquistar o Vaticano.

Elisabeth Gössmann diz que a história da papisa, verdade ou lenda, é importante para mostrar a situação adversa às mulheres que ainda existe na Igreja Católica. Ela foi uma das primeiras na Alemanha a adquirir o título de doutora em teologia. Segundo ela, até há pouco tempo a Igreja não permitia que textos de mulheres teólogas fossem usados em citações.

Mas ela admite que a situação melhorou com o seu ex-colega, o papa Bento XVI.

— Eu me lembro que antigamente, quando nos preparávamos para o doutorado em teologia, ele não tinha nada contra mulheres teólogas — conclui

Trancado